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13 de mar. de 2015

Sete Marcas de uma Igreja Saudável

Por Carl Trueman

Enquanto a igreja no Ocidente enfrenta uma marginalização social que ela não conheceu por mais de 1500 anos, a questão das marcas da igreja, aquelas características identificadoras que ela possui, provavelmente se tornará mais urgente. Abordagens reformadas tradicionais tendem a oferecer três marcas: A Palavra fielmente pregada, os sacramentos devidamente administrados e a disciplina da igreja corretamente aplicada. Sempre houve alguma flexibilidade entre a tradição reformada com respeito a esses pontos. Calvino defendeu somente duas marcas explícitas, Palavra e sacramentos, enquanto a Assembleia de Westminster colocou a adoração no lugar da disciplina. Lutero, contudo, ofereceu sete: 1. A Palavra, 2. Batismo, 3. Eucaristia, 4. As chaves exercidas publicamente, 5. Ministério ordenado, 6. Oração, louvor público e ações de graças a Deus, 7. A posse da sagrada cruz.

Uma Resposta sobre o Culto Infantil

Por Filipe Fontes

Recebi, recentemente, uma pergunta de uma amiga de adolescência sobre o “culto infantil”. Foi uma oportunidade de pensar sobre o assunto, e sistematizar algumas ideias. Como pode ser útil a outras pessoas, resolvi publicar minha resposta.

Prezada amiga,

Receber sua pergunta alegrou meu coração. Dentre outras razões, ela me fez perceber o seu zelo na educação de filhos, bem como seu apreço pela igreja e a Palavra de Deus. Seja Ele louvado por isso!

Ao mesmo tempo, sua pergunta me encheu de temor. Pois, uma vez que parto do princípio de que esta não é uma questão normatizada claramente pela Escritura, o risco de falar mais da minha parte do que da parte do Senhor me traz algum receio. Por isso, eu gostaria de começar minha resposta com dois pedidos:

12 de mar. de 2015

O Cristão e a Política em Perspectiva Bíblica



Os Apóstolos Modernos e a Infalibilidade Papal


Por Samuel Alves

Ano passado o Dr. Augustus Nicodemus Lopes lançou o livro “Apóstolos – a verdade bíblica sobre o apostolado”, após ler esta grande obra comecei a refletir sobre o nosso contexto. É fácil combater essa heresia quando fazemos parte em uma igreja histórica! É só abrir a Bíblia! Mas, e o nosso vizinho? E nossos parentes que estão mergulhados em muitas seitas de nosso país? Pra quem não sabe nasci no meio pentecostal e tive a oportunidade de um dia fazer parte desta seita chamada igreja neopentecostal, e conheço a realidade vivida lá. Pra quem também não sabe, os apóstolos modernos gozam de uma autoridade absurda dentro de suas comunidades “apostólicas”. Eles ditam o tema do ano profético, consagram e desconsagram quem quer sem o conselho e autoridade das Escrituras, não permitem serem questionados, pois eles receberam uma revelação direta de seu ‘deus’. Quem nunca ouviu um sonoro “não mexa no ungido do Senhor?” quem nunca foi ameaçado pelas profecias opressoras desses pseudo apóstolos?

11 de mar. de 2015

Aceitando o "não" como vontade de Deus

Por R.C. Sproul

Ficamos abismados de que, mesmo à luz de registros bíblicos tão claros, alguém ainda tenha a audácia de sugerir que é errado para aqueles que sofrem no corpo ou na alma, expressar suas orações por libertação em termos de: "Se for da tua vontade." Dizem que quando a aflição chega, Deus sempre deseja a cura. Que ele não tem nada a ver com sofri­mento, e que tudo que devemos fazer é reivindicar a respos­ta que buscamos pela fé. Somos exortados a exigir o "Sim" de Deus antes que ele o pronuncie.

Os Puritanos e o Calvinismo na Prática

Por Thiago Oliveira

Falar sobre o Calvinismo sem abordar a história dos Puritanos é inviável. Este grupo, muitas vezes depreciado – injustamente – possui um lugar especial na historiografia eclesiástica. Nomes como o de John Knox, John Owen, Jonathan Edwards, Richard Baxter, George Whitefield e João Bunyan estão associados ao puritanismo, assim como os Catecismos e a Confissão de Westminster, documentos importantes da ortodoxia protestante, adotados por Igrejas Reformadas de todo o mundo.

Há quem pinte o retrato dos Puritanos como pessoas legalistas, austeras, egoístas, intolerantes e até hipócritas. Todavia, C. S. Lewis nos fornece uma ótica totalmente diferente:

10 de mar. de 2015

Predestinação é Determinismo?



Desviados: De quem é a falha?

Por Daniel Clós Cesar

O primeiro passo neste texto é definir o que é um desviado. Popularmente, dentro de uma teologia que crê que o homem pode “perder” a Salvação, crê-se que desviado é aquele que converte-se a Cristo, tem seus pecados anulados na Cruz, torna-se salvo, nasce de novo, recebe o Espírito Santo de Deus, Cristo começa até a construir uma casa para ele no paraíso, mas que por fim ele abandona a Fé (dando inclusive um baita gasto pro Reino de Deus que terá que dispensar os anjos-pedreiros*).

