Por Thiago Oliveira
Texto
Base: 1 João 2:18-29
18. Filhinhos, esta é a
última hora; e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora
muitos anticristos têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora.
19. Eles saíram do nosso
meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam
permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos
nossos.
20. Mas vocês têm uma
unção que procede do Santo, e todos vocês têm conhecimento.
21. Não lhes escrevo
porque não conhecem a verdade, mas porque vocês a conhecem e porque nenhuma
mentira procede da verdade.
22. Quem é o mentiroso,
senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo: aquele que
nega o Pai e o Filho.
23. Todo o que nega o
Filho também não tem o Pai; quem confessa publicamente o Filho tem também o
Pai.
24. Quanto a vocês, cuidem
para que aquilo que ouviram desde o princípio permaneça em vocês. Se o que
ouviram desde o princípio permanecer em vocês, vocês também permanecerão no
Filho e no Pai.
25. E esta é a promessa
que ele nos fez: a vida eterna.
26. Escrevo-lhes estas
coisas a respeito daqueles que os querem enganar.
27. Quanto a vocês, a
unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os
ensine; mas, como a unção dele recebida, que é verdadeira e não falsa, os
ensina acerca de todas as coisas, permaneçam nele como ele os ensinou.
28. Filhinhos, agora
permaneçam nele para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e não
sejamos envergonhados diante dele na sua vinda.
29. Se vocês sabem que ele
é justo, saibam também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele.
Introdução
Algo que não foi dito
ainda durante estas exposições da primeira epístola de João é que o gnosticismo
era uma heresia que vinha sido combatida pelos apóstolos e mestres da igreja
primitiva. Os adeptos desta “religião de mistério” criam que através do
conhecimento chegariam a Deus. Todavia era um conhecimento advindo não do
estudo, mas sim de experiências místicas e imersões no campo do sobrenatural.
Deixei para falar neste momento em que o apóstolo João trata dos falsos
mestres. João não diz em seu texto que eles são gnósticos, mas é possível
presumir isso ao olhar o contexto histórico que compreende o período em que a
carta foi escrita.
Soma-se aos gnósticos os
judeus que negavam a divindade de Jesus e que não o reconheciam como o Messias
enviado por Deus. Estas eram as ameaças a sã doutrina, as duas correntes que
mais traziam prejuízo a Igreja. Aqui veremos que a Igreja precisa se manter
fiel no ensino da Escritura e se preparar para enfrentar os falsos mestres e os
que têm o espírito do anticristo. Eles serão vencidos desde que os santos que
integram o Corpo de Cristo retenham o conhecimento da verdade.
Vivendo
na última hora (18-19)
Na linguagem do apóstolo,
a igreja primitiva já estava vivendo a “última hora”, sendo assim, não seria
exagero afirmar que vivemos no “último minuto”. Esta cronologia regressiva
aponta para o momento culminante da história, o evento que encerrará o tempo
presente e dará início a eternidade. Tudo que Deus revelou por meio de sua
Palavra foi cumprido em Cristo. A esperança final e expectativa da Igreja é que
se cumpra o retorno daquele que já veio e há de vir novamente, mas dessa vez
virá entronizado e julgará os vivos e os mortos (At 10.42 e 2Tm 4.1). A segunda
vinda de Cristo é o evento que deve ser aguardado por toda geração de cristãos.
É salutar vivermos na perspectiva de sermos a geração que verá o “grande dia”
chegar.
O anticristo é um termo
presente apenas nos escritos joaninos, todavia, levando em consideração outras
nomenclaturas, temos registros sobre ele em outras passagens da Escritura (Dn
11.36-37, MT 24.15 e 2Ts 2.3). Este representa não apenas um oponente do Senhor
Jesus, mas alguém que deseja ocupar o seu lugar. Por isso, podemos presumir que
sua oposição pode de início não ser aberta, e sim velada. O anticristo pode
seduzir a muitos, pois ele tem o espírito do Enganador, e se colocar como alguém
que está dando continuidade ao que Cristo iniciou. Ele será manifesto próximo
ao retorno do Senhor, e terá obtido prestígio e veneração entre os que são do
mundo. Será adorado como uma divindade e quando estiver estabelecido seu trono
na terra, realizará uma ferrenha perseguição a Igreja, o que culminará em
martírio dos crentes e apostasia, pois aqueles que são apenas cristãos
nominais, diante da perseguição vão demonstrar sua verdadeira faceta de ímpios.
Só que antes que este
anticristo final apareça, seu espírito já opera no mundo por meio de seus
representantes infiltrados dentro da Igreja. João adverte que nas fileiras da
própria Igreja encontramos alguns de seus algozes. Os falsos mestres e
enganadores, os homens que desejam controlar o rebanho do Senhor por jactância
e ambição estão entre estes anticristos. Estes vão se revelar com o tempo e
voluntariamente abandonarão a Igreja para trilhar o que pensam ser seu próprio
caminho, mas na verdade é o caminho de Satanás. João diz que mesmo eles tendo
saídos do meio da congregação, nunca pertenceram a Jesus, de fato. Aqui fica um
alerta: Ser membro de uma igreja não é sinal de pertencer a Cristo, muitos
estão no lado oposto da batalha, são agentes do anticristo fingindo ser
cristãos.
Unção
e Conhecimento (20-23)
A Igreja é portadora da
unção do Cristo. Ele é o ungido e foi ele quem nos ungiu com seu “óleo precioso
da unção”. Este é um termo que é mal empregado em muitos arraiais evangélicos.
