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4 de nov. de 2015

Livros Não Transformam Pessoas, Parágrafos Transformam

Por John Piper 

Tenho dito frequentemente que, "Livros não transformam pessoas, parágrafos transformam — às vezes sentenças".

Isso pode não parecer justo com os livros, tendo em vista que os parágrafos chegam até nós através dos livros, e frequentemente adquirem seu impacto peculiar por causa do contexto em que estão nos livros. Mas o argumento permanece: uma sentença ou parágrafo pode se alojar de maneira tão poderosa em nossas mentes que seu efeito é enorme, quando todo o resto é esquecido.

Talvez seja útil ilustrar isso com dois dos livros de Jonathan Edwards que mais me influenciaram. Aqui estão os principais parágrafos e lições desses livros. Há tempos esqueci grande parte do resto de seu conteúdo (mas quem sabe o que permanece no subconsciente e tem um impacto profundo?).

1. O Fim Para o Qual Deus Criou o Mundo (conteúdo completo do texto no livro de John Piper, "A Paixão de Deus por Sua Glória", Cultura Cristã)

Além da Bíblia, esse talvez seja o livro mais influente que já li. Para mim, sua influência esteve inseparável de sua transposição na ementa de A Unidade da Bíblia em um curso de seminário com esse nome. Há duas verdades monumentais que se estabeleceram para mim. Primeira:

"Porquanto, nos parece que tudo a que as Escrituras se referem como o fim supremo de Deus nas suas obras pode ser abarcado numa só locução, a saber, a glória de Deus." (Cultura Cristã, cap. 2, sec. 7, pg. 210).

O livro era uma avalanche de Escritura, demonstrando uma das mais influentes convicções em minha vida: Deus faz tudo para Sua glória. Depois vinha seu corolário capaz de transformar vidas:

"Quando a criatura conhece, estima, ama, se regozija em Deus e o louva, a glória de Deus é, ao mesmo tempo, demonstrada e reconhecida; sua plenitude é recebida e refletida. Tem-se aqui tanto uma emanação quanto uma remanação. O resplendor brilha sobre a criatura e dentro dela e é refletido de volta para o luminar. Os raios da glória vêm de Deus, pertencem a Deus, e são refletidos de volta à sua origem. Assim, tudo é de Deus, está em Deus e existe para Deus; ele é o começo, o meio e o fim." (Cultura Cristã, cap. 2, sec. 7, pg. 214).

Para mim, isso era pura beleza. Era extasiante como um retrato da grandeza de Deus. O impacto foi elevado pelo fato de que a última linha é um eco explícito de Romanos 11:36: "Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém".

Mas o impacto central, capaz de moldar a vida, foi a sentença: "Quando a criatura conhece, estima, ama, se regozija em Deus e o louva, a glória de Deus é, ao mesmo tempo, demonstrada e reconhecida." E ainda mais especificamente: "Quando a criatura se regozija em Deus, a glória de Deus é demonstrada." A glória de Deus é exposta na minha satisfação nEle. Ou como Edwards diz mais tarde: "A felicidade da criatura consiste no regozijo em Deus, através do qual também Deus é engrandecido e exaltado." Se não estar supremamente feliz em Deus significa roubar dEle a Sua glória, tudo muda.

Essa tem sido a mensagem unificadora da minha vida: Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nEle.

2. The Freedom of the Will [em português, A Liberdade da Vontade]

Esse foi um livro de tirar o fôlego. O escopo e o rigor de seu argumento o tornou um dos livros mais exigentes que já li. David Wells diz que o livro é um divisor de águas: a maneira como você julga esse argumento decide para onde todas as águas de sua vida fluirão. Meu parecer foi: irresistivelmente atrativo. Aqui está a inesquecível súmula:

O governo moral de Deus sobre a humanidade, seu tratamento em relação aos homens como agentes morais, tornando-os objetos de seus mandamentos, conselhos, chamados, advertências, repreensões, promessas, ameaças, recompensas e punições, não está em desacordo com uma disposição determinante de todos os eventos, de toda espécie, por todo o universo, em sua providência; seja por determinação positiva, ou permissão”. (Yale, Vol. 1, p. 431).

Deus rege todos os eventos de toda espécie, inclusive meus atos de vontade, mas de tal maneira que estou sujeito a recompensas e punições. Sua soberania e minha responsabilidade são compatíveis. As implicações disso são vastas.

Um dos insights mais importantes para mim ao lidar com isso foi a distinção de Edwards entre a incapacidade natural de fazer algo e a incapacidade moral de fazer algo. Aqui está o parágrafo-chave:

Diz-se que somos naturalmente incapazes de fazer alguma coisa, quando não podemos fazê-la quando queremos, seja porque o que é comumente chamado de natureza não nos permite, ou por causa de algum defeito ou obstáculo impeditivo que é extrínseco à vontade; seja na faculdade do entendimento, na constituição do corpo, ou objetos externos. Incapacidade moral não reside em nenhuma dessas coisas; mas também não reside no desejo da inclinação; ou na força de uma inclinação contrária; ou no desejo de motivos suficientes à vista, para induzir e excitar o ato da vontade, ou na força de motivos aparentemente contrários”. (Yale, Vol. 1, p. 159).

Se somos naturalmente incapazes de fazer algo, não somos responsáveis por fazê-lo (como tentar sair de uma cadeira quando queremos de fato, mas estando acorrentados a ela), mas se somos moralmente incapazes de fazer algo, ainda somos responsáveis por fazê-lo (como tentar guardar a lei de Deus, apesar de não podermos porque a odiamos). Esse insight foi crucial no entendimento de Romanos 8:7 ("a mentalidade da carne não pode se submeter a Deus"), e 1 Coríntios 2:14 ("o homem natural não é capaz de entender as coisas do Espírito").

Conforme olho para trás, em minha vida e no que fui capaz de enxergar e desfrutar na Palavra de Deus, agradeço por sentenças e parágrafos determinantes, e pelas pessoas de Deus que os escreveram. Assim, agradeço a Deus por Jonathan Edwards.
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Fonte: Desiring God

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