Por Thiago Oliveira
Texto Base: Números 21:4-9
4.
Partiram eles do monte Hor pelo caminho do mar Vermelho, para contornarem a
terra de Edom. Mas o povo ficou impaciente no caminho 5. e falou contra Deus e
contra Moisés, dizendo: "Por que vocês nos tiraram do Egito para morrermos
no deserto? Não há pão! Não há água! E nós detestamos esta comida miserável!
" 6. Então o Senhor enviou serpentes venenosas que morderam o povo, e
muitos morreram. 7. O povo foi a Moisés e disse: "Pecamos quando falamos
contra o Senhor e contra você. Ore pedindo ao Senhor que tire as serpentes do
meio de nós". E Moisés orou pelo povo. 8. O Senhor disse a Moisés:
"Faça uma serpente e coloque-a no alto de um poste; quem for mordido e
olhar para ela viverá". 9. Moisés fez então uma serpente de bronze e a
colocou num poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a
serpente de bronze, permanecia vivo.
INTRODUÇÃO
Esta história tem muito a
nos dizer sobre aquele que - muitos anos depois - seria crucificado entre malfeitores.
O próprio Jesus ao falar com Nicodemos cita esta passagem do Antigo Testamento
para explicar a sua missão na terra. Ele diz:
“Da mesma forma como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também
é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crer
tenha a vida eterna”.
João 3:14,15
Fiquemos atentos às
preciosas lições que emergem da Santa Escritura, tratando especialmente deste
episódio que aconteceu no deserto com o povo de Deus.
A
PEÇONHA DO PECADO
Certa feita, um pastor
puritano disse que o pecado é o ventre de nossas dores (Thomas Watson). Ele
está correto. Tudo que existe de ruim nesse mundo, e que para nós é
externalizado, tem origem no íntimo dos seres humanos. O pecado que reside no
coração do homem é o criadouro das mazelas que nos afligem. O pecado é um
veneno e como tal não resulta em outra coisa senão morte. Neste texto de
Números 21.4-9, vemos que o motivo dos hebreus serem afligidos pelas serpentes
foi a sua murmuração, a sua descrença em Deus (vv. 4 à 6). Mesmo após o Senhor
ter libertado aquele povo da escravidão no Egito, mesmo após ter sustentado o
povo com provisões milagrosas de comida e bebida numa região desértica e mesmo
dando-lhes vitória diante de inimigos mais numerosos e mais preparados, eles se
queixam e cometem o absurdo de dizer que detestam a comida que veio diretamente
do céu para satisfazer suas necessidades (o Maná).
Os hebreus deveriam dar
graças a Deus constantemente. A Forma como o Senhor os conduzia era
sobrenatural e ao mesmo tempo demonstrava cumplicidade. Deus era deles,
comprometido em aliança a dar-lhes uma terra. Comprometido em fazê-los
prosperar. Mas ao invés de ação de graças veio um ingrato murmúrio. Aquele povo
rejeitava as benesses do Divino. Sua queixa demonstrava não apenas ingratidão.
Demonstrava também incredulidade. Mesmo depois de tudo o que viram, ainda se
deixaram levar pelo temor de morrer a míngua no deserto, pelo meio do caminho.
Esqueceram de que Deus havia dito que os conduziria até um pedaço de chão que
seria dado a eles como sua herdade. O Altíssimo os presentearia com a terra que
“mana leite e mel”. Só que os hebreus duvidaram, queixaram-se e pagaram o preço
pela sua conduta inaceitável.
As serpentes que atacaram
o arraial dos israelitas, matando muitos deles, eram a personificação dos seus
pecados e do efeito que este causa. A peçonha do pecado os feriu mortalmente. O
que nasceu em seu íntimo tomou forma e eles viram o quão asqueroso era aquilo. Por isso meus irmãos, devemos
ter cuidado com aquilo que cultivamos no solo de nossos corações, pois, se
plantarmos murmúrio e incredulidade, colheremos mortandade. Precisamos ter a fé
em Deus firme, e em tudo dar graças (1Ts 5.18). Tal como o maná foi rechaçado,
Cristo, o pão do céu (Jo 6.51), também o foi e ainda é por muitos que escutam a
boa nova e nela não se alegram nem depositam a sua fé. Que o Senhor nos
livre de blasfemá-lo com nossa ingratidão e descrença. Precisamos ter a nossa
fé fortalecida. Precisamos
lembrar que o Senhor é fiel as suas promessas, sabendo que chegaremos a Canaã
celestial. Mesmo que o percurso seja difícil e amargoso, não devemos esquecer
que o destino final é doce, doce como o mais puro mel e refrescante como uma
loção aromática. Tenhamos fé, Deus é aquele que nos guia e nos guarda.
SALVAÇÃO
E IDENTIFICAÇÃO
Quando o povo reconheceu
que as serpentes que o atacava eram resultantes de sua conduta pecaminosa,
foram até Moisés e pediram para que o líder que Deus lhes dera, também
rejeitado em seu murmúrio, intercedesse em favor deles. Moisés orou e recebeu a
ordem de fazer a serpente de bronze e pendurá-la num poste (vv. 7 e 8). O
curioso é que para serem salvos, as pessoas picadas deveriam olhar para a
imagem que remetia justamente ao animal que lhes causou dolo. Por que disto?
