Por Daniel Clós Cesar
O
primeiro passo neste texto é definir o que é um desviado. Popularmente, dentro
de uma teologia que crê que o homem pode “perder” a Salvação, crê-se que
desviado é aquele que converte-se a Cristo, tem seus pecados anulados na Cruz,
torna-se salvo, nasce de novo, recebe o Espírito Santo de Deus, Cristo começa
até a construir uma casa para ele no paraíso, mas que por fim ele abandona a Fé
(dando inclusive um baita gasto pro Reino de Deus que terá que dispensar os anjos-pedreiros*).
Dentro
da Teologia Reformada, obviamente, não existe espaço para essa figura do cristão
desviado. Não cremos que aquele que conheceu a Cristo e foi liberto da
escravidão do pecado e ressuscitado da morte por Ele perca-se, pois em Cristo
reside toda nossa Esperança e Segurança: “Pois
aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E
aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que
justificou, também glorificou.” (Romanos 8.29-30 NVI). Mas existe sim a
figura daquele que a Palavra descreve em Hebreus 6.4. Que não consideramos
“desviado”, mas como o apóstolo João explicou em sua primeira carta (1 João
2.19): “saíram porque não eram dos nossos”.
Isso deixa claro que para “reformados”, “uma vez salvo, salvo para sempre”. No
entanto, isso não significa que todos que vão à igreja são salvos apenas porque
disseram sim a um apelo ao final do sermão. Nossa definição de “Salvo” é
completamente diferente.
Definido
o que é um desviado voltamos a pergunta do título: De quem é a falha?
Alguém
tem culpa nesse cartório e só podemos culpar o homem, já que Deus é Justo,
Santo e Perfeito. Também não podemos culpar satanás, pois ele age conforme a permissão
de Deus e Deus nunca colocaria sobre o homem uma tentação que ele não pudesse
suportar, como aprendemos em 1 Coríntios 10.13. Logo, apenas o homem pode ser
culpado. Quem leva a culpa então? Sim, leva a culpa o que se perde. Mas
segue-se aqui um ensino bastante interessante que temos no Antigo Testamento.
Em Ezequiel 33.1-9, Deus apresenta a Ezequiel a responsabilidade do atalaia
sobre os homens. Se é responsabilidade do homem se defender das flechas do
inimigo e preparar-se devidamente para a batalha, é tarefa do atalaia avisar da
aproximação do inimigo.
Quantos
pastores simplesmente deixaram de ser atalaias porque avisar que o mar de
trevas se aproxima é péssimo para alguém que quer apenas carregar boas
notícias? Atalaias estão permitindo que soldados morram porque estão mais
preocupados com suas posições eclesiásticas e sociais que com sua posição de
submissão a Deus.
No
entanto, o grande problema dos pregadores e líderes cristãos contemporâneos é o
conceito de Salvação que têm. Pessoas salvas são aquelas que respondem ao apelo
e começam a vir aos domingos, entregam seus dízimos e suas ofertas e
eventualmente participam de algum ministério ou programação promovida pela
igreja. Péssimo conceito a ser adotado, pois, no afã de aumentar seus números,
sua arrecadação e junto com isso seu prestígio junto à comunidade evangélica,
pastores barateiam o Evangelho. E como isso é feito? Separo em três pontos:
1º. Simplificação do Evangelho: simplificação aqui não é tornar a Palavra de fácil
entendimento, isto seria e é pedagogicamente correto. Ensinar a Bíblia para um
letrado e diferente de ensiná-la para um analfabeto, ou do ensinar a Palavra
para uma criança ou adulto. Não é dessa simplificação. A simplificação que falo
é a simplista. A Palavra perde todo seu teor poderoso para transformar o homem
e é transformada em um reles manual de “uma vida melhor” ou “uma vida
vitoriosa”.
2º. Abandono do Ensino das Escrituras: isso tornou a Palavra apenas um adendo a todo tipo
de programação antropocêntrica a que a igreja está mergulhada. Com tanto tempo
dedicado a teatro, música, chá das senhoras, futebol, reunião dançante, almoço
de casais, jantar de solteiros etc. O tempo dedicado ao Ensino das Escrituras é
substituído por eventos que acredita o pastor, são mais fortes para segurar e
atrair novos membros.
3º. Adoção de métodos de crescimento de igreja: Veja, uma coisa é você adotar um método de ensino
da Palavra, como a EBD, ou de evangelismo, método de abordagem ou coisas do
tipo, que podem ser uteis, principalmente para novos na Fé. Métodos para
crescimento de igreja não são isso. Modelos como G12, M12 ou MDA, por exemplo,
são métodos baseados em modelos administrativos que visam o crescimento da
igreja unicamente pelo crescimento. A igreja (instituição) cresce, mas a igreja
(noiva de Cristo), nem mesmo nasce nesses lugares. Crentes raquíticos e uma
igreja fraca, resultado, grande rotatividade da membresia e elevado número de
desviados ou “crentes carnais” (mais um dos absurdos conceituais da igreja
contemporânea). Adotar um método de crescimento é um atestado de que este líder
ou pastor não confia no poder sobrenatural da mesma Palavra que criou o
Universo tem agora o poder para Salvar. Como está escrito em Jeremias 17.5:
“"Maldito é o homem que confia nos homens...”, e isso inclui seus métodos
para inchar igrejas.
Tenho
uma teoria, é apenas uma teoria, mas tenho bons argumentos para ela. Se uma
igreja recebe muitas pessoas e elas não conseguem ficar muito tempo sentadas
nos seus bancos, é porque talvez não tenha sido gerada nenhuma Fé para Salvação
em suas vidas. Elas podem estar bem alimentadas quanto a relacionamentos e ter
uma vasta carta de programação para preencher o vazio de suas vidas pouco
sociais por toda uma semana, quem sabe um mês.
Mas
se os pastores dessas igrejas parassem para ouvir suas próprias pregações,
talvez encontrassem o erro que tem transformado suas congregações em parada de
ônibus e não em aprisco para ovelhas. "A Fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Romanos 10.17)... então
talvez o que eles estejam ouvindo não seja a Palavra de Deus... e este é só um
dos argumentos."
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*Anjos-Pedreiros não existem, então se alguma
denominação neopentecostal começar a utilizar este anjo para alguma coisa vou
cobrar direitos autorais.