Por Franklin
Ferreira
“Mas não atenuaremos a verdade, nem por
temor trairemos nossa aliança. (…) O Senhor nos transmitiu como doutrina
obrigatória e salvífica que o Espírito Santo está na mesma ordem que o Pai…
Cientes da salvação operada pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo,
abandonaríamos o modelo de salvação que recebemos? (…) Por meio do Filho que é
um, ele [o Espírito Santo que é um] se religa ao Pai, que também é um, e por si
completa a Trindade bem-aventurada, digna de todo louvor”. (Basílio de
Cesaréia)
Hoje, muitas
igrejas caem em dois extremos. Alguns evangélicos priorizam uma relação
cognitiva com Deus, sob o risco de transformar Deus num conceito abstrato ou
ideia. Já alguns pentecostais enfatizam a experiência carismática proporcionada
pelo Espírito Santo, sob o risco de tornar Deus uma fonte de energia e poder.
Há uma saída
para este dilema?
1. A divindade do Espírito Santo
Não devemos
fugir da doutrina da Trindade, e ela nos diz que o Espírito também é Deus. A
ele são atribuídos: nomes divinos (“santo”, “de Deus”), atributos divinos,
obras divinas (“as obras externas da Trindade são indivisíveis”) e louvor (“que
juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado” (Credo “Niceno”). A
divindade do Espírito é demonstrada em sua plena igualdade com o Pai e com o
Filho. Veja as seguintes formulas trinitarianas: fórmula batismal (Mt 28.19),
dons espirituais (1Co 12.4-6), bênção apostólica (2Co 13.13), obras na salvação
(1Pe 1.2) e “fé santíssima” (Jd 20-21). Repare na ordem diferente em que as
pessoas aparecem: nem sempre o Pai vem primeiro, depois, o Filho e por último,
o Espírito. Isso porque não há nenhuma nível de inferioridade entre as pessoas
divinas. O Pai não é mais Deus do que o Espírito. Deve-se rejeitar a prática de
numerar as pessoas da Trindade, pois ainda que cada uma delas seja designada
como uma, elas não se somam entre si.
Se por um lado
afirmamos a plena igualdade, glória e louvor na eternidade, na história da
salvação, vemos que existe uma subordinação da tarefa .Há que se fazer uma
distinção entre a Trindade imanente e a Trindade econômica
2. O Espírito Santo é um ser pessoal
O Espírito é um
ser pessoal, chamado de “presença auxiliadora” (paráklētos). Ele tem atributos
pessoais: inteligência, vontade e sentimentos, assim como fala, testifica,
ordena, revela, luta, cria, intercede, vivifica os mortos e tem ciúme. Por
isso, devemos ressaltar que o Espírito é distinto do seu poder.
Por ser uma
pessoa, o Espírito relaciona-se com o Pai e o Filho, assim como com outras
pessoas, como os cristãos, os apóstolos e os discípulos. O Espírito Santo é um
ser pessoal, da mesma essência que o Pai e o Filho, o único Deus.
3. O Espírito Santo na vida de Jesus
O Espírito de
Deus habitou em Jesus, atuando em seu nascimento, vida, morte e ressurreição
(At 10.36-43). Foi “mediante o Espírito de santidade” que Jesus foi “declarado
Filho de Deus com poder” (Rm 1.4, NVI). A primeira obra que Jesus realizou,
depois de sua exaltação à direita do Pai, foi o envio do Espírito Santo (At
1.8-9; 2.1-4).
4. O Espírito procede do Pai e do Filho
O Espírito é o
Espírito de Cristo, no mesmo sentido que ele é o Espírito de Deus, que
ressuscitou a Jesus Cristo dentre os mortos. O Espírito Santo não é eternamente
gerado como o Filho, mas procede do Pai e do Filho (Jo 15.26), e esse é um dos
elementos que o distingue das outras pessoas da Trindade. Em virtude de o
Espírito proceder do Pai e do Filho, ele é descrito como um ser pessoal que
mantém com o Pai e com o Filho a mais estreita relação possível:
“O Pai é apenas
o Pai do Filho, e o Filho apenas o Filho do Pai; o Espírito, entretanto, é o
Espírito tanto do Pai como do Filho, unindo-os em um vínculo de amor”.
(Agostinho de Hipona)
E dessa unidade,
o Espírito Santo é enviado para prosseguir, aplicar e consumar a obra de Cristo
na terra. Assim como a encarnação estava firmada na unidade do Pai com o Filho,
a obra do Espírito baseia-se em sua unidade com o Pai e com o Filho. Cada
pessoa da Trindade busca a glória da outra, exaltando-a.
5. O Espírito na criação e salvação
O Espírito Santo
age na criação como o doador da vida e como aquele que qualifica os homens para
suas tarefas. Ele inspirou a Escritura, chama os pecadores, aplica os
benefícios da salvação aos que creem, justificando, regenerando e santificando,
e edifica a igreja por meio dos meios da graça.
Conclusão
Se valorizarmos
o Espírito, então teremos:
Uma vida
centrada em Deus: necessitamos praticar o autoexame, para distinguir entre o
que procede do Espírito Santo e do nosso próprio espírito, interpretando nossas
histórias pessoais à luz da Escritura Sagrada e da vida de Jesus Cristo.
Uma vida no
mundo e para o mundo: Precisamos interagir com a criação com alegria e
responsabilidade, com sensibilidade para com os necessitados, tendo a Escritura,
“a espada do Espírito” (Ef 6.17), como guia para a prática profissional, as
decisões políticas e as relações familiares e sociais, rogando a outros que se
reconciliem com Deus em Cristo.
Uma vida diária
sob sua ação: Cremos que o Espírito Santo atua de maneira inexplicável e
miraculosa. Mas também devemos lembrar que o Espírito de Deus, que cria,
liberta, reconcilia e renova, atua no que é comum e habitual, e através de quem
quer se seja.
Uma vida de
resistência e esperança: Sabemos que, nos “sofrimentos do tempo presente”, o
Espírito nem sempre nos livra, mas nos “ajuda na fraqueza”, dando-nos conforto,
coragem e força – levando-nos a ansiar pela vinda de Cristo em poder, quando “a
própria criação será redimida”, quando da “redenção do nosso corpo” (Rm
8.18,21,23,26).
Uma vida
comunitária: Jesus enviou seu Espírito para a comunidade de seus seguidores –
pessoas comuns, diferentes e pecadoras. Temos a promessa dos dons do Espírito,
que nos capacita a vivermos juntos, cuidando uns dos outros. Reconhecemos a
presença do Espírito no e através do culto e dos meios da graça – nem sempre
espetaculares, e que, algumas vezes, parecem ser rotineiros e muito simples.
Uma vida de
confissão de fé: “A fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade e a
Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância. Pois
uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas uma só
é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a
majestade (…) E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou
menor; porém todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si; de modo
que, em tudo, conforme já ficou dito acima, deve ser venerada a Trindade na
unidade e a unidade na Trindade. Portanto, quem quer salvar-se, deve pensar
assim a respeito da Trindade” (Credo de Atanásio, 3-6, 24-26).
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Fonte: Voltemos Ao Evangelho