Por Pedro Pamplona
Usei meu último dia de
folga para assistir com minha esposa a série mais comentada nesses últimos
dias, Stranger Things. Gostamos muito de séries e do Netflix. Foram 8 episódios
muito interessantes que prederam nossa atenção e imaginação. Como a expectativa
criada em torno da produção foi grande, ela não foi superada, mas é uma
excelente série. Como é de se esperar (pelo nome) coisas estranhas acontecem
nessa ficção científica. Na verdade, coisas bem estranhas e inesperadas por
todos. A história [LEVE SPOILER] gira em torno da possibilidade da existência e
de interação com um mundo ou dimensão paralela. Assistam!
Um mundo paralelo com
coisas estranhas e inesperadas... O que isso me lembraria? Se você pensou em
ministério de jovens, acertou! Foi isso que veio a minha cabeça no dia
seguinte. Acompanhe meu raciocínio inicial. Ao meu ver o direcionamento de
muitos ministérios de jovens é criar um mundo paralelo ao mundo do restante da
igreja. É como se os jovens necessitassem viver na mesma vida, mas numa
dimensão diferente, só para eles. E nessa visão o que difere as dimensões são
exatamente as coisas estranhas que permeiam nossa juventude. Espero me tornar
mais claro com os pontos a seguir.
Um
deus estranho
O primeiro aspecto de um
mundo paralelo no ministério de jovens é um deus estranho. Se Ele é o criador e
a fonte de toda realidade, um mundo diferente começa com um Deus diferente. No
deserto Deus deu ao seu povo hebreu um ambiente (o tabernáculo), uma forma de
louvor (o sistema sacrificial) e uma forma de ensino e comportamento (a lei). O
Deus único instituiu uma maneira de ser adorado. Seu povo o adorava como Ele
queria. Isso quer dizer que a adoração a outro deus seria diferente (ex:
bezerro de ouro) ou que outros povos não saberiam adorar a Deus corretamente,
isso porque nem o conheciam.
Realmente me parece que o
deus de boa parte dos jovens é estranho às Escrituras e ao restante da igreja.
Costumam pensar num deus menos irado e mais complacente com o pecado. Num deus
mais camarada com irreverente. Ou talvez um deus que não se importe tanto com
as normas que Ele mesmo criou. O jovem costuma ver a Deus como o tiozão
descolado, não como pai. Os filósofos atenienses convocaram Paulo a falar por
acharem que ele ensinava coisas estranhas (At 17.20), mas o apóstolo começa
dizendo que a razão pela qual acham seu ensino estranho está no fato de que
adoram a um deus desconhecido (At 17.23), não o Deus único e verdadeiro de
Paulo.
Não é novidade vermos
jovens achando ensinos bíblico estranhos. Temo que isso se deve ao
desconhecimento de Deus por conta do deus estranho que constroem em suas
mentes. E isso afeta todo o resto.
Um
ambiente estranho
Se temos um Deus estranho,
provavelmente teremos um ambiente estranho de vida e adoração. Isso é
perceptível em muitos ministérios de jovens. Existe uma grande tentativa de
criar um ambiente "diferentão", uma outra dimensão da igreja. Por
exemplo, sabemos que o Deus da Bíblia é um Deus de decência e ordem (1 Co
14.40), não sabemos? Por que então tanta desordem e indecência no meio dos
jovens? A resposta: a visão de Deus estranha às Escrituras. Pense num culto
normal de domingo de uma igreja e pense naquele culto de jovens badalado da sua
cidade. Por que eles são tão diferentes. Por que as coisas valorizadas no culto
dominical normal não são valorizadas no sábado a noite.
Um ambiente de jovens
paralelo não se justifica. Nenhum ministério tem a prerrogativa bíblica de
criar um ambiente estranho. O que estou querendo dizer com isso? Não me oponho
a contextualização de linguagem e roupagem, mas tudo deve ser feito dentro do
limite bíblico. Esse mundo totalmente diferente e paralelo acaba viciando os
jovens e o mantendo preso a um formato. Muitos não crescem, não gostam de ir a
igreja aos domingos e querem continuar mimados pelo deus estranhos dos jovens.
E o grande problema é esse: a criação de uma realidade jovem paralela ao restante
da igreja é a busca por tornar o ministério mais parecido com o presente
século.
