Por Thomas Magnum
Introdução
Ao examinarmos ainda que rapidamente o
assunto – evangelização – pelo prisma mais popular notamos que comumente
algumas frases prontas são utilizadas como:
a) “Aceite
Jesus, ele quer morar em seu coração...”
b) “Dê
uma chance a Deus, ele pode mudar sua vida...”
c) “Jesus
te ama e quer te salvar... só depende de você...”
Esse tipo de abordagem é totalmente
antropocêntrica, ou seja, a preocupação maior da evangelização é o homem, e
vale tudo para que o homem entenda a mensagem. De fato o homem é alvo da graça
de Deus e por ter sido feito a imagem e semelhança do criador ele precisa
cumprir os mandatos que lhe foram dados no início, mas, sem a graça redentora
de Deus ele não poderá cumprir esses mandatos contidos em Gênesis 1.26-30.
Nessa passagem nós temos três mandatos pactuais – mandato cultural, mandato
social e mandato espiritual. Esses mandatos foram dados antes da grande
comissão (Mt 28.19), nesses mandatos dados pelo Criador o homem teria que
glorificar a Deus em todas as suas atividades culturais, em todas as suas
atividades familiares e em toda sua atividade espiritual. Ao estarmos na Queda do pai da raça que era Adão não
seria possível o homem cumprir esses mandatos como Deus havia determinado, o
pacto foi quebrado, e na teologia aliancista chamados esse pacto de: Pacto de
Obras. E o que viria a ser o Pacto de Obras? Primeiro entendamos em que
consiste esse pacto e o que é o pacto de obras, a Confissão de Fé de
Westminster (CFW) nos diz que
Tão grande é a distância entre Deus e a
criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como seu
Criador, nunca poderiam fruir nada dele como bem-aventurança e recompensa,
senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele
servido significar por meio de um pacto [1].
O primeiro pacto feito com o homem era
um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e nele à sua
posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal [2].
Essa é nossa base inicial para que
compreendamos qual a posição do homem na evangelização e qual a posição de Deus
na salvação de pecadores. Notemos que o homem não é o personagem principal no
drama da salvação, mas, Deus. Por isso chamamos a evangelização bíblica de
Teocêntrica e não de Antropocêntrica, a evangelização bíblica tem Deus no
centro e não o homem. Visto que o homem quebrou esse pacto de obras o próprio
Deus providenciou outro pacto para a salvação do homem caído vejamos:
O homem, tendo-se tornado pela sua
queda incapaz de vida por esse pacto, o Senhor dignou-se fazer um segundo
pacto, geralmente chamado o pacto da graça; nesse pacto ele livremente oferece
aos pecadores a vida e a salvação por Jesus Cristo, exigindo deles a fé nele
para que sejam salvos; e prometendo dar a todos os que estão ordenados para
vida o Santo Espírito, para dispô-los e habilitá-los a crer [3].
Isso nos dá a base para afirmar que
todo homem que não creu no Filho de Deus como seu suficiente salvador está
debaixo do pacto de obras, notemos que ele está sob o pacto de obras, mas, não
pode cumpri-lo porque está caído, está irredimido, está destituído da glória de
Deus como nos diz o Texto Sagrado: “...pois
todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”. (Romanos 3.23-NVI)
O fato de o homem não cumprir o pacto
de obras o condena, porque a lei exige dele esse cumprimento. Vejamos: “Pois
quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la
inteiramente.” (Tiago 2.10 – NVI)
Fica claro que o homem por si mesmo não
pode ir a Deus sem que seja trazido pelo próprio Deus.
Deus:
o Autor da Evangelização
Entendido o fato que Deus é supremo na
tarefa evangelizadora da Igreja, reconhecemos que Deus é o Autor da
Evangelização. A maior tarefa da Igreja é glorificar a Deus entre todos os
povos e a evangelização é um meio para que isso aconteça. É importante
frisarmos que a evangelização está no decreto eterno de Deus, e chamamos isso
na teologia de Pactum Salutis ou Aliança da Redenção como nos diz R.B.
Kuiper:
As raízes da evangelização estão na
eternidade. Os teólogos costumam falar do pactum
salutis, feito na desde toda eternidade pelas três pessoas da Deidade.
Pode-se traduzir a expressão pactum
salutis tanto por Aliança da Redenção
como por conselho da redenção...
Neste plano, Deus o Pai devia enviar se Filho ao mundo para resgatá-lo; Deus o
Filho haveria de vir voluntariamente ao mundo para se tornar merecedor da
salvação por sua obediência até a
morte; e Deus o Espírito aplicaria a salvação aos pecadores, instilando neles a
graça renovadora [4].
É importante compreendermos um ponto da
doutrina de Cristo que chamamos de obediência ativa de Cristo. Cristo obedeceu
livremente, ou seja, guardou perfeitamente o pacto de obras, pacto este que o
homem caído não pode mais guardar por que pecou e o pecado o legou ao fracasso
espiritual, a morte espiritual (Ef 2.1-10), mas, Cristo morreu pela Igreja (Ef.
5.25; 2 Co 5.14; Jo 10.11), e sua morte foi o sacrifício substitutivo pelos
pecadores que Deus determinou salvar como nos diz Lucas no livro de Atos 13.48.
