Por Thiago Azevedo
Muitas
pessoas dão credibilidade, e até mesmo importância, ao tão famoso pecado
oculto. Seções de cura interior, psicanálise cristã e outras práticas que são
usadas na busca do descobrimento do tão famigerado pecado oculto. Vale
salientar que algumas das técnicas psicológicas utilizadas por alguns “doutores
da alma” cristãos, na busca da purificação da alma alheia acerca do pecado, nem
sequer são mais usadas pela própria psicologia. Como é o caso da regressão. Ou
seja, os ditos cristãos fazendo uso do resto e do lixo de outras áreas da
ciência e trazendo esta bagagem funesta para o ambiente cristão. Na realidade o
cristianismo não precisa e nem nunca precisou de tais procedimentos.
Outro dado interessante de se destacar é que tais “doutores da alma” se esquecem de que o pecado não remonta a um ato em si ou uma atitude passada ou presente, o pecado nada mais é que um estado do homem – o homem é pecador. Logo, quantas sessões de psicanálise seriam necessárias para sanar um problema como o pecado? Quantas regressões seriam necessárias para que fosse descoberto que o problema está não nos atos, mas sim na natureza humana? “Os doutores da alma” cometem erros lógicos e teológicos. A Bíblia mostra que por mais santo que o homem seja, ele sempre será pecador. Mostra também que não há possibilidades nenhuma de aqui na terra o homem desfrutar de um estado puramente livre do pecado e de seus efeitos (Apocalipse 21). A Bíblia nos mostra ainda que só há uma solução para o pecado, um único remédio, chama-se: sangue de Cristo derramado na cruz do Calvário. Tudo que seja proposto fora disso é conversa mole.
A
ilusão do pecado oculto percorre um viés da carência doutrinária e da escassez
literária em torno da Bíblia. Deus sendo onisciente e onipresente como pode
haver pecados ocultos? Se o pecado for oculto aos homens, mesmo assim não é
totalmente oculto, vejamos:
Lucas 12:1-3 “Ajuntando-se, entretanto, muitos milhares de
pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros, começou a dizer aos seus
discípulos: Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a
hipocrisia. Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto,
que não haja de ser sabido. Porquanto tudo o que em trevas dissestes, à luz
será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete, sobre os telhados será
apregoado”.
O
texto nos traz a ideia de que tudo que seja feito às escondidas virá à tona um
dia. Logo, o pecado oculto só é oculto por um tempo, mas logo surge não só a
ponta, mas todo o iceberg. Nas palavras
de Douglas Wilson a ideia fica ainda mais nítida:
“O
princípio aqui é que o pecado secreto é apenas temporariamente secreto. De Deus
não se zomba; aquilo que o homem semear, isso também colherá. E frequentemente
a colheita é algo bem público. Uma festa que ninguém precisava saber, tarde da
noite com os amigos, acaba na delegacia com um jovem sendo acusado de dirigir
sobre o efeito de álcool se explicando para polícia. Um jovem que engravida uma
garota; ambos são expulsos da escola cristã que frequentam. E aí o pecado
deixou de ser um assunto secreto”. [...] “Pecado gera pecado, e o pecado oculto
gera mais pecado oculto. Mas quando o pecado se acumula, fica impossível ao
pecador escondê-lo. Então o princípio é que o pecado secreto cresce. Ao
crescer, ele assume uma forma que está longe de ser agradável como no início”.
(Wilson, 2013 pp 58,60).
Como
se viu, o pecado oculto é temporário, ele é enganoso e ilusório, por isso
muitos são enganados por tais atos e acreditam que sempre serão ocultas suas atitudes
pervertidas. Alguém já disse que é impossível esconder um elefante cor de rosa
na sala de estar. É preciso que se entenda que o pecado, ou pecados ocultos,
nada mais são que uma parte do todo, ou seja, os pecados que são aparentemente
ocultos são na realidade um reflexo da natureza caída e do estado pecaminoso
dos homens. Os ditos pecados ocultos enganam no sentido de repassar uma falsa
ideia ao homem, a saber; a ideia de que o homem só é pecador quando comete tal
pecado, e ainda pior, o homem só é pecador quando seu pecado oculto é
descoberto. Assim, muitos se iludem no sentido de acreditarem não serem
pecadores enquanto conseguem esconder bem suas falcatruas. Ilusão! Em certa
ocasião ouvi alguém dizer no púlpito a seguinte frase: “estou muito feliz, pois
hoje eu não pequei”. Outra ilusão! O pecado não aponta apenas para atos impróprios
ou atitudes pervertidas às Escrituras Sagradas, mas sim, como já dissemos
anteriormente, ao estado natural do ser humano. Até aqueles que possuem uma
vida pautada por uma conduta íntegra e ilibada são pecadores do mesmo jeito por
natureza, só se distinguindo nos atos.
Outra
ilusão que o aparente pecado oculto traz em seu bojo é a ideia de que só quem
sofre é o pecador omisso. Engano. A Bíblia nos mostra sempre que há alguém
alimentando e escondendo algum pecado, todos sofrem por tabela:
Josué 7:1 “E transgrediram
os filhos de Israel no anátema; porque Acã filho de Carmi, filho de Zabdi,
filho de Zerá, da tribo de Judá, tomou do anátema, e a ira do SENHOR se acendeu
contra os filhos de Israel”.
A
Bíblia nos mostra que o pecado oculto sempre é refletido na comunidade. Ou
seja, o pecado de um jovem não é só dele, mas de sua família, da turma do
colégio ou da igreja que faz parte. O pecado de uma garota não é só dela, mas
também daqueles com quem a mesma se envolve, e as sequelas serão notadas e
sofridas pelos demais; Nadabe, Abiu, Davi, Jonas são bons exemplos. O pecado
oculto nada mais é que uma espécie de sedução diabólica. A própria possibilidade
do ocultamento já dá à pessoa uma espécie de atração pelo oculto, por aquilo
que ninguém sabe, pelo escondido. Uma vez ao conversar com um usuário de
maconha ele, depois de me oferecer e eu rejeitar, disse-me o seguinte: “o que
me empolga mais nisso tudo é o fazer escondido, sem ninguém saber, inclusive
meus pais”. Muitos são atraídos por tal realidade. Alimentar tal realidade pode
ser desastroso; já disse certo compositor há muito tempo: “o diabo é do tipo
amigo da onça, ele dá com uma colher, mas tira com uma concha”.
Afirmamos
ser o pecado oculto ilusório, como já se falou anteriormente, isso pelo fato de
nunca permanecer oculto, e quando aparece traz difamação, vergonha, choro,
tristeza, etc. Dentre estes, quando surge o arrependimento sincero, é possível
dizer que algo de bom pôde ser extraído de tudo. O arrependimento fará com que
a pessoa não seja mais alimentada nem enganada pelos atrativos atos pecaminosos
às escondidas. Quem planta colhe, e como já foi dito, a colheita é algo público
e não oculto. Na Bíblia não temos um só exemplo sequer de alguém que tenha
mantido seu pecado oculto todo o tempo, não temos um só exemplo sequer de
alguém que tenha logrado êxito em manter seu erro escondido. O pecado que parece oculto é nada mais nada
menos que um grande gigante encolhido escondendo seus auto-falantes entre os
braços. Quando menos se espera, ele se levanta e anuncia em voz alta, e com
riquezas de detalhes, tudo aquilo que foi feito outrora às cegas.