Por Augustus Nicodemus
Eu
diria que existem duas diferenças muito importantes entre as reações físicas
encontradas na Escritura e nos avivamentos históricos, e uma boa parte do que
observamos dentro dos círculos neopentecostais.
Primeiro,
reações físicas como o cair e o rolar no chão, tremores, choro alto,
contorções, saltos, risos descontrolados, e coisas semelhantes, não são jamais
encorajadas nas Escrituras, e nem mesmo apresentadas como sinal da presença de
Deus. O mesmo pode se dizer dos avivamentos históricos. No geral, até onde sei,
reações físicas e emocionais com essas características nunca foram encorajadas,
promovidas, ou buscadas por seus líderes (embora houvesse uns poucos líderes
leigos que fizessem o contrário). E nem sempre foram consideradas como
evidências claras da atuação do Espírito de Deus. Eu creio que se Jonathan
Edwards estivesse pregando hoje, e de repente alguém caísse durante sua
pregação, ele provavelmente diria: “Levante-se para ouvir o resto, eu não
acabei ainda de falar a Palavra do Senhor!” O próprio João Wesley era bastante
crítico deste tipo de manifestação, embora ele nunca as proibisse, pois tinha
receio de ir contra a obra do Espírito. Entretanto, ele era extremamente
cauteloso e reservado quanto a esse tipo de manifestação. Essas reações físicas
nos tempos bíblicos e durante os avivamentos históricos nunca foram encorajadas
pelos líderes, e nunca foram vistas como sendo a evidência da atuação do
Espírito Santo; portanto, não eram um fim em si mesmas.
Em
contraste, o que se vê hoje são pregadores que procuram conscientemente
provocar esse tipo de reação. Coisas como “cair no Espírito” são encorajadas.
Na Igreja de Toronto, onde se originou o “riso santo”, existe até mesmo uma
equipe de “apanhadores” — voluntários da Igreja que se colocam atrás das
pessoas para “apanhá-las” na hora da queda. Quando visitei aquela igreja,
percebi uma obreira que, literalmente, ao orar por uma mulher, a empurrou para
baixo, para que caísse. Outras reações físicas, como o riso, tremores,
palpitações, são enfatizadas, elogiadas, e os crentes são encorajados a
buscá-las.
A
segunda grande diferença, e a meu ver mais importante do que a primeira, é que
nos avivamentos históricos grande parte dessas reações físicas foi resultado de
uma percepção por parte das pessoas, das grandes verdades de Deus, de forma tão
clara e tão grandiosa, que a estrutura física não suportou e entrou em colapso.
Um bom exemplo disto é o avivamento de 1841-1842 no norte da Irlanda, em Skye.
Pastores batistas e presbiterianos que estiveram presentes, ao escreverem seus
relatórios, deixaram claro que este tipo de fenômeno físico era,
invariavelmente, o resultado da pregação da Palavra nos cultos, quando pessoas
caíam devido a convicção de pecado, e em angústia de alma, choravam em voz
alta, soluçavam, e às vezes caíam como mortas ao chão.
Pensemos
no que ocorreu na igreja de Jonathan Edwards naquela manhã em que pregou o
memorável sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado”. O que aconteceu? O que
provocou aquela reação nas pessoas, que se lançaram às colunas da Igreja, e se
abraçaram à elas? As pessoas ali presentes viram de forma tão clara o juízo de
Deus e a ira de Deus contra o pecado, que entraram em profunda angústia de
alma. O Espírito Santo de tal maneira iluminou as suas mentes, que eles tiveram
uma visão extremamente nítida dos horrores da condenação eterna. Esta
compreensão foi tão clara, que era como se eles estivessem vendo diante de seus
olhos o próprio inferno aberto, pronto para tragar as almas dos ímpios. A
percepção da grandeza da ira de Deus e o terror que sentiram do dia do juízo
foi tão incisivo que perderam o controle de si mesmos.
Observe,
então, que se poderia dizer a mesma coisa do que acontecia com a pregação de
João Wesley, George Whitefield, e de alguns pregadores puritanos quando
ocorriam essas reações físicas. Elas aconteciam porque as pessoas se
conscientizaram, de uma forma como talvez nunca haviam feito antes, do caráter
santo da lei de Deus, dos horrores da ira de Deus, ou da profundidade da graça,
da bondade, e do amor de Deus, o ponto de seus corpos não suportarem. O fato é
que suas mentes ficaram impactadas pelas verdades de Deus, e em decorrência
disto, seus corpos reagiram.
Mas
hoje em dia, o que se percebe é alguma coisa absolutamente diferente. A grande
maioria dessas manifestações físicas não são resultado da pregação clara,
inequívoca, direta, das grandes verdades de Deus, o ponto de o povo não
agüentar a glória celestial do que está sendo dito. Uma das principais
características dos movimentos que promovem este tipo de coisa é exatamente a
pregação superficial, sem teologia, antidoutrinária, que gira em torno de um
amontoado de versículos que são usados como base para exortações gerais,
recheadas de relatos de experiências, pregação da prosperidade e declarações de
vitória e sucesso. Estão ausentes exatamente os temas que mais provocaram esse
tipo de reação no passado, que são a santidade, a ira, a justiça de Deus, bem
como seu amor redentor em Cristo Jesus.
(Extrato
do livro "Cheios do Espírito" da Editora Vida).