Por Thiago Oliveira
Lugar De cristão é na política? E
porque não seria? Uma das coisas que herdamos da reforma é que toda vocação,
inclusive a política, glorifica a Deus. João Calvino dedica parte de sua obra
máxima, as Institutas, para falar sobre política e enaltece o trabalho dos
magistrados, isto é, os que integram o poder do Estado. O próprio apóstolo
Paulo diz que os governantes são servos de Deus e que sua autoridade é derivada
do próprio SENHOR (Rm 13.1-7). Ademais, os cristãos foram chamados para exercer o que na
teologia chamamos de “mandato cultural”. Exercer este mandato é se integrar ao
mundo criado por Deus e administrá-lo com excelência, observando as leis
divinas para o louvor do Criador. O poder político está intensamente ligado ao
mandato cultural dos homens. No entanto, precisamos ressaltar que a postura
política de um cristão deve ser íntegra e se ele almeja participar do poder
político, deve manter-se fiel a ética contida na Bíblia Sagrada e por ela se
guiar.
O teólogo Wayne Grudem, ao
escrever sobre o papel do cristão na política, afirma o seguinte:
(...) os
cristãos devem procurar influenciar o governo civil conforme os padrões morais
de Deus e conforme os propósitos de Deus para o governo revelados na Bíblia (e
devidamente compreendidos). Enquanto os cristãos exercem essa influência,
porém, devem continuar a proteger a liberdade religiosa de todos os cidadãos.
Além disso, a "influência expressiva" não é sinônimo de influência
irada, beligerante, intolerante, julgadora, desatinada e cheia de ódio, mas sim
uma influência cativante, gentil, solícita, amável, persuasiva, própria para
cada circunstância e que sempre protege o direito do outro discordar. Ao mesmo
tempo, é firme no que se refere à veracidade e à excelência moral dos
ensinamentos da palavra de Deus.[1]
Outra coisa de suma importância é
ter preparo. Uma carreira na política demanda vocação e conhecimento dos
mecanismos do poder. Ademais, a política não é imparcial. Ela está encharcada de
ideologia, sendo que tais ideologias são, em grande parte, antagônicas a fé
cristã. O Pr. Franklin Ferreira é bastante feliz em sua colocação, ao dizer
que:
Os políticos
cristãos devem saber utilizar as várias disciplinas acadêmicas para desenvolver
uma cosmovisão cristã que permita, de um lado, identificar as premissas das
posições filosóficas e religiosas que mais influenciam a sociedade e, de outro,
oferecer respostas respeitáveis satisfatórias, com base na fé cristã.[2]
Infelizmente, muitos políticos
que se denominam evangélicos, têm dado um mau testemunho, parecendo ignorar o
preceito bíblico de que deveriam ser luzeiros deste mundo. Muitos, não todos, também
fazem das igrejas um curral eleitoral e cumprem seus mandatos beneficiando
apenas os seus eleitores “crentes”. Eles promovem eventos como “marchas para
Jesus” e “dia da consciência evangélica”. Fazem shows com os mais famosos
artistas do segmento Gospel e elaboram projetos que não saem da órbita
evangelical. Isso está errado e a Bíblia demonstra com exemplos.
José quando esteve no Egito era
autoridade destacada. Acima dele apenas faraó. Ao interpretar o sonho do
soberano egípcio e prever que haveria sete anos de fartura seguidos de sete
anos de seca, teve a ideia de estocar alimentos para que quando viesse o
período das “vacas magras”, o povo egípcio tivesse como se alimentar. Além do
mais, povos vizinhos também puderam comprar alimentos e assim ir sobrevivendo
num período de imensa dificuldade. José, um hebreu, na posição política que
exercia tratou de realizar um bem comum. Toda a população - e não um segmento
dela - foi beneficiada com aquele empreendimento. De igual modo, Daniel foi um
administrador politico do império persa. Ele se destacou sobre os demais ao
ponto do rei querer elevar a sua posição e coloca-lo como administrador de todo
o reino e não apenas de uma província. A Bíblia nos diz que o político Daniel
era “fiel; não era desonesto nem negligente”(Dn 6:4).
Outra passagem bíblica que não fala
diretamente sobre governo, mas pode nos repassar um bom princípio, é Jeremias
29:7. O versículo diz o seguinte:
“Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao
Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade
dela".
O que pretendo demonstrar citando
tais exemplos escriturísticos é que aquele que ingressa na política deve
exercer o seu papel sem segmentar o público alvo. Os benefícios derivados da
atuação de um político cristão devem refletir em toda a sociedade. E dentro de
nosso ambiente plural, um político cristão também governa para ateus e pessoas
de outros credos. Ele tem que ser representante destes grupos também e atender
as demandas mais urgentes da sociedade. Se um político é alguém que deveria, ao
menos em tese, servir a população, um cristão teria de ter uma atenção
redobrada quanto a esta questão do servir, pois, este é o estilo de vida que o
próprio Senhor Jesus adotou. O próprio disse que veio ao mundo para servir e
não para ser servido (Mt 20:28).
Além da Bíblia, podemos extrair
da história bons exemplos de cristãos que foram excelentes políticos. Lord Shaftesbury
(1801-1885) foi membro do parlamento inglês por mais de quarenta anos. Um homem
dedicado às causas humanitárias. Ele criou lei em prol do bem estar daqueles
que eram os mais explorados pela revolução industrial, sobretudo crianças e
mulheres. Seus projetos de lei eram pensados para amparar os párias da
sociedade. Embora conhecido como “o evangélico dos evangélicos”, teve uma
atuação não segmentada e legislou para todo o povo, sem acepções. Que os
políticos brasileiros que compõem a bancada evangélica (ou conservadora) sigam
tais modelos de gestão e façam com que os seus mandatos sejam relevantes para a
nossa sociedade como um todo. Finalizo com mais uma citação do Pr. Franklin
Ferreira:
Aqueles que
servem a Deus na esfera pública, mesmo contaminada e distorcida pelo pecado,
podem ver sua atuação política como um meio de glorificar ao Senhor, mas não
precisam mencionar o nome santo nos palácios e centros de decisão política para
justificar seu serviço público. [3]
Que o SENHOR abençoe o Brasil!