Por Steven Lawson
Lutero achava essencial que
o preparo de sermões incluísse a leitura diligente da Bíblia. Entendia ele que
se quisesse pregar bem, teria de conhecer profundamente as Escrituras. Cada uma
de suas exposições bíblicas refletia horas concentradas de leitura cuidadosa da
Palavra. Thomas Harwood Pattison observa que: “O seu amor pela Escritura fez de
Lutero um grande pregador bíblico. O próprio Lutero tinha fome de conhecer mais
as Escrituras, como alguém a quem por muito tempo tivesse sido negado o
alimento necessário”.[1] E o historiador Jaroslav Pelikan, diz: “Ele estava de
tal maneira saturado pela linguagem e pelo pensamento da Bíblia que muitas
vezes a citava sem estar consciente disso”.[2] Em palavras simples, Lutero
devorava o texto bíblico com voraz apetite.
Continuamente, Lutero lutava
com as palavras dos escritores bíblicos. Refletindo sobre suas muitas horas
gastas examinando as Escrituras, ele disse:
Quando jovem, eu me
familiarizei com a Bíblia. Ao lê-la vez após vez, passei a conhecer o caminho
em meio a ela. Só depois disso é que consultei escritores [de livros a respeito
da Bíblia]. Mas finalmente, tive de tirá-los todos de minha vista e lutar com a
própria Bíblia. É melhor ver com os próprios olhos do que com olhos de
outros.[3]
Em outro lugar ele escreveu:
“Já há alguns anos, eu tenho lido a Bíblia inteira duas vezes no ano. Se você
imagina a Bíblia como uma poderosa árvore, e cada palavrinha um pequeno galho,
eu sacudi cada um desses galhos porque queria saber o que era e o que
significava”.[4] Essa leitura implacável da Bíblia foi uma das principais
ocupações de sua vida.
Lutero sabia que os
pregadores seriam tentados a evitar a Escritura procurando os comentários, mas
asseverou que a Escritura tem de ser a leitura principal. Acautelou: “A Bíblia
estará enterrada sob uma massa de literatura a respeito da Bíblia,
negligenciando o próprio texto”.[5] Lutero consultava muitos comentários, mas
jamais negligenciou a leitura diligente da Escritura.
Lutero temia que até mesmo a
leitura dos pais da igreja pudesse substituir a verdadeira leitura da Bíblia.
“A leitura dos santos pais deverá ser só por curto tempo, para que por meio
deles sejamos conduzidos às Sagradas Escrituras”.[6] O perigo, dizia ele, é que
um homem gaste tanto tempo lendo os pais que “nunca chegue a ler as
Escrituras”.[7] Lutero ainda afirmava: “Somos como homens que sempre estudam os
sinaleiros e nunca viajam pela estrada. Os queridos pais desejavam que, por
seus escritos, fôssemos conduzidos às Escrituras, mas nós os empregamos para
nos afastar das Escrituras”.[8] Para Lutero, tinha de haver um influxo total
das Escrituras antes que pudesse haver um transbordar da verdade bíblica na
pregação.
Ele testemunhou a
negligência da leitura bíblica pessoal da parte de muitos no ministério, e
Lutero lamentou: “Alguns pastores e pregadores são preguiçosos e não servem
para nada. Dependem de… livros para conseguir produzir um sermão. Não oram, não
estudam, não leem, não examinam as Escrituras. Não são nada senão papagaios e
gralhas que aprenderam a repetir sem entendimento”.[9] Desprezar a leitura
pessoal do texto bíblico, Lutero cria, era ser subdesenvolvido no púlpito.
Considerava sua obrigação
labutar diariamente na Bíblia. Quanto a isso Lutero declarou: “Somente a
Escritura é nossa vinha em que todos devemos lutar e laborar”.[10] Os
pregadores não devem nunca se desviar para outros campo, porém, manter-se
imersos na Escritura. Ele disse: “O chamado é vigiar, estudar, estar atento
para a leitura”.[11] Isso, ele sentia, era o primeiro dever do pregador.
Lutero via o poder da
pregação como ligado diretamente ao compromisso do pregador com a Palavra de
Deus: “O melhor pregador é aquele que melhor conhece a Bíblia; que a guarda não
só na memória como também na mente; que entende seu verdadeiro significado, e o
trata com efetividade”.[12] Noutras palavras, um conhecimento profundo do texto
prepara o homem para se tornar grande força no púlpito, Disse ele: “Aquele que
conhece bem o texto da Escritura é teólogo distinto”.[13] Essa saturação
bíblica era característica de Lutero, e impactou profundamente os seus sermões.
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Notas:
[1] T. Harwood Pattison, The
History of Christian Preaching (Philadelphia: American Baptist Publication
Society, 1903), 135.
[2] Jaroslav Pelikan,
Luther’s Works, Companion Volume: Luther the Expositor (St. Louis: Concordia,
1959), 49.
[3] Lutero, Luther’s Works,
Vol 54, 361
[4] Ibid., 165.
[5]Ibid., 361
[6] Martinho Lutero, Works
of Martin Luther: With Introductions and Notes, Vol 2 (Philadelphia: A. J.
Holman Co., 1915), 151.
[7] Lutero, Luther’s Works,
Vol 44, 205.
[8] Ibid.
[9] Martinho Lutero, D
Martin Luthers Werke, Vol 53 (Weimar: Hermann Bohlaaus Nachfolger, 1883), 218,
conforme citado em What Luther Says, 1110.
[10] Lutero, Luther’s Works,
Vol 44, 205.
[11] LUTERO, D Martin
Luthers Werke, Vol 53, as cited in Meuser, Luther the Preacher, 40–41.
[12] KERR, John, Lectures on
the History of Preaching (New York: A.C. Armstrong & Son, 1889), 154–155.
[13] Martinho Lutero, D
Martin Luthers Werke, Tischreden IV, 4567 (Weimar: H. Böhlau, 1912–1921),
conforme citado em What Luther Says, 1355.