Dentro da Teologia Reformada, obviamente, não existe espaço para essa figura do cristão desviado. Não cremos que aquele que conheceu a Cristo e foi liberto da escravidão do pecado e ressuscitado da morte por Ele perca-se, pois em Cristo reside toda nossa Esperança e Segurança: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou.” (Romanos 8.29-30 NVI). Mas existe sim a figura daquele que a Palavra descreve em Hebreus 6.4. Que não consideramos “desviado”, mas como o apóstolo João explicou em sua primeira carta (1 João 2.19): “saíram porque não eram dos nossos”. Isso deixa claro que para “reformados”, “uma vez salvo, salvo para sempre”. No entanto, isso não significa que todos que vão à igreja são salvos apenas porque disseram sim a um apelo ao final do sermão. Nossa definição de “Salvo” é completamente diferente.

9 de mar. de 2015

José Manuel da Conceição


Por Franklin Ferreira

Nos séculos XVI e XVII, houve duas tentativas para estabelecer colônias protestantes no Brasil, mas o protestantismo brasileiro se originou de um duplo avanço: a imigração estrangeira, de anglicanos ingleses, luteranos alemães e reformados suíços, e a vinda de missionários ingleses e americanos. O protestantismo começou a ser implantado de fato no Brasil com a chegada de um missionário congregacional, o escocês Robert Reid Kalley, ao Rio de Janeiro, em 1855. E o primeiro missionário presbiteriano a chegar ao Brasil foi Ashbel Green Simonton, em 1859. Seu cunhado, Alexander Blackford, chegou em 1860, e Francis Schneider em 1861. Todos eles foram enviados pelas igrejas presbiterianas do norte dos Estados Unidos (PCUSA). Em pouco tempo, já havia igrejas presbiterianas no Rio de Janeiro e em São Paulo, e em 1870 foi fundada o que hoje é uma das mais importantes universidades brasileiras, a Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

Mais tarde, chegaram missionários metodistas (em 1867) e batistas (em 1881) ao Brasil. Em 1865, foi ordenado o primeiro ministro evangélico brasileiro, José Manoel da Conceição.

Quando a graça de Deus nos fortalece


Por Denis Monteiro

A história de Sansão é muito bela, ela mostra como a graça de Deus atua na vida do redimido pecador. O escritor de Juízes não omitiu em nenhum momento quem era realmente Sansão, ele foi um homem que não cumpriu com o seu voto e cada momento de sua vida sempre transgredia a Lei de Deus. O Rev. Valdeci enumera algumas de suas fraquezas: Sansão era imediatista, era iracundo e não sabia perder, era inconsequente e altamente vingativo.¹ 

Todas essas características dadas a Sansão mostram como ele claramente pecava, mas mesmo pecando, Deus sempre agia graciosamente na vida dele. 

8 de mar. de 2015

A comodidade que corrompe a Fé

Por Thiago Azevedo

Frequentemente se tem visto pessoas proferirem os seguintes relatos: “Faço parte desta igreja por que fica próxima da minha residência”. “ Congrego aqui por que meu pai é pastor”. “ Faço parte da família que fundou a igreja e por isso não posso sair!”. “Não posso sair desta igreja por ser obreiro remunerado”. “Minha namorada frequenta esta igreja e por isso não saio”. Entre outros. Percebe-se que o congregar nas instituições religiosas, atualmente, se dá por conta de uma comodidade e não por conta da doutrina ensinada. Ou seja, funciona mais ou menos da seguinte forma: O líder da instituição religiosa pode até negar a Trindade ou confundir Jesus com Genésio, o que importa de fato é se a instituição religiosa é próximo da residência ou qualquer outra coisa que seja cômoda. Na realidade, estas pessoas, os ditos cômodos, estão presentes nestas instituições fisicamente, mas no que tange ao âmbito espiritual, já estão ausentes há tempo. Todo o problema de quem age desta forma é que na realidade não consegue interpretar que está comprometendo sua fé em nome de uma comodidade fútil.

7 de mar. de 2015

A Dupla Natureza de Cristo

Por Thiago Oliveira

Discorrer sobre as duas naturezas de Cristo demonstra o quanto que esta doutrina é essencial para nossa compreensão do Evangelho. De fato, Jesus foi portador de uma natureza dupla e que não podia ser desassociada uma da outra. A Singularidade de Cristo está no fato dele ser totalmente homem e concomitantemente ser totalmente divino. Esse antinômio, gerou uma série de questionamentos e desembocou em muitas heresias, tais como o nestorianismo, docetismo e eutiquianismo.

Diante de uma vastidão de textos que abordam este assunto, escolhi apenas dois que evidenciam tanto a humanidade quanto a divindade de Cristo Jesus.

Colossenses 1.15-17: Cristo-Deus

O apóstolo Paulo contrariando os mestres heréticos que se infiltraram na igreja de Colossos, deixa claro aqui o ensino de que Jesus é um ser divino e que não é mais uma criatura que o Deus-Pai trouxe a existência. Quando se é dito que Jesus é a imagem (Gr. eikõri) do Deus invisível, a ideia é a de que Cristo não é uma simples figura representativa. Ele é a manifestação que contém a mesma substância daquilo que revela. Deus é invisível, e isso é corroborado por outros autores neotestamentários, e Cristo, num propósito revelacional é aquele que projeta Deus para que os homens possam vislumbrá-lo. Tudo que Deus é, igualmente Jesus é. Mas na frente, Paulo nos diz que “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”.

