Por Thiago Oliveira
“Digo-lhes a verdade: Aquele
que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda
maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai.”
João 14:12
Muitos cristãos entram em
crise quando leem esse versículo. O motivo? A falsa compreensão do que seriam
as “obras” mencionadas por Jesus. Seriam os milagres? Há uma linha que assim
interpreta, demonstrando incapacidade exegética. Antes de explicar o que seriam
as tais “obras” gostaria de abrir um parênteses e falar um pouco sobre essa
ânsia por milagres. Seriam eles fundamentais para a nossa fé? Se Deus não mais
operasse nenhum evento sobrenatural para intervir na história e usasse apenas
as equilibradas leis da natureza, por acaso deixaria de ser Deus?
Quando penso no relato
bíblico da peregrinação hebreia rumo a Terra Prometida, logo chego a seguinte
conclusão: Os milagres não são suficientes para fundamentar alguém na fé. Ora,
porque digo isso? Porque o SENHOR realizou inúmeros milagres e o povo continuou
murmurador, desobediente e incrédulo. Primeiro enviou as dez pragas (Êxodo do
capítulo 7 ao 12), em seguida abriu o Mar Vermelho (Ex 14:22) e no deserto fez
cair a comida do céu (maná e codornizes, Ex 16: 4-13), além de fazer sombra com
a nuvem ao dia e aquecendo-os do frio com a coluna de fogo à noite (Ex 13:
21-22). Quer mais? Durante os 40 anos de andanças pelo deserto e suas vestes e
calçados não ficaram velhos (Dt 29:5).
Mesmo depois de todas essas
coisas, na ausência de Moisés, os hebreus fizeram um bezerro de ouro e a ele
renderam culto (Dt 9:12). De igual modo Jesus realizou diversos sinais e
prodígios e foi desacreditado. Por isso, caro leitor, fundamente a sua fé na
doutrina dos apóstolos, pois nela sois edificados para sedes santuário dedicado
a Deus, no qual o próprio Cristo é a pedra angular (Ef 2: 20-21). Não estou
afirmando em hipótese alguma que Deus não pode fazer milagres hoje, apenas digo
que eles não podem ser o cerne de nossa devoção. Sempre costumo dizer que eu
poderia morrer sem nunca ter visto um cego ver, um surdo ouvir e um paralítico
andar, mesmo assim morreria crendo que o SENHOR é capaz de operar todas essas
coisas. Mesmo sem ver um desses fenômenos eu O adorarei.
Encerrado esse parênteses e
voltando para o texto de João 14; É inequívoco que “obras” não significam
milagres. Portanto, não podemos operar milagres maiores que os de Jesus. O
termo no original grego é ergon e denota trabalho. Este é o sentido: “Digo-lhes
a verdade: Aquele que crê em mim fará também o trabalho que tenho realizado”.
Após analisar o escrito original, também é de suma importância adentrar o
contexto dessa passagem e de uma vez por todas entender o que Jesus estava
querendo transmitir aos Doze naquele momento.
Jesus estava nos últimos
momentos de sua vida e exortava os apóstolos. O Rabi falava acerca de sua ida
ao Pai, pois estava ciente que a hora de sua morte estava próxima. Nesse
contexto fala das obras como sendo o seu ministério aqui na terra. Cristo
habitou entre nós para manifestar o Reino de Deus e inaugurá-lo. Todo o seu
trabalho consistia em promover o Reino dos Céus. Um Reino de outro mundo no
qual ele é o Soberano. Foi por isso que ele encarnou, ensinou ao povo, serviu
aos homens e operou milagres. Todavia, seu tempo de encarnação era limitado e o
momento de voltar ao Pai não tardaria. Com a ascensão de Jesus após sua morte e
ressurreição, o Espírito Santo, o Conselheiro seria derramado. Ele ensinaria e
traria a lembrança de tudo o que os discípulos viveram durante todo o tempo em
que estiveram com o Messias.
Em Atos lemos o cumprimento
dessa promessa. Quando receberam o poder do Espírito com a finalidade de
testemunharem de Cristo em Jerusalém e irem até os confins da terra (At 1:8) os
discípulos expandiram o Reino em duas perspectivas: Territorial e Numérica. Já
no Pentecostes, após a pregação de Pedro, há um acréscimo de três mil pessoas à
igreja (At 2:41). Além de Jerusalém, limite territorial de Jesus enquanto
esteve encarnado, a Boa Nova se espalhou por todo o Império Romano. A expansão
tem início quando o Espírito Santo separa Barnabé e Paulo e, após a imposição
de mãos, os dois navegam para Chipre (At 13: 2-4). Até mesmo a prisão de Paulo
era obra divina para que o Evangelho chegasse a capital:
“Na noite seguinte o Senhor,
pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Assim como você testemunhou a meu
respeito em Jerusalém, deverá testemunhar também em Roma". Atos 23:11
Que o SENHOR tenha
misericórdia de nós, sempre sedentos por milagres, querendo Suas bênçãos e
buscando sempre o favorecimento próprio. A Igreja precisa envolver-se mais com
o “Deus que É” e não apenas com o “Deus que faz”. A seara é grande e poucos são
os trabalhadores (MT 9:37). Todavia os que, de fato, creem saem da inércia
religiosa e adentram os campos, impelidos pelo Espírito propagam aos povos que
Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29).
Soli Deo
Gloria.