Por Bruno Souza de Melo
Introdução
Quando falamos sobre o tema
expiação limitada, temos pensar que primeiramente no seu conceito que é
trabalhado em toda a escritura, de Gênesis a Apocalipse. Não podemos
simplesmente defini-lo e jogá-lo dentro dos textos bíblicos, como se ele fosse
uma conclusão de dois ou três argumentos tirados de versos isolados que vemos
na bíblia. Claro, depois que analisarmos o conceito de expiação na progressão
da revelação, temos como tirar conclusões lógicas, usar boa dialética para
defender essa sentença tão fundamental da Escritura.
Os cinco pontos do calvinismo
sistematizam com perfeição cirúrgica a situação pecaminosa da humanidade, a
eleição, a expiação limitada, a graça irresistível e a perseverança dos santos.
Eles são excelentes norteadores quando queremos demonstrar a lógica vinda da
revelação de Deus.
Com esse pensamento queremos
trabalhar o tema expiação limitada na perspectiva da progressão da revelação,
ou seja, usando o escopo de análise da teologia bíblica que vê a escritura com
seus temas específicos percorrendo toda a história da salvação do AT ao NT.
Também veremos a importância do tema, até seu cume na chegada de Cristo. Depois
disso, trataremos a questão da expiação limitada com textos próprios dos
teólogos sistemáticos (Aula do Seminário Presbiteriano do Norte – Prof. de
Teologia sistemática Daniel Carneiro), e por fim, refutar com alguns argumentos
lógicos a tentativa frustrada dos arminianos em atacar essa doutrina. O livro
usado será soberania banida de R. K. Mcgregor Wright.
Definição do termo
Expiação: É A obra de Deus em
favor de pecadores para reconciliá-los consigo mesmo. Resolvendo o pecado
humano, para proporcionar a comunhão com Deus. Sendo Cristo crucificado o
centro da reconciliação com Deus e sua misericórdia. Sabendo que o homem está
separado de Deus, a ira dele disferida sobre todos, observamos que este é um
tema que se desenvolve em toda a escritura, logo, essa problemática na história
da redenção remete o trabalho de Deus trazendo o sacrifício vicário desde os
tipos aos antítipos. Quando falamos o temo “limitado” é que sabemos que Cristo
morreu especificamente e eficazmente por um número de pessoas, ou seja, por um
povo.
O conceito de expiação no AT
Quando partimos do AT para
entender o conceito expiação, temos que admitir que Deus é quem garantia a
eficácia expiatória do ritual prescrito. Qualquer sacrifício no AT não perdoava
pecados, o sacrifício era a expressão de um coração contrito que apelava pela
misericórdia de Deus Sl 51.17, esse ponto progride até Cristo que cumpre toda a
exigência divina.
No AT Lv 16 o sacrifício de expiação, o rito do sacerdote no dia da expiação tinha um simbolismo vicário, a vítima do sacrifício sofria o castigo de Deus em lugar do pecador. Isto libertava o transgressor satisfazendo a ira justa de Javé. (Ez 18.4, Gn 2.17, Dt 12.23).
No AT Lv 16 o sacrifício de expiação, o rito do sacerdote no dia da expiação tinha um simbolismo vicário, a vítima do sacrifício sofria o castigo de Deus em lugar do pecador. Isto libertava o transgressor satisfazendo a ira justa de Javé. (Ez 18.4, Gn 2.17, Dt 12.23).
A expiação no NT
O NT mostra que a progressão da
revelação caminhou para seu ápice, que é a morte e ressurreição de Jesus
Cristo, o qual, cumpriu os tipos do AT, ou seja, toda a gama de sacrifícios
expiatórios do AT eram figuras que apontavam para Cristo em sua morte sacrificial
expiatória que trazem em seu bojo o justo pelo injusto, resgatando a MUITOS 1
Pe 3.18, Mc 10.45.
Pensemos assim: Jesus paga o
preço pelo pecado Rm 3.25-26, Gl 3.13. Morre no lugar de pecadores 2 Co 5.21,
redimindo os pecadores pelo seu sangue Ef 1.7, liberta pecadores 1 Co 6.20, Gl
5.1, nos deu a vitória 1 Co 15.55-57, por suas feridas fomos curados 1 Pe 2.24.