Para que não aja dúvida de sua divindade, nos é dito que Jesus é “o primogênito de toda a criação”. O termo que foi traduzido por primogênito não tem relação temporal. Prototokos é, na verdade, um título honorífico, e ao decorrer do discurso paulino fica evidente a honra que ele concedeu a Cristo: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele”. Jesus é o artífice da criação, tudo partiu dele e foi feito para ele. O que isso quer dizer? Que toda a criação se movimenta na direção de Cristo, ele é o alvo. Por isso que “ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele”.

Cristo - nos ensina Paulo - não tem rivais dentre as coisas criadas. Ele está bem acima, exercendo seu governo no mundo. É a partir deEle que o mundo se formou ex nihilo. Ele é a fonte, o agente, o alvo e sustentador de todo o mundo criado. Ou seja: Jesus é Deus.

Romanos 5.12-19: Cristo-Homem

Nesse trecho da carta aos Romanos, o apóstolo Paulo equipara Cristo a um segundo Adão. Enquanto que Adão pecou e através da sua transgressão, foram encerrados debaixo do pecado – que é mortal – todo o gênero humano. Da mesma forma, através da morte de Cristo na cruz, muitos obtiveram o seu resgate e receberam a vida por graça e não a morte por salário. Se Adão é o cabeça dos homens decaídos, Jesus é o cabeça dos homens redimidos.

No versículo 15, é dito com todas as letras que Jesus Cristo é homem, e por meio dele, a graça superabundou o pecado. Usando um jogo de contrastes em sua argumentação, Paulo deixa claro que Jesus cumpriu aquilo que Adão tinha falhado. Essa é uma teologia pactual. Na medida que Adão desobedeceu a Deus e fez com que o pecado atingisse todo o cosmos, Jesus, como um servo totalmente obediente fez aquilo que era o dever do primeiro homem.

Desde o Antigo Testamento vemos que Deus utilizou-se alguns homens para realizar o trabalho dos antecessores que haviam falhado. Veja por exemplo Moisés e Josué e Saul e Davi. Quem então tomaria o lugar de Adão? O próprio Deus se encarregou disso ao assumir a forma humana. Como dizia Thomas Goodwin no século XVII: "Diante de Deus, há dois homens — Adão e Jesus Cristo, e todos os outros homens estão pendurados nos cinturões deles dois".

Conclusão

A crença da dupla natureza de Cristo nos dá segurança acerca da nossa fé, sabendo que a justificação é real, pois foi um homem que morreu pelos pecados dos homens, isto quer dizer, a substituição foi real. Ao mesmo tempo, tratando-se do Divino, a morte não pode deter o Cristo que foi morto. Ele ressuscitou por ser Senhor da vida e dos vivos. Porque ele ressuscitou, temos a garantia de que com ele, também triunfaremos sobre a morte.
Louvado seja Deus!
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REFERÊNCIAS

BRUCE. F.F. Romanos: Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 2002.
HENDRIKSEN. Willian. Romanos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.
LOPES. Hernandes Dias, Colossenses: A suprema grandeza de Cristo, o cabeça da Igreja. São Paulo: Editora Hagnos, 2008.
MARTIN. Ralph P., Colossenses e Filemon: Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 2002.

Mas as Cruzadas não provam que o cristianismo é tão violento como o islamismo?

Por Solano Portela

Será que as CRUZADAS provam que o cristianismo é tão violento quanto o islamismo? Definitivamente, NÃO! Quem utiliza esse argumento não se aprofundou no que foram as CRUZADAS, nem entende o que é o verdadeiro cristianismo. Vejamos! 

As Cruzadas fazem parte de um período marcante da história universal, que perdurou nos anos 1096 a 1291. Eram campanhas expedicionárias, de cunho militar, neste período da idade média, construídas em cima do intenso misticismo e do pano de fundo religioso da era. Elas entrelaçaram a igreja católica medieval e os regentes civis daquela época. Inicialmente, eram excursões de resgate e apoio a cristãos perseguidos, mas rapidamente se transformaram em sucessivas tentativas de tomar o poder da “Terra Santa” – especialmente da cidade de Jerusalém, das mãos dos maometanos, ou muçulmanos.

Por que esse período foi importantíssimo? Porque além de ter durado dois séculos, essas intensas campanhas e ações, chamadas de “Cruzadas” refletem o rumo equivocado que imperava na igreja conhecida como cristã. A essa altura a igreja, no sentido abrangente, já estava descaracterizada, pelo relacionamento incestuoso com o poder civil, pela assunção de uma hierarquia doentia e concentradora de poder e pela absorção de práticas e de uma cosmovisão pagã que a levaram à descabida idolatria. Todas essas situações levaram os líderes da igreja a desviarem ela da sua missão na terra, que é eminentemente espiritual e não temporal, passando a ações e arregimentações de caráter militar contra poderes temporais que ameaçavam e fustigavam os feudos do clero. Essa guerra “contra a carne e contra o sangue” em vez de contra “as potestades das hostes espirituais”, conquanto com fundo místico e linguajar religioso, reflete o mesmo mal-entendido dos discípulos retratado em Mt 20.20-28, quando confundem o reinado pregado por Cristo com os governos deste mundo.

