Por Samuel Alves
Antes de
qualquer coisa, julgo necessário explicar o termo “minha cachaça”. Aqui no nordeste
quando usamos esta frase, fazemos referência a um vício antigo. Quando falo que o Facebook é minha cachaça,
quero dizer que este é meu vício! Ok?
Este texto vem após uma reflexão e muitas conversas com várias pessoas de
várias denominações. Tenho observado que
a “igreja institucionalizada” tem causado muitas feridas, e o pior, muitos
cristãos se submetem a este sistema e vivem uma vida cristã doente. Desde já
tenho em mente que a igreja é constituída de seu caráter espiritual e
institucional, Igreja Cristã é acima de tudo um organismo vivo (Corpo de
Cristo, Noiva do Cordeiro, Igreja Invisível), e que ao mesmo tempo também se
constitui em uma organização (igreja precisa se comunicar e se tornar visível
ao mundo), não excluo nenhuma das partes e não sou a favor dos desigrejados!
O que eu quero
refletir é sobre o sistema político que muitos se submetem, ferem e são feridos.
Sabem de todas as implicações de estar submisso a este sistema que trata as
pessoas como uma peça de um xadrez, ou seja, a manipulação humana, que é uma
marca deste sistema. O que faz muitas pessoas levarem uma vida para atender a demanda
de um terno, de uma máscara, da conveniência, da manipulação, da política sem
escrúpulos, dos famigerados cargos eclesiásticos, dos projetos tipo “castelo de
areia”. Enfim, muitas são as histórias, as magoas, decepções e frustrações,
fruto de uma monopolização institucional em detrimento das demais coisas. E no
final das contas, após vários desabafos, de vários irmãos, muitas vezes o
aconselhamento é mais doloroso, pois toda queixa é fruto de um jogo político,
onde há envolvimento das duas partes: o manipulador e manipulado. E neste
ambiente hostil não se pode esperar o caráter terapêutico da igreja, pois o que
está em jogo são os interesses institucionais e pessoais, daí a fonte de muitas
feridas entre os queridos irmãos. Como resultado dessas conversas listo abaixo
alguns tópicos para reflexão.
I. O Reino de Deus é mais abrangente do que
a igreja institucionalizada.
Muitos que estão
debaixo desse jugo perdem a noção da grandeza do Reino de Deus, toda fonte de
sua reflexão gira em torno da instituição, isto fica claro nas reuniões de
liderança! Infelizmente muitos cristãos não conseguem servir ao Reino de Deus
sem os seus cargos eclesiásticos, sem a placa de sua igreja, sem os almejos
futuros (cargos, conveniência política e etc.). Quanta gente alienada que não
consegue refletir o caráter do evangelho. Certo dia estava refletindo sobre um
texto do Darrel Bock em que ele afirmava. [1]
É a justaposição desses vários elementos que mostra quão eclético e
sintético, até criativo, é o ensino de Jesus sobre o Reino. Jesus pregou uma
esperança que os judeus podiam reconhecer, mas ele também pregou muito mais.
Ele acolheu elementos da esperança apocalíptica judaica, mas não repetiu
meramente esses temas. O sentido desses textos, como um todo, é que Jesus atua
dentro dessa história e, todavia, a remodelará um dia. Novamente, o ensino nem
é esse mundo reorganizado, nem um novo mundo criado, mas ambos em seu tempo
certo.
Daí já dá para
notar o quanto estamos distantes da perspectiva do reino de Deus e o que Deus
espera de nós. Não podemos esquecer das palavras do Dr. Ladd mostrando que o
Reino de Deus pertence ao presente, bem como ao futuro. Ele concebe o Reino como
o reinado, o governo de Deus nesta era, no coração e na vida daqueles que se
entregam a ele e, na próxima era, sobre todo o mundo. Daí o problema da igreja
institucionalizada “só pensa dentro das quatro paredes, não refletem o caráter
do reino”. Se nós pensássemos a partir de uma perspectiva do Reino de Deus,
muitos dos problemas enfrentados na igreja seriam facilmente resolvidos, e
pensando nesta ótica, pensando além das quatro paredes, muitas decisões seriam
tomadas, pois muitas pessoas ao refletir, abandonariam esse ambiente opressor!
