Por Thiago Oliveira
A Grande Tribulação ou A Queda de Jerusalém (Mt 24: 15-21)
Devemos lembrar que o discurso de Jesus tem por base o
questionamento duplo feito pelos discípulos. De início sua resposta tenta
corrigir o equívoco de seus interlocutores, que achavam que a parousia aconteceria logo após a
destruição de Jerusalém, por isso vai falar que o que está para acontecer com
Jerusalém e também outros eventos no decorrer da história são apenas o começo
das dores.
Agora Jesus começa a falar mais especificamente sobre o cerco de Jerusalém (a primeira pergunta), que sucumbiu no ano 70 a.C. Utilizando-se de uma profecia de Daniel 11.31; 12.11 que fala sobre a “abominação da desolação”, Cristo remonta a um fato que aconteceu muito tempo antes, quando Antíoco Epifânio (175-164 a.C.) sacrificou um porco no altar do holocausto. A alusão é a de que a mesma profanação acontecerá quando os soldados romanos, que trazem a insígnia do Imperador adorado como um deus, cercarem a cidade (cf. Lucas 20.21).
Diante do que acabou de revelar, a
exortação do Senhor é que os seus discípulos deveriam fugir da cidade para os
montes. Deveriam deixar o que estivessem fazendo, deixar para trás suas
propriedades e fugirem para salvar as suas vidas. Jesus, diante da calamitosa
situação, se apieda das grávidas e das que amamentam. Também revela como será
difícil se tal cerco ocorrer num dia de inverno ou durante o Sábado. Os motivos
da dificuldade seriam, respectivamente: a)
No inverno é um período de chuvas e existe a possibilidade de neve nos montes,
local que Jesus indicou para que se abrigassem. b) durante o Sábado, muitos
encontrariam resistência ou até mesmo falta de ajuda ao tentarem sair da
cidade, pois boa parte da população não realiza nenhum tipo de trabalho neste
dia.
A tribulação referida no versículo 21 não deve ser
entendida como aquela tribulação revelada ao apóstolo João e registrada em
Apocalipse 7. A queda de Jerusalém é descrita aqui como uma tribulação sem
equivalentes históricos. Embora a história registre diversas coisas horrendas,
como a peste negra, holocausto nazista e outras calamidades, o evento do ano 70
a.C. registrado por Josefo no livro Guerra
dos Judeus relata que mães matavam seus bebês e o comiam. Idosos eram
espancados até a morte para que lhe roubassem os mantimentos. Todavia, o que
torna mais grave este evento é que se tratou do fim da dispensação da nação de
Israel como sendo a portadora da revelação especial. Israel foi rejeitada por
Deus por ter rejeitado o seu Filho. Os cristãos, segundo sustentam diversos
comentaristas e historiadores eclesiásticos, como Eusébio, conseguiram fugir do
cerco por estarem atentos aos sinais preditos por Cristo cerca de quarenta anos
antes.
A Vinda do Filho do Homem (Mt 24:
22–33)
Muitos especialistas em Novo Testamento, como D.A. Carson,
entendem que a tribulação abreviada não é referente à destruição de Jerusalém,
mas sim a perseguição mais ampla que antecederá a vinda gloriosa do Filho do
Homem. Um dos argumentos para isso, mesmo não sendo definitivo é no mínimo
convincente, aponta para o fato de que os eleitos são compostos por pessoas de
todos os povos (cf. Ap 5:9). A perseguição, ou seja, tribulação vai ser
experimentada por todos os que compõem o Corpo de Cristo. Os
dispensacionalistas estão equivocados ao ensinarem que a Igreja não padecerá e
será arrebatada antes da grande tribulação assolar a terra. Não há respaldo
bíblico e nem histórico para tal ensino, uma vez que os cristãos sempre
padeceram pela sua fé.
