Por Morgana Mendonça dos Santos
A Total Depravação antes de ser o
primeiro ponto da TULIP, é um ensinamento bíblico, uma verdade que contrasta
efusivamente com a visão que a grande maioria tem do ser humano. A visão
influenciada pela ideia (Pelagiana) de que o homem precisa de uma receita
apenas, pois o problema dele é temporário ou remediável vem nos forçar a ir
contra as Escrituras. Uma enfermidade moral resultando uma parcialidade
corrompida, isto é, podendo ainda ser “ele” responsável pelas suas escolhas e
decisões. Estamos convictos que esse pensamento é uma heresia, não pós-moderna,
pelo contrário, bem antiga.
“A expressão ‘pecado original’
não significa que o pecado faça parte da natureza humana como tal, pois ‘Deus
fez o homem reto’ (Ec 7.29). Mais exatamente, ‘pecado original’ significa que a
pecaminosidade marca a cada um desde o nascimento, na forma de um coração
inclinado para o pecado, antes de quaisquer pecados de fato cometidos. Essa
pecaminosidade íntima é a raiz e a fonte desses pecados atuais. Ela nos foi
transmitida por Adão, nosso primeiro representante diante de Deus. A doutrina
de pecado original nos diz que nós não somos pecadores porque pecamos, mas
pecamos porque somos pecadores, nascidos com uma natureza escravizada ao
pecado.” [1]
Segundo o autor Gise Van Baren
[2]:
"O que nós devemos entender
por 'depravação total'? 'Depravação' significa perversidade, corrupção, o mal
inato do homem não regenerado. Adicionar a palavra 'total' a depravação, é
enfatizar sem nenhuma sombra de dúvida, a verdade que não há absolutamente
nenhuma bondade no homem natural, no homem que é nascido do Adão caído."
As Escrituras Sagradas afirmam com
clareza a condição humana caída.
Efésios 2.1 "Ele vos
vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”.
Colossenses 2.13 "e a vós,
quando estáveis mortos nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne,
vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todos os delitos”.
O Apóstolo Paulo é claro,
oferecendo a realidade do nosso estado antes da regeneração ou novo nascimento.
Estávamos mortos, isto é, mortos por conta dos nossos pecados, corrompidos
totalmente, de fato, depravados. Todavia, esse homem foi criado à imagem (Ec
7.29) e semelhança de Deus (Gn 1.26-27). Deus deu uma ordem (Gn 2.16-17) ao
homem e através dessa obediência o homem poderia obter vida. De forma
consciente o homem falhou desobedecendo a Deus (Gn 3.6), rebelando-se contra o
seu Criador. Pecado esse conhecido como a "Queda do Homem", trazendo
uma trágica realidade: o homem está morto espiritualmente e sofreu uma ruptura
na ligação da sua alma com Deus o que mais adiante resultou em morte física.
Romanos 5.12 "Portanto, como
por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a
morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram”.
Adão como representante de toda a
raça humana, afetado pelo pecado e pelo pecado a morte, condicionando assim
toda a humanidade a um estado de destituição para com o Criador. Com isso
tornando o homem objeto da justa ira de Deus, e por conta desse pecado a morte
passa a todos os homens. A humanidade recebeu essa herança da culpa do pecado e
por isso todos nascem totalmente depravados e espiritualmente mortos.
Significando uma natureza má, não de forma intensiva e sim extensiva, no que se
define todo o nosso ser, isto é, intelecto, emoções e vontades, no qual, estão
corrompidos pelo pecado.
Romanos 3.10-18 "Como está
escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há
ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram
inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro
aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está
debaixo de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus
pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e
miséria; E não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus
olhos".
Eclesiastes 7.20 "Pois não
há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque”.
Salmos 14.1-3 “Diz o néscio no
seu coração: Não há Deus. Os homens têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em
suas obras; não há quem faça o bem. O Senhor olhou do céu para os filhos dos
homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento, que buscasse a Deus.
Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não
há sequer um”.
Compare com o salmo 53 e perceba
que é o único Salmo que se repete, gerando uma inabilidade total para
reconciliar-se com o Seu Criador, esse homem depravado, por si só, é
completamente incapaz de crer em Cristo verdadeiramente. Vejamos o que mais uma
vez Paulo diz:
Romanos 3.23 "Porque todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus".