E a forma desses pecadores virem a Deus pela mediação de Cristo (1 Tm 2.5) é
pela pregação do Evangelho conforme Paulo ensina em Romanos 10. A pregação é a
forma que Deus determinou para trazer os pecadores à fé. Vejamos o que diz
Romanos 10.17: “E, assim, a fé vem pela
pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo”.
A pregação é o meio pelo qual o pecador
é levado à fé pelo Espírito Santo. Essa é uma verdade vital do Cristianismo
bíblico.
Qual
é o Motivo para a Evangelização?
Nos diz o Breve Catecismo de Westminster em sua
primeira pergunta:
Qual é o fim principal do homem?
Resposta:
O fim principal do homem é glorificar a
Deus, e gozá-lo para sempre [5].
Ao evangelizarmos não cumprimos somente
uma ordem divina, mas, devemos pregar ao mundo caído porque amamos a Deus e
queremos proclamá-lo em todas as nações vejamos o que nos diz o salmista no
Salmo 67:
Que
Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça resplandecer o seu rosto
sobre nós, para que sejam conhecidos na terra os teus caminhos, e a tua
salvação entre todas as nações. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos
todos. Exultem e cantem de alegria as nações, pois governas os povos com
justiça e guias as nações na terra. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te todos
os povos. Que a terra dê a sua colheita, e Deus, o nosso Deus, nos abençoe! Que
Deus nos abençoe, e o temam todos os confins da terra.
Fomos comissionados a glorificar a Deus
entre todas as nações, reder-lhe louvor entre todos os povos línguas e nações,
o livro do Apocalipse nos mostra vários cânticos louvor a glória da graça do
Deus salvador e redentor, no capítulo 15, versos 3 e 4 nós lemos:
Grandes
e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus Todo-Poderoso. Justos e
verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações. Quem não te temerá, ó
Senhor? Quem não glorificará o teu nome? Pois tu somente és santo. Todas as
nações virão à tua presença e te adorarão, pois os teus atos de justiça se
tornaram manifesto.
Diz o teólogo J.I. Packer – Glorificamos a Deus pela evangelização não
somente porque a evangelização é um ato de obediência, mas também porque na
evangelização contamos a todo o mundo quão grandes obras poderosas da graça de
Deus se tornam conhecidas, ele é glorificado [6].
Consequentemente se entendemos que a
evangelização é também uma expressão de nossa adoração e nosso amor ao Senhor,
amaremos nosso próximo que desejaremos que muitos sejam alcançados com as verdades
eternas do Evangelho de Cristo. Para finalizarmos, cito mais uma vez a CFW:
No Evangelho Deus proclama seu amor ao mundo, revela clara e
plenamente o único caminho da salvação, assegura vida eterna a todos quantos
verdadeiramente se arrependem e crêem em Cristo, e ordena que esta salvação
seja anunciada a todos os homens, a fim de que conheçam a misericórdia
oferecida e, pela ação do Seu Espírito, a aceitem como dádiva da graça [7].
Conclusão
Deus, é o início e o fim da
evangelização, a glória de Deus é a coisa mais importante. O desejo de Deus é
ser glorificado e o homem foi criado para isso. Portanto todo método de
evangelização que coloca o homem no centro é idólatra, todo método de
evangelização que não diz que o homem é um pecador caído e necessitado de
redenção falha em sua abordagem e todo método que somente mostra o homem como
caído, mas, não lhe mostra Jesus como caminho é igualmente inválido. Todo
método de evangelização deve ser teocêntrico, sendo teocêntrico será também
cristocêntrico. Toda a Bíblia possui uma abordagem histórico-redentiva, a
história da salvação, devemos seguir o método bíblico em apresentar a mensagem
do Evangelho, Deus no centro de tudo.
“E
disse-lhes: Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas”.
Marcos 16.15
Amém.
***
Notas:
[1] CFW, cap. 7.1. Jó 9.32-33; Sal.
113. 5-6; At 17.24-25; Lc 17.10.
[2] CFW, cap.7.2. Gal. 3.12; Rom.
5.12-14 e 10.5; Gen. 2.17; Gal. 3.10.
[3] CFW, cap. 7.3. Gal, 3.21; Rom.
3.20-21 e 8.3; Isa. 42.6; Gen. 3.15; Mat. 28.18-20; Jo 3.16; Rom. 1.16-17 e
10.6-9; At. 13.48; Ezeq. 36.26-27; Jo. 6.37, 44,45; Lc. 11.13; Gal. 3.14.
[4] Kuiper. R.B. Evangelização
Teocêntrica, Ed. PES, 2ª edição, 2013, p.9.
[5] Breve Catecismo de Westminster –
Referências: Rom. 11.36; 1 Co 10.31; Sal 73.25-26; Is 43.7; Rom.14.7-8; Ef.
1.5-6; Is. 60.21; Is. 61.3.
[6] Packer, J.I. Evangelização e a
Soberania de Deus, Ed. Cultura Cristã, 2ª edição, 2011, p.89.
[7] CFW, cap. 35.2. Jo 3.16 e 14.6; At
4.12; 1 Jo 5.12; Mc. 16.15; Ef. 2.4,8,9.