Por Thiago Oliveira
Os ditos movimentos sociais que militam pelo
direito das minorias, dos vulneráveis, dos pobres, são encabeçados por
instituições que tem um compromisso ideológico com o socialismo marxista. O seu
grito é pelos excluídos do sistema, e uma expressão bastante utilizada é “justiça
social”. Portanto, quando há crentes que se preocupam em realizar algum
trabalho voltado para os pobres e utilizam a mesma expressão, a saber, “justiça
social”, outro grupo de crentes liga o alerta vermelho e diz: “Ei, que papo é
esse? Você agora é comunista?”.
É necessário ter equilíbrio e não atribuir toda
obra social à esquerda. É uma tarefa da Igreja cuidar dos pobres, e esta tarefa
sempre foi uma pauta recorrente nas Escrituras. Devemos atentar para o fato de
que a esquerda tem se apropriado de algo que é nossa responsabilidade. Também
devemos ter ciência de que os meios e os fins que os movimentos de esquerda
usam não são os mesmos que os cristãos. Nossa visão da pobreza é bíblica e não
ideológica.
Justiça Social: Isso
é bíblico?
Justiça Social é um termo questionável, pois, dizem
alguns, que é redundante, uma vez que a justiça é uma virtude que só pode ser
desenvolvida nos limites da convivência em sociedade. Logo, bastaria falar apenas
“justiça”. Todavia, as palavras possuem denotação e conotação, ou seja, muitas
vezes elas ganham uma ressignificação que alude à outra ideia, que não é
necessariamente correspondente a sua etimologia[1].
Creio que este é o caso de “justiça”, que personificou o terceiro poder do
Estado. Assim, quando empregada, traz em seu bojo um caráter jurídico.
Portanto, ao falar em justiça social, há um entendimento diferenciado, que
remonta ao direito dos vulneráveis, que estão sendo injustiçados (ou oprimidos)
pelos poderosos.
A Bíblia dá um enfoque especial ao conceito de justiça
social que acabamos de abordar. Deus se identifica com os vulneráveis e exige
uma relação justa entre ricos e pobres, de modo que os primeiros sejam uma
benção para os segundos e não um peso. Deuteronômio 10. 17-18 diz que o SENHOR
ama e provê o sustento do órfão, da viúva e do estrangeiro. O Salmo 146, dos versos
7 ao 9 fala mais detalhadamente sobre este divino cuidado. Quando questionado
pelos discípulos de João Batista se era mesmo o messias, Jesus respondeu da
seguinte maneira: “os cegos veem, os
coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos são
ressuscitados e aos pobres é anunciado o evangelho” (Mt 11.5, grifo
nosso).
Jesus menciona um grupo marginalizado de sua sociedade
e mostra que o seu ministério voltado para os pobres era uma evidência de que
ele era sim o messias prometido pelos profetas. O que não quer dizer que os
ricos ficaram de fora do seu ministério, podemos citar o exemplo de Zaqueu (Lc
19. 1-10). Cristo veio buscar os perdidos, independente de sua posição na
pirâmide social, contudo, não podemos negar que houve um trabalho mais efetivo
entre as classes mais baixas. E por quê? Porque Deus é Deus de justiça e sempre
ficou mais nítido que os poderosos exploram os mais fracos numa frequência maior.
Esta é uma realidade facilmente observável. Tomando como exemplo os poderosos
quando tem que responder por um crime, vemos que eles sempre tem muitas
vantagens: bons advogados que proferem inúmeros recursos, dinheiro para pagar
fianças altíssimas podendo então responder em liberdade durante o processo e
etc. O pobre que responde pelo mesmo crime não tem a mesma “boquinha” e sem
demora já está dividindo uma cela com outros meliantes. Se diante de uma
situação assim, o rico é beneficiado, imagine no dia a dia? Por isso que Deus
se identifica com os pobres e vulneráveis, pois estes são os maiores
injustiçados diante de um sistema político e econômico encharcado de pecado.
Deus é tudo que os pobres possuem.
