Por Thiago Oliveira
1.
Só Deus pode julgar
Este é um argumento clássico de pessoas
que acham que o julgamento é uma atribuição exclusivamente divina, pois,
entendem que em Mateus 7:1, Jesus Cristo proibiu as pessoas de cometerem
julgamento. Esse erro provém de uma leitura superficial do referido versículo,
deslocado de seu contexto. Cristo está ali, condenando a postura farisaica de
julgar as demais pessoas tendo a si mesmo como exemplo de conduta. Tais
pessoas, acreditam ser tão boas, que mesmo tendo uma trave em seu olho, reparam
no cisco que está no olho do outro (Mateus 7:3). É típico do farisaísmo
enxergar com “lentes de aumento” os pecados das demais pessoas e minimizar os
seus próprios pecados.
De modo algum, Jesus nos proíbe de
discernir, avaliar e ponderar. Se fosse assim, como teria dito logo em seguida:
“Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas,
não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem” (Mateus
7:6)? Ora, para identificar quem são os cães e quem são os porcos, é necessário
julgar. O julgamento é uma responsabilidade de todo crente, todavia, não deve
ser feito de acordo com o mero achismo ou sem conhecimento de causa. O ato de
julgar é respaldado pela Palavra. A própria Escritura é o parâmetro e não a
nossa justiça própria (João 7:24). E se há condenação, quem condena é o próprio
SENHOR, através da sua Lei registrada na Bíblia.
2.
Atire a primeira pedra aquele que nunca pecou
De certo, uma das passagens bíblicas
mais distorcidas da história. No registro de João 8, os fariseus vão até Jesus
para acusa-lo e para isso levam uma mulher e perguntam: “Mestre, esta mulher
foi apanhada, no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as
tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?” (João 8:4-5). Qual a questão
aqui? Do que estes homens queriam acusar Jesus?
Os escribas e fariseus queriam acusar a
Cristo de ser contrário a Lei, desqualificando seu ministério, pois nenhum
judeu daria ouvidos a um messias que fosse contrário a Moisés, ou de ser um
contraventor e desacatar a autoridade do Império Romano. Se Jesus perdoasse a
mulher, estaria agindo contra Lei (ser contra a Lei é cometer pecado, Jesus
nunca pecou) e para os judeus, contra Moisés, seu estimado profeta. Se
condenasse a mulher, seria levado até as autoridades romanas, pois naquele
contexto, só os romanos poderiam executar alguém.
Acontece que aquele “tribunal” ali
criado era forjado. Em Deuteronômio 22:22 diz que em caso de adultério, homem e
mulher devem morrer. Sendo assim, se aquela mulher tinha sido pega em
flagrante, onde estava o homem? Ademais, toda a Justiça deveria ser aplicada
por magistrados, segundo relata Deuteronômio 16:18-20. Alguém ali era
magistrado? Não. Nem mesmo Jesus tinha este ofício em seu ministério terreno.
Quando é dito: “atire a primeira pedra
aquele que não tiver pecado”, é uma referência aquele pecado de forjar, ou
melhor, torcer a justiça. Cristo não foi indulgente e nem suplantou a Lei. Ele
foi justo e no fim deu ordens aquela mulher para que ela deixasse de pecar. Se
fosse exigido das pessoas não pecarem para exercer julgamento, não haveriam
mais tribunais e as disciplinas eclesiásticas não poderiam ser aplicadas, uma
vez que todos pecam (1João 1:8). Mas, obviamente, este não é o caso.
3.
Não mostre o errado, ensine apenas o certo
Um amigo me disse que eu não devo
mostrar o errado e apenas mostrar o certo. Confesso que, apenas apontar os
erros sem trazer à tona a verdade bíblica seria uma baita de uma idiotice.
Porém, o outro extremo também é falso. Há situações em que é preciso mostrar o
equívoco para em seguida ensinar a forma correta. Um exemplo claro disso é o
Sermão do Monte: Por diversas vezes Jesus falou “ouvistes o que foi dito, eu
porém vos digo”. Há quem pense que Jesus está revogando a Lei do Antigo
Testamento, quando na verdade ele revoga a interpretação dos mestres da lei
(escribas e fariseus). Fica tão claro que era o ensino farisaico que estava
sendo atacado como falso, que a multidão chega à seguinte conclusão:
“E aconteceu que, concluindo Jesus este
discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; Porquanto os ensinava como
tendo autoridade; e não como os escribas”. Mateus 7:28-29
4.
A Bíblia já diz que surgirão os faltos profetas
Talvez, este seja o argumento mais
desprovido de razão. Pois, não é o fato de a Bíblia já nos advertir que os
falsos profetas surgirão e até proliferarão, que não podemos combate-los.
Paulo, Pedro, João, e os pais da Igreja nos primeiros séculos nunca se omitiram
por conta disso. Com certeza eles conheciam as profecias e mesmo assim foram
combativos sempre que surgiam as heresias no meio do povo de Deus.
Observando os apóstolos veremos: João
fala mal de Diótrefes (3 João 1:9). Paulo dizendo a Timóteo que entregou a
Satanás os blasfemadores Himiteu e Alexandre (1 Timóteo 1:20). Possivelmente, o
mesmo Alexandre é citado na segunda carta enviada a Timóteo. Paulo diz que ele
foi causador de diversos males e roga para que Deus o julgue segundo as suas
obras (2 Timóteo 4:14). Na mesma carta, cita Figelo e Hermógenes como líderes
dissidentes da Ásia (2 Timóteo 1:15). E sobre os falsos profetas e hereges
insubordinados, as recomendações são estas:
a) Devemos nota-los e evita-los (Romanos 16:17)
b) Devemos repreendê-los (Tito 1:9-13)
c) Devemos nos apartar deles (2Tessalonicenses 3:6)
d) Não devemos ter comunhão com eles (2João 9-11)
e) Devemos rejeitá-los (Tito 3:10)
5.
Não toqueis no ungido do Senhor
Deixei este argumento por último, pois
assim como o primeiro, também é um clássico. Ele se baseia numa fala de Davi
(1Samuel 24:6), quando teve a chance de matar o Rei Saul, que lhe perseguia com
a intenção de tirar-lhe a vida. Também pode ser encontrado em 1Crônicas 16:
21-22 e Salmos 105:15. Como diz o Rev. Augustus Nicodemus, tal frase é desculpa
de quem não tem argumento e nem exemplo para dar como resposta quando é
confrontado por alguém à luz das Escrituras.
A unção a qual Davi se refere era a do
Rei, para que este governasse debaixo da autoridade e da benção divina, não é
unção de líder eclesiástico. E outra: Davi, não tocou no “ungido do Senhor”,
por não querer matá-lo. Mas daí a dizer que ele não se opôs a Saul é pura
enganação. Até quando as pessoas continuarão cegas e utilizarão argumentos tão
pífios como este para justificar sua conduta omissa em relação a defesa da fé?
Encerro esse texto com uma palavra que
se encontra na Epístola de Judas, verso 3: “Amados,
procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive
por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez
foi dada aos santos.” (grifo meu).