Finalizo este ponto com as palavras do velho Ladd. [2]
O Reino de Deus é basicamente o governo de Deus. É o reinado de Deus, a
soberania divina em ação. No entanto, o reinado de Deus manifesta-se em vários
domínios, e os evangelhos falam de entrar no Reino de Deus tanto hoje como
amanhã. O reino de Deus se manifesta tanto no futuro como no presente e, por
isso, cria tanto um reino futuro como um reino presente, em que o homem pode
vivenciar as bênçãos do reinado dele.
II. A forma de evitar muitas feridas é
confiar nos decretos imutáveis e na providência Divina
Infelizmente
muitas pessoas entregam seus sonhos e esperanças na mão dos homens e não na mão
de Deus, a Bíblia é clara ao enfatizar “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que
confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!”
Jeremias 17:5. Aqui está a parte mais dolorosa do aconselhamento: é quando
identificamos que muitas pessoas colocaram seus planos nas mãos dos homens e
não descansaram nos decretos eternos e imutáveis de Deus.
Cristo é a nossa
rocha, nosso alvo e nossa provisão. Nossa desgraça está em mudar nosso foco e
colocar todas as expectativas em um mero homem falho, que age de acordo com o
padrão previamente estabelecido pela instituição. E aqui está o calcanhar de
Aquiles de muitos seminaristas cheio de sonhos e expectativas futuras, muitos estão
doentes nos bancos das igrejas e outros se dobraram a este sistema
institucionalizado. É bom entendermos que Deus continua trabalhando no mundo. A
isto chamamos de Providência. Uma boa definição de Providência pode ser: O
permanente exercício da energia divina, pelo qual o Criador preserva todas as
Suas criaturas, opera em tudo que se passa no mundo e dirige todas as coisas
para o seu determinado fim. É preciso lembrar que Davi antes de ser escolhido
por Deus para ser Rei não estava envolvido em tramoias políticas ou bajulando
alguém, ele estava cuidando dos animais de seu pai quando o profeta Samuel foi
ungi-lo Rei de Israel. Alguém já falou: a tempo para tudo debaixo do sol...
III. Tenha o compromisso com a verdade
O caminho da
política sem escrúpulos é o mais fácil na igreja institucionalizada, muitos
cortam caminho, se vendem, se humilham, traem seus maiores amigos, são
pragmáticos e se submetem ao sistema. Agora tem um caminho teoricamente mais
longo (falo isso na ótica humana), o caminho de ser verdadeiro sem
autopromoção, falsa-piedade, longe dos elogios convenientes e dos sacrifícios
em busca da promoção. É bom entender que a igreja que é apenas institucionalizada
não quer um pastor bíblico, ela quer um “empresário pragmático para questões
espirituais!”, esta instituição preza pelo resultado onde o homem é apenas uma
peça que pode ser trocada, este mundo é um mundo de engano, muitos entram e se
dobram diante deste sistema mentiroso, triunfalista e arrogante.
Neste tempo de
dificuldade muitos líderes eclesiásticos estão compromissados com a política
suja e mentirosa, porém, aquele que é chamado por Deus deve atender às
exigências de 2 Timóteo 3:15 Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que
não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
Portanto, triste
é constatarmos que a igreja institucionalizada é como uma cachaça, muitos estão
viciados e embriagados, estão sob o seu efeito inebriante, não refletem a
missão e o Reino de Deus, não conseguem visualizar os campos brancos, pois
estão com as lentes institucionais. Triste constatação é ver que muitos estão a
serviço da instituição e não de Deus. Ao longo da história vejo um grande homem
que Deus usou, o seu nome foi João Calvino, que sem nem ser ordenado ou se
preocupar com isso, influenciou a sociedade, escreveu e muito, marcou a
história! E nós? Muitos só conseguem servir com um cargo ou a chancela
institucional, que Deus tenha misericórdia de Nós.
Soli
Deo Gloria.
[1] BOCK, Darrell, Jesus segundo as escrituras,
Shedd, 2006, p.544
[2] LADD, George
Eldon, O evangelho do Reino: Estudos Bíblico sobre o Reino de Deus. Shedd, 2006, p. 11-12