Por Thiago Oliveira
“Firmarei a sua
linhagem para sempre, o seu trono durará enquanto existirem céus.”
Salmos
89:29
Ao falar
de uma aliança davídica, ou seja, com Davi, não devemos esquecer que se trata
de mais uma dispensação soberana do plano redentor, no qual Deus conecta o
pacto feito no Éden (Gn 3.15) com o pacto feito com Noé, com Abraão e com os
hebreus no Sinai. Todas as alianças rementem ao Ungido de Deus, ou seja, o
Messias, título que o Rei Davi detém. Porém Davi não passa de uma tipologia
(i.é. ilustração) de Cristo, este sim, o ungido perfeito que vive e reina para todo
o sempre.
O PANO DE FUNDO
A
passagem bíblica que descreve a aliança de Deus com Davi se encontra no
capítulo 7 de 2 Samuel. Embora não exista o termo aliança nesse registro,
outras passagens da Escritura vão evocar o caráter aliancista da ocasião. O
Salmo 89 celebra as palavras divinas ditas à Davi: “a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu
trono será firme para sempre” (2Sm 7:16 vide Sl 89.4,29). Outros salmos
também fazem alusão a aliança (Sl 21, 72, 110 e 132).
Precisamos
entender o contexto em que o concerto que Deus fez com Davi, foi realizado.
Logo no primeiro versículo de 2 Samuel 7 lemos que o SENHOR concedeu descanso à
Davi de todos os inimigos que estavam ao seu redor. Isso se deu logo após a
conquista de Jerusalém, quando Davi derrota os jebuseus (2Sm 5: 6-12). Antes da
conquista ele havia se tornado rei, ungido em Hebrom pelo povo (2Sm 5:3). Davi
faz de Jerusalém a capital de seu reino, e fez isso para unir em torno de si a
nação de Israel. Por isso, Jerusalém ficou conhecida como a “cidade de Davi”.
Após
seus êxitos militares, o rei ordena que tragam a arca da aliança para Jerusalém
(2 Samuel 6). Isto representou a fusão do trono divino com o trono terreno. A
arca era vista como o trono do qual Deus estava “assentado acima dos
querubins”. Davi com isso, intencionava fazer do seu reinado o reinado do
próprio SENHOR. Esta foi a primeira ação importante que Davi tomou. Ao levar a arca
para o centro de Jerusalém, estabelece aquele lugar como o lugar de Deus, onde o
próprio SENHOR reina, protegendo e santificando Jerusalém com a Sua presença.
PROMESSA DE UMA CASA PERPÉTUA
Davi
então deseja fazer uma casa para que Deus habite, pois não achava justo viver
num palácio enquanto Deus habitava numa tenda (tabernáculo). Por meio do
profeta Natã, Deus fala ao rei que ele anda com Israel desde o Egito,
peregrinando com o Seu povo. Através de Natã, Deus recorda a Davi que havia
feito uma aliança e que através dela separou um povo exclusivo. A Abraão foi
prometida uma grande descendência, ele seria pai de uma nação. No Sinai, os
descendentes de Abraão, livres do cativeiro egípcio, ganham leis e podem se
organizar nacionalmente. Aquele povo vai entrar na terra prometida ao seu antepassado.
Deus fizera um Reino de ex-escravos e agora seria preciso um rei que os
governasse com justiça. Este era o cumprimento de Dt 17: 14-20.
Deus
promete a Davi que a sua descendência não perderia o trono. Seria o sucessor de
Davi que construiria uma casa para Deus, este seria chamado de filho, uma
relação diferente da que teve Saul. Como filhos, a descendência de Davi seria
castigada quando desobedecesse, todavia, não seria desprezada, como foi a casa
de Saul. Lamentações 3 mostra esse tipo de relação entre Deus e Israel, e
afirma que as misericórdias do SENHOR são infinitas (Lm 3:22).
Por mais
de 400 anos, a linhagem de Davi reinou. Quando o reino foi dividido após a
morte de Salomão, a semente davídica continuou entronizada no Reino do Sul,
enquanto que no Reino do Norte teve famílias diferentes e capitais diferentes.
No Sul, a Cidade de Davi permaneceu como centro político e religioso. Mas
conhecemos a história e sabemos que Jerusalém foi tomada pelos caldeus. Mesmo
após o regresso do cativeiro babilônico, os judeus foram dominados por outras
nações até se dispersarem no ano 70 d.C. Onde fica o “para sempre” que Deus havia jurado?
PROFETISMO MESSIÂNICO
Quando a
monarquia ruiu, os profetas logo passam a entender (revelacionalmente) que a
perpetuidade da aliança tem um caráter escatológico. O pacto davídico é
reinterpretado à partir de uma perspectiva messiânica. A perplexidade dá lugar
a esperança. Amós profetiza que o tabernáculo seria restaurado (Am 9:11),
Isaías diz que um filho da casa de Davi governaria com justiça e retidão (Is 9:6-7)
e os profetas ensinam que uma raiz do tronco de Jessé (pai de Davi) ainda
criaria um reino ideal (Is 11.1-9; Jr 23.5; Zc 3.8).
Jesus é
o cumprimento dessas promessas. É ele o filho de Davi, filho de Abraão (Mt
1:1). Pedro na sua pregação no dia de Pentecostes sobre a ressurreição de
Cristo, afirma que o Nazareno, que fora crucificado, venceu a morte para
assentar-se no trono de Davi (At 2:30) e assim reinar perpetuamente, pois como
não morre, nunca será sucedido.
Em
Apocalipse 21 o apóstolo João vê o Reino estabelecido, Jesus entronizado (v.5)
e sendo ele mesmo, o Cordeiro, o templo (v.22). Cristo reina, para todo sempre.
Amém.
APLICAÇÕES
Podemos
fazer as seguintes aplicações:
- Somos de uma linhagem perpétua: Num sentido único,
Jesus é o Filho, porém essa filiação é estendida a todos os que são inseridos
na família de Deus (Jo 1:12). Debaixo do juramento divino para com Davi,
podemos celebrar o fato de que a misericórdia não se apartará de nós. Temos uma
relação pessoal e permanente com o Rei das Nações.
- Temos a herança garantida: Se somos filhos de
Deus, logo somos herdeiros (Rm 8:17). Haveremos de ser glorificados tal como
Cristo foi. Lembremos que antes da sua glorificação, houve padecimento.
Portanto, se estamos debaixo de sofrimento, devemos lembrar que antes da coroa
de glória veio a coroa de espinhos. Antes do trono veio a cruz. Todavia, nossos
sofrimentos atuais não se comparam com a glória que nos será revelada (Rm
8.18).
- Reinaremos com Cristo: A parte mais graciosa
e surpreendente é que reinaremos com Cristo e as Escrituras atestam isso
claramente: Lc 22:30, 1Co 6:2, 2Tm 2:12, Ap 3:21, Ap 20:4. Agora imagine você,
um reles pecador, santificado, glorificado e participante do trono de Cristo.
Louvado
Seja Deus!