Por
Morgana Mendonça dos Santos
É visto em
diversos lugares uma grande massa de defensores da legalidade tanto na política
quanto na religião, no entanto, não são pessoas honestas em suas práticas. Por
isso, sobreveio-me um pensamento: e as nossas ilegalidades amortecidas ou
entorpecidas? Sobre ilegalidade quero afirmar atos ou situações contrários à
lei. Do verbo amortecer e/ou entorpecer quero enfatizar o significado de
aplacado, diminuído o impacto, desfalecido.
Fatores
como o relativismo ético-religioso, pragmatismo, a ideia do politicamente
correto, legalismo - no sentindo também de ativismo religioso - tem corroborado
com uma postura de falsa santificação e falso discurso. Muitos dos que se opõe
à política ou a religião tem como principal argumento a ilegalidade dos
ministros religiosos ou as autoridades políticas. De fato, tem como comprovar
claramente que a ilegalidade de forma brutal assolou a política e a religião
como tantas outras esferas da nossa sociedade.
Não foram
poucas as vezes que ouvi comentários e até discursos sobre a questão de que, se
quisermos um governo sem corrupção devemos primeiros nos manter como exemplos
disso. Faz sentido? Acredito que sim. E creio que vale a pena gastar tempo
pensando sobre "nossas" ilegalidades que perderam o impacto e estão amortecidas
na nossa conduta cristã. Frases como: "não tem nada a ver", "que
besteira isso". E até uma mais famosa travestida de piedade que diz:
"certamente Deus conhece meu coração". Como se dissesse, "Deus
vai entender dessa vez".
São
expressões carregadas de falsa piedade [1], tentativas autônomas de ditar suas
próprias regras e até incutir isso como ensino a outros. Já repetimos diversas
vezes sobre a situação das igrejas nos nossos dias, o cenário político está
patente aos nossos olhos. Se temos uma resposta para isso, qual seria? O
Evangelho [2]. Inevitavelmente é nas Escrituras que recobramos e refletimos
sobre nossa conduta cristã [3]. Vida cristã foi prescrita pela Palavra,
atribuir algo fora do que já está proposto não passa de escárnio e vitupério.
Caro
leitor, não encontre aqui um artigo acadêmico. Encontre aqui um conselho que
serve tanto pra mim como para você. As Escrituras devem ser nosso espelho [4],
aconselho até parar a leitura se já compreendeu o sentido desse texto e um auto
exame seria um bom começo. Jonathan Edwards, um puritano e grande teólogo e
pastor do seu tempo, nos orientou em seus escritos e sermões a ler as
Escrituras contra nós mesmos. Nosso coração é enganoso e corrupto [5], Cristo
afirmou que o coração é o centro de toda a ilegalidade [6]. Calvino,
reafirmando as Escrituras declarou ser o nosso coração uma fábrica de ídolos, corrompido
facilmente quando as Escrituras não tem primazia e de fato muitos de nós nem
sequer conseguiríamos apontar as nossas próprias ilegalidades.
Quando
falo de ilegalidades falo no sentido proposto acima, sentido esse que
identificamos como contrário à lei. Quais leis seriam essas? A Lei de Deus [7],
ou seja, Sua Palavra. Colocar exemplos de nossas ilegalidades amortecidas
levaria horas e várias páginas, digo "amortecidas" pelo fato de que
sabemos ser errado, todavia, praticamos com justificativas acertadas
ilusoriamente. Toda desculpa aparentemente parece ser algo que Deus irá
concordar, ou algo que Deus não julgará.
Uma
mentira no trabalho pela ausência do dia anterior não é tão mal assim, uma fotocópia
de um livro sem autorização da editora ou autor ninguém vai saber. Um álbum musical
baixado na internet sem a devida autorização do cantor é para edificação da
minha vida. Algo que tomou emprestado e não devolver não é errado, é apenas
esquecimento. Um livro em PDF, um plágio de uma música, um sistema operacional
copiado, um semáforo no vermelho, dirigir no celular. Um namoro que não tenha
sexo, mas tenha todo tipo de carícias, o uso do material do trabalho para fins
pessoais, uma omissão da verdade para a imigração numa viagem internacional,
são inúmeras.
Na última
semana tive o desprazer de ler uma postagem de um servo do Senhor, cantor dos nossos
dias, homem piedoso [8] pedindo encarecidamente para que os irmãos não
baixassem seus CD's na internet, pois ele não autorizou. Isso significaria
roubo, porém aqueles que fizeram tal ato poderiam fazer um depósito do valor do
produto em sua conta bancária. Penso que deve ter sido constrangedor para
muitos, mas, foi estarrecedor ler tantas críticas ao cantor, sendo difamado nas
redes sociais. Mesmo ele dizendo acertadamente: "esse é meu pão, meu
sustento".
Tratar de
uma ética cristã nos nossos dias deve ser sim uma preocupação pastoral, a
guarda dos dez mandamentos e suas implicações [9] são fundamentais para ensinar
neófitos e maduros na fé. Púlpito não serve para piadas e testemunhos, púlpitos
devem ser utilizados para exposição bíblica e doutrinária. O quanto temos de
ilegalidades? Temos o suficiente para nos arrependermos. E devemos nos
arrepender para vivermos de forma piedosa. E quando olho para as minhas
ilegalidades, me sinto envergonhada. Provando que nosso conhecimento está
fadado a um falso discurso e uma falsa santificação, quando não usado para a
glória de Deus e redundando assim em frutos piedosos. Como Calvino afirma: esse
conhecimento de Deus deve nos levar a uma vida piedosa [10].
Que não
sejam amortecidas as ilegalidades que provém do nosso coração...
“Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo
para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza.”
1 Timóteo 4:12
___________
Notas:
[1] II
Timóteo 3.5.
[2] Romanos 1.16-17; Hebreus 4.12.
[3] Salmos
119.105.
[4] Salmos
119.133.
[5] Jeremias 17.9.
[6] Mateus
15.19.
[7] Êxodo
20; Deuteronômio 5.1-21.
[8] Stênio
Marcius no seu perfil do Facebook.
[9] Recomendo
o estudo baseado no Catecismo Maior de Westminster comentado por Johannes
Geerbardus Vos.
[10] Institutas
da Religião Cristã, Livro I, capítulos I e II.