Por Thomas Magnum
O que
conhecemos como motivo básico cristão é a linha histórico/redentiva de:
Criação/Queda/Redenção. A importância dessa questão se expande por toda
teologia reformada como uma importante questão para uma hermenêutica redentiva.
O importante livro: A Missão de Deus de
Christopher
J. H. Wright, nos mostra que há uma linha hermenêutica missional
nas Escrituras, sua abordagem é uma excelente defesa do método
histórico/redentivo para uma perspectiva missional. Podemos dizer que o lastro
é bem maior que não se aplica somente a o pensamento missiológico ou a teologia
da missão, mas, o motivo básico cristão se aplica as mais variadas áreas da
teologia e da cosmovisão cristã e a todas as atividades exercidas pela igreja.
Muito
se tem debatido no Brasil sobre questões políticas devido aos freqüentes
escândalos envolvendo importantes nomes do governo nacional. O crescimento da
inflação causa interesse no povo pela informação econômica, o fato é que quando
temos alterações em nosso bolsos é quando nos interessamos mais em entender de
economia, na verdade na maioria das vezes perdemos o tempo, a banda passou
enquanto o país estava numa doce ilusão
semelhante a Alice nos País das
Maravilhas. Enquanto era dito que os cofres públicos estavam muito bem,
obrigado, e muito da riqueza do país estava indo para vários lugares menos para
o crescimento do país, enquanto não afetava diretamente os bolsos do povo, as
multidões nesse Brasil varonil não se preocupavam com política, nem com o que
se estava fazendo com verbas e mais verbas em apoio a conchavos políticos na América Latina com interesses escusos
que são uma realidade quase sendo esfregada no rosto de cada brasileiro. Enfim,
perdoe-me a divagação, mas, o crescente interesse político por um dos lados é
porque estamos sendo extremamente prejudicados diretamente. Mas por outro lado
existe um crescente interesse de cristãos principalmente jovens, por política.
O que preocupa é que tais interesses não são regados por um olhar teológico e
consequentemente acarretará erros na formação de um pensamento político.
Podemos
exemplificar isso de forma muito simples, a teologia reformada tem trabalhado
questões relacionadas à cosmovisão cristã de forma muito importante, isso é
resultado da ênfase dada pelos reformadores na vocacionalidade dos crentes ou
ao que conhecemos como sacerdócio universal de todos os crentes. Essa vocação
se estende a todas as áreas de atuação da vida e conhecimento humano. Francis
Schaeffer dizia que o Marxismo é uma heresia cristã porque tem um fim
soteriológico que é empregado no proletariado que atua como um messias que
trará a igualdade através da revolução. Temos aqui uma substituição do Cristo
como libertador, resgatador, redentor dos eleitos. Temos uma distorção da
redenção.
Ao termos o motivo básico cristão: criação - queda - redenção, podemos avaliar toda e qualquer ideologia ofensiva ao homem pelo homem. Quando o ideal criacional é subjulgado por ideologias que acabam tendo também um motivo básico que confrontam com o motivo cristão o sistema entra em colapso com a realidade última do telos humano. Ao termos uma substituição do conceito de queda, se corrompe o conceito de justiça na sociedade e quebra o sentido de juízo do crime e da maldade seja pelo poder despótico seja no âmbito civil/jurídico. E ao substituirmos o conceito redentivo teremos um messianismo ideológico que tomará assento soberano com ideologias totalitárias detonando os conceitos de liberdade seja na religião, educação, economia, arte, etc. Quando o conceito da redenção é substituído por uma ideologia automaticamente temos um ato idolátrico.
Ao termos o motivo básico cristão: criação - queda - redenção, podemos avaliar toda e qualquer ideologia ofensiva ao homem pelo homem. Quando o ideal criacional é subjulgado por ideologias que acabam tendo também um motivo básico que confrontam com o motivo cristão o sistema entra em colapso com a realidade última do telos humano. Ao termos uma substituição do conceito de queda, se corrompe o conceito de justiça na sociedade e quebra o sentido de juízo do crime e da maldade seja pelo poder despótico seja no âmbito civil/jurídico. E ao substituirmos o conceito redentivo teremos um messianismo ideológico que tomará assento soberano com ideologias totalitárias detonando os conceitos de liberdade seja na religião, educação, economia, arte, etc. Quando o conceito da redenção é substituído por uma ideologia automaticamente temos um ato idolátrico.
