Por Mark Jones
O padrasto da minha esposa frequentou uma
igreja católica romana por toda sua vida. Mas ele foi transferido para um
centro de cuidados paliativos e, provavelmente, tem dias ou semanas de vida.
Ele tem um livro ao lado da cama aonde repousa:
não o Catecismo da Igreja Católica (Romana), mas um livro de Martinho Lutero
sobre a justificação somente pela fé. Eu deixei esse livro na casa dele anos
atrás e agora está no seu leito de morte. Esse é o livro que eles escolheu para
levar consigo enquanto ele deixava sua casa pela última vez.
Por quase 10 anos, eu tenho gasto horas e horas
com ele, explicando o evangelho e a necessidade de renunciar suas “boas obras”
e lançar mão da justiça de Cristo que vem por meio da fé. O que parece tão
fácil é, na verdade, muito difícil para o homem entender, especialmente alguém
que cresceu tentando justificar-se – e, acredite, ele tentou! Muitas vezes,
romanistas convictos são mais difíceis para conversar sobre a justificação
gratuita que ateístas.
Porém, tendo uma grande vantagem sobre o padre
dele, que não faz visitas pastorais, eu pude falar muitas vezes com o padrasto
da minha esposa sobre o evangelho e seu pecado em termos simples. Ele precisava
ser lembrado de suas frequentes trapaças nos jogos de golfe (quebrando, assim,
os 8o, 9o, e 10o mandamentos). E o mais importante: ele precisava ser lembrado
de que a semente de todo pecado conhecido reside em seu coração e ele é culpado
diante de um Deus santo.
Tornar-se ciente da vileza do nosso pecado –
i.e., de que somos internamente o que Naamã era externamente – nos prepara para
entender a beleza do evangelho e da justificação pela fé somente: “pois”, como
disse John Owen, “embora esta fé seja, em si mesma, o princípio radical de toda
obediência… todavia, quando somos justificados por ela, sua ação e função é
tal, ou de tal natureza, que nenhuma graça, dever ou obra pode ser associada a
ela ou ser de alguma consideração”.
Essas são boas notícias. Nós podemos ser
justificados nesta vida (Rm 8.1). E, por causa disso, nós podemos ter certeza
da nossa salvação (1 Jo 3.2). Como o Cardeal Belarmino disse, segurança da
salvação é a maior heresia protestante. E eu estou extremamente grato por
aceitar essa “heresia”.
A batalha com Roma não é sem importância. Nós
estamos lidando, de forma muito literal, com questões de vida e morte. Roma não
oferece conforto verdadeiro; Roma não oferece verdadeira esperança; e Roma não
pode oferecer verdadeira segurança. Mas a doutrina da justificação que Lutero
recuperou dá a pecadores penitentes esperança em um Deus gracioso que recebe
pecadores (imediatamente!) no paraíso por causa do seu Filho.
Roma faz seu pior; mas Cristo faz seu melhor.
E, neste caso, Lutero, não Bento de Núrsia, está ao lado de um homem que, eu
peço a Deus, sabe (como John Newton) que ele é um grande pecador, mas Cristo é
um Salvador maior.
Se temos a intenção de pontificar esses
assuntos, me parece ser uma boa ideia gastar tempo com as pessoas,
especialmente aquelas em seus últimos dias. E, assim– talvez somente assim –
nós entenderemos a importância da boa teologia, e por que pessoas morreram na
fogueira defendendo essas verdades. Aqueles que toleram o papismo jogam
gasolina nas chamas que engoliram Cranmer, Latimer, Ridley e outros que
morreram pela verdade.
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Fonte: Reforma21