Por Thomas Magnum
Em toda história da Igreja
Cristã podemos pontuar vários ensinos contrários ao que a igreja professa. Isso
é um fato inegável. O Cristianismo sempre sofreu oposição ideológica. A
Ideologia de Gênero que tem sido pauta para os últimos debates
sócio-educacionais é um assunto que precisa ser refletido com seriedade pela
igreja e não pode ser ignorado, pelo simples fato de ser uma proposta
alteradora do modelo bíblico para a sexualidade humana, a saber, homem e mulher
(Gn 1.26-28). Ao me referir ao discurso hipermoderno sobre gênero, estabeleço
uma ligação própria com a heresia, o termo usado por heresia é o que a Igreja
tem professado no decorrer dos séculos, uma distorção da verdade declarada nas
Escrituras de forma axiomática. A heresia é um desfoque da fala divina, é uma
corrupção do ensino bíblico; e questão do gênero defendida por correntes
psicológicas, antropológicas e sociológicas é uma distorção clara e
confrontadora do que diz a Bíblia a respeito do homem e da mulher e de seu
comportamento sexual[i].
De fato e de verdade, as
teorias relativas à ideologia de gênero (também conhecidas como teoria queer ou
gender) são desdobramentos de ideologias sociais referentes ao feminismo[ii],
homossexualidade e demais distorções do comportamento sexual humano. O
processamento de tal ideologia na sociedade é desastrosa e extremamente
prejudicial. Crianças de ambos os sexos usarem o mesmo banheiro na escola?
Deixar que a criança descubra suas inclinações sexuais sem nenhum molde – seja
da religião, seja da moral vinda dos pais, seja de um padrão social ocidental –
é uma violação da liberdade e não uma proclamação da liberdade. A intenção
claramente é destruir a autoridade estabelecida, e isso é quebra do quinto
mandamento descrito no decálogo. É força empregada por ideologias de gênero,
obviamente ligadas a questões de hegemonia nas ideias biopolíticas. É um poder
ideológico que dá cabo a uma guerra cultural para erradicação da moralidade cristã
estabelecida no Ocidente. É um desmonte cultural em relação à função do homem e
da mulher na sociedade e uma nova formulação da ideia de família, obviamente
contrária a Palavra de Deus.
De um ponto de vista
teológico podemos dizer que a ideologia de gênero é uma negação da realidade,
uma negação da verdade e uma negação da autoridade. A realidade de que a
criança nasce com um sexo e gênero é o sinônimo e não algo a ser escolhido,
essa negação da realidade é uma violação do mandato social descrito em Gênesis
1. Onde lemos que o homem e a mulher deveriam procriar, assim a humanidade só se
multiplicaria pelo cumprimento do mandato social, e para que isso acontecesse a
sexualidade criada por Deus deveria ser cumprida como no plano original do
Criador e não no exercício da homossexualidade ou na neutralidade do sexo. Deus
criou o homem para se relacionar sexualmente com a mulher e não com outro homem
(Rm 1.24-27). O feminismo em seu formado agressivo de desestabilização da
autoridade masculina e exaltação da independência da mulher de toda opressão do
sexo oposto também é uma distorção do que dizem as Escrituras sobre o papel da
mulher no casamento e o papel do marido (veja Ef 5. 22-33), a submissão da mulher
ao marido é estabelecida pelo próprio Deus em sua Palavra e todo ensino
contrário é uma afronta a vontade do Criador.
É triste observarmos
quietos a invasão diabólica de tal ideologia, que em muitos casos é inserida em
materiais didáticos e paradidáticos aprovados pelo MEC. A ideologia de gênero
tem sido subliminarmente colocada nestes materiais, demonstrando o tamanho da
covardia e sordidez de gente que se diz educador e implanta monstruosamente na
mente de crianças, padrões de reconstrução moral e social[iii]. Obviamente, nosso objetivo aqui não é examinar historicamente e exaustivamente a questão da
ideologia, mas, direcionar para uma pesquisa mais ampla, diga-se de passagem,
urgente principalmente para pastores, pais e professores cristãos.
A urgência e a importância de refletirmos a
partir de uma visão teológica sobre o assunto é sem precedentes, nenhum cristão
que esteja envolvido nos campos de conhecimento está autorizado pela Palavra de
Deus a pensar autonomamente sobre quaisquer assuntos envolvendo a criação de
Deus. Com isso não estou defendendo a falta de liberdade científica, mas,
pontuando um princípio cristão (1 Co 10.31) que tudo que fazemos deve ser para
a glória de Deus. Nossa teologia deve atender a questões sociais e devemos
cultivar uma mente bíblica para o exercício de uma cosmovisão redentora, uma
percepção de mundo que aponte para Cristo, o Cristo total, o Cristo que é um
cerne da teologia, da revelação, da Criação e da ordem devida ao mundo criado.