Muitos foram os profetas que denunciaram as
injustas relações entre os ricos e pobres. Por diversas vezes Deus rejeitou o
culto dos israelitas por conta da injustiça. Shedd observa que “quando os homens escarnecem da justiça, Deus
não aceitará a sua adoração, por mais custosa e sacrificial que seja, uma vez
que a injustiça e a idolatria se equivalem a seus olhos (Am 5.25s.)”.[2]
Logo no primeiro capítulo de Isaías, o livro
profético mais extenso, há uma fala do SENHOR desprezando toda a adoração do
seu povo. O motivo? Estavam oprimindo os pobres. Vejamos o que diz os
versículos 13 ao 17:
“Não
continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas
novas, e os sábados, e a convocação das assembleias; não posso suportar
iniquidade, nem mesmo a reunião solene. As vossas luas novas, e as vossas
solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as
sofrer. Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus
olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as
vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade
de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer mal. Aprendei a fazer
bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai
da causa das viúvas”.
No capítulo 58, Isaías nos mostra que o povo
percebeu o silêncio de Deus. Por mais que orassem e jejuassem, eles não tinham
o seu clamor atendido pelo Altíssimo. De nada adiantava os seus esforços, o
SENHOR não iria atender aquela nação, pois, sua iniquidade chegou até o céu,
impedindo Iavé de receber aquele culto como um aroma suave em suas narinas. O
profeta então fala como representante divino e deixa claro o que Deus requeria
de seu povo para ser glorificado e restaurar o relacionamento pactual com eles
(versículos 6, 7 e 8):
“Porventura
não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que
desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces
todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e
recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não
te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura
apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR
será a tua retaguarda”.
Como vimos, Deus leva a sério o que comumente
chamamos de justiça social. Aquele que fere o direito dos pobres é considerado
maldito (Dt 27.19). Por isso devemos lutar pelos vulneráveis e denunciar os que
pervertem a justiça (Pv 31.8 e Jr 22.3). Se nos calarmos diante da opressão com
o receio de não levantar uma bandeira semelhante a dos movimentos sociais,
estaremos negando o fato de que esta luta não é uma propriedade da esquerda,
mas sim, é parte da retidão que Deus prescreve em sua Santa Palavra. Apropriemo-nos
dessa causa, ela pertence aos que nasceram de novo, em Cristo Jesus, e nele
foram separados para as boas obras (Ef 2.10).
O Cuidado com os
pobres na Escritura
Quando Deus chamou um povo para si, queria que este
povo fosse uma referência de justiça, por isso, deixou registrado leis que
visavam o bem-estar de toda a nação, sem deixar ninguém de fora. Embora não
houvesse igualitarismo, na legislação mosaica havia uma série de leis que
permitia o desenvolvimento do pobre. As leis do Antigo Testamento deixam claro
que pode haver harmonia entre ricos e pobres, desde que os ricos cumpram a
vocação de serem responsáveis pelo estabelecimento da justiça, acolhendo o
órfão, a viúva e o estrangeiro.
Deuteronômio 15 possuí um conjunto de leis
específicas que se chama shemitta,
que no hebraico significa libertação. Nela vemos que o pobre não deveria viver
apenas de esmolas, mas ter uma oportunidade de sair da miserabilidade. Como? De
acordo com o texto, presumimos que a dívida prolongada deixaria o pobre
prisioneiro de uma condição deplorável, sem ter como se manter, por isso,
estipula-se que num período de sete anos toda e qualquer dívida seja perdoada
(Dt 15. 1-2). Logo, o endividado poderia utilizar a sua pequena fonte de renda
para se organizar e se reerguer, sem comprometer uma parte dela com o pagamento
ao credor. Além disso, havia na lei a recomendação de se emprestar o necessário
para que o pobre tivesse o necessário para o seu sustento (Dt 15. 7-8). Temos
aqui uma linha de crédito social, algo que favorecia os cidadãos menos
abastados de Israel. Um empréstimo sem juros, pois, era um ato de irmandade (Dt
23.19).
Outra lei que visava o cuidado com os pobres era a
“respingadura” (Lv 19.9-10). Os donos das lavouras não deveriam ficar com tudo,
uma parte deveria ser deixada para que os mais necessitados pudessem colher. E
aqui vemos que os pobres teriam que colher, isto é, trabalhariam para conseguir
o seu próprio mantimento. Uma lição de que até uma bem-feitoria deve custar o
mínimo de esforço para não resultar em acomodação. Não está nos planos divinos
criar um ambiente que fomente a preguiça, até o pobre deve comer o pão do suor
do seu rosto.