Toda
cosmovisão está fundamentada em um motivo básico, por isso toda ideologia tem
reais intenções redentivas, alterando o sentido de pecado e provavelmente o
transferindo para um outro ponto que representará a culpa que não seja o
próprio homem, mas, a fatores externos e que não estão sob seu controle, a
solução para esse ideário será uma alternativa redentiva como no caso do
marxismo que totalitariza o Estado ou no caso do Liberalismo que põe o homem
entronizado. Temos como segue um exemplo disso.
Veja
que a visão Totalitária tem o Estado como cabeça, na análise das demais visões
vemos que o motivo básico é evidentemente corrompido também. Ao corromper a
perspectiva criacional também se corrompe o conceito de queda e de redenção e
se sobrepõe esses conceitos, com alternativas que tomam o lugar deles, mas,
exercendo a mesma função na cosmovisão. Como nos diz o professor David T.
Koysis:
A maior parte dos movimentos
políticos tenta recrutar entusiastas com lemas concisos e populares que ficam
bem na faixa e soam bem nos lábios de que marcha pelas ruas. “Liberté, égalité,
fraternité!” “Vida, liberdade e busca da felicidade!” “Trabalhadores do mundo
inteiro, uni-vos” “Todo poder para o povo!” Estas bandeiras têm a vantagem de
ser facilmente compreendidas, de simplificar o que é complexo em vista de uma
finalidade política. Contudo, elas também enganam seus potenciais seguidores,
levando-os a crer que a salvação é um assunto simples – mera questão de, por
exemplo, proclamar a emancipação, garantir os direitos do povo, decretar a
prosperidade universal ou legislar para acabar com a pobreza, a opressão, os
sem-teto e assim por diante. Junto com tudo isso, vem também a tendência a
pressupor que fazer justiça significa
apenas remover os obstáculos que se interpõe no caminho dela; depois disso, a
“sociedade justa” surgirá sem nenhum esforço, como que por encanto. Talvez o exemplo mais famoso dessa filosofia
seja o postulado marxiano de que um breve episódio revolucionário pelo qual o
proletariado exproprie os bens da burguesia poderá produzir imediatamente a
sociedade sem classes[i].
Não
se poderá ter uma correta percepção se não identificarmos como cristãos o
motivo básico que rege a vida humana e todas as esferas que a cercam. Fica
claro que quando temos uma falsa concepção do homem e do que ele é e em seu
estado alocado num contexto social e psicológico apontado pela realidade
descrita nas verdades da revelação de Deus, que é a única forma que o mostrará
quem realmente ele é ontologicamente, pelo fato de que ao se retirar da
conjuntura social o conceito bíblico de Queda temos uma erupção de desordem e
um alargamento da maldade descontrolada, temos uma barbárie.
Diferenças na visão da natureza
humana refletem-se em diferenças na visão dos processos sociais. Isso não
significa apenas que os processos sociais são vistos como atenuadores das
fraquezas da natureza humana em uma visão e como agravadores em outra. A
própria forma de funcionar e de não funcionar dos processos sociais é vista de
modo diferente [...] Os processos sociais englobam uma enorme gama de
elementos, do idioma à guerra, do amor aos sistemas econômicos[ii].
Ainda
podemos nos aperceber disso de forma mais clarificada no que nos diz o filósofo
holandês Herman Dooyeweerd que
O Motivo básico da religião
cristão – criação, queda e redenção por meio de Cristo Jesus – opera por meio
do Espírito de Deus como força motriz na raiz religiosa da vida temporal. Assim
que toma conta de nós por completo, promove uma conversão radical da nossa
posição diante da vida e de toda a concepção da vida temporal. A profundidade
dessa conversão só pode ser negada por aqueles que não conseguem fazer justiça
à integralidade e do caráter radical do motivo básico cristão. Aqueles que
atenuam a antítese absoluta, buscando inutilmente ligar esse motivo básico
cristão aos das religiões apóstatas, acabam de fato tomando parte nessa
negação.
Mas aqueles que, pela graça,
chegam ao verdadeiro conhecimento de Deus e deles próprios, inevitavelmente
vivenciam a libertação espiritual do jugo e do fardo do pecado sobre a concepção
que têm da realidade, mesmo sabendo que o pecado não deixará de existir em suas
vidas. Eles percebem que nada na realidade criada fornece alicerces nem uma
base sólida para a existência. Compreendem como a realidade temporal e seus
aspectos e suas estruturas multifacetadas e cheias de nuances estão
concentrados como um todo na comunidade
básica religiosa da dimensão
espiritual da humanidade. Veem que a realidade temporal procura incansavelmente
sua origem divina no coração humano, e compreendem que a criação não pode
descansar até que ela descanse em Deus[iii].