Um
louvor estranho
No culto de domingo as
luzes estão acessas, no de sábado apagadas. No de domingo a música está num
volume agradável onde podemos ouvir os demais irmãos cantando, no sábado o
volume é máximo. No domingo a liturgia segue normal, no sábado ela é
substituída pelo entretenimento. No domingo temos um pregador bem vestido,
normalmente, no sábado temos alguém fantasiado ou com roupas que não usaríamos
no domingo. No domingo fazemos uma adoração voltada para os crentes, no sábado
um show voltado para os incrédulos. Por que duas realidades diferentes? Só
podemos encontrar resposta numa visão de Deus diferente.
Deus deixou claro um
padrão de louvor ao seu nome. Seria enorme a defesa bíblica de cada passagem,
mas podemos resumir e ficar com o princípio de que Ele está procurando
adoradores em "Espírito e em Verdade" (Jo 4.24), ou seja, cristãos
verdadeiros adorando através da verdade aplicada pelo Espírito. No mundo
paralelo dos ministérios de jovens a verdade nas letras musicais pouco parecem
importar diante da forma de apresentação. Aliás, as letras estranhas que cantam
por ai é a maior expressão do deus estranho que pregam por ai.
Uma
pregação estranha
Falando em pregação...
quanta coisa estranha é feita com ela no meio dos jovens. Não vou nem falar de
reduzir o tempo, eu bem queria que fosse apenas isso. Deus nos deixou um modelo
de pregação (ver Atos), nos deixou um conteúdo de evangelização e exortação (Ler
Jesus e Paulo) e nos disse como Ele chama pessoas a fé (Rm 10.13-17). Por que o
restante da igreja tenta seguir essas verdades e o ministério de jovens parece
ter descoberto uma forma mais legal de fazer?
A pregação estranha é a
propagação e perpetuação do mundo estranho paralelo. A realidade bíblica da
pregação expositiva (por passagem ou temas) é substituída por coisas estranhas
do tipo motivacional, humorística, entretenimento, graça barata, loucuras, e
secularismo. Como disse Hernandes Dias Lopes, quando a teologia é ruim
(estranha), quanto mais se prega pior fica. O monstro da realidade paralela se
alimenta de pregações estranhas às Escrituras.
Um
comportamento estranho
Tudo isso que acabei de
citar gera um relacionamento estranho. Nesse mundo paralelo a lei de Deus se
faz também estranha. Jovens homens estão cada vez mais ameninados e jovens
mulheres cada vez mais sensualizadas. É comum ver um palavreado estranho (entenda
palavrões), vestes estranhas e brincadeiras estranhas. E o que é pior, esses
jovens pensam que podem transitar o tempo todo entre as duas realidades sem
nenhum desgaste ou prejuízo. Nesse caso esses ministérios de jovens são piores
do que o misterioso centro de pesquisas de Hawkins.
Aqui fica a lição que até
a série pode nos ensinar. O contado entre essas duas realidade e o trânsito
entre elas é perigo e pode se tornar devastador. Ao passar dos episódios
encontramos um professor de ciências afirmando que é necessário uma grande
quantidade de energia para abrir portais entre as duas dimensões. E é triste
ver tantos líderes e jovens gastando inutilmente uma grande quantidade de
energia justamente para viverem num mundo paralelo cheio de coisas estranhas por
conta de uma visão estranha de Deus (Os 4.6)
Como
fechamos esse portal?
A resposta é: não
dividamos a realidade da igreja em duas. Só existe uma realidade e uma das
piores coisas que podem acontecer numa igreja é ver esse mundo paralelo jovem se
tornar tão forte ao ponto de engolir toda a verdadeira dimensão eclesiástica.
Jovens não precisam de um mundo paralelo, ninguém precisa. Aqui estão alguns
pontos para lutarmos contra essa dupla dimensão:
- Elime o foco no
entretenimento
- Centralize o culto em
Deus, não nos visitantes
- Envolva os jovens com os
mais velhos da igreja (incentive esses momentos)
- Utilize o mesmo padrão
de liturgia (bíblico) em todos os cultos
- Pregue com a mesma
seriedade em todos os cultos
- Não vista o ambiente
jovem com a roupagem do mundo
- Cante músicas com letras
bíblicas em todos os cultos
- Não se importe tanto com
a quantidade de pessoas
Voltemos ao ambiente bíblico de culto, ao louvor bíblico, a pregação bíblia e ao comportamento bíblico. Voltemos a realidade que tem sua expressão máxima na verdade encarnada (Cristo) e escrita (Bíblia). Deixemos as “stranger things” apenas no Netflix.