Por Jason Dees
Se você já leu
alguns dos muitos livros e artigos sobre preparação de sermão, provavelmente já
leu o adágio que diz: “Pense exaustivamente, leia abundantemente, escreva
claramente, ore fervorosamente e entregue-se completamente”. Essa frase já foi
atribuída a Alistair Begg, John MacArthur e outros, mas, de fato, teve origem
com um anglicano galês chamado W.H. Grifith Thomas.[1] Embora eu concorde com
todas as cinco exortações de Thomas, a que desejo enfatizar neste ensaio é a
terceira: “Escreva claramente”.
Há muito, é
discutido em círculos de pregação se um pregador deve ou não escrever o
manuscrito de seus sermões. Embora seja verdade que alguns dos grandes
pregadores ao longo da história da igreja (incluindo alguns favoritos como
Charles Spurgeon e Martyn Lloyd-Jones) não usavam e até desencorajavam o uso do
manuscrito, nem eu nem você somos tão inteligentes quanto Charles Spurgeon ou
Martyn Lloyd-Jones. Então, deixe-me dar-lhe quatro razões pelas quais você deve
considerar manuscrever seu sermão como parte de sua preparação.
1
- Escreva um manuscrito para encurtar o seu tempo de preparação
Eu estava tentando
encorajar um pastor amigo meu a escrever manuscritos, quando ele disse: “Eu
simplesmente não tenho tempo para escrever um manuscrito”. Muitos pastores
talvez usem o tempo como uma desculpa e eu entendo quão ocupada pode ser a
semana de um pastor. Mesmo enquanto escrevo este artigo, fico pensando: “Eu
realmente deveria estar trabalhando no meu sermão, fazendo uma ligação ou
treinando um dos estagiários”. Mas defendo que, em vez de alongar o seu tempo
de preparação, escrever um manuscrito pode, na verdade, encurtá-lo. Quando você
estiver estudando e se deparar com algo que seja bom para o seu sermão, apenas
escreva, e aí está. Então, ao construir o seu sermão, você pode simplesmente
acoplar todas as suas melhores notas e não precisa voltar para encontrar ou
tentar lembrar-se de alguma coisa que estudou.
2
- Escreva um manuscrito para encontrar as palavras certas
Mark Twain certa
vez disse: “A diferença entre a palavra certa e a palavra quase certa é a
diferença entre um relâmpago e um vagalume”. E se John Owen houvesse dito:
“Abandone a sua vida de pecado, porque é importante para o crescimento
cristão”, em vez de: “Mate o pecado, ou o pecado matará você”? Ambas as
sentenças comunicam a mesma verdade, mas a segunda é dita de modo tão apropriado
que deixa uma impressão duradoura no coração. É importante usar s palavras
certas, e escrever um manuscrito ajuda o pregador a não apenas dizer coisas
verdadeiras, mas a dizer coisas verdadeiras de forma apropriada.
3
- Escreva um manuscrito para certificar-se de que o seu sermão é harmonioso
Uma das marcas da
grande pregação é que ela é harmoniosa. Com efeito, eu estava recentemente
conversando com outro pastor amigo e ele disse: “Eu tenho pregado por anos,
mas, quando comecei a fazer manuscritos, meus sermões ficaram melhores já no
domingo seguinte, porque ficaram instantaneamente mais harmoniosos”. Um bom
pregador tem muitos pontos altos que chamam a atenção dos seus ouvintes e os
inspiram. Um grande pregador, porém, é capaz de capturar a atenção do seu
ouvinte e segurá-la durante toda a duração do sermão, conduzindo-os suavemente
de um ponto para o seguinte. De novo: a menos que você tenha a mente de
Spurgeon, é difícil fazer isso sem escrever um manuscrito.
Um manuscrito ajuda
o pregador nas transições, uma vez que permite claramente equilibrar o tempo
para cada ponto; um manuscrito também ajuda a explicar passagens ou verdades
difíceis com clareza. Isso ajuda o pregador a ver o seu sermão como uma unidade antes de
pregá-lo, permitindo-lhe assim editar o seu sermão fácil e decisivamente. Com
efeito, é apenas quanto eu olho para o produto final que consigo de fato ver os
pontos que não se encaixam ou que eu posso retirar da mensagem como um todo. A
pregação é um chamado sublime de Deus, então, o pregador deve fazer todo o
possível para apresentar o melhor argumento, o mais harmonioso e o mais cheio
do Espírito, perante homens moribundos cuja única esperança é que suas almas
sejam vivificadas em Cristo.
4
- Escreva um manuscrito para manter um registro
Um dos meus maiores
tesouros são os cerca de 1.200 sermões que eu preguei durante os meus anos de
ministério. Felizmente, por ter sido encorajado desde cedo a escrever
manuscritos, eu tenho um registro de todos eles. Eles me têm sido um imenso
auxílio ao escrever outros sermões ou ao me preparar para pregar fora da minha
própria igreja local. Ter um registro dos meus sermões também me ajuda no
ministério pastoral. Quase todo domingo, alguém me pede aconselhamento a
respeito de algo que eu acabei de pregar; poder indicar-lhe a nossa página na
internet, na qual postamos todos os manuscritos de sermões online ou
poder lhes enviar por e-mail um trecho de um sermão é uma ferramenta pastoral
poderosa.
Conclusão
Há muitas outras
razões pelas quais você deve fazer manuscritos de seus sermões: isso ajuda a
manter o pregador dentro do tempo; se você prega em cultos múltiplos, isso pode
garantir que as duas congregações recebam o mesmo ensino; isso pode ajudá-lo a
evitar o uso das mesmas ilustrações; eu poderia ir além.
Mas quero concluir
abordando as advertências de Spurgeon, Lloyd-Jones [2] e outros: o pregador
deve sempre estar livre e o manuscrito nunca deve prendê-lo. Eu concordo com
Spurgeon que o manuscrito nunca deve ser lido e que o pregador deve ter
discernimento o suficiente para, às vezes, falar extemporaneamente,
afastando-se do manuscrito quando sentir a necessidade ou o desejo de fazê-lo.
Se um pregador não consegue evitar ler o manuscrito, talvez ele deva escrever o
sermão e depois, separadamente, escrever um esboço para levar ao púlpito.
Embora eu creia que o manuscrito seja uma das melhores ferramentas na
preparação para o sermão, ele pode ser uma ferramenta perigosa na entrega do
sermão. Você é o pregador, não o manuscrito. É você quem entrega o sermão, não
o manuscrito. O manuscrito é uma grande ferramenta, mas Deus unge o homem para
pregar, não o manuscrito.
___________
Notas:
[1] J.
I. Packer, Truth and Power (Guildford, Surrey: Eagle, 1990), 132 (sem
tradução em português).
[2] Dois
recursos clássicos sobre pregação são: C. H. Spurgeon, Lectures to My Students: Complete & Unabridged (Grand Rapids, Mich: Zondervan Pub. House,
1954) (publicado em português sob o título Lições aos meus alunos. São Paulo: Editora PES, [s. d.], 3 volumes),
and David Martyn Lloyd-Jones, Preaching
and Preachers (Grand Rapids, Mich: Zondervan
Pub. House, 1972) (publicado em português sob o título Pregação e pregadores. 2. ed. São José dos Campos: Editora Fiel,
2008).
Fonte: Ministério Fiel