Continuando na lei mosaica, vemos que o dízimo
trienal era destinado para os pobres pudessem se fartar (Dt 14.28-29). E por
fim, temos a mais surpreendente das leis: O Jubileu. Registrado em Levítico 25,
o Jubileu era o ano em que além das dívidas serem perdoadas, as terras seriam
devolvidas aos seus donos originais. Este ano deveria ocorrer após sete anos
sabáticos, logo, a cada meio século, aqueles que tiveram suas propriedades
vendidas para pagar dívidas, receberiam de volta e poderiam recomeçar do zero.
Este é o elevadíssimo conceito do que é justo, segundo os mandamentos do
SENHOR.
Quando passamos para o Novo Testamento, podemos
observar que a preocupação com os menos favorecidos economicamente continuou no
ministério de Jesus e dos apóstolos. Keller ao falar sobre a semelhança de
Jesus e os profetas ao se identificar com os mais pobres, observa a
convergência entre graça e justiça, que nos parece contraditória. Vejamos o que
ele diz:
Jesus não apenas
compartilhava o mesmo zelo do Antigo Testamento pela causa dos menos
favorecidos como também adotou o uso penetrante que os profetas faziam da
justiça como sondagem do coração, a marca da fé verdadeira. À primeira vista,
duas coisas não poderiam ser mais opostas do que graça e justiça. Graça é
oferecer benefícios imerecidos, enquanto justiça é dar exatamente o que a
pessoa merece. Em Cristo recebemos graça, favor imerecido, no entanto na cabeça
dos profetas do Antigo Testamento, assim como no ensino de Jesus, o encontro
com a graça leva inevitavelmente a uma vida de justiça.[3]
Na igreja primitiva é possível destacar essa
ligação entre graça e justiça e perceber a preocupação com os mais vulneráveis.
Havia um ambiente de solidariedade muito profundo. Leiamos Atos 4.33-35:
“E os
apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus,
e em todos eles havia abundante graça. Não havia, pois, entre eles necessitado
algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o
preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se
a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha”.
Uau! Então a igreja do século I era comunista? Não,
não era. Aqui temos a relação entre graça e justiça que redundou numa ação
espontânea para atender as necessidades daqueles irmãos, não é nem de longe uma
política igualitarista que emana do poder estatal. Note que o texto fala que os
que vendiam suas propriedades doavam a quantia para que os apóstolos
distribuíssem com os mais pobres, todavia, uns ganhavam mais e outros menos, ia
depender de cada necessidade específica. Entenda “todos que vendiam” e não
“todos vendiam”. Ademais, esta prática não virou uma lei e não perdurou, foi
algo pontual no nascedouro da igreja. O meio mais habitual para atender a
necessidade dos cristãos mais pobres foi a coleta (Rm 15.26, 1 Co 16.1-3 e Fl
4.16).
O Papel Social da
Igreja
Existe uma tensão entre a evangelização e a ação
social em alguns círculos de discussão. Concordo com o Dr. Shedd quando ele diz
que “os evangélicos precisam contender
que a primeira responsabilidade da igreja é a proclamação do evangelho”[4].
É preciso dizer que Jesus é o único e suficiente salvador. É preciso anunciar
que os homens pecaram e destituídos foram da glória de Deus, e por isso
necessitam de salvação. Temos que falar da doença e da cura, todavia, se nosso
anúncio permanecer apenas no campo semântico, a nossa pregação carece do que
Francis Schaeffer chamaria de apologética final, que nada mais é do que o amor.
