Por Morgana Mendonça dos
Santos
Na caminhada cristã, tenho
observado como existem distrações e/ou adições irrelevantes no culto ao Senhor.
Com alguns convites para pregar em várias denominações tenho observado o
andamento do culto solene em várias igrejas. E sempre lembrando de uma frase que
um dia escutei de um piedoso professor: "O culto ao Senhor deve ser a manifestação do Sagrado".
Na Confissão de fé de
Westminster, no capítulo XXI o assunto do culto religioso é mencionado dessa
forma: "A luz da natureza mostra que
há um Deus, que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a
todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e
servido de todo o coração, de toda a alma e de todas as forças; mas, a forma
aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo, e é tão
limitado pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado
segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob
qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas
Escrituras"
Não devemos desprezar a
arte, entendemos que existe a linguagem universal. Hoje com facilidade a
música, a arte e o esporte tem sido uma estratégia para que missionários
cheguem a países fechados com o intuito de pregar o Evangelho. No entanto, a
questão muitas vezes é confundida, pois, fazer teatro não é evangelizar. Como
dançar não é pregar o evangelho. Como já mencionei alhures, essas coisas em si
tem um valor, mas não podemos reduzir o evangelho a esse nível.
Apenas farei três observações
que julgo ser necessárias:
1)
O teatro no lugar da exposição da Palavra.
Há uns dias atrás soube
que numa conferência missionária o momento da exposição da Palavra foi trocado
por uma apresentação de uma peça. Não duvido que tenha igrejas usando esse
mesmo método. O culto solene tem um propósito e não há respaldo para distrações
ao público. O entretenimento é trágico, pois, não pode ser cômica a profanação
do Sagrado. O que temos visto já chegou no topo do bizarro e da vergonha do
evangelho. Enquanto já temos "pastores" vestidos de Chapolin para
pregar, descobrimos pastores abrindo boates gospel com cerveja sem álcool e
muita paquera. Quando pensamos que já vimos de tudo descobrimos que os nossos
retiros espirituais estão cheios de stand
up comedy. Enfim, o que devemos saber é que o culto é do Senhor. Logo, deve
ser como Ele ordenou. Paulo aconselhou o jovem Timóteo, em seu ministério,
dizendo:
"Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para
repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus
seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra". 2
Timóteo 3.16-17
Toda Escritura é
divinamente inspirada, ou seja, é suficiente para o culto e somente Ela deve
ser apresentada de forma expositiva e didática. Qual seria o motivo de
preencher um tempo com aquilo que não é inspirado nem suficiente? A correção,
instrução, preparo e exortação provém da Palavra e nada mais.
2)
As peças teatrais não são bíblicas.
Acredito que esse prejuízo
tem sido devastador. Inúmeras peças de teatro tem ensinado sobre Deus, seu
caráter e seus atributos de uma forma completamente deturpada. A minha
observação parte de um princípio da reforma: somente a Escritura deve ser
pregada e ensinada. Somente a Escritura deve ser cantada. Somente a Escritura
deveria dirigir um grupo de teatro e suas peças. Não seria mais proveitoso uma
peça bíblica? O que temos visto sendo apresentado nas igrejas são peças onde o
homem tem toda a autonomia e Deus é fraco e limitado. Existem várias peças que
de forma antropocêntrica demonstram e ensinam a igreja uma divindade patética e
frágil. Vi uma peça certa vez que me deixou tonta. Deus havia criado uma jovem
e ela se envolveu com vários pecados. Mesmo querendo se livrar deles ela não
poderia, pois, havia sido amarrada. Mesmo Deus fazendo de tudo para ela se
soltar, Ele não conseguiria, pois estava preso numa jaula invisível que os
demônios o haviam colocado. Que tipo de "deus" é esse? Que não tem
poder sobre o homem nem tampouco sobre demônios? E as peças que os demônios
crucificam Jesus na cruz? É isso mesmo que a Escritura ensina? Deus viu o mal
que os demônios estavam fazendo e reverteu em bem naquela cruz? Não!
Definitivamente Deus que é onipotente, onipresente, onisciente e soberano, que
é espírito não pode ser encenado de forma tão incoerente assim. Na verdade,
Deus não pode ser representado, não temos respaldo para isso, pois fere o
segundo mandamento (Ex 20.4-5). Cristo estava na cruz voluntariamente e se deu
por nós (Ef 5.2). Deus assim o fez derramando Sua santa ira sobre Ele e, somente
assim, ficou satisfeito (Is 53.10).
3)
O estrelismo dos integrantes (atores)
Muitos dos integrantes não
fazem parte da EBD por conta das longas horas de ensaio. Procurar os jovens do
ministério de teatro em discipulado ou escola bíblica dominical é um desafio
constante, é inevitável observamos que a maioria deles estão tão cheios de si,
que se acham super preparados. Percebemos isso de forma simples, antes da
apresentação da maioria das peças, tem sempre um jovenzinho pegando o microfone
para contar a igreja o significado da peça, usando na sequência textos bíblicos
que muitas vezes não fazem sentido algum. O que falta mesmo em muitos desses
grupos de teatro é o estudo da Escritura de forma aprofundada. A teologia no
sentido exclusivo da Palavra, saber quem Deus é e conhecer Seus atributos, pois,
em muitas peças isso é reduzido ou negado de forma brutal. As longas horas de
ensaio poderiam ser divididas também para o ensinamento das Escrituras,
aconselhamento bíblico. Percebemos o estrelismo, o ego inflado de muitos, que
por conta dos aplausos, recebem a glória para si, deixando assim o ministério
tomar o lugar de Deus, tratando como um ídolo amoroso. Precisamos redefinir o
sentido e o propósito do teatro nos cultos solenes e fora da igreja. Os apelos
são dos mais variados após cada peça de teatro, tornando o teatro um meio para
todo aquele que crê. Teatro não é evangelismo, isto é, não consiste na pregação
do Evangelho, portanto, não pode ser confundido com os meios de graça. E quem
disse que a palavra pregada necessita do elemento "apelo" no final,
ou seja, grupos de teatros? Guardai-vos dos ídolos e das distrações!