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18 de ago. de 2015

O que acontecerá quando seu deus morrer?

Por Thiago Azevedo

A pergunta é bem sugestiva quando entendemos que todos os seres humanos elegem seus deuses. Ou seja, aquilo que será seu baluarte durante o tempo em que sua vida durar. Uns se apegam ao dinheiro e depositam neste toda sua confiança, outros se apegam ao patrimônio deixado pelos seus familiares no passado, outros se apegam à capacidade intelectual que possuem, etc. O reformador João Calvino já havia identificado que o coração do homem não passa de uma fabrica de ídolos. Timothy Keller, ao escrever o livro “Deuses falsos”, teve a mesma percepção. Paul Freston no seu polêmico livro “Religião e Política sim; igreja e estado não” intitula o capítulo quatro da seguinte forma: “Não temos santos, mas criamos ídolos”, isso se referindo aos cristãos evangélicos. A Bíblia nos mostra em diversas passagens que de fato o homem possui esta necessidade caída – criar ídolos e seus próprios deuses. Um bom exemplo bíblico pode ser visto na experiência da construção do bezerro de ouro pelo povo israelita em Êxodo 32.

O grande problema é quando o deus de alguém morre. Quando todas as suas esperanças depositadas outrora neste baluarte, caem por terra. Muitos não suportam e despencam junto, outros até tiram suas próprias vidas. Quem não se lembra do confisco das economias dos brasileiros que se encontrava na até então intocável poupança - isso nos idos de 1990 - pelo então antigo presidente Fernando Collor de Mello? Muitos que tinham tais valores como seus respectivos deuses – sobretudo empresários de grande porte – tiraram suas próprias vidas. Estes não imaginavam viver sem estes deuses ínfimos, e logo chegaram à conclusão de que suas vidas eram de bem menor valia. Outro bom exemplo desta situação pode ser visto na pessoa de Joseph Goebbels, que era propagandista do partido de Hitler – Führer ou Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, com seu regime totalitário do  Terceiro Reich.  Goebbels era tão admirador de Hitler que nomeou todos seus seis filhos com a letra H nas iniciais de seus respectivos nomes – Helga Susanne, Hildegard, Helmut Christian, Hedwig Johanna, Holdine Kathrin e Heidrun Elisabeth. O grande problema é que quando as forças aliadas invadiram a Normandia no tão conhecido dia D e rumaram à Berlin encurralando os nazistas,, muitos tiraram suas próprias vidas, inclusive o líder maior do nazismo – o próprio Adolf Hitler – um “deus” que se matou para nada. Neste vácuo de desespero, Joseph Goebbels que tinha Hitler como um verdadeiro “deus”, simplesmente, ao saber do suicídio de seu líder e ídolo maior, envenena seus seis filhos e foge com sua esposa. Posteriormente é encontrado morto com indícios nítidos de suicídio também. É isso que ocorre quando o deus de alguém morre, quando alguém deposita confiança e credibilidade no que não merece tais sentimentos, quando alguém calcula erroneamente onde irá depositar sua fé. Além do mais, é justamente nessas horas que se percebe que todo e qualquer ser humano, ou crê em algo, ou um dia passará a crer necessariamente. Este cálculo, de onde se vai depositar fé, deve ser bem feito. Pois muitos têm desmoronado junto com seus supostos deuses.

