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2 de mar. de 2016

Por Uma Cosmovisão Cristã

Por Thomas Magnum

O tipo de óculos que usamos faz muita diferença. Calma. Não iremos falar das últimas tendências da moda para uso de acessórios, nem pretendemos fazer uma abordagem oftalmológica. Trataremos um pouco sobre a importância da cosmovisão, a forma em que vemos o mundo ou a nossa percepção dele. Também não se refere a um mero olhar, mas, a nossa capacidade de absorção, análise e emprego do que nos envolve, e em nosso caso a relevância do cristianismo para todas as esferas da vida.

A igreja tem uma missão, sua missão está pautada no que a Palavra de Deus revela. No entanto, é notório percebermos como existe uma disparidade entre o que muitos cristãos creem e no que eles vivem. Há uma crença geral (errônea) em que o cristão tem uma vida sagrada e outra secular. Há uma defesa de que o sagrado é somente aquilo ligado as atividades diretas da igreja como organismo e instituição. No entanto não temos essa distinção nas Escrituras Sagradas. Um dos importantes ensinos resgatados na reforma protestante foi o da vocação, do sacerdócio universal de todos os crentes. A vocação não está restrita somente ao pastor, ao mestre ou a todo que está ligado ao trabalho interno da igreja, mas, também, ao advogado, ao médico, ao psicólogo, ao jornalista, ao engenheiro. O entendimento da vocação nos leva a compreensão de que todas as nossas atividades são para glória de Deus. A cosmovisão bíblica propõe pensarmos o mundo de forma cristã, sem uma antiga abordagem grega de matéria e forma, ou uma desenvolvida visão platônica de natureza e graça, separando em dois andares, inferior e superior àquilo que Deus estabeleceu de forma integral para seu povo. Para o cristianismo bíblico não há uma dualidade entre a fé e nossa ação no mundo. Fomos chamados para ser sal da terra e luz do mundo. Notemos que não podemos empregar um entendimento abismal transcendente para a igreja, como se ela não devesse se engajar em nada desse mundo, percebamos que somos sal da terra, estamos na terra e luz do mundo, estamos no mundo; mundo criado por Deus. A missão está em glorificarmos a Deus em todas as esferas de atuação em que estivermos inseridos.

Vamos a uma definição de fato: Cosmovisão é totalidade da forma que vemos o mundo, é a nossa percepção de mundo. Essa visão nos leva inevitavelmente a uma práxis. A cosmovisão tratará ou causará problemas teológicos, antropológicos, sociológicos, espirituais e psicológicos no homem. Somente a cosmovisão cristã possui a compreensão da realidade total da criação e da criatura. Sem uma cosmovisão que tenha base na revelação de Deus que é a verdade total (Jo 8.32,26; Jo 14.6; Rm 3.11), o homem não terá uma correta e ampla percepção da realidade e do significado da vida. O evangelho não nos foi dado apenas para sermos libertos do pecado e redimidos para salvação, nos foi dado para vivermos conforme Deus planejou, de forma a glorificá-lo em nosso viver. E esse viver não está restrito a vida dentro dos parâmetros da igreja, mas, nossa adoração a Deus deve permear todas as nossas atividades.

Uma cosmovisão reformacional será teocêntrica. Deus é o centro, é o ponto primeiro e último para pensamos sobre o mundo – ciência, artes, política, família, sociedade, trabalho, sexo, relacionamentos. Deus é a origem e a finalidade de tudo que há. A visão antropocêntrica tem invadido o mundo desde lampejos da renascença e posteriormente do Iluminismo, a visão teocêntrica que era forte no mundo ocidental por conta da igreja foi sendo abandonada e esquecida. As consequências disso têm sido incalculáveis.

Ao tratarmos do assunto estamos sobre bases bíblicas dos mandatos em Gênesis 1.26-30. Esses mandatos dados ao primeiro casal no Éden são para nós ainda hoje. O domínio sobre a criação, o mandato para multiplicar-se e sua vida voltada para adoração e glória do Criador são preceitos que todo cristão deve observar. Nossa vocação deve ser para glória de Deus, nossa família e relacionamentos devem ser moldados pelas Escrituras que consequentemente renderão glória a Deus e não de menos importância nosso culto, seja ele individual, familiar ou público é prescrito pela Escritura para nosso bem, para seguirmos conforme Deus tem revelado em sua Palavra.

