Por Russell D. Moore
Na última Sexta-Feira
cumpri minha promessa de levar meu pequeno rebanho de filhos para assistir o
filme que eles vinham aguardando o ano inteiro: ‘Vingadores: Era de Ultron’. Eu
esperava ter que explicar algumas coisas, como eu faço em qualquer filme, e o
fiz. Houve uma ou outra profanidade. O vilão tinha um certo ‘complexo de
messias’, inclusive com algumas citações do Próprio Messias. Mas o que mais me
surpreendeu foi a centralidade da família nesse filme. E, por família, eu não
estou falando do conceito elástico e redefinido de “famílias”, mas uma afirmação
contracultural da estabilidade da família natural e nuclear.
Deixe-me avisar logo que
vou dar alguns spoilers para quem ainda não viu o filme, mas deixe-me dizer
também que não há nada aqui que vai estragar o filme para você. Na verdade, o
fato de que o que eu vou falar inclui uma “surpresa” da trama é exatamente
parte do meu argumento.
Em certo ponto do filme, o
grupo de super-heróis se encontra fugindo em frangalhos, sem ter onde se
refugia de um Ultron virtualmente onisciente (olha o complexo de Messias
novamente). Até que eles encontram um ponto no mapa onde não poderão ser
achados. É a casa do Gavião Arqueiro, isolada em uma área rural. A grande
surpresa é que, esperando por ele, estão sua mulher e seus filhos. O arqueiro
nunca contou a seus colegas, ou seus superiores, sobre sua família para
mantê-los protegidos de sua vida de perigos.
A ideia de ter uma família
parece chocar a todos. Ninguém sequer havia pensado na possibilidade. Mais
cedo, no filme, quando o Gavião Arqueiro tem uma ferida restaurada por meio de
pele regenerada (alerta de spoilers novamente, me perdoe), a doutora fala “Nem
a sua namorada vai perceber a diferença”. Em uma das cenas mais comoventes do
filme, a esposa do arqueiro passa a mão em seu abdômen e diz “eu consigo perceber
a diferença”. Essa não é uma namorada. Isso é uma só carne, mente e corpo, uma
esposa e seu marido.
Além disso, a casa é um
refúgio. Com todo o caos acontecendo no mundo ao redor, essa casa, cheia de
crianças correndo e peças de Lego espalhadas pelo chão, é um lugar de paz. É,
como Cristopher Lasch costuma dizer, “um porto seguro em um mundo sem alma”.
Até mesmo Bruce Banner parece tranquilo nesse lugar (e nós saberíamos
imediatamente se ele estivesse nervoso). Ao contrário do Super-Homem, a
fortaleza desses heróis não é de solidão.
A vida de marido e pai do
Gavião Arqueiro não é vista como algo que diminua seu heroísmo. É algo
apresentado quase que como um luxo, algo a ser invejado, aspirado. Mais tarde,
no filme, a Viúva Negra revela que parte de seu treinamento envolveu sua esterilização.
Isso é visto como uma profunda perda. O Capitão América olha para a vida do
Arqueiro e se pergunta se a possibilidade de ter algo parecido morreu quando
ele foi enterrado no gelo durante a Segunda Guerra.
É interessante que a vida
familiar “tradicional” do Arqueiro é vista como contracultural, no melhor
sentido do termo. Pelas últimas duas ou três gerações, os heróis da cultura
popular estiveram tentando escapar da “conformidade” engessada da família
nuclear. Nesse filme, entretanto, a conformidade parece ser namorados,
encontros e, implicitamente, sexo e romance, mas não casamento e família. Uma
família de marido, mulher e filhos é mais surpreendente que robôs com
inteligência artificial, animação suspensa e monstros de radiação Gama.
Talvez isso seja um sinal
de um desejo por algo diferente. Como já disse muitas vezes antes, a Revolução
Sexual não consegue cumprir suas promessas. O colapso das famílias não traz a
liberação que alguns esperavam. Aqueles de nós que acreditam nos antigos
caminhos precisam nutrir esses hábitos e práticas, não apenas em obediência a
Deus e não apenas para o nosso próprio florescimento, mas pelo bem das próximas
gerações. Famílias projetadas de acordo com o padrão de Cristo serão algo
estranho e até absurdo, mas, às vezes, o estranho e absurdo é exatamente o que
as pessoas estão buscando. De fato, amor, casamento e família: às vezes até os
super-heróis precisam do que eles nem imaginavam que queriam.
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Fonte: Reforma 21