Por Thiago Azevedo
Em
dias de crise econômica e escassez ética, nada melhor que refletir sobre as
motivações que possam gerar uma situação igual a que estamos vivendo no
contexto político de nossa pátria. Refletir sobre o tema específico é
proveitoso. É justamente isso que iremos fazer neste conteúdo. Porém, não
direcionaremos nossa reflexão à crise político-econômica de nossos dias. Pois,
ao abordar este tema, necessariamente, outros temas viriam à baila. E se
fizermos uma busca pelo ponto cerne de tudo, sem sombras de dúvidas, chegaríamos
ao pecado como causa. Mas, a crise a ser abordada aqui, bem como suas causas, é
na realidade outra, e que tem se instaurado em outro ambiente, a saber, no
ministério pastoral. Há anos que
temos introduzido no cenário religioso tupiniquim uma verdadeira “Crise Pastoral”. Em primeiro lugar, precisamos
definir termos: Poimen, este que é o
termo utilizado para pastor em grego e que significa supervisionar o rebanho – cuidado contínuo, zelo, preocupação com
bem-estar e saúde das ovelhas. Observando o significado do termo em si,
logo nos vem algumas dúvidas, a saber: Por que tantas pessoas que se aventuram
no ministério pastoral não possuem
essas características? Por que tantos que se aventuram neste ofício realizam a
lógica contrária, a saber, obter vantagens próprias por meio das “ovelhas” ao
invés de ampará-las? Na realidade, vivemos uma grande “Crise Pastoral” sem precedentes. Neste texto,
tentarei destacar alguns dos principais motivos de tal crise.
O
primeiro e mais grave motivo pelo qual vivemos em dias atuais, uma verdadeira
“Crise Pastoral” é a falta de
conhecimento bíblico que norteia o cenário religioso cristão da atualidade. O
profeta Oséias já alertava no seu tempo (Oseias 4:6). Na atualidade há uma
baixa cultura literária em nossa nação, e dentro deste índice, a Bíblia figura.
O problema aumenta quando entendemos que todo e qualquer cristão deva ter o
mínimo de conhecimento dos idiomas originais da Bíblia, isso porque vivemos uma
época onde cada vez mais pessoas combatem os pressupostos cristãos se utilizando
da própria Bíblia e de recursos exegéticos (na grande maioria das vezes fazem
“eixegese” ao invés de exegese) – um bom exemplo é a Teologia Inclusiva (ou
gay) que se usa de argumentos bíblicos para legitimar-se. Quando se figura num cenário,
cristãos que leem e conhecem pouco o livro que regulamente suas regras de fé e
prática – A Bíblia – e pessoas que a estudam com intenções tendenciosas e
ideológicas, sempre com intuito de refutá-la, temos um ambiente favorável para
o surgimento de várias aberrações da fé. Este é o pano de fundo da “Crise Pastoral” que anunciamos aqui. Vejamos
as palavras do profeta Oséias:
“O
meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste
o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de
mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de
teus filhos”. (Os 4.6)
O
interessante é ver nisso tudo que o próprio Deus rejeita aqueles que rejeitam o
conhecimento, Deus os rejeitou como sacerdotes. O conhecimento pode ser entendido
aqui como a lei de Deus, e quem a rejeita, Deus o rejeita. Podemos perceber que
há uma grande possibilidade de haver no cenário religioso atual uma quantidade elevada
de pessoas que rejeitam e negligenciam à Bíblia, e, por isso, são rejeitados
por Deus. Mas, estas pessoas, se intitulam pastores aptos a conduzir o rebanho.
Estas pessoas estão lançadas às suas próprias sortes. Deus os rejeitou como
sacerdotes, líderes e pastores, por negligencia da Palavra de Deus. Imagine
agora como não será um ambiente onde o líder fora desprezado por Deus, mas ele
se julga apto a liderar o rebanho? É justamente nestes ambientes onde vemos as
maiores aberrações da fé. Assim como Israel caminhou em direção da destruição
por ter negligenciado a Lei de Deus. Muitos caminham em direção de um
precipício, e de olhos vendados, sendo guiados por um líder que também não
enxerga nada. Falsos pastores conduzindo falsas ovelhas, pois as verdadeiras
ovelhas reconhecem a voz de seu verdadeiro pastor (João 10).