A percepção reformada de mundo tem sua base na teologia do pacto. Um pacto que é soberanamente administrado. Esse pacto envolve os deveres e benefícios graciosos dados ao povo eleito descritos na revelação. A teologia bíblica é orgânica e progressiva, mostrando em toda a revelação que o homem deve viver com base naquilo que foi dado por Deus em sua lei. A cosmovisão com essa base pactual, vai atentar para os mandatos pactuais – cultural, social e espiritual descritos nos primeiros capítulos do livro do Gênesis. Esses mandatos não foram retirados do povo da aliança, eles permanecem, ainda que a queda tenha causado uma tensão quanto a eles. A tensão ocorre por causa na nossa natureza do caída. Mas no processo revelacional de Criação, queda, redenção e consumação, é evidente na Escritura, o ensino de que devemos guardar estes mandatos. Logo, temos tanto uma missão de preservação da família (no mandato social) quanto nas tarefas sociais (mandato cultural) como: arte, política, vida intelectual, negócios, administração de bens materiais etc., também com os dois mandatos anteriores o mandato espiritual. Nossa vida piedosa, a vida religiosa, vivida com o fim de glorificar a Deus em nosso culto. É importante notar que a palavra culto deu origem a cultura, temos o dever de glorificar a Deus em todas as áreas da vida, como nos diz a primeira pergunta do breve catecismo de Westminster:

PERGUNTA 1: Qual é o fim principal do homem?

RESPOSTA: O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre.

O catecismo assevera o que foi registrado pelo autor do texto sagrado:

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus”.

1 Coríntios 10:31

Notemos que nas coisas mais básicas da vida como comer e beber devemos glorificar a Deus, quanto mais em nossas atividades diárias, ministeriais, profissionais, familiar e até no lazer? A cosmovisão cristã não abraça o ideal grego de um hiato entre natureza e graça, mas, pelo contrário o cristianismo bíblico dirá que toda a atividade humana do povo da aliança será para glória de Deus. Percebamos que isso gera um impulso para uma melhora nas esferas de atuação humana como no campo do conhecimento, notemos aqui a influência do cristianismo no crescimento da ciência e na revolução cientifica, percebamos a influência do cristianismo a difusão da informação como na reforma em que as teses de Martinho Lutero foram rapidamente espalhadas pela Alemanha e Europa, percebamos a importância do Cristianismo na fundação de universidades e aqui cito algumas fundadas por protestantes como Yale e Oxford e bem próximo de nosso contexto a Universidade Presbiteriana Makenzie e também a contribuição do Catolicismo na educação e na fundação de universidades e escolas. O cristianismo é importante para a história do mundo. O que dizer da influência do cristianismo na arte como nas pinturas de Rambrandt ou nas músicas de Bach? Não se pode negar que tudo isso faz parte da cosmovisão cristã influenciando o mundo e essa influência gera progresso e crescimento tanto nos níveis educacionais, econômicos, culturais e políticos. A religião cristã é de fato e isso não pode ser negado vital para a saúde social do mundo. A moral cristã, o zelo pela família, pela ordem, pela honestidade, pela vida humana, pela justiça são fatores que o cristianismo plantou no mundo.

A cosmovisão gere todo curso social, político e ideológico do mundo. Francis Schaeffer nos diz:

Existe um fluxo para a História e para a Cultura. E o modo de pensar das pessoas é o fundamento e a fonte deste fluxo. As pessoas são únicas no mundo interior da mente – o que elas são em seu mundo de pensamentos determina como elas agem. Isso é verdade tanto para o seu conjunto de valores quanto o é para a sua criatividade. É verdade para as suas ações coletivas, tais como suas decisões políticas, e é verdade para sua vida pessoal. As consequências da sua visão de mundo fluem por entre os seus dedos ou por meio da sua língua em direção ao mundo de fora. É verdade tanto para o formão de Michelangelo quanto para a espada de um ditador.

Não deve passar batida a importância do que Schaeffer está dizendo, “as pessoas são únicas no mundo interior da mente”. Notemos que tudo que vier a ser realizado no mundo físico teve precedência na mente, tudo que a sociedade é, é fruto de cosmovisões. Schaeffer continua dizendo que “As consequências da sua visão de mundo fluem por entre os seus dedos ou por meio da sua língua em direção ao mundo de fora. É verdade tanto para o formão de Michelangelo quanto para a espada de um ditador”. As consequências da visão de mundo irá se esvair pela língua e pelas mãos, irá entrar no mundo físico, no que se refere à funcionalidade e sociabilidade das ideias e o emprego delas para outros homens, pelo que falamos e como agimos, mas, antes da fala e da ação houve a formação dessa percepção de mundo na mente, que é a cosmovisão. O cristianismo tem uma cosmovisão, e que é direcionada por Deus em sua Palavra, a Bíblia Sagrada. Por tais motivos o cristianismo não é alienante, pelo contrário ele elucida e clareia o mundo: vós sois o sal da terra e a luz do mundo, disse Jesus. Como cristãos devemos lutar por uma cosmovisão bíblica e pautada na revelação de Deus, sua Santa Palavra, a Bíblia.

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