Por Thiago Oliveira
Cremos
em um só Deus, Pai Onipotente, criador de todas as coisas visíveis e
invisíveis; e em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai,
unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não feito, de uma só substância com o
Pai, pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão
na terra; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu, se encarnou e se
fez homem, e sofreu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente
deve vir para julgar os vivos e os mortos; e no Espírito Santo. E a quantos
dizem: “Ele era quando não era”, e “Antes de nascer, Ele não era”, ou que “foi
feito do não existente”, bem como a quantos alegam ser o Filho de Deus “de outra
substância ou essência”, ou “feito”, ou “mutável”, ou “alterável” a todos estes
a igreja católica e apostólica anematiza. [1]
Quando finda a perseguição
ao cristianismo e este passa a ter a simpatia do Império, surge uma
controvérsia que abala a ortodoxia: o Arianismo. Esta doutrina herética,
formulada por Ário, presbítero em Alexandria, negava que Cristo fosse eterno e
dizia ainda que Deus e Jesus não tinham a mesma substância, ou seja, para Ário,
Cristo não era divino. Em uma de suas cartas ao Bispo Eusébio da Nicomédia,
Ário defende sua doutrina:
“Nós
pensamos e afirmamos que o Filho não é ingênito, nem participa absolutamente do
ingênito, nem derivou d’alguma substância, mas que por sua própria vontade e
decisão existiu antes dos tempos e eras, inteiramente Deus, unigênito e
imutável. Mas antes de ter sido gerado ou criado ou nomeado, ele não existia,
pois ele não era ingênito”.
Nessa época, o imperador
Constantino queria consolidar o seu império tendo o cristianismo, e não o
paganismo, por base. Assim sendo, convocou os bispos do Império,
aproximadamente 300, e os reuniu num concílio realizado na cidade de Nicéia, na
Ásia Menor (325 d.C.). A controvérsia não tardou em ser resolvida, pois, os
bispos do Ocidente, aceitavam a sentença de Tertuliano “Uma substância, três
naturezas”, emitida um século antes.
O Arianismo foi condenado,
e conforme escrito na declaração de fé, considerado anátema (i.e. maldito). É
nítido que a consubstancialidade entre Deus e Jesus Cristo são asseguradas no
credo niceno. Tanto Ário como Eusébio da Nicomédia, foram expulsos de suas
cidades e excomungados por heresia. Mas a doutrina havia sido muito difundida
entre os povos germânicos. Nas chamadas “Invasões Bárbaras”, Ostrogodos e
Visigodos, por exemplo, já chegaram cristianizados a Roma, todavia, eram
adeptos do arianismo.
O texto do Credo foi
depois reformulado em dois concílios, Calcedônia (451 d.C.) e Espanha (589
d.C.). Assim ficou o seu texto:
Creio
em um Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, e de todas as coisas
visíveis e invisíveis; e em um Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus,
gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, verdadeiro
Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, de uma só substância com o Pai; pelo
qual todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens e por nossa salvação,
desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo da Virgem Maria, e foi
feito homem; e foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos. Ele
padeceu e foi sepultado; e no terceiro dia ressuscitou conforme as Escrituras;
e subiu ao céu e assentou-se à direita do Pai, e de novo há de vir com glória
para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim. E no Espírito
Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o
Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos profetas.
Creio na Igreja una, universal e apostólica, reconheço um só batismo para
remissão dos pecados; e aguardo a ressurreição dos mortos e da vida do mundo
vindouro.
Mesmo após a sua
modificação, vemos que a crença na triunidade Divina permanece intacta,
ressaltando que Cristo é não-criado, mas é verdadeiro Deus, criador de todas as
demais coisas. Atualmente, algumas seitas que se denominam cristãs, negam que
Jesus Cristo seja igual a Deus Pai. Tais seitas são chamadas de unitaristas,
por negarem o conceito da Trindade. As Testemunhas de Jeová são as mais
conhecidas. Outras, como o kardecismo dizem que Cristo é um ser evoluído e o
mormonismo afirma que Cristo não é Deus, é uma criatura dele, irmão de Lúcifer
e dos homens. Estas são formulações heréticas, e quem as professa não pode ser
considerado cristão, pois, a Trindade é dogma central da fé cristã.
A Igreja Evangélica Voz da
Verdade, fundada em Santo André - SP, ganhou fama em todo o Brasil, por causa
do seu conjunto musical, bastante influente nas rádios evangélicas, isso nos
anos de 1990. Logo, suas músicas começaram a ser cantadas em várias igrejas,
até que suas ideias unicistas foram descobertas e denunciadas por diversos
pastores e teólogos ortodoxos. Tal episódio nos serve de alerta. As heresias
não morrem, elas se reinventam. Vestem uma roupa nova para atrair novos
adeptos. A importância de conhecermos o Credo de Nicéia, a história da igreja
em si, sobretudo a era patrística, é que nos auxiliará em defesa da sã doutrina
contra os falsos ensinos.
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[1] Primeira formulação do
Credo Niceno, citado em GONZALES, Justo. Uma História Ilustrada do
Cristianismo, vol. 2, A era dos gigantes. São Paulo: Vida Nova, 1985, p. 97.