Por Thiago Oliveira
Texto
Base: 1 João 5:1-13
1. Todo aquele que crê que
Jesus é o Cristo é nascido de Deus, e todo aquele que ama o Pai ama também ao
que dele foi gerado. 2. Assim sabemos que
amamos os filhos de Deus: amando a Deus e obedecendo aos seus mandamentos. 3. Porque nisto consiste o
amor a Deus: obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são
pesados. 4. O que é nascido de Deus
vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. 5. Quem é que vence o
mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus. 6. Este é aquele que veio
por meio de água e sangue, Jesus Cristo: não somente por água, mas por água e
sangue. E o Espírito é quem dá testemunho, porque o Espírito é a verdade. 7. Há três que dão
testemunho: 8. o Espírito, a água e o
sangue; e os três são unânimes. 9. Nós aceitamos o
testemunho dos homens, mas o testemunho de Deus tem maior valor, pois é o
testemunho de Deus, que ele dá acerca de seu Filho. 10. Quem crê no Filho de
Deus tem em si mesmo esse testemunho. Quem não crê em Deus o faz mentiroso,
porque não crê no testemunho que Deus dá acerca de seu Filho. 11. E este é o testemunho:
Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho. 12. Quem tem o Filho, tem
a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida. 13. Escrevi-lhes estas
coisas, a vocês que crêem no nome do Filho de Deus, para que vocês saibam que
têm a vida eterna.
Introdução
Chegamos ao capítulo final
da primeira epístola escrita por João. Até aqui vimos que seu estilo é recheado
de contrastes e possui repetições com efeito didático. Veremos, por exemplo,
que aqui ele nos fala sobre 3 coisas que foram trabalhadas no decorrer de seu
texto e que agora encontram-se unidas: A fé, o amor e a obediência. Saímos do
capítulo 4 cientes sobre o nosso dever de amar a Deus e uns aos outros. Agora,
o amor se encontra com dois parceiros inseparáveis.
Após falar desse “grande
encontro”, João fala sobre Jesus Cristo e o testemunho acerca dele que nos dá a
vida eterna. Portanto, vamos para a exposição do texto.
Fé,
Amor e Obediência (1-5)
João começa com uma
afirmação categórica: Quem crê em Jesus Cristo é filho de Deus, pois dEle
nasceu. Na construção da frase, de acordo com o texto grego, não cremos para
nos tornarmos filhos, cremos porque Deus operou em nós o novo nascimento. A
conversão é sobrenatural e graciosa. É por isso que a fé em Jesus é uma
evidencia forte do novo nascimento. Todavia, a fé não significa assentimento
intelectual apenas. Junto com a fé em Deus Pai e no seu Filho unigênito, o amor
pelos que são gerados do alto se faz presente. Logo, não basta ter fé em Cristo
e desprezar os que formam a sua família, isto é, a igreja. A igreja é o
ajuntamento do povo santo de Deus e cada membro que nela está inserido é alguém
que de tão amado pelo Senhor, foi salvo por ele. Sendo assim, a pessoa que o
despreza acaba por desprezar o próprio Deus. São textos como este que nos
mostram a necessidade de fazer parte de uma congregação, que em certa medida, é
também um ajuntamento de pessoas que pecam e tem suas fraquezas, todavia, é
nesse contexto que devemos exercitar misericórdia e nutrir a empatia por aquela
pessoa que está ali, tão pecadora quanto eu, mas também, lavada e remida por
graça, sem merecimento algum, como eu.
E como amamos os filhos de
Deus? Como podemos demonstrar amor aos que nasceram de novo? A resposta do
apóstolo é amando a Deus e obedecendo a seus mandamentos. E nós ficamos agora
sabendo que amor e obediência também andam de mãos dadas com a fé (Ver João
14.22 e 15.10). O que ama ao Senhor atentará para os seus santos decretos e ali
se verá que há mandamentos que nos direcionam a amar os nossos semelhantes.
Observando o decálogo, veremos que há mandamentos que focalizam a nossa atitude
para com o Senhor, e há, também, os que focalizam a nossa atitude para com
outra pessoa. Por exemplo: Não devo cobiçar o que é de outrem. Não devo dar um
testemunho falso ao seu respeito.
Com amor e obediência aos
mandamentos, que João nos fala de forma assombrosa que não são pesados, a fé triunfa
e vence o mundo. Não nos pesam os mandamentos pelo fato de que Deus atuando em
nós nos dá a possibilidade de cumpri-los. A vitória aqui mencionada não é fruto
de algo nosso, mas é resultado do nascimento sobrenatural. Quem vence o mundo?
O que tem fé em Cristo Jesus. E quem tem fé em Cristo Jesus? Aquele que nasceu
de novo pelo poder do Soberano Jeová. No fim, essa vitória redunda em glória e
em louvor ao nosso Deus bendito. A nossa vitória sobre o mundo é, na verdade, a
vitória de Jesus que nos foi estendida. Isso não significa triunfalismo.