A frustração quando o deus de alguém morre é muito lúgubre. Percebemos na mitologia grega que os deuses não morriam, por sinal, esta realidade era uma rotina que os vergastavam e constantemente sempre um deus grego estava se queixando de viver para sempre em seu corriqueiro mundo onde a matéria era eterna. Essa realidade, da eternidade dos deuses, é vista em outras mitologias – Egípcia, Romana, Nórdica, Persa, Maia, Celta, etc. Aqui temos uma base para alegar que o cristianismo não procede de nenhuma raiz mitológica. O cristianismo é original em todo o seu bojo. Não se vê em nenhum texto bíblico Deus questionando seu estado de eternidade. Além disso, o processo criacional que teve como partícipe o Logos cristão (isso de acordo com João 1:1) – a encarnação d’Este Logos, Sua pessoalidade, Sua morte, Sua ressureição e Sua promessa de regresso etc., são acontecimentos vistos pioneira e originalmente no cristianismo. Com isso, o cristianismo é autêntico e primaz em todo seu sistema – sistema que possui uma pedagogia divina, pois fora elaborado por uma mente divina. Porém, é preciso lembrar, e isso enfatizando a pessoalidade de Cristo, que o Deus judaico-cristão passou pelo processo de morte, mas não foi vencido por esta. Em algumas mitologias específicas, alguns heróis se transformaram em deuses após suas respectivas mortes. Mas um Deus que se transforma em um herói-homem-salvador-encarnado, que enfatiza e vive uma conduta ética padronizada e elevada por meio de seu próprio testemunho, exigindo mesma a postura de seu povo que tanto amou – ao ponto de se entregar à morte por este povo – também é algo pioneiro do cristianismo. O que nos leva a afirmar que o cristianismo não se trata de uma mera mitologia saída da mente dos mais longínquos contadores de rapsódias, que teve sua inspiração em alguma musa inspiradora que estava sentada em algum monte na antiguidade. O cristianismo é sim um marco histórico e pautado de verdades em todo seu bojo. Porém, como já afirmamos, o Deus judaico-cristão morreu. Contudo, até nisso o cristianismo é dotado de originalidade, pois além da morte não ter O vencido, pela primeira vez na história, uma relação mais que pessoal entre Deus e homens se estabelece.  O que você faria se seu Deus morresse? O Deus judaico-cristão morreu, mas com sua morte obteve-se uma boa notícia à humanidade, obteve-se salvação, com sua morte obteve-se garantia, certeza, convicções. Com a morte do Deus judaico-cristão obteve-se uma promessa de vida e esperança vindoura – perspectivas eternas. As beneficies advindas por meio da morte de Cristo são bem maiores que as frustações momentâneas deste fato – isto se viu no caminho de Emaús (Lucas 24). A morte do Deus judaico-cristão nos conforta enquanto na terra a vivermos pautados em algumas convicções: Primeira – Ele vai voltar para concluir sua obra! Segunda – Ele não frustra quem deposita confiança n’Ele. A nossa posição na revelação ainda é mais confortável do que os primeiros nomes da fé cristã, nossas convicções devem ser ainda mais motivadas, tendo em vista, que todo o plano da salvação já se mostrou a nós. Quanto àqueles que viveram no processo desta revelação, que não contemplavam este plano salvífico por completo como nós, eles só tem a nos ensinar que vale muito a pena depositar confiança e credibilidade no que realmente merece tais sentimentos. Afinal, O Deus judaico-cristão morreu, mas por meio daquilo que os homens mais temem (a morte), ele trouxe esperança. Morreu, mas foi para salvar seu povo! Sua morte fora nossa maior alegria, regozijo e expectativa, e não tristeza, desespero ou dor. 

A morte de Deus já fora anunciada com sarcasmo e desdém e de forma bem tendenciosa, o que muitos não percebem é que o assunto mais importante de todas as épocas gira em torno da existência de Deus. Este tema sempre esteve presente nas elucubrações humanas.  O verificacionismo científico coloca o homem como um próprio “deus”, pois pelos seus sentidos ele afere toda a verdade e tudo que de fato existe dando assim uma palavra final. Houve apenas uma substituição, sai o Deus judaico-cristão, entra o homem em seu lugar – o que pode ser verificado pelos sentidos é o que merece atenção. O anúncio da morte de Deus possui tantas implicações que talvez o anunciante de sua morte, ou os anunciantes, não tenha/m percebido. O fato é que o tema “existência de Deus” ainda continua sendo explorado com vigor. Vamos a algumas implicações sobre a tão famigerada “morte de Deus”: Em primeiro lugar, para morrer é necessário existir, pois ninguém morre sem existir, logo Deus existe ou existiu, o ateísmo aqui desmorona. Problema da existência de Deus resolvido pela lógica nietzschiana [1]. Outra implicação é que se Deus existe ele não pode morrer, pois trata-se de um ser completo. Quem morre, não possui completude em seu ser – é limitado. É por isso que A Bíblia O mostra morrendo na pessoa de Cristo, mas a morte é vencida e não vencedora, Ele ressuscita. Podemos criar alguns silogismos para atestar esta verdade:

SILOGISMO 1*

Para algo morrer é necessário existir.
Nietzsche diz que Deus morreu.
Logo, Deus existe, ou existiu em algum momento. 

* Problema da existência de Deus resolvido pelo método nietzschiano

SILOGISMO 2

Um Deus todo poderoso não pode ser vencido pela morte
O Deus judaico cristão não foi vencido pela morte
Logo, o Deus judaico cristão é todo poderoso.

O que percebemos com tudo isso é que a lógica nietzschiana aponta para a necessidade da existência de Deus, se faz necessário que Deus ao menos tenha existido em determinado período temporal, pois ninguém morre sem existir. Evidente é que se Deus morreu Ele é limitado. Tudo se encaixa quando A Bíblia nos apresenta um Deus pessoal, que foi morto, mas que ressurgi da morte em triunfo e glória demonstrando assim seus atributos atemporais – não limitado. O Deus judaico-cristão é apresentado na Bíblia com todos os elementos necessários à existência. O fato de não ser verificado empiricamente não implica na não existência de algo. Os pensamentos humanos, assim como os Axiomas euclidianos, são comprováveis e atestados como reais. Mas não podem ser provados por vias verificacionais, e louco é quem pense o contrário. Portanto, a possibilidade da existência de Deus não deve ser vista como uma impossibilidade, mas como algo muito mais provável do que se pensa. Então, o que acontecerá quando seu deus morrer?