Assim, a luta dos cavaleiros das Cruzadas era por reinados na terra, mesmo. Quatro séculos depois, com a permanência e aprofundamento dessas distorções religiosas, no seio do cristianismo – representadas, de um lado, por um monasticismo isolacionista e do outro pelo envolvimento com o poder político e militar deste mundo – os reformadores foram levantados e impelidos, pelo Espírito Santo, a soarem o brado de retorno à simplicidade e às verdades do Evangelho.  A Reforma do Século 16 levou a prédica e prática extraída tão somente da Palavra de Deus, abandonando a superstição, misticismo cego, engano e obscurantismo que caracterizaram a idade média, especialmente essa era das Cruzadas.

Historicamente, o início do período das Cruzadas é marcado por um apelo de Alexius I (1081-1118), regente em Constantinopla, que se sentia ameaçado pelo avanço dos maometanos, recebido pelo Papa Urbano II (1042-1099), em 1095. Urbano II lançou uma chamada geral a toda a "cristandade", prometendo plena indulgência (perdão de pecados) aos que participassem da expedição - só esse fato já demonstra como estava distorcida a Igreja medieval - pecados perdoados por decreto! O moto da convocação era – “É a vontade de Deus”! A partir de certo ponto o empreendimento mudou a sua feição original de resgatar Alexius e seu império, para a de uma campanha abrangente que visava resgatar os “lugares santos” ocupados pelos mulçumanos.

As Cruzadas foram largamente apoiadas pela nobreza européia, que via nelas a oportunidade igualmente econômica de adquirir territórios, espólios e riquezas. Alguns poucos nomes desta época, que se destacaram na história, foram idealistas religiosamente mal orientados. A primeira Cruzada reuniu em Constantinopla, os diversos exércitos que a compunham. Reorganizados, a partir de uma grande confusão inicial, partiram para conquistas, cidade após cidade (Nicéa, Dorileo, Icônio, Antioquia, Mosul), chegando, finalmente a Jerusalém em 1099. Godofredo de Bulhão foi nomeado “Protetor do Santo Sepulcro”. A “Terra Santa” torna-se, praticamente, um protetorado europeu e várias divisões políticas são estabelecidas, repartindo o território deste “Reino Latino” entre os conquistadores. Uma segunda Cruzada foi estabelecida recebendo sucessivas ondas de ordens rivais de cavaleiros, brasões e lealdades feudais típicas da idade média (Cavaleiros Templares, Cavaleiros de São João, Cavaleiros Teutônicos, etc.). Esses “cavaleiros” eram grupos organizados com leves características de expedições missionárias, compostos por monges, guerreiros, mercenários e, muitas vezes, apenas romeiros (peregrinos), que tinham como um dos propósitos “cristianizar” o oriente, se necessário pela força.

O relativo sucesso militar das Cruzadas até meados do século 12 deveu-se às constantes batalhas dos muçulmanos entre si mesmos. A fragmentação facilitava as vitórias e a manutenção das conquistas. A partir de 1171, entretanto, o Kurdo Saladim, que havia se declarado Mestre do Egito, começou a amealhar vitória após vitória unindo os maometanos. Esse exército unido ocupou Damasco e em 1183 ele sitiou o “Reino Latino”. Jerusalém foi invadida e derrotada. Este período de Saladim, entre a segunda e terceira Cruzada, é exatamente o que foi coberto pelo filme (2005) de Ridley Scott, chamado "Cruzada" (ironicamente, no original, Kingdom of Heaven, quando retrata guerras por Reinos na Terra).

Só para encerrar essa âncora histórica, quando a notícia da derrota infligida por Saladim chegou à Europa, outras Cruzadas foram organizadas, com líderes famosos como Ricardo Coração de Leão, mas nenhuma Cruzada seguinte conseguiu reconquistar Jerusalém.

Credita-se às Cruzadas, e aos resultados desastrosos delas, o abandono nos séculos subseqüentes dessas aventuras religiosas secularizadas, levando à concentração da religiosidade católica em estudos mais aprofundados de seus dogmas, dos livros apócrifos e das Escrituras. Isso resultou no Escolasticismo, que, em vez de gerar um enraizamento de doutrinas nas Escrituras, sistematizou, ao contrário, práticas pagãs e idólatras e um afastamento maior ainda do cristianismo verdadeiro. Mas foi nesse solo fértil e concreto, eivado de paganismo e carente de verdades que Deus providenciou o desabrochar da Reforma do século 16. Um outro efeito das Cruzadas, foi que a Europa foi despertada à rica cultura do oriente, após ter-se mantido fechada, no seu desenvolvimento intelectual, comercial e humano, durante a idade média. Essa situação levou a um incremento do comércio do leste com o oeste e ao surgimento do iluminismo intelectual.

O contexto das Cruzadas, então, foi o misticismo reinante na época – muito distanciado da religião verdadeira, já esmaecida pela introdução supersticiosa das relíquias e pela prática da idolatria. A ética e a praxis das Cruzadas não é retrato de cristianismo bíblico. Querer apresentá-las como um movimento espontâneo e genuinamente oriundo dos ensinamentos da Bíblia, é pura distorção histórica e fraude intelectual.  No âmbito pessoal, lembremo-nos do chamado à participação nas Cruzadas – “É a vontade de Deus”. Até os dias de hoje, esse slogan tem sido utilizado para justificar as mais diversas ações, pessoais ou coletivas que não refletem preceitos divinos, mas ambição humana. Tenhamos cuidado e prendamo-nos à sua vontade revelada – A Bíblia – suficiente para nos guiar, nesta vida, em tudo que realmente agrada a Deus. E a violência, certamente desagrada a Deus, não faz parte da prática e da fé Cristã, é característica da falsa religiosidade.
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6 de mar. de 2015

Charles Spurgeon: O Pregador do Povo

Por Samanta Gama

“Olhai para mim e sedes salvos, vós, todos os confins da terra”

Isaías 45:22

Foi através deste simples, mas profundo versículo da palavra de Deus que impulsionou um dos mais jovens e influentes pregadores do século XIX - Charles Haddon Spurgeon - a levar as boas novas para o povo.