Desenvolvermos uma
reflexão social a partir de bases bíblicas e teológicas é ordem das Escrituras
(Êx 20.1-3). O professor Felipe Nery, fundador do Observatório Interamericano
de Biopolítica relata em um de seus artigos que “... na Alemanha. Dois pais são
presos por não permitirem que seus filhos compareçam às aulas de sexo na
escola”. E continua:
O
caso dos pais presos na Alemanha por não aceitarem que sua filha fosse
doutrinada pela cartilha de “gênero” ilustra bem a índole dos promotores da
nova moral mundial. Trata-se de um grupo claramente totalitário. Embora use com
frequência termos como “liberdade”, “tolerância” e “diversidade”, aqueles que
ousam discordar de suas teorias mirabolantes são imediatamente punidos, ora por
meio da mentira e da difamação, ora por sanções legais – como é o caso de Eugen
e Luise Martens.
A
atitude desse casal, no entanto, não é uma simples “reação”, como se os dois
estivessem preocupados apenas em “desmascarar” a ideologia de gênero, ou fossem
meros soldados preocupados em matar o inimigo. Talvez, Eugen e Luise Martens,
pais de nove filhos, nem se interessassem muito por toda essa discussão, por
essa que é realmente uma guerra cultural. A situação com que se depararam, no
entanto, obrigou-os a agir. Não por ódio ao adversário, mas por amor àquilo que
tinham de mais valioso: os seus filhos[iv].
Felipe Nery completa
dizendo:
Algum
pai poderia imaginar-se na mesma situação? A escola do próprio filho, que ele
criou com tanto amor, dedicação e cuidado, querendo incutir em sua mente toda
“variedade” de práticas sexuais... O que fazer? Qual atitude tomar? Ora, o
gesto de Eugen e Luise parece bastante compreensível. É o mínimo que qualquer
pai e qualquer mãe podem fazer para preservar a integridade e a pureza de seus
filhos. Contudo, o Estado quer essas crianças para si, quer educá-las do “seu”
jeito, quer implantar nelas as suas ideias, ainda que sejam essas, absurdas,
citadas acima. É o que alguns parlamentares também absurdamente defendem,
quando trabalham pela implantação da ideologia de gênero em nosso país. Filhos
doutrinados, pais encarcerados – é este o futuro de uma nação que mina a
célula-base da sociedade, a família, e entrega as suas crianças nas mãos do
Estado. Eugen e Luise Martens representam a resistência dos homens de bem de
todo o mundo, que não querem ver os seus filhos sequestrados de suas mãos, para
serem manipulados por um Estado imoral e por uma ideologia depravada. Eugen e
Luise lembram, com sua atitude, que os pais, por serem os transmissores da vida
aos filhos, devem ser reconhecidos como seus primeiros e principais educadores,
e que essa função é essencial, insubstituível e inalienável. Eugen e Luise não
negam a importância da educação sexual, mas recordam que esta deve ser dada
fundamentalmente pelos pais, e não em oposição aos seus princípios e
valores[v].
Portanto o que nos resta
quanto cristãos? Com certeza, não um conformismo com tamanha calamidade moral e
social que nos cerca, não um isolacionismo irresponsável para com nossa
confissão de fé e para com a missão que nos foi dada (Rm 12.1-2). Finalizo com
um grandioso texto da Escritura que me faz refletir sobre nossa postura:
"Destruindo os conselhos, e
toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo
todo o entendimento à obediência de Cristo..."
2 Coríntios 10:5
_____________
[i] Recomendo ao leitor
para aprofundamento do assunto, principalmente para um alerta sobre a prática
de ensino nas escolas sobre a questão gender (gênero), o site do Observatório
Interamericano de Biopolítica que tem discutido de forma competente sobre o
assunto de gênero (http://biopolitica.com.br/)
[ii] Para esclarecimentos
históricos a respeito da origem e desdobramentos da questão recomendo o
livro - Gender, Quem és tu? Sobre a
ideologia de gênero, escrito por Olivier Bonnerwijn, editora Ecclesiae.
[iii] Citação do meu
artigo no blog Electus – Ideologia de Gênero, a negação da autoridade, da
realidade e da verdade.
http://blogelectus.blogspot.com.br/2015/10/ideologia-de-genero-negacao-da.html#.V0cL_jUrLIU
[iv] Link -http://biopolitica.com.br/index.php/cursos/38-pais-na-cadeia-crime-discriminacao-de-genero-vitimas-os-filhos
[v] Ibdem.