O Deus judaico-cristão, por meio de sua morte, trouxe conforto, e não desespero. A garantia de salvação e esperança para os verdadeiros cristãos não está em coisas vãs, ínfimas ou pueris, mas sim em fundamentos sólidos e podem muito bem ser confiados. As pessoas elegem como seus deuses uma variada gama de opções. Como dissemos anteriormente, é certo que todas as pessoas creem em algo nas suas respectivas vidas, ou em algum momento passarão a crer. Até o ateísmo é uma espécie de crença, pois um verdadeiro ateu jamais estaria em um debate debatendo se Deus existe ou não. Para um verdadeiro ateu, àquele que de fato não crê em Deus, a possibilidade da existência de Deus não o incomoda, pois para o ateu Deus não existe e pronto. O fato é que corriqueiramente, temos mais ateus interessados em debater sobre Deus do que os próprios teístas. Porém, há muitos ateus que se incomodam com a possibilidade da existência de Deus, eles militam contra esta realidade, eles organizam congressos ateístas, blogs, frequentam redes sociais etc. Hoje a militância ateísta pode ser considerada como uma nova religião, onde o deus deles é justamente combater a ideia da existência daquilo que eles não acreditam existir – Deus. Seria mais ou menos como alguém que está ciente de que se encontra sozinho em casa e crê que não há ninguém em sua companhia. Mas, mesmo assim, esta pessoa se sente incomodada com a presença de alguém (mesmo sabendo que se encontra só) e começa a querer a mostrar para outros que realmente está sozinha insistentemente. Ora, das duas uma: ou esta pessoa precisa de tratamentos psicológicos e psiquiátricos, ou ela não acredita que de fato se encontra só. E se a segunda opção for verdadeira, ela crê em alguém que esteja na casa por mais que diga o contrário. 

Alguns dos ateus mais proeminentes e defensores da bandeira do ateísmo mudaram de opinião e abandonaram o ateísmo, passando para o lado teísta ou deísta [2]. Cito aqui os nomes de alguns dos mais renomados estudiosos que romperam com o ateísmo e migraram para o lado do teísmo ou deísmo: Antony Flew, CS Lewis, Francis Collins, Lee Strobel etc., e mais próximo a nós aqui no Brasil temos o Filósofo Luiz Felipe Pondé. Alguns destes já morreram, e não foi por estarem perto de morrer que passaram para o lado teísta ou deísta como muitos alegaram. Mas, por racionalmente, perceberem que o ateísmo não passa de um sistema frágil e contraditório em si mesmo [3]. Como já havíamos pontuado anteriormente, a necessidade de crer em algo é inerente às pessoas. Porém, será que onde sua fé repousa é possível encontrar segurança e conforto? Será que sua crença tem sido racional? Será que ela não é contraditória como o ateísmo? 

Cuidado para não depositar crença naquilo que não lhe dá segurança e convicção, assim como fizeram Joseph Goebbels e os empresários de grande porte na época do confisco de suas economias no Brasil. Uma coisa é a pessoa tirar a própria vida por ter depositado fé em algo que levantou como seu deus – mas que na realidade era ilusório. Outra coisa, bem distinta, é você ser morto por uma convicção – assim como ocorreu com os apóstolos e diversos mártires da igreja cristã. A própria Bíblia alega que “a fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Deus” (Romanos 10:17). Toda fé que não proceda desta fonte deve ser repensada. A Bíblia é a única e soberana fonte da revelação divina e deve ser base para toda a crença daquele que se diz um verdadeiro cristão. Entendemos assim porque lá Deus se revelou. O Deus que foi morto e padeceu, mas que por meio disso trouxe-nos expectativas vindouras pautadas na sua providência divina, trouxe-nos vida e em abundância. Portanto, o que acontecerá quando seu deus morrer? Espero que tenhas uma boa resposta para tal pergunta! 
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[1] A lógica nietzschiana diz respeito ao filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, que anunciou à morte de Deus nas suas investigações filosóficas. 

[2] Teísta é aquele que crê na existência do Deus criador judaico-cristão e deísta é aquele que crê na criação do universo por uma instância superior que pode ou não ser Deus.

[3] Leia as Contradições do Ateísmo clicando aqui

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