Palavras são importantes e Deus sempre usou a fala e a escrita como meios
revelacionais, todavia, sua Palavra se fez carne e habitou entre nós. Stott
comenta:
Se a palavra de Deus
se tornou visível, nossas palavras também deveriam torna-se visíveis. Nós não
podemos anunciar o amor de Deus com credibilidade, a não ser que possamos
demonstrá-la em ação. Não podemos manter distância daqueles a quem anunciamos o
evangelho, ou ignorar sua situação e seu contexto. Nós precisamos nos integrar
a sua realidade social e participar dos seus sofrimentos e de suas lutas. [5]
O que John Stott defende é bíblico e ninguém melhor
do que Jesus aliou ensino com atos de misericórdia. O divórcio entre
evangelismo e ação social – boas obras – não tem origem na Escritura, pois,
elas atestam a cumplicidade de ambas as tarefas que estão sob a
responsabilidade da igreja:
Ignorar os males que
desumanizam a sociedade e ao mesmo tempo pregar a influência humanizadora da
salvação é fazer-se culpado de uma íntima contradição que deturpa a imagem de
Deus e distorce o evangelho. Demonstrar compaixão pelas necessidades visíveis
dos outros é parte inseparável da missão encarnadora e é uma exigência do
evangelho de Cristo. [6]
Podemos criticar as teologias que fazem da ação
social um fim em si mesma, negligenciando o anúncio de que a salvação se dá
exclusivamente por meio de Cristo Jesus, ignorando a necessidade de conversão e
confissão de fé. Isto é abominável, no entanto, ao anunciarmos as boas novas,
devemos propagar em conjunto as boas obras. Grandes homens na história da
igreja foram atuantes na evangelização e na ação social. Calvino, o grande
exegeta e pregador do século 16 criou um ministério social ativo na cidade de
Genebra, criando um hospital administrado pela diaconia. No avivamento do
século 18, homens como Whitefield - que pregava diariamente ao ar livre - e
Wesley fundaram escolas e orfanatos. Robert Rikes, criador da escola dominical
ensinava as crianças pobres inglês e matemática, utilizando a Bíblia para
desenvolver as lições. Charles Spurgeon, chamado de príncipe dos pregadores,
tinha um ministério ativo voltado para atender as necessidades das crianças
carentes de Londres.
Há um relato de dois jovens moravianos que ao
descobrirem uma ilha no Leste da Índia em que 3000 escravos africanos
trabalhavam nas terras de um senhor britânico, ateu confesso, se despuseram a
pregar para que aqueles milhares de homens não morressem sem ter conhecido o
evangelho. Contudo, o dono daquelas terras disse que ninguém pisaria ali para
falar desta mensagem sem sentido. Os dois rapazes, tempo depois, fizeram a
proposta de ir para aquela ilha como escravos, e nessas condições o velho
agricultor ateu aceitou a proposta. Com o dinheiro de sua venda, os dois jovens
custearam a viagem de barco e nunca mais se teve notícia deles. Pois bem, se
não tivermos dispostos para nos identificarmos com a condição das pessoas que
evangelizaremos, a nossa pregação tem tudo para ser uma palavra jogada ao
vento. Boas novas e boas obras precisam coexistir.
O alvo é a
erradicação da pobreza?
Por mais bonito que soe em nossos ouvidos, não
podemos fazer da erradicação da pobreza o alvo para a ação social. Explicarei:
Segundo a Escritura, a pobreza é resultado do pecado e este só será extirpado
quando Jesus voltar em definitivo. Por
isso a pobreza persistirá enquanto o coração dos homens for governado pelo
pecado. No relato da Queda, em Gênesis 3, há uma maldição que recai sobre o
homem. A terra torna-se hostil, produz espinhos e abrolhos (v.18). O homem terá
que se esforçar para conseguir o seu sustento (v.19), prosperar neste cenário é
algo muito dificultoso, Armstrong disserta acerca deste panorama:
Na verdade, a Queda
fez da pobreza a configuração padrão, uma atração gravitacional permanente com
a intenção de nos arrastar para baixo. Isso é assim não só porque agora é mais
difícil produzir riqueza material, mas também porque a Queda provocou uma
cascata constante de desafios relacionais, caracterizada por desculpas e
transferência de culpa pelo nosso pecado, bem como por um desejo contínuo em
cada um de nós de atuar como Deus uns sobre os outros. Dificilmente uma receita
para o sucesso. [7]
Está na Escritura a sentença de que os pobres
sempre estarão presentes neste mundo corrompido. Uma sentença presente em ambos
os testamentos (Dt 15.11 e Mt 26.11). O motivo, como já vimos, é o pecado.
Alguém pode objetar que esta é uma resposta demasiadamente simplista e que as
razões para que exista um abismo entre ricos e pobres é muito mais complexa.
Afirmar que o pecado é a causa da pobreza não anula o estudo do desdobramento
das configurações socioeconômicas. Uma coisa é a raiz, a outra são os ramos.
Estamos cansados de saber que o pecado se manifesta de maneiras variadas, em
pensamentos e ações, de igual modo, a pobreza pode ser o resultado de uma
combinação de fatores, todos eles encadeados na natureza pecaminosa do ser
humano.
