Por Jackson Amorim
Paulo Anglada em seu livro
Sola Scriptura diz: “Uma igreja sem confissão é semelhante a um partido sem
ideologia, a uma sociedade sem estatuto, ou a um país sem constituição. Não há
coerência, nem unidade, nem estabilidade, nem fidelidade, nem disciplina”.
Diante desta afirmação o que dizer de uma igreja sem as Escrituras? Quando
falamos “sem as Escrituras” nos referimos à importância da mesma dentro da
igreja como a única regra de fé, prática e conduta.
Quando uma igreja abandona
as Escrituras ela torna-se incoerente, desunida, instável, infiel e sem disciplina.
Antes de falarmos sobre essas características, faz-se necessária uma
compreensão da origem da Escritura, sua autoridade e, consequentemente, sua
suficiência.
1. Origem das Escrituras
A Escritura tem sua origem
em Deus, logo sua natureza é divino-humana. Divino porque Deus quis revelar-se
em palavras ao homem, e ao mesmo tempo humano, porque Deus falou por intermédio
de homens. Homens estes separados e preparados por Deus para registrar todo o
seu conselho, suficiente para o conhecimento da condição de pecador em que se
encontra a humanidade, ao mesmo tempo que se faz necessária para que o homem
seja salvo.
Hermisten Maia em um artigo
intitulado “Introdução à Cosmovisão Reformada: anotações quase aleatórias (2)”,
publicado na revista eletrônica Teologia Brasileira, faz uma citação de Gerard
Van Groningen sobre a ação do Espírito Santo no processo revelacional das
Escrituras:
“O Espírito Santo habitou em
certos homens, inspirou-os, e assim dirigiu-os que eles, em plena consciência,
expressaram-se na sua singular maneira pessoal. O Espírito capacitou homens a
conhecer e expressar a verdade de Deus. Ele impediu-os de incluir qualquer
coisa que fosse contrária a essa verdade de Deus. Ele também impediu-os de
escrever coisas que não eram necessárias. Assim, homens escreveram como homens,
mas, ao mesmo tempo, comunicaram a mensagem de Deus, não a do homem”. Sendo as
Escrituras a mensagem de Deus para o homem, logo, ela é autoritativa.
2. Autoridade das Escrituras
Existem verdades fundamentais da fé
cristã, tais como: Inspiração e Inerrância Bíblica, das quais toda formulação
teológica dependem delas, desta forma são pressupostos essenciais na teologia.
John MacArthur afirmar que uma compreensão certa da inspiração e da revelação é
essencial para se distinguir entre a voz de Deus e a voz do homem.
A inerrância e a infalibilidade da
Escritura são decorrentes da sua inspiração. O Espírito Santo inspirou homens
para registrar a revelação de Deus livre de erros, sendo pois, uma revelação
infalível, porque a revelação tem sua origem no próprio Deus, logo, ela possui
autoridade. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ministrar
a verdade, para repreender o mal, para corrigir os erros e para ensinar a
maneira certa de viver; a fim de que todo homem de Deus tenha a capacidade e
pleno preparo para realizar todas as boas ações” 2Tm 3:16,17.
3. A Suficiência das
Escrituras
“Embora as Escrituras não
sejam exaustivas, elas são suficientes em matéria de fé e prática. Nelas o
homem encontra tudo o que deve crer e tudo o que Deus requer dele para que seja
salvo, sirva-o, adore-e e viva de modo que lhe seja agradável”. Paulo Anglada
na página 189 do livro SOLA SCRIPTURA.
A história tem mostrado que
a Palavra de Deus foi alvo de ataques, dentre os quais, a suposição de sua
falibilidade. Hermisten Maia no artigo citado acima coloca que um ataque mais
sutil permeou boa parte da história da Igreja, que é a concepção de que as
Escrituras não são suficientes para nos dirigir e orientar.
Se as Escrituras têm sua
natureza divino-humana, e sua autoridade está na inspiração, que é divina, logo
tudo que o homem necessita em matéria de fé, prática e conduta, pode ser
logicamente inferido.