Deus ao revelar-se ao seu
povo, sempre apontou para o Salvador que haveria de vir e com isso deu algumas
“pistas” de como seria e o que faria esse a quem Ele iria enviar. No linguajar
teológico chamamos estas “pistas” de tipologia. Aquela serpente que foi
levantada entre os hebreus tipificava Cristo, alçado fora dos muros de
Jerusalém. Como vimos na introdução, o próprio Jesus fez uso da serpente de
bronze ao falar sobre si mesmo. Vejamos as semelhanças que fazem com que o tipo
do Antigo Testamento apontasse para o Cristo:
1. Ambos foram pendurados
num madeiro e ficaram expostos, à vista de toda a população.
2. Aquele que fosse
envenenado tinha que olhar para a serpente de bronze para ser curado.
Semelhantemente, o veneno do pecado é curado quando o pecador olha com fé para
o Cristo da cruz.
3. Se para obter a cura, a
pessoa veria a imagem do animal que lhe causou dano, de igual modo, para ser
liberto do pecado, Cristo assumiu a forma do mais vil pecador, mesmo sendo
santo. O pecador que olha Jesus moído na cruz vê que n’Ele foram depositados os
seus próprios pecados.
Logo, concluímos que no
elemento da salvação há também identificação. Jesus tinha uma imagem de homem
comum, e quando sucumbiu na cruz, entre dois ladrões adquiriu a imagem de um bandido.
O profeta Isaías vai dizer que o seu semblante era o de um homem no qual
escondemos o rosto em desprezo (Is 53.3). Aquele que não tinha pecado assumiu a
forma de pecador (2Co 5.21) para garantir cura a todo o que n’Ele crê.
BASTA
OLHAR
Deus ao providenciar a
cura após a confissão de pecados do povo, bem poderia ter feito com que eles
“cortassem um dobrado” para que não morressem. A ideia de penitência é muito
comum em diversas religiões e escritos mitológicos antigos. O maior dos heróis
gregos, Hércules, segundo a lenda, teve que realizar 12 trabalhos para
recuperar sua honra após ter assassinado esposa e filhos num arroubo de
loucura. Mas Deus não cobra nenhuma espécie de penitência. Não há nenhum tipo
de trabalho ordenado com o intuito de purgar os pecados. A forma de encontrar
cura seria apenas olhar para a serpente de bronze (v.9). Olhar? Algo que não
denota esforço. Uma tarefa simples que não leva em conta força ou capacidade
intelectual.
Assim mesmo é com a nossa
salvação. Em Isaías 45.22 lemos o seguinte:
“Olhai para mim, e
sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há
outro”.
Um dos maiores pregadores
que esse mundo já viu, Charles Spurgeon, se converteu após um homem comum
pregar com base neste versículo, pois por alguma razão – possivelmente uma
nevasca – o pastor não compareceu, e
conclamá-lo a olhar para Cristo. O próprio Spurgeon em sua autobiografia conta
como se deu:
“Então, erguendo as
mãos, bradou como só um metodista primitivo pode fazer: ‘Jovem, olhe para Jesus
Cristo! Olhe! Olhe! Olhe! Você não tem nada a fazer senão olhar e viver!’. Eu
vi de uma vez o caminho da salvação. Não recordo de mais nada que aquele homem
simples disse, pois fiquei tomado com aquele pensamento. Como quando a serpente
de bronze foi levantada, e o povo somente olhava e ficava curado, assim foi
comigo. Eu estava esperando fazer cinquenta coisas, mas quando eu ouvi aquela
palavra ‘Olhe!’, que palavra fascinante ela pareceu a mim. Oh! Eu olhei até
quase não poder tirar os olhos! Então a nuvem se foi, as trevas foram
retiradas, e naquele momento eu vi o Sol”.
APLICAÇÕES
1. Reconheça que seus
pecados não te levarão a nenhum outro lugar que não seja o vale da sombra da
morte e clame ao Senhor por misericórdia, pois, um coração quebrantado e
contrito o Senhor não despreza (Sl 51.17). Vá até ele com lágrimas de
arrependimento e Ele transformará teu pranto em riso ao salvar você da
condenação e da morte.
2. Compreenda que no
sacrifício na cruz havia um inocente que foi maltratado no lugar dos homens
pecadores. Ao contemplar a imagem do crucificado, saiba que sobre os seus
ombros residiam os teus pecados e não os d’Ele. Ele sempre foi e sempre será o
Santo dos santos. Jesus recebeu o castigo que nos traz a paz e pelas suas
chagas somos sarados (Is 53.5). Creia nisso e confesse que o Filho de Deus é
teu redentor e teu senhor.
3. Olhe com os olhos da fé
para Jesus, deixe tudo para trás e siga-o. Quer a cura? É simples, olhe para
cruz e creia em Cristo. Você não precisa fazer nenhum ato de penitência. Não há
trabalho para te fazer livrar do pecado. Olhe para Jesus e veja o fardo ser
desatado de suas costas e rolar morro abaixo. Aos pés da cruz você encontrará
vida e paz. Aos pés de Cristo você terá perdão e purificação. Olhe! Olhe! Olhe
para cruz e siga a Jesus Cristo!