Por Morgana Mendonça dos Santos
"Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" Romanos 8.29
Não é novidade que vivemos em uma sociedade mística e pragmática, o ego sendo adorado, o corpo sendo idolatrado e tudo aquilo que é a favor de uma raiz ortodoxa tem sido evitado. Os deuses do aqui e agora, os ídolos da atualidade são capazes de entoar a melodia nos quatro cantos do mundo e pensando bem, não existe mais a preocupação com o que é certo ou errado, verdadeiro ou falso. A influência hedônica ou até mesmo ecumênica tem ditado as regras.
Os valores, os princípios, a moral, a ética parece ser coisa da antiga geração. Hoje, não existe a preocupação com o "quem você é", se você "tem" ou "faz", parece estar tudo bem. A identidade, o conhecer a si mesmo, o saber quem sou, tornou-se algo tão abstrato que chega até ser irrelevante. Se você tem cargos, bens materiais, sucesso, dinheiro, fama, um boa profissão, não importa quem você seja. Ou, se você fizer um trabalho na política, construir um prédio, elaborar uma aula, escrever um livro, dissertar sobre um assunto, atuar em grandes espetáculos, defender uma causa social, ajudar um menino de rua, é suficiente, não importando quem você é.
Percebe onde isso tem levado os cristãos? O "ser" parece não ser tão importante, mais o "ter" e o "fazer" sim. Na nossa realidade eclesiástica isso não muda tanto, é fácil encontrar alguém carente de convicções de sua real identidade em Cristo. É inevitável, não perceber que na sua grande maioria fazer missões ou pastorear uma igreja, da mesma forma, como escrever um artigo ou cantar um louvor bem afinado tem tomando uma proporção maior do que, antes entender, que devemos ser verdadeiros cristãos.
Existe a competitividade em ter também, a estrutura do templo, quantidades de ovelhas, o salário mais generoso, o melhor ministério de louvor, os dons mais visíveis, os livros mais escritos, as pregações mais publicadas em YouTube, tudo isso no mundo do ter e fazer. Enquanto muitos, tem gasto suas energias nessa correria, nesse fim, o que deveríamos pensar ou como deveríamos reagir a todo esse vento que nos assola também? Precisamos correr atrás do "ter" e "fazer" alguma coisa?
De fato, não há problemas em "ter" ou "fazer", o problema significa não "ser", isto é, não viver conforme crer ou conforme a Bíblia ordena. Se colocarmos o "ter" ou "fazer" acima do "ser", corremos o risco do farisaísmo ou aparente espiritualidade. Como diz Thomas Watson, "Piedade fingida é dupla iniquidade". O que deve preceder o "fazer" e o "ter", seria o "ser". Quem você é? Somos conhecedores das Escrituras, mas a nossa vida é coerente com aquilo que pregamos, ensinamos, aconselhamos? Vivemos nessa sociedade de parâmetros invertidos a junção bíblica de uma conduta cristã, chamada ortodoxia e ortopraxia? Devemos lembrar que a teologia e a piedade devem andar de mãos dadas, o próprio Calvino fala sobre a piedade como uma espiritualidade reformada (Veja o novo lançamento da Fiel, do Joel Beeke, Espiritualidade Reformada).
A resposta quem você é em Cristo, deve ser o ponto pelo qual a sua vida deve ter um fino alinhamento. Não é difícil encontrar passagens como: "somos povo de Deus (1 Pedro 2.9)"; "santos em Cristo (1 Pedro 1.15)"; "discípulos do Senhor (Lucas 6.40)"; "ovelhas do seu aprisco (João 10.16)"; "vasos de honra (2 Timóteo 2.21)"; "filhos de Deus (Gálatas 3.26)"; "servos e soldados de Cristo (2 Timóteo 2.3)". Isso nos fala sobre quem somos, nossa real identidade. Mas até que ponto nossa identidade em Cristo tem sido coerente com a forma como nós temos vivido, tomado decisões, nos relacionamentos ou em qualquer outro lugar, em qualquer situação.
É necessário a compreensão que o "ser" precede o "ter" ou "fazer" algo para Deus. Deus em Sua palavra tem nos levado a "ser", como resultado disso vem o "fazer" ou "ter" algo para a Sua Glória. Se o que você faz, quer comer ou beber, não for para a glória de Deus, é pecado (1Co 10.31). No entanto, como fazer para a glória de Deus, sem "ser", antes de tudo, regenerado, adotado, justificado, ensinado no Evangelho para obediência? Como "ter" algo para a glória de Deus, se o entendimento do "ser" tem sido reduzido ou evitado.
O que importaria primariamente para Deus? O ser uma nova criatura, santos irrepreensíveis ou um bom método de evangelização ou fazer uma boa carreira escrevendo livros teológicos? Entendendo isso, é claro que existe uma grande distância entre pregar e viver nos nossos dias.
Os puritanos entenderam bem essa questão, e na sua prática cristã, vivência cristã tornou-se seu lema fazer tudo para a Glória de Deus. Viver exatamente conforme as Escrituras.
"Esse deve ser o nosso lema: jamais abandonar, nem esmorecer por pouco que seja, minha luta contra as minhas corrupções, apesar de todos os insucessos que possam ocorrer". Jonathas Edwards (1703-1758)
Um professor meu certa vez me disse: "se o nosso conhecimento não for um peso que nos humilha, nos fazendo humildes servos do Senhor, nada disso será para a glória de Deus".
Estamos familiarizados com variados conhecimentos teológicos, conhecemos excelentes pregadores e escritores, agradecemos a Deus por todo esse privilégio. Mas vivemos de fato aquilo que pregamos, o que temos tem sido usado para a glória de Deus, o que fazemos tem sido afirmado com a maneira que vivemos? Vale a pena, parar tudo, examinar a si mesmo (2Co 13.5), e seguir adiante. Como diz o verso de Paulo no começo desse artigo, "para serem conforme a imagem de Seu Filho", que Deus nos ajude!
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres?Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade".
Mateus 7.21-23.
A Deus toda glória, Rm 11.36.