O NT define cruz e expiação como quase idênticos.
A importância da expiação
Devido a aproximação do juízo de
Deus sobre os seres humanos e seus atos de injustiça como citamos, Jesus morre
e expia o pecado eliminando a condenação, mas também faz propiciação que é o
desvio da ira de Deus. Em resumo Deus prometeu condenar pecadores que não
tivessem suas transgressões expiadas. A importância disto é fundamental, pois
imagine que a ira de Deus não foi aplacada por um sacrifício perfeito? O que
isso causaria? A conclusão é simples, estaríamos debaixo da ira de Deus, sem
termos o preço do nosso pecados pagos. Logo, caminharíamos para a condenação do
inferno.
Queremos enfatizar aqui que o
Mitter, o centro, ou o fio que passou em toda escritura do AT ao NT desaguando
em Ap 13.8 “Cordeiro morto desde a fundação do mundo” é que Deus expia o pecado
mediante sacrifício em prol de um povo específico, portanto, a importância do
termo expiação é basilar para nossa compreensão da salvação.
A doutrina da expiação limitada
numa visão sistematizada
Entendemos o tema dentro da
história da salvação, vemos que ele existe, que foi paulatinamente e
pedagogicamente explanado na escritura até Cristo. Agora, vamos apontar textos
prova, só que de uma forma sistematizada o que chamamos de limitação da expiação.
Isto, para termos uma maior facilidade no entendimento da doutrina. Faremos
como um fotógrafo que foca em textos relevantes concernentes ao assunto,
diferentemente do que executamos acima, quando filmamos o movimento do conceito
expiação do AT ao NT sem levarmos em conta o aspecto da limitação dessa
expiação.
Queremos começar com a pergunta clássica: Cristo comprou a salvação para todos os homens? Segundo os arminianos sim, segundo os calvinistas não. Diante disso, podemos citar Arthur Pink, teólogo calvinista escreveu o seguinte sobre o assunto:
Queremos começar com a pergunta clássica: Cristo comprou a salvação para todos os homens? Segundo os arminianos sim, segundo os calvinistas não. Diante disso, podemos citar Arthur Pink, teólogo calvinista escreveu o seguinte sobre o assunto:
“... Se Cristo levou em seu
próprio corpo, no madeiro, os pecados de todos os homens, sem exceção, nenhum
deles perecerá. Se Cristo se fez maldição em favor de todos os membros da raça
de Adão, ninguém sofrerá a condenação final... Mas Cristo não saldou a dívida
de todos os homens sem exceção, porquanto há alguns... que “perecem no seu
pecado!” (Cristo) não foi feito maldição pela totalidade da raça de Adão,
porque há aqueles aos quais ainda dirá: “Apartai-vos de mim malditos.”
Um outro ponto da escritura que
corrobora bem com nosso raciocínio é o texto de Paulo que descreve a morte de
Cristo deixando claro que é um cancelamento de dívida (Cl 2.14). Devemos
Perguntar então: O mundo inteiro está com sua dívida cancelada diante de Deus?
É claro que não, caso contrário ninguém seria mandado para o inferno. A
escritura deixa evidente que Cristo Morreu por Suas Ovelhas, Por Seu Povo, Por
Sua Igreja, ela distingue ou divide a humanidade, metaforicamente, como ovelhas
e cabritos (Mt 25.32,33, 34,41). As ovelhas são os crentes em Cristo e os
cabritos são os incrédulos. Os cabritos são atirados no inferno, lugar
preparado para o diabo e seus anjos. Eu pergunto: Cristo morreu pelos cabritos?
É claro que não. As ovelhas
resplandecerão como o sol no reino que lhes foi preparado desde a fundação do
mundo. Por suas ovelhas Cristo deu sua alma (Jo. 10.14,15,26,27). Jesus tem um
rebanho que é composto pelos que creram Nele, e foi por eles que Ele deu Sua
vida. Observe o conselho que Paulo dá aos presbíteros de Éfeso em Atos 20.28 e
o que ele escreveu em Efésios 5.25.