Aproveitei o tempo de um repouso pós-cirurgia para assistir um documentário fantástico sobre a vida desse jovem pregador. O documentário “Charles Spurgeon, o Pregador do Povo” conta a trajetória dos 40 anos do ministério de Spurgeon,: inglês, batista e calvinista, que pregou o evangelho de forma democrática, i.é, falando do amor de Cristo de maneira acessível e profunda para as diferentes idades, classes e culturas, resultando no  alcance de milhares de pessoas que escutaram, meditaram e praticaram o evangelho.

Foi um período curto: 1 hora e 9 minutos, muito pouco para descrever o agir de Deus nesse homem e falar de sua inteligência de interligar as Escrituras à sua prática no dia a dia. O que mais chamou a atenção foi sua devoção a Palavra, seu temor a Deus e sua responsabilidade de levar o evangelho. Spurgeon sempre se preocupava para que o orgulho não subisse a sua cabeça no perído avivalístico da igreja protestante na Ingleterra. 

Começar a pastorear uma igreja, saindo da fase adolescente, ao meu ver, parece impossível nos dias de hoje. Digo pastorear com as Escrituras e aplicações ortodoxas. Sei que existem várias pseudo igrejas que possuem pregadores mirins. todavia, estão baseados em achismos ou doutrinas encabeçadas mais por filosofias. Começar jovem com apenas 19 anos, em uma igreja localizada no polo industrial e de maior crescimento da Inglaterra não foi tarefa fácil para Spurgeon, pois, além da saudade do ritmo campestre do povoado próximo a Cambrigde, de seu sotaque forte e suas pregações de linguagem acessível que colidiam com as pregações com tom mais acadêmico do que popular. Apesar disso tudo, o Pregador do Povo teve como seu maior desafio, falar de Cristo em uma sociedade que vivia próspera pelos avanços nas criações de maquinários que aumentavam a produção nas indústrias com baixo custo, alcançando bons lucros e, principalmente,  alertar a igreja da convicção de fé firmada em Cristo através da leitura e prática das Escrituras, de seu posicionamento de servo e filho de Deus, da plenitude da graça do Pai confrontando as diversas conceituações e teorias como o homem biológico-evolucionista (Darwin), o homem existencial (Kierkegaard), o homem econômico (Marx) e o homem instintivo (Freud). 

Não vou resumir o documentário. Acho interessante que vejam e retirem aprendizado com a ousadia desse nobre homem que até hoje deixou marcas de seu legado na história da igreja e também na área social. Vale muito a pena conferir! 

"Sou apenas alguém que ouve a voz do Mestre e fala o que ouve".

Charles Haddon Spurgeon

Eis o documentário:

Não existe "artista" na Igreja de Deus

Por Fabio Campos


 “Pois em Deus não há parcialidade”. 
 Romanos 2.11 

Certa vez, um pastor, contou um relato (verídico) onde um missionário estava na missão na África do Sul. Devido ao “apartheid” o preconceito racial era muito grande, e desprezar os negros era um comportamento absolutamente comum para aqueles racistas. Este missionário recebeu em sua casa as principais autoridades daquele país.

Ao receber esta “notável” visita (a vista dos homens), constrangido de que estas autoridades o atrelassem aos zulus, o missionário, então, fechou a janela, pois ela dava exatamente para o lugar onde os zulus estavam reunidos. Na medida em que ele fechava a janela, para que as autoridades não percebessem a sua comunhão com os zulus, o Espírito de Deus segredou no coração dele: “Feche a janela e Eu Fico do lado de fora”.

Lamentavelmente vemos que há em algumas igrejas certa distinção no tratamento para com o pobre para com o rico. Repare como os artistas e políticos são saudados por esses “pastores”. Geralmente estes líderes são pastores de multidão. Amam a massa, mas não se achega ao individuo. Faça uma pesquisa na igreja e você vai comprovar que 80% dos membros nunca tomaram um café num tempo de quinze minutos com estes “bispos” e “apóstolos”. Alguns nunca o cumprimentaram pessoalmente.


O favoritismo pelos “homens que são”, ao contrário de Deus que escolheu os “que não são”, por estas igrejas é grande. O cara mal chega dizendo que é evangélico, e por ter certa influência na sociedade logo já é posto por líder ou pastor. Que desgraça! O resultado disto é desastroso. Gente ímpia governando a igreja de Deus. Nestas igrejas você pode até ser vocacionado, mas se não tiver um bom emprego - uma conta bancária considerável ou não for “esteticamente” bonito aos olhos do mundo, sem chance para você no que concerne às aparições públicas. Esquecem que o pobre íntegro é melhor do que o rico perverso (Pr. 19.1). Isso é pecado e saiba que tal líder tem por “deus” a mamon (Mt 6.24).