Outro
motivo que poderia figurar na lista das causas da “Crise Pastoral” que vislumbramos em nossos dias, seria cometido por
aquelas pessoas que escolhem ser pastor. Certo dia, ouvi uma pessoa dizer que
desde pequeno sonhava em ser pastor. Ela não queria realizar outra coisa em sua
vida. Ao ouvirmos isso, aparentemente, soa como algo lindo. Porém, precisamos
refletir biblicamente sobre esta alegação. Moisés foi um dos homens chamados
por Deus que relutou contra isso (Êxodo 4:1-17), Moisés não se sentia preparado
para executar tamanha tarefa, nem muito menos queria ser líder desde pequeno. O
próprio Jeremias relutou quando Deus o chamou (Jeremias 1:6) como se não se julgasse
preparado. Inclusive, é o próprio profeta quem escreve em seu livro que os
pastores serão dados exclusivamente por Deus (Jeremias 3:15). Jeremias também
não sonhava em exercer uma liderança desde criança. Nestes dois casos, nenhum
dos personagens bíblicos escolhe ser líder do povo, mas Deus os chama mesmo
assim. Numa outra passagem das Escrituras Sagradas, outro dado interessante é
quando o Profeta Samuel vai até a casa de Jessé escolher o novo rei de Israel
em sucessão de Saul (I Samuel 16), Deus dá uma ordem ao profeta:
“Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes
para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho
rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está
diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”. (1Sm 16.7)
Aqui
vemos uma concatenação entre os dois textos mencionados, a saber, o de I Samuel
16.7 e o de Jeremias 3:15. Todavia, mais que isso, estas palavras foram ditas
por Deus quando Samuel tinha olhado para um dos filhos de Jessé (Eliabe) e o
havia avaliado como sendo o futuro rei de Israel. Mas Deus alerta Samuel para
não se iludir com a aparência. Hoje sabemos que as aparências enganam. Deva ser
por isso que só Deus pode conceder pastores, porque só Ele pode sondar os
corações. E como o próprio homem não conhece de fato seu próprio coração e nem
o coração alheio, é melhor que Deus confirme e escolha aqueles que devem
conduzir o rebanho. Podemos mencionar também o apóstolo Paulo como sendo
importante expoente dentro desta lista e tema. Pois o mesmo fora chamado por
Deus de uma forma bem específica. Sua conversão, sobrenatural, na estrada de
Damasco, aponta para um homem que não escolhe Deus, mas que Deus o escolhe.
Ao
avaliarmos o processo que Deus executa em chamar aqueles que Ele mesmo escolhe
para a realização de sua obra, não vemos nenhum homem que escolhe, desde
pequeno, servir a Deus. Vemos homens que foram chamados, em determinados
momentos de suas respectivas vidas, alguns ainda com pouca idade (o rei Josias
que foi levantado por Deus aos oito anos de idade), outros já de idade adulta,
mas, independente disso, homens que nem se quer pensavam em desenvolver uma
função dada por Deus. Com isso, devemos atentar para algo, a saber, precisa-se
ter muito cuidado quando alguém abre a boca e diz que desde pequeno sonhava e
queria ser pastor. Essas palavras podem ser verdadeiras, mas a Bíblia não dá
ênfase a tal regra, muito pelo contrário, a grande maioria dos chamados de Deus
em direção ao homem se dá quando este mesmo homem já possui uma idade adulta e
nem se quer fazia planos para seguir a Deus. Talvez este seja um dos principais
motivos cujo qual sofremos uma grande “Crise Pastoral” na atualidade – pessoas que escolhem ser pastores, e todo
bom pastor não escolhe ser, porém, Deus o escolhe.
Outro
motivo recairia na omissão e falta de coragem por parte de muitos homens em
realizar tanto sua função pastoral, como também seu próprio papel de homem.