Durante o período atribulado, os pseudo-cristos e os
pseudo-profetas aparecerão fazendo sinais milagrosos que se fosse possível
enganariam os eleitos. Uns dirão que eles estão no deserto. Outros dirão que
estão em quartos, aparentes para um grupo minoritário. Todavia, sua vinda será
como um relâmpago no céu. Cristo será visto no céu por todo habitante deste
planeta. Quando chegar o momento oportuno ele virá. Tal como os abutres sabem
quando existe um corpo apodrecendo, Jesus Cristo saberá exatamente o momento em
que virá para julgar as nações e buscar a sua Igreja para habitar com ele em
seu Reino glorioso.
O versículo 29 fala de portentos cósmicos que não saberemos
precisar o quanto há de literalidade neles. O estilo profético é repleto de
linguagem figurativa, todavia, mesmo que se tratem de metáforas para
acontecimentos políticos, o certo é que haverá um cumprimento desta Palavra.
Jesus utiliza o mesmo estilo dos profetas de Israel. Usando a parábola da
figueira, que quando renova seus ramos é chegado o verão, Cristo alega que
quando os sinais forem evidenciados no céu, a sua chegada pode ser dada como
certa.
A Palavra De Cristo não Passará (Mt
24: 34-35)
O versículo 34 é, talvez, o que gere maior dificuldade para
ser interpretado. Afinal, a quem Jesus se refere quando diz “esta geração”? E
quanto a expressão “todas estas coisas”? Uma forma de se interpretar é aludindo
a questão de que geração, no sentido usado pelos judeus, é um termo mais
abrangente e que pode remeter a “raça” e não apenas aos contemporâneos dos
discípulos. Ou seja: os judeus não seriam exterminados quando os romanos
trouxessem a devastação. Eles sempre haveriam de existir para observar cada um
destes sinais.
A outra maneira de se interpretar esse trecho é aludindo ao
que Jesus havia dito sobre o princípio das dores. Aquela geração viria todos os
sinais que precedessem a tomada de Jerusalém, e este evento é o evento
inaugural para que comesse a contagem regressiva para a parousia. Não que aquela geração viva no ano 30 d.C. viria tudo o
que aconteceria na história até que Jesus surgisse dentre as nuvens, mas que
ela veria os sinais do acontecimento que marcaria o princípio do fim.
O versículo 35 é uma expressão que
deve nos trazer conforto, pois não seremos enganados por palavras vãs. Jesus
não mente e nem está equivocado. Tudo o que ele disse acontecerá. Devemos nos regozijar
por termos sido avisados de antemão. Nada (perseguição, catástrofes, fome) deve
nos pegar de surpresa. Fomos avisados pelo nosso Senhor. Portanto, estejamos
atentos e vigiemos.
Vigilância
(Mt: 36-51)
A volta de Cristo, mesmo não sendo eminente,
i.é. acontecerá mesmo sem que os sinais ditos por ele serem cumpridos, é
imprevisível. Diante desta imprevisibilidade, assim como foi nos dias de Noé, a
vida seguirá o seu curso natural. Uns casando, outros bebendo, e ainda outros
trabalhando. E tal como o dilúvio cobriu a terra quando menos as pessoas
esperavam, após anos vendo Noé trabalhando em sua arca, assim também, como um
ladrão que não avisa a hora em que chega para assaltar, Jesus virá.
Como a chuva não veio assim que Noé pôs o último prego na
arca, também não saberemos o período que levará para que Cristo apareça no céu
após se cumprirem todos os sinais que ele mesmo profetizou. Certo é que quando
ele voltar, uns são levados (não sabemos ao certo se para sua presença ou para
fora dela) enquanto outros ficarão.
Essa aparente demora é um período probatório. Precisamos
vigiar. Para ilustrar o princípio de nos mantermos vigilantes e não sermos
surpreendidos com o repentino retorno do Senhor, Jesus conta a parábola do
servo infiel (45-51) que age mal por achar que o seu patrão estava demorando.
Ele será lançado num local junto aos hipócritas, pessoas que diziam servir ao
Senhor, mas que eram maus obreiros, onde haverá choro e ranger de dentes.
Portanto, é necessário estarmos prontos e sermos achados como obreiros
aprovados que não tem do que se envergonhar (2Tm 2:15).