Por Pedro Pamplona
Nesse último domingo o quadro
“Chefe Secreto” do Fantástico mostrou um bom testemunho cristão por parte de um
funcionário. A ideia do quadro é inserir o diretor da empresa disfarçado entre
seus funcionários. A proposta é realmente excelente, ajudando a diretoria a
perceber como seus funcionários trabalham e podem ser melhor ouvidos. Assista
ao vídeo nesse link. Em meio ao disfarce o patrão ouviu um conselho sincero de um
colega de profissão: “Quando vocês forem fazer alguma coisa procura
fazer como vocês tivessem fazendo pra Deus. Você vai fazer sempre o seu melhor”.
(tempo do vídeo 11:12)
O conselho bíblico baseado
Colossenses 3:23 e Efésios 6:5-7 emocionou o chefe e muitos que assistiram ao
quadro. Fiquei muito feliz ao ver que uma postura cristã foi tomada e
influenciou emoções e decisões. Fico feliz por termos uma prova registrada de que
uma pequena atitude, como um simples conselho bíblico, pode fazer uma grande
diferença. E fará ainda mais diferença se nós entendermos plenamente o que
significa esse conselho. Precisamos meditar nisso: O que significa trabalhar ou
fazer tudo como se fosse para o Senhor?
Uma resposta comum e verdadeira é a santidade. Realmente é isso
que também primeiro aparece na minha cabeça. E claro, é verdadeiro. Trabalhar
para o Senhor é trabalhar em santidade, ou seja, principalmente honestidade e
submissão. Isso já faria uma enorme diferença no nosso contexto brasileiro, mas
quero abrir nosso horizonte do pensamento e mostrar outros aspectos que uma
visão bíblica sobre o trabalho oferece sobre esse conselho. Trabalhar como se
fosse para o senhor vai além da santidade. Vejamos como base na criação o que
Deus espera dos seus trabalhadores. Como digo: Trabalhar para Deus
significa trabalhar como Deus trabalhou. Em cada ofício somos chamados a sermos
a sua imagem, exercendo o mandato cultural de dominar sobre a criação.
Deus trabalhou com criatividade
Quando o capítulo 2 de Gêneses inicia com uma conclusão do ato
criador de Deus, antes de partir para a ênfase na criação do homem o autor
destaca a grande obra das mãos de Deus. Percebemos claramente uma referência ao
trabalho criador de Deus na expressão do escritor, principalmente pela
instituição divina do descanso, o que verdadeiramente nos remete a concluir que
Deus estava trabalhando. Sobre a palavra “obra” podemos citar Victor Hamilton:
“A atividade criativa de Deus é
descrita duas vezes como sua obra. O Antigo Testamento usa duas palavras para
labor. A segunda palavra enfatiza o labor que é rústico e amador. A primeira, e
que usamos aqui, indica labor hábil, trabalho que é realizado por um perito ou
artífice. Tal é o alcance do refinamento e da habilidade da obra de Deus.”[1]
Percebemos então que o trabalho
tem sua origem no próprio Deus. As primeiras palavras da Bíblia descrevem seu
perfeito trabalho. Algo criativo, planejado, executado em etapas e bem
estruturado. Assim o trabalhador cristão deve trabalhar, com qualidade e
principalmente criatividade. O trabalho cristão segue o padrão e ordem divina
de criar e transformar a cultura. O trabalhador cristão está em busca de
inovações e contínuas melhorias para todos no ambiente de trabalho. Crie e
transforme!
Deus trabalhou com alegria
Vemos no capítulo 1 de Gênesis que Deus, ao final do dia,
contemplava sua própria criação e tinha prazer nela por ser boa. Percebemos que
Deus trabalhava para produzir coisas boas e que nisso Ele se alegrava e tinha
prazer. Aqui temos algo importantíssimo para nossa cosmovisão. Podemos
responder àquela principal e sentença da cosmovisão secular: O trabalho é um
castigo pelo pecado ou mal necessário? Claro que não. Ele tem sua origem em
Deus e é prazeroso. Tim Keller assim colocou:
“No princípio então Deus
trabalhou. O trabalho não é um mal necessário que adentrou o cenário mais tarde
ou algo que fora criado para os seres humanos fazerem, mas que estava abaixo da
dignidade do poderoso Deus. Não! Deus trabalhou por puro prazer e alegria. O
trabalho não poderia ter tido um início mais glorioso.” [2]
Trabalhar para o Senhor
significa encontrar algum prazer no trabalho e ter alegria nele. Ser grato a
Deus e descobrir como o trabalho pode lhe ajudar a ser uma pessoa melhor faz
parte disso. Se seu trabalho é penoso pense no sustento que ele lhe dá, sempre
existe algo para se alegrar. Um trabalhador cristão não vive triste e irado com
o trabalho, mas buscar fazer coisas boas e influenciar o ambiente com qualidade
e alegria.
Deus descansou
É interessante notar o dia de descanso na criação. Deus não
precisa dele, é um ser que não se cansa. Por qual motivo ele descansou? Porque Deus
sabia que estava trabalhando e que seu padrão de trabalho seria o padrão de
trabalho do seu povo.
Até hoje nossa semana de trabalho é dividida dessa forma, mas nem
sempre foi assim. No Egito, por exemplo, não existia dia de descanso. Por isso
Moisés solicitou a Faraó que desse um dia ao seu povo para descansar e cultuar
a Deus. Os Hebreus já possuíam uma cosmovisão do trabalho diferente por estarem
seguindo o padrão do trabalho de Deus no descanso. Assim, o trabalhador cristão
não é um workaholic, não idolatra o
trabalho e sabe respeitar o seu período de descanso.
Aqui fica uma boa dica para o patrão cristão: Não devemos explorar
os nossos funcionários. Devemos respeitar o seu descanso, para que assim
trabalhem melhor e sejam mais produtivos. Aos empregados, lembre-se que o
descanso foi só de uma dia, não abusem da vontade de Deus para pecar. O
descanso é o preparo para mais trabalho. A preguiça é o preparo para mais
preguiça.
Concluindo…
Unindo esses 3 aspectos à santidade estaremos desenvolvendo um
papel totalmente cristão no trabalho. Não seja santo sem ser bom e criativo.
Não seja santo sem alegria e gratidão. Não seja santo sem descanso. Dessa forma
vamos conseguir atingir a meta do conselho inicial: fazer sempre o melhor. E
tenha certeza, seu patrão, sua empresa e a sociedade vão sentir esse impacto.
Seja exemplo nessas coisas, mas como nosso amigo no vídeo, não deixe de falar e
testemunhar. E que acima de tudo, já que é para o Senhor, que Deus receba toda
a glória de seus trabalhadores.
__________
[1] Victor Hamilton – The Book of Genesis, p 142
[2]
Timothy Keller – Como Integrar Fé e trabalho, p 37