Esse estado
"destituído" do homem para com Deus o torna eternamente morto, se
Deus não tomar a iniciativa de salvá-lo, ele continuará assim. Impossível ao
homem fazer algo de si mesmo que contribua para a sua salvação. Essa doutrina
chamada por alguns da incapacidade humana ensina que de fato, torna-se
impossível que um pecador escolha a Deus. Devendo isso preceder a obra
vivificadora e regeneradora do Espírito Santo. O próprio Cristo afirma que a
eleição é incondicional, a graça é irresistível.
João 6.44 “Ninguém pode vir a
mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”.
Essa obra chamada
"regeneração" antecede o arrependimento, confissão e crença genuína
no Evangelho. O próprio Espírito Santo cumpre a sua função de convencer o homem
do pecado, da justiça e do juízo. (João 16.8)
Na Confissão de Fé de Westminster
[3], encontramos a seguinte afirmação:
"O homem, por sua queda em
um estado de pecado, perdeu completamente toda a capacidade de desejar qualquer
bem espiritual que acompanhe a salvação; portanto como homem natural
inteiramente contrário ao bem e morto em pecado, ele não é capaz, por sua
própria força, de converter-se ou mesmo preparar- se para isso”.
"Quando Deus converte um
pecador e o transfere para o estado de graça, Ele o liberta de sua natural
escravidão ao pecado, e somente por Sua graça, Ele permite que ele livremente
deseje e faça o que é espiritualmente bom [...]".
No Catecismo de Heidelberg [4]
observamos:
“Somos então tão corruptos ao
ponto de sermos totalmente incapazes de fazer qualquer bem que seja, e
inclinados para todas as perversidades?
Resposta: Certamente nós
somos, exceto se formos regenerados pelo Espírito de Deus”.
Na Confissão Belga [5] há uma
declaração:
"Tornando- se ímpio,
perverso e corrupto em todas as suas práticas, ele perdeu todos os dons
excelentes, que tinha recebido de Deus. Nada lhe sobrou destes dons, senão
pequenos traços, que são suficientes para deixar o homem sem desculpa."
Tito 3.3-5 "Porque também
nós éramos outrora insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias
paixões e deleites, vivendo em malícia e inveja odiosos e odiando-nos uns aos
outros. Mas quando apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador e o seu amor para
com os homens, não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito,
mas segundo a sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e
renovação pelo Espírito Santo."
Ao declarar a depravação em sua
totalidade, queremos afirmar três coisas:
Primeiro, todos os homens, exceto Cristo, são
depravados e transgressores (Sl 142.3; Sl 53.2-3)
Segundo, em cada parte, são
depravados. Seus atos, emoções, vontades, corações, pensamentos são
comprometidos pela sua condição diante de Deus.
Terceiro, de forma completa em
cada parte, os homens são depravados. Não há uma parcialidade, cada parte do
homem é totalmente depravada e não há nenhum bem em parte alguma.
Com isso veremos a necessidade da
Cruz, revelação da Sua Graça, que impossibilita o homem a fazer qualquer coisa
para concertar sua real situação para com o Criador de todas as coisas, para a
Sua Glória.
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NOTAS:
[1] Bíblia de Estudo de Genebra,
Editora: Cultura Cristã.
[2] BAREN, Gise Van. Depravação
Total. Fireland Missions: janeiro de 2013
[3] Confissão de Fé de
Westminster - Capítulo IX: III-IV.
[4] As três formas de Unidade das
Igrejas Refromadas – A Confissão Belga, O catecismo de Heidelberg e Os Canones
de Dort. Editora: Puritanos, 2009. (Parte 1, Dia do Senhor 3, Pergunta 8. Ref.:
Gn 6.5; Jó 14.4; Is 53.6; Jó 3.3-5.)
[5] As três formas de Unidade das
Igrejas Refromadas – A Confissão Belga, O catecismo de Heidelberg e Os Canones
de Dort. Editora: Puritanos, 2009. (Confissão Belga - artigo XIV.)
Fonte: Cristianismo Simples