Por Bruno Rafael Souza
Nos tempos de efervescência política, onde a crise
no país é notória, parece que todos viram especialistas em marxismo, terceira
via, direita e esquerda. Outros batizam
posições políticas, esquecendo que o cristão reformado vê na Escritura uma
cosmovisão completa sobre a vida - incluindo a política. Não podemos comprar
pacotes políticos completos. Pensando nisso, quero trazer para nosso texto a
questão da cosmovisão cristã x marxismo cultural e suas perigosas consequências.
As duas cosmovisões propõem a transformação do mundo. Uma vê essa transformação
a partir de agora até a consumação e outra como transformação unicamente agora
(isto, a grosso modo). Quando alguém adere qualquer uma das duas visões, será
automaticamente amoldado por ela, ou seja, todo seu sistema de valores na vida
será afetado. Antes de entrar no marxismo cultual, devemos conceituar o
marxismo a partir de Marx. Ele tinha um pensamento de observar o fenômeno
religioso demonstrando que através de mudanças na sociedade, tais como aumento
da opressão, fome e outros, o ser humano criava um imaginário de fé para se
apegar. Isto é normal para o homem na sociedade. Interpretando Marx, G. Reale e
D. Antiseri dizem o seguinte:
Marx não ironiza o fenômeno religioso, a religião não é para ele a invenção de padres enganadores, mas muito mais obra da humanidade sofredora e oprimida, obrigada a buscar consolação no universo imaginário da fé. Mas as ilusões não se desvanecem se não eliminarmos as situações que as criam e exigem.[1]
O modo de produto da vida material condiciona, em
geral, o processo social, político e espiritual da vida.[2]
Segundo esse pensamento, as pessoas tem religião,
por conta do produto da vida material, ou seja, o que é palpável socialmente.
Logo, o social determina o senso religioso do homem. Então, sendo retiradas as
distorções sociais de classes “proletariado e burguesia” que produzem a fome e
desigualdade, a religião seria modificada ou finalizada. O contexto dos livros de
Marx tem fatores diferentes do nosso tempo, no entanto servem para demonstrar o
princípio que ele prega em seu Manifesto Comunista, ficando claro que a solução
para as distorções sociais era a busca da transformação através da luta de
classes, determinando o sentido de toda existência:
Esboçando em linhas gerais as fases do
desenvolvimento proletário, descrevemos a história da guerra civil mais ou
menos oculta, que fermenta na sociedade atual, até a hora em que essa guerra
explode numa revolução aberta e o proletariado estabelece sua dominação pela
derrubada violenta da burguesia.[3]
Os comunistas não se rebaixam em dissimular suas
ideias e seus objetivos. Declaram abertamente que seus fins só poderão ser
alcançados pela derrubada violenta de toda ordem social existente. Que as
classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista! Os proletários não
tem nada a perder nela, a não ser suas cadeias. Têm muito a ganhar.[4]
Esse é o pensamento Marxista na tese do
materialismo científico, grosso modo. Esta é a sua cosmovisão: vê as coisas de
baixo para cima, tudo sendo transformado por ela e ela engolindo o aspecto
teleológico.
O PERIGO DO MARXISMO CULTURAL
O ponto que vamos salientar parte do pensamento da
conquista do ideal comunista não numa guerra de movimento, luta de classes ou
retirada do estado à força como pensava Marx, no qual expomos acima, mas numa
guerra de posição para transformação do mundo como explicada no livro “A
revolução Gramscista no ocidente” que reflete a evolução do pensamento Marxista
ou Cosmovisão Marxista a partir de Gramsci:
A revolução bolchevique foi vitoriosa na Rússia
(Então sociedade oriental), aplicando a estratégia revolucionária Marxista
Leninista, caracterizada pelo assalto direto ao Estado, com emprego de violência
revolucionária (levante popular).
Para as sociedades do tipo ocidental, mais
complexas e protegidas por forte sistema de trincheiras e de defesas políticas
e ideológicas, a guerra de movimento não se mostrará adequada. Nessas
sociedades, a luta teria que ser semelhante à guerra de posição, longa e
obstinada, conduzida no seio da sociedade civil, para conquistar cada
trincheira e cada defesa da classe dominante burguesa.[5]
Como vimos, o pensamento Marxista ou a cosmovisão
Marxista na voz de Gramsci, vem com tons de transformação primeiramente na
sociedade civil, através da implantação de outro sistema de pensamento, ou
seja, senso comum, que vem com valores, história e tradições diferentes, e este
por meio da mídia, pensadores, por fim, chegando na formatação de partidos e
tomada total de posição sem violência. Em sua totalidade, é a troca de uma
cosmovisão por outra. Vejamos:
A superação do senso comum é um empreendimento de
profunda e demorada transformação cultural e psicológica da sociedade civil
como um todo e das classes subalternas em particular. Consiste em apagar certos
valores tradicionais e uma parte significativa da herança cultural (intelectual
e moral) da sociedade burguesa e substituí-las por conceitos novos e
pragmáticos, abrindo a mente das pessoas para as mudanças políticas,
econômicas, e sociais que farão a transição para o socialismo.