O texto de Tiago [2.1-9] é bem claro e denuncia este “favoritismo”. Imagine você - dois homens chegando para prestar o culto a Deus. Tiago diz que os dois são crentes de verdade. Todavia, um é bem pobre, ao ponto de Tiago chama-lo de “pobre andrajoso” (mendigo para nós); já o outro é um homem muito rico que se destaca pelas suas lindas vestes e pelo o seu anel de ouro. O pobre chegou primeiro no culto; o rico chegou depois. O que estava acontecendo, é que o pobre (por ser mendigo) deveria ceder lugar para o rico.

Entretanto, o pobre só tinha aquela roupa. Ele trabalha e dormia com ela, e por estar gasta e cheia de manchas, o pobre, devia ceder o seu lugar para o rico (hoje seria o púlpito [para contar o seu testemunho] e os primeiros lugares) e tinha que ficar lá traz da igreja e em pé.

Não é isto o que vemos hoje? Parcialidade dentro das igrejas? Dentro da igreja do Senhor Jesus não existe rico nem pobre – famoso ou gente comum. Todos são igualmente pecadores perdoados por Deus. Tratar alguém com favoritismo – seja por ser rico ou famoso – em detrimento do pobre e daquele que tem a vida “comum” – é pecado, pois tal coisa não está certa diante de Deus.

Muitos usam o argumentam que, por ser “famosa” ou “rica”, tal pessoa, trará um numero maior de pessoas ao Evangelho. Será? Deus precisa do homem para converter o coração de alguém? Não seria Ele poderoso para das pedras “suscitar” filhos de Abraão (Mt 3.9)? Não é mais o Espírito Santo quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8)? Você acha mesmo que Deus está desesperado em busca da multidão sendo que para Ele uma “alma vale mais que o mundo todo”? Sinceramente, tal argumento é posto para trazer um conforto na consciência culpada destes líderes devido o pecado da “parcialidade”.

Nada dentro da igreja deve ser feito com favoritismo (1 Tm 5.21). Deus não olha como o homem olha, pois Ele não vê a conta bancária, mas o coração (1 Sm 16.7). Paulo detestava este tipo de comportamento e jamais agiria desta forma, como ele mesmo disse: “Quanto aos que pareciam influentes — o que eram então não faz diferença para mim; Deus não julga pela aparência — tais homens influentes não me acrescentaram nada” (Gl 2.6) NVI.

Você pode até ficar empolgado e ostentar que tal artista é da sua igreja, todavia, Deus não considera assim e odeia tal comportamento, como está escrito: “Não é verdade que ele não mostra parcialidade a favor dos príncipes, e não favorece o rico em detrimento do pobre, uma vez que todos são obra de suas mãos” (Jó 34.19 NVI). “Coitado” do irmão pobre que serve a igreja com tantas dificuldades. Sente-se zombado e menosprezado; mas Deus toma a dor dele e sente o que ele sente. Deus se volta contra aqueles que exaltam o “artista” em detrimento do popular (Pr 17.5).

Que Deus nos livre desta praga que se instalou no seio de algumas igrejas, ou seja, o favoritismo que tem por crivo a “posição social”. Tal coisa não tem nada haver com o Evangelho e longe está da postura do Soberano Senhor - Criador dos Céus e da Terra, dono do ouro e da prata - mas que preferiu vir a terra como servo. Tinha toda a Glória, mas esvaziou a si mesmo e se fez pobre (Fp. 2. 5-11); por isso foi desprezado, pois a sua aparência não tinha beleza (Is 53.8). Muitos por analisar somente a aparência estão rejeitando o próprio Senhor Jesus.

No entanto, O “manso e humilde” de coração é Rei dos reis e Senhor dos senhores. A maioria dos seus escolhidos não é sábio segundo o mundo - e nem poderosos de nobre nascimento. Ele escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes; as coisas humildes e as desprezadas (aqueles que mal são visto) para reduzir aqueles que são bem visto (1 Co 2.26-28).

Tudo porque “não há justo se quer (Rm 3.10)”; todos voltarão ao pó (Gn 3.19); por isso ninguém (seja o gari ou o presidente da república) poderá se gloriar diante de Deus (1 Co 2.29). Fuja disto e não seja conivente com o comportamento destes líderes; pois a Escritura exorta a agirmos diferentes de tudo isto que temos visto dentro destas igrejas que preferem os artistas. Fique do lado que o Senhor está, pois assim Ele diz:

“Tenham uma mesma atitude uns para com os outros. Não sejam orgulhosos, mas estejam DISPOSTOS a associar-se a PESSOAS de POSIÇÃO INFERIOR”. – Romanos 12.16 (NVI)

Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,

Soli Deo Gloria!
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Fonte: Blog pessoal do Fabio Campos

5 de mar. de 2015

Martírio de cristãos pelo Estado Islâmico: uma reflexão bíblica

Por Tom Schreiner

A maioria de nós leu a história dos 21 cristãos egípcios sequestrados na Líbia. Um vídeo do Estado Islâmico mostrou cerca de 12 deles sendo decapitados, e é quase certo que todos eles foram assassinados.
Não estamos surpresos
Jesus nos disse para esperar perseguição, ensinando os seus discípulos que os incrédulos nos odiariam assim como o odiaram (João 15.18-20).

Jesus previu que alguns daqueles nos matariam, pensariam estar oferecendo serviço a Deus (João 16.2).

