“Queixo pra cima, Princesa! Rainha!
Senão a coroa cai”. Essa é uma frase “mantrica” que se repete numa música*
cantada por Ana Paula Valadão num evento da Igreja Batista da Lagoinha. Além da
sofrível melodia, que parece canção de programa infantil, a letra é terrível.
Num templo que foi pintado de preto e que teve o púlpito retirado, a celebração
é do homem para o homem. A líder do grupo Diante do Trono, no meio da música
manda um “celebre a sua identidade, mulher”. Como se essa bizarrice não
bastasse, ainda há uma coreografia no qual uma senhora é coroada e dança com
aquela típica coroa de debutante. Além de deturpar o evangelho, precisa ser tão
brega assim?
A grotesca egolatria evangélica,
recheada de eventos em que Deus é apenas subserviente, sendo invocado para
atender os caprichos de “crentelhos mimados”, chega ao seu ápice quando ao
invés de utilizar o momento do louvor para bendizer o nome do SENHOR, e
enaltecer seus atributos, um grupo passa a exaltar qualidades humanas. Numa
parte da canção, no qual insta as mulheres a se lembrarem do que são, há uma
lista de qualidades, dentre elas: bonita, inteligente, sábia, paciente, humilde,
submissa, mansa, obediente, respeitadora, encorajadora e etc...etc...etc.
Também se exalta o fato da mulher orar e jejuar, redundando em mais um adjetivo
elogioso, que seria “fervorosa”.
Não tive como não recordar a
parábola que Jesus conta sobre a oração do fariseu e do publicano. O primeiro
exalta a si mesmo por conta do cumprimento de atividades religiosas. O segundo
apenas bate no peito clamando por misericórdia, reconhecendo sua
pecaminosidade. Cristo nos diz que foi o publicano quem saiu justificado diante
de Deus (Leia a parábola em Lucas 18. 9-14). No evangelho não existe espaço
para autoglorificação. Nós devemos nos lembrar de que somos pó, que nossa vida
é como um sopro e ai de nós se não fossem as misericórdias do SENHOR sobre quem
somos. Sendo assim, que negócio é esse de “celebre quem você é”?
O que a Ana Paula Valadão promove
vai de encontro com o padrão de humildade prescrito na Bíblia. Ora, para quê essa necessidade de autoafirmação? Pelo que dá a entender, a intenção é
levantar a moral de mulheres que estão deprimidas, desiludidas da vida.
Precisamos ter amor por tais e procurar ajuda-las a atravessar momentos de
dificuldade - talvez um surto depressivo? Sim, devemos. Mas faremos isso
apoiados na Palavra, buscando exaltar o nome do Senhor ao invés do nosso.
Transformar uma pessoa depressiva numa narcisista não é a solução adequada,
muito pelo contrário, só aumenta o prejuízo. Uma pessoa que precisa lutar
contra a depressão deve se amar, mas o amor em primazia deve ser dado a Deus.
Este é o primeiro grande mandamento. Ademais, amar-se não significa viver
caçando elogios ou vangloriando-se pelas suas qualidades. Assim como a
humildade - segundo a Bíblia - não significa negá-las. Então, o que vem a ser uma
pessoa humilde? Tim Keller responde com a seguinte afirmação:
“A pessoa verdadeiramente humilde não é aquela
que se odeia ou se ama, e sim a que tem a humildade do Evangelho. É uma pessoa
que se esquece de si mesma e cujo ego é igual aos dedos dos pés. Eles
simplesmente exercem sua função. Não imploram por atenção”.
Ao contrário do que muitos
pensam, não tenho prazer em escrever esse tipo de texto. Mas mesmo não
gostando, me sinto no dever de expor o falso evangelho, até porque ele resulta
numa adoração a um deus falso. Sabe qual o nome disso? Idolatria! E a igreja
evangélica, de modo geral, tem se especializado em idolatrar o ser humano. Isso
é resultado de uma má compreensão da Escritura, que por sua vez, resulta em
púlpitos adulterados, em que apesar de ter um pastor e uma Bíblia aberta, prega
mensagens moralistas e de autoajuda, massageando o ego de uma geração acomodada
e materialista. Quando a pregação expositiva e fiel da Escritura e a sã
doutrina são deixadas de lado, a igreja – mesmo aparentando crescimento devido
ao seu aumento numérico – está desfalecendo. Está gravemente enferma.
Mulheres e homens não devem
colocar queixo pra cima. O mais propício é que ele fique baixo, encostado ao
peito. E com a fronte e os joelhos prostrados, nossa oração deve ser a
seguinte: “Senhor, diante de ti eu sei que nada sou, mas por Tua graça,
livra-me de todo mal. Inclusive, livra-me de mim mesmo e dos maus desejos que
afloram de minha natureza pecaminosa. Santifica-me na verdade. A Tua palavra é
a verdade, e nela quero me aprofundar. Reina em mim, senhor Jesus. Amém”.
Não queiramos ser tidos por
príncipes ou reis. Almejemos o status de servos bons e fiéis, pois, são estes
que estarão na presença do verdadeiro Rei, desfrutando das benesses do seu
reino. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio,
agora e sempre.
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