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19 de dez. de 2014

Podemos realizar milagres maiores que os de Jesus?

Por Thiago Oliveira

“Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai.”

João 14:12

Muitos cristãos entram em crise quando leem esse versículo. O motivo? A falsa compreensão do que seriam as “obras” mencionadas por Jesus. Seriam os milagres? Há uma linha que assim interpreta, demonstrando incapacidade exegética. Antes de explicar o que seriam as tais “obras” gostaria de abrir um parênteses e falar um pouco sobre essa ânsia por milagres. Seriam eles fundamentais para a nossa fé? Se Deus não mais operasse nenhum evento sobrenatural para intervir na história e usasse apenas as equilibradas leis da natureza, por acaso deixaria de ser Deus?

Quando penso no relato bíblico da peregrinação hebreia rumo a Terra Prometida, logo chego a seguinte conclusão: Os milagres não são suficientes para fundamentar alguém na fé. Ora, porque digo isso? Porque o SENHOR realizou inúmeros milagres e o povo continuou murmurador, desobediente e incrédulo. Primeiro enviou as dez pragas (Êxodo do capítulo 7 ao 12), em seguida abriu o Mar Vermelho (Ex 14:22) e no deserto fez cair a comida do céu (maná e codornizes, Ex 16: 4-13), além de fazer sombra com a nuvem ao dia e aquecendo-os do frio com a coluna de fogo à noite (Ex 13: 21-22). Quer mais? Durante os 40 anos de andanças pelo deserto e suas vestes e calçados não ficaram velhos (Dt 29:5).

Mesmo depois de todas essas coisas, na ausência de Moisés, os hebreus fizeram um bezerro de ouro e a ele renderam culto (Dt 9:12). De igual modo Jesus realizou diversos sinais e prodígios e foi desacreditado. Por isso, caro leitor, fundamente a sua fé na doutrina dos apóstolos, pois nela sois edificados para sedes santuário dedicado a Deus, no qual o próprio Cristo é a pedra angular (Ef 2: 20-21). Não estou afirmando em hipótese alguma que Deus não pode fazer milagres hoje, apenas digo que eles não podem ser o cerne de nossa devoção. Sempre costumo dizer que eu poderia morrer sem nunca ter visto um cego ver, um surdo ouvir e um paralítico andar, mesmo assim morreria crendo que o SENHOR é capaz de operar todas essas coisas. Mesmo sem ver um desses fenômenos eu O adorarei.

Encerrado esse parênteses e voltando para o texto de João 14; É inequívoco que “obras” não significam milagres. Portanto, não podemos operar milagres maiores que os de Jesus. O termo no original grego é ergon e denota trabalho. Este é o sentido: “Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também o trabalho que tenho realizado”. Após analisar o escrito original, também é de suma importância adentrar o contexto dessa passagem e de uma vez por todas entender o que Jesus estava querendo transmitir aos Doze naquele momento.

Jesus estava nos últimos momentos de sua vida e exortava os apóstolos. O Rabi falava acerca de sua ida ao Pai, pois estava ciente que a hora de sua morte estava próxima. Nesse contexto fala das obras como sendo o seu ministério aqui na terra. Cristo habitou entre nós para manifestar o Reino de Deus e inaugurá-lo. Todo o seu trabalho consistia em promover o Reino dos Céus. Um Reino de outro mundo no qual ele é o Soberano. Foi por isso que ele encarnou, ensinou ao povo, serviu aos homens e operou milagres. Todavia, seu tempo de encarnação era limitado e o momento de voltar ao Pai não tardaria. Com a ascensão de Jesus após sua morte e ressurreição, o Espírito Santo, o Conselheiro seria derramado. Ele ensinaria e traria a lembrança de tudo o que os discípulos viveram durante todo o tempo em que estiveram com o Messias.

Em Atos lemos o cumprimento dessa promessa. Quando receberam o poder do Espírito com a finalidade de testemunharem de Cristo em Jerusalém e irem até os confins da terra (At 1:8) os discípulos expandiram o Reino em duas perspectivas: Territorial e Numérica. Já no Pentecostes, após a pregação de Pedro, há um acréscimo de três mil pessoas à igreja (At 2:41). Além de Jerusalém, limite territorial de Jesus enquanto esteve encarnado, a Boa Nova se espalhou por todo o Império Romano. A expansão tem início quando o Espírito Santo separa Barnabé e Paulo e, após a imposição de mãos, os dois navegam para Chipre (At 13: 2-4). Até mesmo a prisão de Paulo era obra divina para que o Evangelho chegasse a capital:

“Na noite seguinte o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Assim como você testemunhou a meu respeito em Jerusalém, deverá testemunhar também em Roma". Atos 23:11

Que o SENHOR tenha misericórdia de nós, sempre sedentos por milagres, querendo Suas bênçãos e buscando sempre o favorecimento próprio. A Igreja precisa envolver-se mais com o “Deus que É” e não apenas com o “Deus que faz”. A seara é grande e poucos são os trabalhadores (MT 9:37). Todavia os que, de fato, creem saem da inércia religiosa e adentram os campos, impelidos pelo Espírito propagam aos povos que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29). 

Soli Deo Gloria.

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