A oração de Jesus pelos
escolhidos limita a expiação a um grupo
A oração sacerdotal de Jesus não
foi um pedido de salvação pelo mundo, mas única e exclusivamente pelos Seus
escolhidos, pelo Seu povo. Não faria sentido Cristo morrer pelo mundo e se
negar a orar pelo mundo. Cristo não orou pelo mundo porque não morreu pelo
mundo. Cristo orou por aqueles por quem daria Sua vida (Jo. 17.6-9,12,15-17,19-26).
Em suma, respondendo o que propomos na sentença: Por quem Cristo Morreu? Por
“Seu Povo”, Por “Suas Ovelhas”, Por “Sua Igreja”. Por ninguém mais. Este é o
ensino bíblico e evidente desde o AT leiamos Is 53.11,12.
Considerações finais e lógicas do
teólogo McGregor White
O livro soberania banida é
contundente quando se trata do assunto expiação, ele fomenta e argumenta não
deixando dúvidas quanto a limitação da mesma. Vejamos alguns pontos
irrefutáveis desse belíssimo trabalho:
Argumentações que refutam textos
aparentemente arminianos
1-Um texto clássico usado pelos arminianos é
João 3:16 que diz: Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho
unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Embasado nesse texto eles dizem
que quem quiser vir a Cristo vem livremente.
Refutação: O problema é que mesmo
que o ser humano venha, ocasionaria a expiação universal. Onde Cristo morreria
por todos os homens, logo, mesmo sendo incrédulo ao próprio Cristo a pessoa
seria salva.
2-Um outro texto é: Porque isto é bom e agradável diante de Deus
nosso Salvador, Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao
conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os
homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por
todos, para servir de testemunho a seu tempo. 1 Timóteo 2:3-6
Eles afirmam que “todos os
homens” e “todos” devam significar todos os seres humanos existentes.
Refutação: O texto se refere a
todos os tipos de pessoas, ou seja, Reis e autoridades. Refere-se ao verso 1 e
2 e não todos os homens. Cairíamos novamente no universalismo.
3-Passemos agora a brilhante defesa da
expiação limitada ou particular, na visão de John Owen.
3.1-Cristo morreu por alguns
pecados de todos os homens. Não por todos os pecados de homens específicos.
Refutação: Todos os homens tem
alguns de seus pecados pagos, mas ninguém será salvo.
3.2-Cristo pagou o preço na cruz
por todos os pecados de todos os homens.
Refutação: Por que então todos
não são libertos da punição do pecado?
Possível resposta do arminiano:
Por causa da incredulidade deles; eles não crerão.
Perguntamos: Mas essa
incredulidade é pecado ou não? Se não, por que deveriam ser eles punidos por
ela?
Perguntamos novamente: Se ela
(incredulidade) é um pecado, então Cristo sofreu a punição devida por ela ou
não?
Ainda respondemos: Se ele não
morreu por esse pecado de incredulidade, então ele não morreu por todos os
pecados deles.
3.3-Os argumentos dos calvinistas
são lógicos e não bíblicos.
Refutação de McGregor citando J.
I. Packer:
"Ninguém tem o direito de
desprezar a doutrina da limitação da expiação, como se ela fosse uma
monstruosidade da lógica calvinista, até que tenha refutado a prova de Owen de
que ela é parte da apresentação bíblica uniforme da redenção, claramente
ensinada em passagem após passagem. E ninguém fez isso ainda."
Concluímos que a prova bíblica da
expiação limitada é irrefutável. Demonstramos ela na linha da história da
salvação, dentro do escopo analítico da teologia bíblica. Apontamos evidências
na progressão da revelação, que gradativamente trabalhou o conceito do AT ao NT
alcançando a plenitude em Cristo. Ainda provamos que os argumentos dos teólogos
sistemáticos são suficientes para qualquer mente equilibrada crer na
particularidade da expiação. Finalizamos com a bela exposição de argumentos
fortíssimos do livro Soberania banida de McGregor. Ele utiliza John Owen, que
despedaça qualquer tentativa dos arminianos em ir de encontro a expiação
limitada.
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Bruno Souza de Melo é Presbítero e seminarista do
SPN-PE.
Fonte: Cristianismo Simples