Embora a maioria de nós não venha a perder a própria vida em nome de Cristo, não devemos ficar surpresos se isso acontecer. Todos nós precisamos estar prontos para entregar as nossas vidas por Cristo. “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.26).

Somos mais que vencedores

Jesus nos chama a ser fiéis até a morte para receber a coroa da vida (Apocalipse 2.10).

Jesus também nos chama a nos alegrarmos quando perseguidos, pois é grande honra morrer pelo nosso Senhor e Salvador, e a nossa recompensa excederá em muito o nosso sofrimento (Mateus 5.10-12; Atos 5.41). Naturalmente, podemos ficar temerosos e assustados com tal possibilidade, preocupados de que não tenhamos a força para sofrer. E não temos a força em nós mesmos, mas Deus promete ser conosco no fogo e na água (Isaías 43.2), e promete nos dar graça para suportar o que há de mais difícil. “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra” (2 Coríntios 9.8).

Ao morrer em nome de Cristo, ao não amar as nossas próprias vidas mesmo mediante a morte, não somos perdedores, mas vencedores; não somos vencidos pelo mal. Pelo contrário, somos “mais que vencedores” (Romanos 8.37; Apocalipse 12.11). Aqueles que são mortos em nome de Cristo ressuscitam e reinam com Jesus Cristo (Apocalipse 20.4).

Choramos com os que choram

Paulo diz que “o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1.21). Ainda assim, a questão não é simplista, e a vida não é fácil. Nós choramos com aqueles que choram (Romanos 12.15). Paulo disse que se Epafrodito tivesse morrido, ele teria experimentado “tristeza sobre tristeza” (Filipenses 2.27). A tristeza enche os corações daqueles que ficam.

Oramos tanto pelos nossos inimigos quanto pelos nossos irmãos e irmãs que sofrem

Precisamos de uma graça especial para orar pela salvação daqueles que praticaram tamanho mal.

Também oramos pelos nossos irmãos e irmãs que sofrem ao redor do mundo; pedimos que Deus conceda a eles alegria, força e perseverança para suportar até o fim.

Oramos para que Deus os proteja e sustente a sua igreja.

Oramos pelo justo juízo de Deus

Ao mesmo tempo, assim como os mártires debaixo do altar em Apocalipse 6.9-11, nós clamamos: “Até quando, ó Soberano Senhor?” Quando tu agirás com justiça para com este mundo? Quando tu vindicarás os teus santos e julgará os perversos por amor ao teu grande nome?

O dia do juízo está chegando, o dia em que tudo será ajustado. Enquanto isso, Deus está chamando muitos mais para serem seus filhos, mesmo dentre aqueles que nos perseguem. Nós louvamos a Deus tanto pelo seu amor salvador quanto pelo seu justo juízo, e oramos: “Vem, Senhor Jesus” (Apocalipse 22.20).
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Toda nossa Vida é Arrependimento

Por Tim Keller

Martinho Lutero abriu a Reforma pregando "As Noventa e Cinco Teses" na porta da Catedral de Wittenberg. A primeira dessas teses era: "Nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse uma de arrependimento". Superficialmente isso parece um pouco lúgubre. Lutero parece estar dizendo que os cristãos nunca farão muito progresso. Mas certamente esse não era o ponto de Lutero. Ele estava dizendo que o arrependimento é o caminho para fazermos progresso na vida cristã. De fato, o arrependimento difundido e duradouro é o melhor sinal de que estamos crescendo profunda e rapidamente no caráter de Jesus.

A transformação do arrependimento.

É importante considerar como o evangelho afeta e transforma o ato do arrependimento. Na 'religião' o propósito do arrependimento é basicamente manter Deus feliz, de forma que ele continuará te abençoando e respondendo suas orações. Isso significa que esse 'arrependimento religioso' é a) egoísta, b) promotor de justiça própria, c) e amargo até o fim. Mas no evangelho o propósito do arrependimento é repetidamente chegar à alegria da nossa união com Cristo para enfraquecer nossa necessidade de fazer algo contrário ao coração de Deus.

O arrependimento 'religioso' é egoísta.

Na religião nos entristecemos com o pecado somente por causa das suas conseqüências para nós. Ele nos trará castigo - e queremos evitar isso. Assim, arrependemos. Mas o evangelho nos diz que o pecado não pode nos levar ultimamente à condenação (Romanos 8:1). Sua atrocidade é, portanto, o que ele causa a Deus - ele o desagrada e desonra. Assim, na religião o arrependimento é centrado no homem; o evangelho o torna centrado em Deus. Na religião nos entristecemos principalmente pelas conseqüências do pecado, ma no evangelho somos entristecemos com o pecado em si.

Além do mais, o arrependimento 'religioso' é uma justiça própria. O arrependimento pode facilmente se tornar uma forma de 'expiação' pelo pecado. O arrependimento religioso frequentemente se torna uma forma de auto-flagelação, na qual convencemos Deus (e nós mesmos) de que estamos tão verdadeiramente miseráveis e pesarosos que merecemos ser perdoados. No evangelho, contudo, sabemos que Jesus sofreu e foi feito miserável por causa do nosso pecado. Não temos que sofrer para merecer o perdão. Simplesmente recebemos o perdão conquistado por Cristo. 1 João 1:8 diz que Deus nos perdoa porque ele é 'justo'. Essa é uma declaração notável. Seria injusto Deus nos negar o perdão, pois Jesus adquiriu nossa aceitação! Na religião adquirimos nosso perdão através do nosso arrependimento, mas no evangelho apenas o recebemos.