A
compreensão e a defesa que a teologia reformada faz do motivo básico e de uma
cosmovisão que tem suas raízes na teologia do pacto são a melhor alternativa
teológica para uma leitura de mundo genuinamente cristã, o calvinismo tem
refletido numa base teológica solidificada pelas Escrituras e que Deus é
soberano sobre a criação e sobre todas as esferas que existem nela que Ele
mesmo criou e designou o homem para cumprimento dos mandatos da criação. Portanto
observando toda e qualquer ideologia político/social notamos uma deformação dos
mandatos criacionais – Espiritual, Social e Cultural. Kuyper nos elucida sobre
as teses calvinistas de governo:
1
– Somente Deus – e nunca qualquer outra criatura – possui direitos soberanos
sobre o destino das nações, porque somente Deus as criou, as sustenta por seu
grande poder, e as governa p0r suas ordenanças.
2
– O pecado tem, no campo da política, demolido o governo direto de Deus, e por
isso o exercício da autoridade com o propósito de governo tem sido
subsequentemente conferido aos homens como um remédio mecânico.
3
– E, em qualquer forma que esta autoridade possa revelar-se, o homem nunca
possui poder sobre seu semelhante em qualquer outro modo senão por uma autoridade
que desce sobre ele da majestade de Deus[iv].
A
Soberania das Esferas é a forma ideal de compreendermos o motivo básico cristão
de Criação – Queda – Redenção. Mas vejamos então o que é Soberania das Esferas,
nos diz Solano Portela que
Em resumo, ele ensina
que cada instituição criada por Deus (a família, a escola, o estado),
possui uma área específica de autoridade e regência, ou seja, são esferas bem
delimitadas e específicas.
Isso não significa que tais esferas sejam autônomas. Ainda que independentes, cada uma deve responder a Deus, o doador desta autoridade. A soberania de cada uma quer dizer que elas não devem usurpar ou interferir na autoridade da outra esfera. Cada uma dessas esferas, autoridades em si, é responsável por sua missão e pelas suas ações, na providência divina, perante Deus.
Por exemplo, no caso de uma
escola cristã, ela deve entender que não usurpa a autoridade da família, nem da
igreja. Muito menos substitui essas outras esferas, mas deve trabalhar
conjuntamente, em colaboração e respeito. A esfera da escola, e nisso ela tem
autoridade, é ministrar conhecimento, sendo responsável, perante Deus, de
transmitir esse conhecimento reconhecendo o Criador em todas as áreas do saber[v].
Com
esse esclarecimento podemos ilustrar a importância do motivo básico cristão da
seguinte forma
Nos
diz o falecido teólogo bíblico do Antigo Testamento Gerard Van Gronigen que
Era para o homem e a mulher
exercitarem suas prerrogativas reais governando sobre o cosmos, desenvolvendo-o
e simultaneamente mantendo-o. Todas as formas de vida na terra foram, de forma
específica, colocadas sob a supervisão dos vice-gerentes humanos. Com esta
responsabilidade, veio o privilégio de usar plantas, seus frutos e sua semente
para manter a vida e a energia para realizar as tarefas reais. A humanidade
poderia responder obedientemente ao mandato cultural para a glória de Deus por
causa da sua criação à imagem e semelhança de Deus. Deus, por meio da sua
exposição deste mandato, colocou a humanidade em um relacionamento de
governador sobre o domínio cósmico. Mas este governo envolvia trabalho. O
trabalho é, consequentemente, tanto um privilégio real como também uma
responsabilidade[vi].
Essa
é a importância de compreendermos a política a luz das Escrituras, há um mandato
cultural que envolve nossa atividade nas esferas criadas por Deus, essa
responsabilidade cultural não se esvaiu com o pecado, certo é que após a queda
o pecado afeta totalmente a percepção de mundo e sobre a vontade de Deus que
Adão e Eva tinham e o que sua semente teve e o que temos hoje, toda maldade,
depravação moral, aversão a religião e a verdade é decorrente do pecado. Ao
identificarmos que Deus é criador e soberano e que em todas as esferas deve ser
Ele glorificado, precisamos entender um pouco mais sobre a Soberania das
Esferas e sua relação com o Estado.
Num sentido calvinista nós
entendemos que a família, os negócios, a ciência, a arte e assim por diante,
todas as esferas sociais que não devem sua existência ao Estado, e que não
derivam a lei de sua vida da superioridade do Estado, mas obedecem uma alta
autoridade dentro de seu próprio seio; uma autoridade que governa pela graça de
Deus, do mesmo modo como faz a soberania do Estado.