Lembremos que Ele mesmo falou que teríamos aflições nesse mundo, contudo, não
deveríamos esmorecer, pois Ele venceu o mundo e nós herdamos a sua vitória (ver
João 16.33).
O
Espírito, a Água e o Sangue (6-9)
A fé que vence o mundo é
uma fé exclusiva Não é a fé pela fé. Só vence aquele que crê em Jesus Cristo. E
aqui temos que atentar para o fato de que falsos Cristos são confessados dentre
os homens. Daí João nos vai dar a descrição do verdadeiro Filho de Deus. Ele
seria aquele que veio por meio da água e do sangue. Embora essa passagem seja
difícil, o contexto histórico nos dá um esclarecimento de qual era o intento de
João ao citar água e sangue.
Em outros sermões, anteriores a esse, vimos que o gnosticismo era uma seita herética que rondava
a igreja naquele momento. Seus falsos ensinos eram prejudiciais a sã doutrina.
João até fala da importância da afirmação de que Cristo veio em carne, pois, os
gnósticos negavam a encarnação. Cerinto, um dos mestres da gnose, ensinou que
Cristo só assumiu a natureza divina no batismo e depois essa natureza o deixou
no momento da crucificação. Ora, isso é herético por abalar os alicerces da
morte vicária do Senhor Jesus. Se o Deus-homem não tivesse morrido na cruz, mas
sim um mero mortal, a obra expiatória não seria possível. Jesus tinha que ser
verdadeiro homem para ser o nosso substituto legal, mas também tinha que ser
verdadeiro Deus para vencer a morte e nos trazer a esperança da ressurreição
dos mortos. Por isso, água e sangue pode se referir ao batismo e a morte de
Cristo, servindo de testemunho para a sua divindade. Contrariando os gnósticos,
João afirma que Cristo era Deus em ambos os eventos. Por isso que o versículo 6
nos diz: “Este é aquele que veio por meio
de água e sangue, Jesus Cristo: não
somente por água, mas por água e sangue” (grifo nosso).
Jesus é o Filho de Deus e
o próprio Deus revela isso através do seu Espírito que dá um testemunho
verdadeiro, pois, Ele mesmo é a verdade. Ao juntar o Espírito com a água e o
sangue, João alude às três testemunhas que eram tidas como evidência suficiente
para apoiar ou negar algo num processo de julgamento. O apóstolo diz que há
três testemunhos que são unânimes e observa que se um tríplice testemunho
humano é aceito no tribunal, logo, o testemunho divino, por ser unânime e por
Deus ser maior que os homens, deveria ser tido por verdadeiro. É importante
lembrar que no batismo de Jesus e no relato da crucificação, os evangelhos
registram declarações que afirmam que Cristo Jesus era, de fato, o messias (ver
Mateus 3.17 e 27.54).
O
Testemunho da Vida Eterna (10-13)
A descrença de que Jesus é
o salvador enviado por Deus é grave, pois, diante de seu testemunho, renegar o
messias é fazer de Deus um mentiroso. Por isso, os verdadeiros crentes
depositam sua total confiança em Deus, ao receberem o seu Filho como salvador e
senhor de suas vidas. Eles carregam esse testemunho dentro de si. Algo que era
externo se internalizou em seus corações. E o testemunho do Pai é o de que a vida
eterna é ofertada por meio de seu Filho. Logo, os que dizem crer em Deus e
rejeitam a Jesus, o seu enviado, estão condenados, e não possuem a vida eterna.
Em mais um contraste utilizado pelo autor da carta, a seguinte afirmativa é
bastante clara: “Quem tem o Filho, tem a
vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida”.
No verso 13, João escreve
uma espécie de epílogo e conclui o argumento dizendo que a sua escrita serviu
para que os crentes tivessem conhecimento da dádiva que já possuíam. A vida eterna.
Então, se você se encontra entre aqueles que foram lavados e remidos no sangue
do Cordeiro, e que nEle deposita a fé, amando-O e obedecendo os seus estatutos,
exalte ao Senhor com um coração transbordando de alegria: Você tem a vida
eterna. Louvado seja Deus por isso!
Aplicações
Ter fé nominal e dizer
que ama a Deus não basta. É preciso ter fé, mas essa fé deve nos tornar
obedientes aos mandamentos. E também, nos impulsionar a amar aos que são
membros da igreja do Senhor. Será que me encontro assim ou tenho falhado em
cumprir esta exigência divina?
O meu conceito sobre
Cristo e a minha fé nEle repousam na fé ortodoxa de que Ele é verdadeiro Deus e
verdadeiro homem? Não ter essa compreensão gera danos espirituais.
Trago comigo o
testemunho divino de que Jesus é o Filho de Deus? O que tenho feito com esse
testemunho?