Por último, o arrependimento religioso é "amargo até o fim". Na religião nossa única esperança é viver uma vida boa o suficiente para Deus nos abençoar. Portanto, cada ocorrência de pecado e arrependimento é traumática, anormal e horrivelmente ameaçadora. Somente sob grande pressão uma pessoa religiosa admite que pecou, pois sua única esperança é sua bondade moral. Mas no evangelho o conhecimento da nossa aceitação em Cristo torna mais fácil admitir que somos falhos (pois sabemos que não seremos rejeitados se confessarmos as verdadeiras profundezas da nossa pecaminosidade). Nossa esperança está na justiça de Cristo, não na nossa própria; assim, não é traumático admitir nossas fraquezas e deslizes. Na religião nos arrependemos cada vez menos. Mas quanto mais aceitos e amados no evangelho nos sentimos, mais e mais nos arrependeremos. E embora, certamente, sempre haja alguma amargura em todo arrependimento, no evangelho há no final uma doçura. Isso cria uma nova dinâmica radical para o crescimento espiritual. Quanto mais você vê suas faltas e pecados, mais preciosa, eletrizante e maravilha a graça de Deus parecerá ser para você. Por outro lado, quanto mais ciente você estiver da graça de Deus e da aceitação em Cristo, mais você será capaz de abandonar suas justificativas e negações, e admitir as verdadeiras dimensões do seu pecado. O maior de todos os pecados é uma falta de alegria em Cristo.

As disciplinas do arrependimento do evangelho

Se você entende essas duas formas diferentes de se arrepender, então (e somente então!) você pode se beneficiar grandemente de uma disciplina regular e exigente de auto-examinação e arrependimento. Eu descobri que as práticas dos líderes metodistas do século XVIII, George Whitefield e John Wesley, são úteis para mim nesse aspecto. Numa carta para um amigo, datada de 9 de Janeiro de 1738, George Whitefield colocou uma ordem para o arrependimento regular. (Ele regularmente fazia seu inventário à noite). Ele escreveu: "Que Deus me dê uma profunda humildade e um amor em chamas, um zelo bem orientado e um olho simples, e então: que os homens e os demônios façam o seu pior!". Aqui está uma forma de usar essa ordem no arrependimento fundamentado no evangelho.

Profunda humildade (vs. orgulho)

Eu olho com desprezo para alguém? Eu tenho sido atormentado pelo criticismo? Eu me sinto desdenhado e ignorado?

- Arrependa-se dessa forma: Considere a graça de Jesus até que sinta (a) o desdém diminuir (visto que sou um pecador também), (b) a dor pelas críticas diminuir (visto que não devemos valorizar a aprovação humana acima do amor de Deus). À luz da sua graça, eu posso abandonar a necessidade de manter uma boa imagem - esse é um peso muito grande e desnecessário. Considere a livre graça e experimente uma alegria agradável e tranqüila.

Amor em chamas (vs. indiferença)

Eu tenho falado ou pensado com maldade de alguém? Eu tenho me justificado ao caricaturar (em minha mente) uma outra pessoa? Eu tenho sido impaciente e iracundo? Eu tenho sido egoísta, indiferente e desatencioso para com as pessoas?

- Arrependa-se dessa forma: Considere a graça de Jesus até que (a) não haja nenhuma frieza ou grosseria (pense no amor sacrificial de Cristo por você), (b) não haja nenhuma impaciência (pense na paciência de Cristo para com você), (c) não haja nenhuma indiferença. Pense na livre graça até que você mostre cordialidade e afeição. Deus foi infinitivamente paciente e atencioso para com você, pela graça somente.

Coragem sábia (vs. ansiedade)

Eu tenho evitado as pessoas ou tarefas que sei que enfrentarei? Tenho sido ansioso e preocupado? Tenho falhado em ser circunspecto ou tenho sido precipitado e impulsivo?

- Arrependa-se dessa forma: Considere a livre graça de Jesus até que (a) não haja nenhuma fuga covarde de coisas difíceis (visto que Jesus enfrentou o mal por mim), (b) não haja comportamento ansioso ou preocupado (visto que a morte de Jesus prova que Deus cuida de mim e se preocupe comigo). É orgulhoso ser ansioso - eu não sou sábio o suficiente para saber [mais do que Deus] como minha vida deveria ser. Considere a livre graça até que experimente uma calma profunda e uma coragem estratégica.

Motivações piedosas (um 'olho simples')

Estou fazendo o que estou fazendo para a glória de Deus e para os bem dos outros, ou estou fazendo motivado por temores, necessidade de aprovações, amor pelo conforto e calma, necessidade de controle, fome por aclamação e poder, ou "temor dos homens"? Tenho olhado para alguém com inveja? Tenho me dado, mesmo que de uma forma pequena, à luxúria e glutonaria? Estou gastando meu tempo com coisas urgentes ao invés de coisas importantes por causa dos meus desejos desordenados?

- Arrependa-se dessa forma: Como Jesus me fornece o que estou procurando nessas outras coisas? Ore: "Ó Senhor Jesus, faça-me feliz o suficiente em ti para evitar o pecado e sábio o suficiente em ti para evitar o perigo, para que possa sempre fazer o que é correto aos seus olhos. É em teu nome que oro, amém".
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Fonte: O Calvinismo