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15 de jul. de 2015

Por que a doutrina da Trindade é tão importante?

Por John Frame

Por que a doutrina da Trindade é tão importante para a apologética? Bem, o que é que acontece quando o trinitarismo é substituído pelo unitarísmo (a visão de que Deus é meramente um)? Um dos resultados é que o Deus assim descrito tende a perder definição e marcas de sua personalidade. Nos primeiros séculos da Era cristã, os gnósticos, os arianos e os neoplatônicos cultuaram um Deus não trinitário. Esse Deus era puramente um, sem pluralidade de nenhum tipo. Mas um o quê? Uma unidade de quê? Nada poderia ser dito para responder a tais questões. Qualquer coisa dita sobre Deus sugere uma divisão, uma pluralidade, pelo menos entre sujeito e predicado. “Deus é X” cria, eles dizem, uma pluralidade entre Deus e X. Assim, não podemos absolutamente falar sobre Deus. Para tais pensadores, a natureza de Deus seria, em termos modernos, “totalmente outra”. Não poderia ser descrito em linguagem humana, pois (entre outras razões) a mente humana não poderia conceber uma unidade vazia. A conclusão lógica, então, seria não falar de maneira nenhuma sobre Deus. Portanto, respondendo à questão “Um o quê?”, eles apontaram para a criação. Contudo, se Deus é definido meramente em termos de criação, então ele seria relativo à criação. E, de fato, os primeiros unitaristas viam a realidade como uma “corrente de ser” entre o Deus incognoscível e o mundo cognoscível (um mundo que seria uma emanação divina: Deus em sua pluralidade). Deus seria relativo ao mundo e o mundo, relativo a Deus.

O antitrinitarismo sempre tem esse efeito. Ele leva a um Deus que é “totalmente outro”, em vez de ser o Deus que é transcendente no sentido bíblico. Paradoxalmente, ao mesmo tempo, leva a um Deus que é relativo ao mundo, em vez de ao Deus que é o soberano Senhor, da Escritura. leva a “um” vazio, em vez de àquele que é personalidade absoluta, da Bíblia. Torna a distinção entre Criador e criatura uma diferença em grau, em vez de uma diferença de ser. Assim, por exemplo, a doutrina islâmica da predestinação geralmente tem o tom de um determinismo impessoal, em vez de o planejamento bom e sábio do Senhor bíblico. O Alá islâmico pode fazer mudanças arbitrárias em sua própria natureza, em contraste com o caráter pessoal permanente e confiável do Deus da Escritura. A doutrina da Trindade reforça os primeiros pontos que fizemos sobre Deus e o mundo.

O Novo Testamento tem uma resposta marcante para a questão “Um o quê?” A resposta é: “Uma unidade de Pai, Filho e Espírito Santo”! É interessante que, quando o Novo Testamento enfatiza mais fortemente a unidade de Deus, ela parece não resistir à nominação de mais do que uma das pessoas da da Trindade. Primeira Carta aos Coríntios 8.4ss. e Efésios 4.4-6 são exemplos disso. Observe também o ensino de 1 Coríntios 12.4-6 sobre a unidade da igreja como brotando do único Deus. João 17.3 e Mateus 28.19ss. também são relevantes. Nosso instinto resiste a esse fenômeno. Se eu tivesse escrevendo esses textos, desejaria evitar confusão por meio de aludir à Trindade em contextos em que estivesse enfatizando a unidade de Deus. Mas os autores bíblicos pensaram de maneira diferente, porque, para eles, a Trindade confirma, em vez de comprometer, a unidade de Deus. A unidade de Deus é precisamente a unidade de três pessoas.

Uma vez que Deus é ambos – três e um – ele pode ser descrito em termos personalistas sem que seja feito relativo ao mundo. Por exemplo, Deus é amor (1 Jo 4.8). Amor de quê? Se respondermos imediatamente “amor do mundo”, então teremos um problema. Nesse base, o atributo divino do amor dependerá da existência do mundo. E dizer que os atributos de Deus dependem do mundo é o mesmo que dizer que o próprio Deus depende do mundo. Esse é o rumo para o “totalmente revelado”. Poderíamos, então, dizer que “amor” é meramente uma metáfora para algo misterioso? Esse é o rumo para o “totalmente outro”. Podemos observar a lógica do gnosticismo, arianismo e neoplatonismo: se Deus é meramente um, ele é “totalmente outro” ou relativo ao mundo – ou ambos. Mas ele não é um simples um. Ele é um em três. Seu amor é inicialmente o amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo um pelo outro (Jo 17). Seu amor, portanto, como seu ser, é autoexistente e autossuficiente. Não depende do mundo (ainda que encha o mundo) e não precisa ser tragado em agnosticismo religioso.
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Fonte: Apologética Para a Glória de Deus. Ed. Cultura Cristã.

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