O pensamento esquerdista tende a ver o pobre como
uma vítima da sociedade, o isentando da culpa. Sabemos que a exploração é
massiva em diversas partes do mundo e precisamos denunciar profeticamente todo
o cenário opressor, contudo, não podemos “tapar o sol com a peneira”, a pobreza
também é produto de falha moral. O pastor Antônio Carlos Costa, fundador da ONG
Rio de Paz, e que atua nas favelas cariocas com evangelismo e trabalho social
diz com propriedade que “tratar o pobre
como vítima do sistema pode ser péssimo para a formação do seu caráter, pois o
torna indolente e leva a uma apatia capaz de aprofundar sua miséria” [8].
Deste modo, as alternativas que buscam deixar o pobre sobre a eterna tutela
estatal, o que muitas vezes é proposto pelos movimentos sociais, não resulta em
progresso. Atentemos mais uma vez para as palavras do pastor Antônio Carlos: “Esse paternalismo estatal de forma leviana
jamais emancipa o pobre; pelo contrário, o mantém dependente de projetos
assistencialistas de governantes que apenas almejam se perpetuar no poder” [9].
Talvez o leitor engajado tenha ficado desanimado em
saber que o seu trabalho em prol dos vulneráveis não irá erradicar a pobreza.
Mas, ainda é cedo para jogar a toalha.
Um estímulo para
trabalhar com os pobres
Alguns acreditam que o fato de sempre existir
pobres no mundo é um desestímulo, quando na verdade deveria ser o contrário.
Quando Jesus falou isso para os discípulos, sua intenção era a de que eles
trabalhassem e não cruzassem os braços. Ao invés de pensar que o trabalho
social é semelhante a “enxugar gelo”, pense que é uma oportunidade de você
desempenhar um papel semelhante a do seu Senhor e desfrute de cada contato com
os vulneráveis e desprezados pela sociedade. Saber que a pobreza não será
eliminada da terra tem seu lado estimulante.
Primeiro: você não se sentirá culpado ao perceber
que a cada pobre que cuida surgem outros na mesma condição, ou até pior. Você
sabe que não é porque tem trabalhado mal, sabe que é uma realidade presente por
conta do pecado. Segundo: você faz o que faz sem a tensão de cumprir uma meta
ou obter reconhecimento, mas executa um trabalho que glorifica a Deus, pois Ele
ama a justiça e se identifica com os vulneráveis. Terceiro, e último: você tem
a garantia de que todo o teu trabalho no SENHOR não é vão (1 Co 15.58) e sabe
que quando Jesus vier entre as nuvens, acabará com toda dor, com toda opressão,
pois destruirá o pecado em definitivo (Ap 21.1-4).
Concluo este texto instando aqueles que são os
eleitos de Deus a não ficarem inertes e de maneira simples, porém efetiva,
unirem forças para exercer o trabalho social que está subordinado à
evangelização, levando boas obras e boas novas para os necessitados, pois o
nosso Deus escolheu ”...aos que são
pobres aos olhos do mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que
prometeu aos que o amam (Tg 2.5)”. Não vamos achar que a obra social é
exclusividade dos que abraçam a esquerda política. Como afirma um trecho da seção
5 do Pacto de Lausanne: “A salvação que
alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas
responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta”. [10]
______________
[1]
As gírias são uma amostra disso. “Irado” e “sinistro” são termos negativos em
sua etmologia, mas, corriqueiramente são usados para expressar algo bom, que
causou felicidade. Outro exemplo: A palavra cara, que pode significar rosto ou
pode significar uma pessoa – “Tá vendo a cara daquele cara?”
[2]
SHEDD, Russel. A Justiça Social e a
Interpretação da Bíblia. Edições Vida Nova, p.11.
[3]
KELLER, Timothy. Justiça Generosa.
Edições Vida Nova, p. 65-66.
[4]
SHEDD, Russel. A Justiça Social e a
Interpretação da Bíblia. Edições Vida Nova, p.7.
[5]
STOTT, John. Ouça o Espírito, Ouça o
Mundo. ABU Editora, p.153.
[6]
Ibidem, p. 155.
[7]
ARMSTRONG, Aaron. O Fim da Pobreza.
Edições Vida Nova, p. 31-32.
[8]
COSTA, Antônio Carlos. A Convulsão
Protestante. Mundo Cristão, p. 61.
[9]
Ibidem.
[10]
www.lausanne.org