Entendemos que antes de tudo, um bom pastor precisa ser “Homem” – com H
maiúsculo. Vivemos uma “Crise Pastoral”
porque muitos homens se esquecem disso. Quando me refiro ser homem, não me
refiro aos aspectos masculinos, mas sim à personalidade e caráter. Refiro-me ao
que de fato é masculinidade. E dentro deste conceito sabemos que existem dois
tipos de masculinidade; a verdadeira e a falsificada: Nas palavras de Douglas
Wilson, da obra Futuros Homens, seria
desta forma:
“A
masculinidade falsificada se destaca por criar desculpas; porque essa ‘masculinidade’
é uma questão de orgulho, e não a humilde aceitação da responsabilidade. Assim,
qualquer coisa que ameace esse orgulho deve ser rejeitada. Uma das coisas que
sempre ameaçam o orgulho é qualquer tipo de falha, e a maneira como homens
inseguros lidam com isso é dando desculpas. A verdadeira masculinidade assume a
responsabilidade, e ponto final. Já a falsa masculinidade irá querer aceitar a
responsabilidade apenas por aquilo que deu certo” (WILSON, 2012, p. 24)
Um
dos principais motivos por vivermos na atualidade uma “Crise Pastoral” é nada mais nada menos que
ausência de uma masculinidade verdadeira e a presença de uma masculinidade
falsificada nos homens envolvidos com na obra de Deus. Homens de masculinidade
falsa, que não assumem suas responsabilidades pastorais. Assumir
responsabilidades é a maior característica presente no caráter de um “Homem”, e
é justamente esta característica que evidencia os homens de masculinidade
verdadeira, àqueles com H maiúsculo. Como este tipo de homem está em extinção no
cenário religioso do Brasil, figurando mais os homens de masculinidade
falsificada, este segundo grupo de “homens” dão margem para surgir várias
aberrações nos púlpitos. Infelizmente, muitas mulheres assumem a postura que
devia ser vista nos homens. O surgimento do fenômeno da ordenação feminina no
seio da liturgia cristã contemporânea, não se dá apenas por falta de
conhecimento bíblico-exegético – mesmo entendendo que este é o principal motivo
deste fenômeno –, mas também por termos na atualidade uma geração de homens de
masculinidade falsificada que não assumem suas respectivas responsabilidades
pastorais. Sempre que uma mulher é ordenada pastora há por trás disso um homem
de masculinidade falsificada. Sua masculinidade é tão falsificada que uma
mulher assume seu lugar. É como se ela estivesse dizendo em alto e bom tom:
“Aqui tem homem!”, e infelizmente, o papel do homem é realizado por ela mesma. Repito:
Este é mais um dos principais motivos por estarmos vivendo na atualidade uma “Crise
Pastoral”.
Por
fim, entendemos que todo o processo do chamado de Deus em direção aos
verdadeiros pastores e líderes atende uma ordem monergística. Ou seja, é o
próprio Deus quem a executa de forma plena e autônoma. Quando o homem se julga
preparado para exercer tamanha função, já é um mau sinal. Pois, como o próprio
Deus é quem chama, Ele mesmo preparará o indivíduo gradativamente. E uma das
características dos homens chamados e levantados por Deus é justamente nunca se
sentir preparado. O preparo além de ser gradativo, não possui um estágio final,
e é contínuo. É por nunca se sentir preparado que aqueles que Deus realmente
levantou como pastores acreditam ser de tamanha responsabilidade este título –
pastor. Por outro lado há aqueles que se avaliam como sendo totalmente aptos e
preparados a exercer as funções pastorais. Eles se avaliam como sendo tão aptos
e preparados que não aceitam nem sequer ser chamados mais de pastores, pois
este título rebaixa suas condições elevadas de homens preparados. O título de
pastor provoca comichão e incômodo na alma, provoca inquietação e insatisfação – “paipóstolo” “mãepóstula”, “apóstolo” etc.,
conforta mais uma alma megalomaníaca e sedenta por uma subida incessante na
escadaria do poder.
Daqui
uns dias o título de Demiurgo estará sendo utilizado por alguns destes homens.
Deve ser justamente estes de quem Oseias nos alerta. Estes que rejeitaram o
Senhor e que foram rejeitados e esquecidos de forma recíproca. Estes que
caminham por caminhos que não conhecem e levam consigo uma grande multidão que
juntos estabelecem em nossos dias uma profunda, funesta e amarga “Crise Pastoral”.
Falsos pastores se estabelecem por si próprios, o verdadeiro pastor é Deus quem
levanta, e as verdadeiras ovelhas, não as falsas, conhecem a sua voz.