Por
Franklin Ferreira
A
morte física não fazia parte da condição humana original, pois, nas Escrituras,
a morte está relacionada com o pecado (cf. Gn 2.16,17); Rm 5.12; 6.23). Por
isso, temos a percepção de quem a morte é algo estranho à experiência humana.
Lutamos contra a morte, pois sentimos que alguma coisa está errada quando se
pensa no fim da vida – “a morte, no mundo humano, não é um aspecto da boa
criação de Deus, mas um dos resultados da queda do homem no pecado”*. Por isso,
as Escrituras afirmam que todos morrem (Rm 5.12), e que uma pessoa morre
somente uma única vez (Hb 9.27).
Podemos
enumerar três formas ou estágios para a morte. A primeira, e a mais importante,
é a morte espiritual. É a primeira justamente por ter sido a primeira a acontecer
na história bíblica e na vida de cada indivíduo. Em Gênesis 2.17, Deus disse
que “no dia em que dela comeres, com certeza morrerás”. Adão se tornou mortal
quando comeu, e morreu espiritualmente naquele mesmo dia. Como visto
anteriormente, o pecado fez uma separação entre Deus e nossos primeiros pais, e
essa separação é a essência da morte espiritual. A segunda forma é a morte
física. Como a morte espiritual é a separação de Deus, a morte física é a
separação do corpo do espírito, ou a separação da parte material da parte
imaterial. A morte física é o afastamento de aspectos de nossa humanidade que
deveriam ser inseparáveis, o que também indica que a morte não foi o desígnio
original de Deus para o homem, mas o resultado do pecado. A terceira forma da
morte é a morte eterna, ou a segunda morte (Ap 2.11;20.14), que será
experimentada pelos que não crerem no evangelho. Podemos, então, dizer que a
regeneração é a cura para a morte espiritual, e a ressurreição do corpo é a
cura para a morte física; mas não haverá cura para a morte eterna.**
Por
outro lado, tendo considerado a conexão entre a morte e o pecado, devemos
pensar a morte à luz da redenção. Cristo veio ao mundo para conquistar e
destruir a morte (Hb 2.14,15). Cristo assumiu a natureza humana e morreu por
nós, a fim de, por seu sacrifício, destruir a própria morte. Foi por meio de
sua ressurreição que Cristo conquistou sua grande vitória sobre a morte. A conquista
da morte, portanto, deve ser vista como parte essencial da obra redentora de
Cristo. Cristo não redime seu povo apenas do pecado, ele também o redime dos
resultados do pecado, e a morte é um desses resultados. Por isso, nossa
esperança está no Senhor, que tem as chaves da morte (Ap 1.18).
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*
Anthony Hoekema. A Bíblia e o futuro. São Paulo, Cultura Cristã. 2001, p.97.
**
Millard J. Ericson, Introdução à teologia sistemática, p. 484.
Extraído do livro Teologia Cristã, Edições Vida Nova, 2011.