Isso envolve a antítese entre o
Estado e a Sociedade, mas com a condição de não concebermos esta sociedade como
um conglomerado, porém como analisada em suas partes orgânicas, para honrar, em
cada uma destas partes, o caráter independente que pertence a elas.
Neste caráter independente está
necessariamente envolvida uma autoridade superior especial, a que
intencionalmente chamamos de soberania nas esferas sociais individuais, a fim
de que possa estar claro e
decididamente expresso que estes
diferentes desenvolvimentos da vida
social nada tem acima deles exceto Deus, e que o Estado não pode
intrometer-se aqui e nada tem a ordenar em seu campo. Como vocês imediatamente
percebem, esta é a questão profundamente interessante de nossas liberdades
civis[vii].
As
Esferas de Soberania nos mostram e garantem a liberdade das instituições civis
e também sua dever para com Deus que é o soberano sobre todas as esferas
sociais. Gostaria de destacar aqui alguns pontos importantes no pensamento de
Kuyper sobre uma teoria política reformada calvinista.
-
A Liberdade: O
calvinismo levou a lei pública a novos caminhos, primeiro na Europa Ocidental,
depois nos dois Continentes, e hoje mais e mais entre todas as nações
civilizadas, é admitido por todos os estudantes científicos, se não ainda
plenamente pela opinião pública.
-
A Visão Abrangente da Soberania de Deus –
Este princípio dominante não era, soteriologicamente, a justificação pela fé,
mas, no sentido cosmologicamente mais amplo, a Soberania do Deus Trino sobre
todo cosmos, em todas as suas esferas e reinos, visíveis e invisíveis. Essa é
uma soberania primordial que se irradia na humanidade numa tríplice supremacia,
a saber:
-A Soberania do Estado
-A Soberania da Sociedade
-A Soberania da Igreja
Portanto
teremos alguns princípios do mandato cultural relacionado à política.
1-Deus é o grande Soberano e todo governo pertence a Ele;
2-Todo governo humano deve estar submisso a Deus, pois seu poder foi delegado pelo próprio Deus;
3-Todo governo deve atentar para os mandamentos de Deus, tais mandamentos são a expressão da vontade de Deus, seja por expressa aplicação ou aplicação por principio;
4-A humanidade foi criada à imagem e semelhança de Deus, por isso deve ser governada com dignidade, liberdade e integralidade.
1-Deus é o grande Soberano e todo governo pertence a Ele;
2-Todo governo humano deve estar submisso a Deus, pois seu poder foi delegado pelo próprio Deus;
3-Todo governo deve atentar para os mandamentos de Deus, tais mandamentos são a expressão da vontade de Deus, seja por expressa aplicação ou aplicação por principio;
4-A humanidade foi criada à imagem e semelhança de Deus, por isso deve ser governada com dignidade, liberdade e integralidade.
Conclusão
O
crescente interesse pela política no Brasil, também por parte de cristãos tem
se dado ao estado caótico da moral parlamentar e do desmoronamento econômico no
país com grandes escândalos recorrentes como mensalão, petrolão e tudo que tem
decorrido das mazelas da ideologia socialista que tem herdado o Brasil. O
calvinismo tem uma teoria política que pode atender a uma demanda para esse
país, precisamos de crentes versados nas ciências sociais e teologicamente
orientados para lerem suas áreas de conhecimento com lentes bíblicas e
centralizadas em Cristo e na redenção. O motivo básico cristão é a melhor forma
de contribuirmos para um crescimento no país. A Igreja deve estar envolvida nisso
e sair do gueto teológico e aplicar sua teologia a realidade do mundo, devemos debater,
estudar, mas, devemos empregar isso e não nos perdermos em discussões que não saem
da internet, da academia e dos seminários. A Igreja pode fazer algo, atentemos para
a Escritura.
[i] Visões e Ilusões Políticas, ed. Vida
Nova, 2014, p.319.
[ii]
Thomas Sowell, Conflitos de Visões –
Origens Ideológicas das Lutas Políticas, p. 83 – Ed. É Realizações
[iii] Herman
Dooyeweerd, Raízes da Cultura Ocidental,
Ed. Cultura Cristã, 2015, p.55.
[iv]
Abraham Kuyper, Calvinismo, Ed.
Cultura Cristã, 1ª edição 2002, p.92
[v] Solano
Portela, Artigo publicado no blog – O Tempora, O Mores.
[vi]
Gerard Van Groningen, Criação e Consumação,
vol.1. Ed. Cultura Cristã, p.90.
[vii] Calvinismo,
p.98.