Por Thiago Oliveira
Sei que pode parecer uma pergunta
estranha. Mas, você já parou para pensar o porquê que o Diabo é nosso inimigo?
Antes de você achar que estou ocioso o bastante para este tipo de elucubração,
peço encarecidamente que releia a pergunta e reflita sobre as implicações que
resultarão da resposta.
Pois bem, se o Diabo não fosse
nosso inimigo, ele seria nosso aliado. Este seria um problema muito grave.
Sabemos que Satanás se rebelou contra Deus e que por isso tornou-se o seu
opositor. Por não ter condições de intentar contra o Senhor dos Senhores, o
Inimigo devota todo o seu furor para perseguir e destruir os crentes em Cristo
Jesus que formam a Santa Igreja Universal. Devemos glorificar a Deus por termos
Satanás como o nosso arquirrival.
Glorificar a Deus por isso? Como
assim? Calma que tem uma explicação. E ela se encontra no primeiro livro da
Bíblia, aquele mesmo que relata a nossa origem e a origem das coisas criadas: o
Gênesis. Lá, no relato da Queda, veremos que a nossa inimizade com o Diabo, a
antiga serpente, faz parte do plano gracioso da redenção. Deus por sua providência
criou esta inimizade. Tudo faz parte do seu decreto eterno e imutável de eleger
para si um povo exclusivamente seu. Isso mesmo, a nossa inimizade com o
Príncipe das Trevas tem a ver com a nossa Eleição.
Vejamos o que diz Genesis 3:15:
“Porei inimizade entre você e a
mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este ferirá a sua
cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar".
A Serpente tentou Eva. Esta por
sua vez convenceu Adão e ambos caíram em desgraça quando comeram do fruto da
árvore proibida. Ali, homem e mulher, morreram espiritualmente e desfiguraram a
Imago Dei (Imagem e Semelhança
Divina). Deus, como de praxe, caminhava pelo Éden e o primeiro casal ao ouvir
os seus passos procurou fugir da sua presença. Eles sabiam muito bem o que
tinham feito...Deus os chama e Adão responde: “Nos escondemos de ti, estávamos
nus”. O Criador retruca: “Quem lhes revelou isso? Por acaso vocês comeram do
fruto da árvore que eu proibi que comessem?” Logicamente Deus já sabia de tudo
o que acontecera, afinal, Ele é soberano. Mas ali ele dá uma oportunidade para
que Adão confesse a sua culpa. Todavia, Adão estava envolto pelo pecado e transfere
a culpa para Eva. A mulher faz a mesma coisa e coloca a culpa na Serpente. Que
desastre!
Mas é aqui que encontramos a
misericórdia de Deus de uma maneira vívida e clara. Ao invés de destruir aquele
primeiro casal rebelde e obstinado, o Senhor, vai separar aquela aliança
maldita para preservar a humanidade de ter o mesmo destino derrotado de
Satanás. Note que Gênesis 3:15 diz que:
1. Foi Deus que pôs em lado oposto a Serpente e a Mulher. Senão
fosse esta iniciativa Divina, o primeiro casal ainda estaria em oposição contra
o seu Criador e Senhor.
2. A inimizade se perpetuará através da descendência da Serpente e
da descendência da Mulher. Serão dois “exércitos” opostos que vão ter
enfrentamentos até a consumação do mundo.
3. Da descendência da Mulher virá aquele que esmagará a cabeça da
Serpente, ou seja, destruirá definitivamente as obras malignas de Satanás.
Aqui temos a primeira promessa
messiânica. Gênesis 3:15 aponta para Cristo e sua obra redentora. Se há homens
e mulheres que tem Satanás por inimigo, apesar da associação natural com a causa
satânica, isto só é possível porque Deus fez uma aliança com aquele primeiro
casal e separou uma linhagem para si. Esta linhagem que surge da semente da
mulher está desde aquele episódio guerreando contra a semente do pecado. Uma
semente provém de Deus, a outra provém de Satanás. Uma é a semente da
degeneração (Adão) e a outra é a semente da redenção (Cristo).
Isto é
observável desde Caim e Abel, passando por egípcios e hebreus, Davi e Golias e
etc. De um lado aqueles que são do “exército do mundo ou do Diabo”. Do outro
temos os soldados do “exército de Deus”. Não existe meio termo nesta batalha. É
por isso que o próprio Jesus vai dizer em Lucas 11:23: “Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha”.
Escrevendo aos efésios, Paulo diz que éramos integrantes das hostes do Inimigo
(Ef 2.2), satisfazendo nossos desejos carnais e não a vontade de Deus (Ef 2.3)
e que apenas por ter sido Deus misericordioso (Ef 2.4) ele nos deu uma nova
vida por meio de Cristo nos salvando sem merecermos (Ef 2.5). Isto é graça!
Tudo o que
acontece no mundo pode ser explicado por este prisma. Como não existe ninguém
neutro, os que não servem a Cristo são servos de Satanás e fazem o que lhe
agrada. Se sofremos com os ataques do vil tentador, devemos nos lembrar que só
sofremos tais investidas por conta do beneplácito do Senhor que nos colocou em
oposição a Serpente. Também temos a nosso favor o registro da vitória mediante
a Cristo. Fincados nele somos mais-que-vencedores (Rm 8.37). Os nossos
sofrimentos presentes não se comparam com o que nos será revelado no porvir (Rm
8.18).
Em Apocalipse
12, uma visão dada ao apóstolo João nos assegura a vitória concreta e certa. O
Dragão (a antiga Serpente) foi derrotado e a Igreja triunfou sobre eles por
meio de Cristo. O Dragão, o que acusava incansavelmente os cristãos, foi
derrubado (v.10). A Igreja vence não pelos seus recursos humanos, mas como está
escrito: “E eles o venceram pelo sangue
do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho” (v.11). Reitero que devemos
nos regozijar pelo fato de sermos oponentes desse Dragão, pois isso revela que
fomos selados para estarmos com Deus por toda Eternidade. Ser inimigo do Diabo
é ter a evidência de que fomos salvos pela graça.
Louvado seja Deus!