Voltando ao ponto inicial,
quando a igreja negligencia esses três aspectos: origem, autoridade e
suficiência das Escrituras, aos quais está inter-relacionada, ela passa a
apresentar os seguintes aspectos: não há coerência, nem unidade, nem
estabilidade, nem fidelidade, nem disciplina.
A coerência da Igreja está
na Escritura, nos ensinamentos dos profetas e no fundamento dos Apóstolos.
“Porque ninguém pode colocar outro fundamento além do que está posto, o qual é
Jesus Cristo!” 1Co 3:11. Uma igreja incoerente não está em conformidade com as
Escrituras. Nos últimos dias tem-se observado nas igrejas brasileiras práticas
exotéricas, místicas, que não condizem com o verdadeiro Evangelho. Isto ocorre
quando a Palavra é colocada em segundo plano, onde as “experiências místicas”
são colocadas acima das Escrituras, tornando-as autoritativas.
A unidade da Igreja está no
fundamento, Jesus Cristo, o verbo encarnado. “Deus foi manifestado em carne,
foi justificado no Espírito, contemplado pelos anjos, pregado entre as nações,
crido no mundo e recebido acima na glória” 1Tm. 3:16. Se a Igreja não tem a
Escritura por suficiente, está sujeita a heresias.
Estabilidade se obtém quando
se está bem fundamentado, e o fundamento já foi posto, Cristo Jesus. Em 1Tm
3:15, Paulo utiliza o termo coluna, que vem do grego stylos, como a coluna tem
por finalidade sustentar o teto de um edifício, assim a igreja tem que sustenta
a verdade. O outro termo utilizado pelo apóstolo é baluarte, expressa a idéia
de estabilidade e permanência.
No Sl 119:9, o salmista faz
uma pergunta vital aos jovens, mas que pode ser estendido a todos, “Como pode
um jovem conservar-se puro o seu caminho?”. Podemos fazer outra pergunta: como
pode um cristão ser fiel a Deus? O salmista dá uma resposta infalível que serve
para essas duas perguntas, “...Vivendo-o de acordo com a Tua Palavra”. Quando a
Palavra de Deus não é suficiente, não há como ser fiel, pois como nos
orientaremos acerca dos preceitos de Deus?
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e
proveitosa para ministrar a verdade, para repreender o mal, para corrigir os
erros e para ensinar a maneira certa de viver” 2Tm 3:16. A disciplina é um ato
de amor. Para exercer a disciplina é preciso ter um aferidor, e este aferidor é
a Palavra.
Se a igreja possui ou adota
outros meios de medida de conduta cristã, logo ela tem as Escrituras como
insuficiente, incorrendo no perigo de proceder de forma não escriturística. É o
que temos vivenciado no meio dito evangélico brasileiro. Práticas místicas,
esoterismo, sincretismo religioso, dentre outras aberrações.
Nunca se cantou tanto e
pouco se leu a Escritura. Vivemos em uma superficialidade teológica nunca
vivenciada no Brasil. A pregação Cristocêntrica deixou de ser atrativa para
muitos pastores. A mensagem da Cruz é muito dura para o homem hodierno segundo
alguns ministros da Palavra. Precisamos resgatar a mensagem da Cruz. Precisamos
colocar Cristo no centro das mensagens. É urgente o retorno as Escrituras,
porém mais urgentes são homens comprometidos com Deus e com sua Palavra. Sola
Escriptura.
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REFERENCIAS:
ANGLANDA, P.R.B., Sola
Scriptura – A Doutrina Reformada das Escrituras / São Paulo – Ananindeua: Knox
Publicações, 2013.
MACARTHUR, J. F., Os
Carismáticos, São Paulo: Fiel, 1981.
COSTA, H.M.P., Artigo:
Introdução à Cosmovisão Reformada: anotações quase aleatórias (2). Revista
Teologia Brasileira.
BIBLIA King James (KJA), São
Paulo – Abba Press