Em suma, a troca da cosmovisão atual para uma
cosmovisão marxista, é uma mudança de cultura da sociedade perigosíssima, que
acontece não pela luta de classes, mas silenciosamente no seio cultural, pois
imputa valores sociais que aniquilam ou deixam sem alma a religião cristã. As
universidades, a política, as artes, as ciências estão sendo definhadas por
esse pensamento marxista. Temos uma troca dos conceitos da família, implantação
das ideologias de gênero e casamento anticristão. Para barrar esse andamento,
só uma volta da cosmovisão cristã, que seria o senhorio de Cristo em todas as
esferas e a religião determinando e transformando o social.
COSMOVISÃO CRISTÃ
Podemos fomentar, de início, que a religião deve
voltar ao centro da sociedade, criá-la, transformá-la e não ser amoldada por
ela. O correto não é o que Marx pensava, o social determinando a religião, mas
a religião determinando o social. Kuyper sintetizou o contraveneno com
maestria:
O impulso religioso do Calvinismo também tem
colocado debaixo da sociedade política uma concepção fundamental toda própria
dele, precisamente porque ele não apenas podou os ramos e limpou o tronco, mas
alcançou a própria raiz de nossa vida humana. Que isto deveria ser assim
torna-se imediatamente evidente a todos que são capazes de apreciar o fato de
que nenhum esquema político jamais se tornou dominante a menos que tenha sido
fundado numa concepção religiosa específica ou numa concepção anti-religiosa.[7]
Qualquer sistema político é fundado ou concebido
religiosamente ou anti-religiosamente. Marx e um dos analistas do seu
pensamento – Gramsci - lutam por uma cosmovisão fundada na anti-religião,
contra as liberdades humanas e soberania das esferas. Eles querem que todos
sejam iguais na ditadura do proletariado, quer por violência armada ou por
tomada de posição na implantação do marxismo cultural. Kuyper mais uma vez pode
contribuir sobre a liberdade e o fundamento religioso dela habita na soberania
de Deus:
A Soberania do Deus Triuno sobre todo o Cosmos, em
todas as suas esferas e reinos, visíveis e invisíveis. Uma soberania primordial
que irradia-se na humanidade numa tríplice supremacia derivada, a saber, 1. A
Soberania no Estado; 2. A Soberania na Sociedade; e 3. A Soberania na Igreja.
“No Calvinismo encontra-se a origem e a garantia de
nossas liberdades constitucionais.” Que o Calvinismo tem levado a lei pública a
novos caminhos, primeiro na Europa Ocidental, então nos dois Continentes, e
hoje mais e mais entre todas as nações civilizadas, é admitido por todos os
estudantes científicos, se não ainda plenamente pela opinião pública.[8]
Podemos concluir em cima do pensamento dos autores
que colocamos em diálogo, que o Marxismo é uma cosmovisão contra as liberdades,
contra a soberania das esferas, impondo valores anti-cristãos, reduzindo tudo a
luta de classes e trazendo como consequência uma religião alienante. Os
conceitos deles estão sendo inseridos pelo marxismo cultural e isto pode causar
um dano irreparável. No entanto, a cosmovisão cristã é completa, trazendo
liberdade, valores saudáveis e frutos de pacificação. Voltando, a questão não é o social
determinando o religioso, mas o religioso determinando o social e
transformando-o, isto por meio de uma cosmovisão que toque cada ponto da vida.
[1]
REALE, G. História da filosofia. 1. ed. São Paulo: Paulus , 2005. p. 176.
[2] Ibid. p. 178.
[3] MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto
comunista. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2006. p. 64.
[4]
Ibid. p. 92.
[5]
COLTINHO, Sérgio Augusto. A revolução gramscista no ocidente. 1. ed. Rio de
Janeiro: Estandarte, 2002. pp.33-34.
[6]
COLTINHO, Sérgio Augusto. A revolução gramscista no ocidente. 1. ed. Rio de
Janeiro: Estandarte, 2002. p. 53.
[7]
KUYPER, Abraham. Calvinismo. 1. ed. São Paulo: Cultura cristã, 2002. p. 63.
[8]
Ibid. pp. 63-64.