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3 de dez. de 2014

A Ótica Divina


Por Thiago Azevedo 

Em dias em que viver de aparência se torna uma prática cada vez mais buscada, e a importância que se dá ao que terceiros pensam acerca de alguém, falta ao ser humano fazer uma auto-indagação: Como Deus me vê? Comumente, costuma-se depositar importância e preocupação sob a possível ótica que alguém nos contempla, ou seja, determinadas pessoas se preocupam como seus respectivos chefes lhes veem, outras se preocupam como seus familiares lhes veem e outras ainda, se preocupam com a ótica de seus amigos. Mas, em muito, as pessoas se esquecem de se preocuparem com a opinião de quem realmente importa. Não que seja ruim possuir uma preocupação com a aparência em que se emite a terceiros, e principalmente se tratando de cristãos é que se deve emitir um bom testemunho ao mundo. A questão do testemunho de vida se faz necessário também no seio familiar, principalmente àqueles cristãos ou cristãs que possuem filhos. No entanto, a preocupação exacerbada com a ótica alheia pode levar muitos a viverem uma vida de aparência. E este mal acomete não apenas pessoas, mas também instituições religiosas. Uma prova cabal que isso não é privilégio dos dias atuais é enxerga-lo nos primórdios da fé cristã. Foi justamente o que estava ocorrendo com algumas igrejas da Ásia menor, fato relatado nos primeiros capítulos de Apocalipse, em especial, o capítulo 3.

A igreja de Laodicéia estava passando pela terra apenas de passagem sem desenvolver seu papel e por isso era considerada morna. Não era quente nem fria e Deus diz que melhor seria que fosse um dos dois (v 15). Outra informação importante é que esta igreja se localizava entre Colosso e Hierópolis, duas cidades conhecidas por fontes de águas térmicas e por fontes de águas frias. A água fria promove refrigério e a água quente cura terapêutica. Havia tubulações de pedras que levavam a água quente de Hierópolis até Laodicéia, e estas águas, percorriam uma distância considerável para chegar até seu destino final. As águas eram trazidas por tubulações de pedra quilométricas e quando a referida água chegava em Laodicéia chegava morna (v 16) isso por conta da distancia percorrida nas tubulações. As pessoas ao consumir esta água morna tinham uma reação de vomitar, tanto é, que a cidade possuía vomitórios. Ou seja, Laodicéia nem promovia refrigério (água fria) nem cura terapêutica (água quente) e assim não era influente na sociedade, não tinha utilidade, ou seja, vivia de aparência. Quente e frio aqui não tem haver de forma direta com o indivíduo e sim com a instituição, esta tem que fazer a diferença onde se encontra. Em certa ocasião ouvi um pastor alegar que esta pessoa, o crente frio, era o crente Raimundo, aquele que tem um pé na igreja e outro no mundo. Não conformado, ainda disse que nós devíamos ser quentes, isso pelo fato de termos o Espírito Santo em nós e isso nos deixa quentes (lamentável). Outro dado interessante se dá em saber que a referida igreja se encontrava numa região abastarda - financeiramente falando. Possuía uma rede bancária, emprestava dinheiro e era de fato rica (v 17). Uma região que foi pioneira na área da medicina ocular chegando a desenvolver uma espécie de colírio. Há um pioneirismo também na área têxtil com uma fábrica de lã negra onde o lucro com vendas e a utilização destas lãs eram satisfatórios. Todavia, Deus critica justamente estes pontos mostrando que nada disso na obra dEle é importante, Deus os aconselha (v 18) dizendo que a verdadeira riqueza vem dEle, as verdadeiras vestes vem dEle e o único colírio que pode tirar as escamas dos olhos também vem dEle. É por isso que Deus diz: comprem de mim. Só ele tem. Mas há uma necessidade de compra, ou seja, não é de graça. É preciso que o entendimento desta palavra não seja o mesmo do período medieval que se faz necessário pagar um valor financeiro para a salvação ou para se ter beneficies da parte de Deus. Apesar da palavra que está sendo usada ser a mesma que se usa para transação financeira agorasai isso não quer dizer que é um pagamento financeiro literal e sim um sentido de conseguir só dEle, de ter acesso só por Ele. É a mesma palavra que Paulo em I Co 6:20 e em 7:23 utiliza para dizer que Jesus nos comprou com seu sangue. Com isso, se percebe que a região era de fato abastarda, porém, Deus a enxerga como sendo pobre, cega, miserável e nua. Deus emite uma crítica justamente nas áreas onde aquela região (igreja) acreditava ser mais forte. No poder financeiro, no pioneirismo de tratamento ocular e na questão das vestes. Ou seja, nos pontos que Laodicéia se auto-avaliava forte, onde se avaliava mais útil, era de fato desgraçada, miserável, pobre, cega e nua (v 17) tradução Revista Impressa Bíblica.

Em contrapartida, a igreja de Esmirna era de fato uma igreja paupérrima, se localizava numa região desprovida de recursos e de muita privação. Mas conseguia realizar aos olhos de Deus a obra de forma esmerada, ao ponto de Deus lhe avaliar como sendo rica mesmo sem ser Ap 2:9. Esmirna não era sinagoga de satanás, isso é o que muitas igrejas são na atualidade, igrejas que satanás dita e dirige seus rumos, igrejas que não influenciam, mas são influenciadas, igrejas que não são quentes nem frias e sim mornas. Igrejas que entendem que sua suntuosidade arquitetônica traduz empenho e honestidade no trabalho divino. Na maioria dos casos não passa de aparência, é água morna. Doravante, nesta passagem e nesta admoestação, fica claro que dinheiro e condição financeira privilegiada, não são aspectos vitais para obra do Senhor. Aqui a teologia da prosperidade esbarra de frente sem airbag. Que ela morra! 

Portanto, é mais que importante saber, tanto no âmbito pessoal, ou no eclesial institucional, que o que realmente importa é como Deus nos vê. A vida de aparência é uma vida sem substância, sem conteúdo. É preciso ser influente e fazer alguma diferença na passagem pela terra. A igreja do Senhor tem esta obrigação, os servos dEle idem, para que não sejam vistos como algo que faz mal ao corpo, algo que precisa ser expelido porque não está fazendo bem e nem está em harmonia com o restante do corpo de Cristo. Quente promove cura terapêutica e frio promove refrigério, morno é vomitado!!! Portanto, como Deus está enxergando a nós e as nossas igrejas?
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Referências

JOHANES P. Louw; EUGENE A. Nida. Léxico Grego – Português do Novo Testamento baseados em domínios semânticos. Barueri, SP : SBB, 2013

F. GINGRICH, Wilbur; W. DANKER, Frederick. Léxico do Novo Testamento Grego – Português. São Paulo : Vida nova, 1º Ed 1984

Bíblia de estudo Palavras – Chave Hebraico e Grego – 2º Ed, 2ª Reimpr.. Rio de Janeiro: CPAD, 2011

BRUCE, F.F. Comentário Bíblico NVI : Antigo e Novo Testamento. São Paulo, Vida nova, 2009

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