Há quem fale em diversas “unções”. Lembro-me de uma música que falava assim “recebe a cura, recebe a unção. Unção de
ousadia, unção de conquista, unção de multiplicação”. Isto é fruto de
desconhecimento bíblico. A unção aqui é ter o Espírito Santo e com isso a clara
distinção entre os que são separados por Cristo e os que são do mundo. Jesus
foi ungido pelo Espírito Santo (At 10.38) e nos ungiu com o mesmo Espírito (At
1.8 e 2.4). Este Espírito é nosso selo, a marca que demonstra de quem somos
propriedade (Ef 1.13).
Os mestres gnósticos
afirmavam ter recebido uma unção especial, se achavam diferenciados. De acordo
com a heresia da gnosis, existiam dois tipos de cristãos: os incipientes e os
iluminados por um conhecimento que estava encoberto para os demais cristãos. Isso
vai de encontro à ortodoxia bíblica. A única distinção visível nas Escrituras é
entre crentes e incrédulos, eleitos e não eleitos, salvos e não salvos. Dentre
os crentes não existe divisão. Todos estão sob a tutela do mesmo Espírito,
n’Ele batizados na mesma fé (1Co 12:13 e Ef 4:4). Por isso, João afirma que o
conhecimento da verdade está atrelado a verdadeira unção no Espírito, marca de
todo o cristão. É o Espírito Santo quem livra o crente do engano, fazendo com
que ele não abrace o conteúdo herético dos falsos mestres.
A heresia se manifesta na
negação do senhorio de Jesus Cristo. Não existe nenhum caminho para se chegar a
Deus que não seja Cristo, ele é a única via (Jo 14.6), o único mediador entre o
Pai celeste e os homens (1Tm 2.5). Quando algum ensino se desvia do que diz o
Evangelho em busca de outras alternativas de crescimento espiritual ou
salvação, ele deve ser prontamente rejeitado pelos que têm o Espírito Santo.
Como afirma o apóstolo, a mentira não procede da verdade, sendo assim, os que estão
firmes nas verdades reveladas na Palavra de Deus, inspiradas pelo Espírito, não
irão sucumbir aos falsos ensinamentos e não negarão o senhorio de Jesus.
Firmeza
no que já se conhece (24-27)
Para que se permaneça
unido com Deus, o cristão deve se apegar aquilo que já foi transmitido e que
ele já conhece como sendo palavra divina. A inovação doutrinária é um câncer
que tem matado a comunhão de muitas igrejas com o Senhor. O apóstolo João
afirma que não devemos buscar novidades, mas sim ter um alicerce na pregação
apostólica (o que foi ouvido desde o princípio), pois esta é o fundamento da
Igreja, que tem em Cristo a sua pedra angular (Ef 2.20). Não é à toa quando se
diz que a pregação expositiva é uma marca distintiva de uma igreja saudável. E
quando a Igreja permanece firme na Palavra, ela tem a garantia que veio do
próprio Senhor e que está presente na Escritura. Jesus prometeu vida eterna
para os membros do seu Corpo.
Diante daquilo que já é
conhecido e tendo a unção do Espírito, a igreja está apta para enxotar de seu
meio os enganadores. Não é necessário que alguém traga ensinamento novo. O
apóstolo Paulo adverte que qualquer outra revelação que não se enquadre com o
conteúdo da pregação apostólica deve ser considerada maldita (Gl 1.8). Diante da
ameaça dos que querem enganar a Igreja com palavras persuasivas que estão em
desacordo com a Escritura, sejamos intransigentes, isto é, não toleremos os
falsos ensinamentos fazendo concessões. Quando se trata de ortodoxia - o
correto ensino doutrinário - não pode haver espaço para a flexibilidade. Para
erva-daninha não se coloca remédio, se coloca veneno. Nesse caso, a Palavra da
Verdade mata a erva-daninha chamada heresia.
Aptos
para o dia do Juízo (28-29)
Finalizando o capítulo 2,
João associa a firmeza doutrinária a aptidão para comparecer disnte do SENHOR
no dia do juízo. Aqueles que titubearam na ortodoxia serão envergonhados
perante aquele que é Justo. Justiça aqui é equivalente à retidão ou
santidade. Podemos afirmar que todo
aquele que tem consciência de quem Deus é, irá procurar viver de modo que O
agrade. Por isso, os que demonstram frutos de justiça, isto é, andam de maneira
íntegra, seguindo retamente os preceitos do Senhor sem adulterá-los com falsos
ensinamentos, dão prova de que são nascidos de Deus.
O cristão precisa ter
confiança e não medo do juízo vindouro, pois, está seguro em Cristo. Este nos
justificou para que andemos como Ele andou, fazendo a vontade do Pai e
recebendo a dádiva da vida eterna quando Ele voltar.
Aplicações
1. Preciso viver na
expectativa da volta de Cristo, ansiando estar com ele no Reino dos céus. Não
há nenhum prazer neste mundo que se compare ao gozo de desfrutar das bênçãos
celestiais no lugar que Jesus tem preparado para os seus.
2. Não posso dar ouvidos
aos falsos ensinamentos, e devo confrontar todo e qualquer ensino com a Palavra
da Verdade. Conhecimento de Deus e da palavra revelada é marca indelével de um
cristão.
3. Não devo temer o dia do
juízo, mas sim confiar de que meus passos andarão por caminhos retos, não por
algo de bom que exista em mim, mas porque Aquele que me guia é a luz que me faz
enxergar o chão em que piso e a cidade celestial que já desponta no horizonte.
Louvado seja Deus!