Por Thiago Azevedo
A Bíblia com certeza é o
livro que mais impactou as gerações. Maior best-seller da história que possui um
vasto histórico marcado pela perseguição e por grandes homens que sempre
estiveram envolvidos no processo de tradução de seu conteúdo. Estes homens
expuseram suas próprias vidas nesse empreendimento. O referido Livro Sagrado,
por ter seu texto em predominância no idioma latino, passou por aval de reis e
de outras grandes autoridades para que fosse traduzido. Um destes foi o rei
Tiago – VI na Escócia e I Na Inglaterra – assim como era conhecido. Ele apoiou
e financiou a tradução da Escritura por William Tyndale, considerado o pai da Bíblia
na língua inglesa, esta tradução ficou conhecida como The Bible of The King
James (A bíblia do rei Tiago). É importante que se diga que nesta época a
igreja católica romana não tinha passado pelo cisma com a Igreja Anglicana – o
que após ocorrer contribuiu para que mais traduções da Bíblia surgissem. A Igreja
Católica passou a perseguir Tyndale como fora da lei, isso pelo fato de ter
colocado a Bíblia na mão do povo inglês. Outro rei partícipe neste processo foi
Henrique VIII (que seria principal responsável pelo cisma da Igreja Anglicana
com a Igreja Católica Romana), que também financiava e protegia os trabalhos de
Tyndale.
Em torno de 15.000
exemplares do Novo Testamento foram traduzidos para o inglês e se espalharam através
de uma espécie de “tráfico” pelos comerciantes ingleses. Tyndale era versado
nos idiomas originais da Bíblia e foi julgado e morto pela Igreja Católica Romana
por suas atividades, afinal, a Escritura não poderia ser lida por qualquer um,
somente o clero tinha esta incumbência “divina”. Já que estamos falando de
territórios ingleses, por que não mencionar personagens que surgiram antes
mesmo de Tyndale? John Wycliffe conhecido como o primeiro tradutor da Bíblia
neste idioma. Por sinal, obra que se imortalizou como “A Bíblia de Wycliffe”,
teve forte influência neste sentido. O que seria Lion sem Pedro Valdo? Este
dando origem aos Valdenses, também se imbuiu do trabalho de tradução das Escrituras
Sagradas e do interesse que outros tivessem acesso àquilo que o clero defendia
como sendo um direito exclusivo seu – ler a Bíblia.
Comerciante abastado, Pedro
Valdo, que decidiu abandonar tudo e seguir o verdadeiro evangelho, trabalhou
arduamente na propagação deste. Traduziu a Bíblia para um dialeto específico no
Sul da França antes de ser varrido também pela perseguição da inquisição. Por
muito, a fogueira inquisicional fora alimentada por homens vivos que tinham
amor pelo que faziam, expondo suas próprias vidas, isso em amor às verdades
reveladas. Não poderíamos deixar de citar Martinho Lutero, João Calvino, Theodore
Beza, e outros nomes
podem muito bem figurar nesta pesquisa de pequena monta como sendo envolvidos
em atividades de tradução das Escrituras Sagradas, afim que pessoas tivessem
acesso ao santo conteúdo das verdades reveladas. Por exemplo, Toda a base do
idioma alemão se deve à atividade de tradução da Bíblia empreendida por Lutero,
estes efeitos foram vistos também em Genebra - na Suíça, e assim por diante. Há
também o conhecido trio de Serampore (Índia) composto por William Carey,
William Ward e Joshua Marshman, que traduziram a Bíblia para diversos idiomas,
dentre outros feitos educacionais e governamentais nesta região. Infelizmente não
temos como computar todos os nomes dos grandes homens que estiveram envolvidos
neste importante processo de tradução dos textos sagrados para idiomas variados.
O fato é que tudo isso, de uma forma ou de outra, reverberaria na nossa
tradução em português.
Recentemente tivemos - aqui
mesmo no Electus - um texto publicado mostrando as nuances da publicação e da
tradução da Bíblia Sagrada por João Ferreira de Almeida. Um homem que teve uma
vida voltada para o compromisso com Deus igualmente aos já citados
anteriormente. Desde muito cedo, já tinha o comprometimento e o senso de
responsabilidade em manusear o livro sagrado. Pastor aos 28 anos e já tendo sob
sua responsabilidade grandes encargos eclesiásticos, além de dominar os idiomas
bíblicos com esmero, enfrentou perseguição governamental em diversos países por
onde passou para que não pregasse as Escrituras Sagradas no idioma português. Enfrentou
também o desdém de editores e preconceitos. Fez uso de versões da Bíblia já
existentes em seu tempo como, por exemplo, a Bíblia da Rainha Valéria, de 1569
em espanhol. Outra versão utilizada por João Ferreira de Almeida foi a Latina
Francesa Beza que foi escrita em Genebra em 1588 (versão em que João Calvino e Theodore
Beza tiveram muita influência). Ferreira também fez uso de uma versão da Bíblia
italiana chamada Diodati de 1641. O trabalho de tradução envolveu uma
verdadeira pesquisa, trabalho mais que árduo. Quem quiser mais detalhes sobre
tamanha obra veja aqui o artigo publicado no Electus.
Quem quiser ainda mais
detalhes de como se deu a chegada da Bíblia no idioma português, assista aqui ao vídeo do pastor Moabel de Souza
Pereira – pastor da Assembleia de Deus em Washington nos E.U.A. Tido como um
biblista, o pastor possui um exemplar da primeira cópia da tradução feita por
João Ferreira de Almeida de meados 1681. O pastor chega a dar detalhes do
português usado naqueles tempos.
O grande problema surge
por meio de dois víeis: a necessidade de comentar a Bíblia de alguns
estudiosos, e a imersão da Bíblia nos interesses capitalistas. Não estamos
dizendo que homens contemporâneos a nós, e comprometidos com as verdades
bíblicas, não tenham desempenhado o primeiro víeis com esmero, por exemplo, Dr.
Sheed e John MacArthur são bons exemplos. Mas, quando esta ideia é copiada por
algumas das mentes nada brilhantes de brasileiros com síndrome de notoriedade,
o perigo pode surgir. O mais recente advento nesta esfera foi à confecção da Bíblia
do cantor Thalles Roberto. Sem medo de errar, isso nada mais foi que uma junção
entre interesses financeiros diversos movidos pelo combustível do capitalismo.
Lembram-se da ética capitalista? O que importa é vender, mais nada!
O próprio cantor em um
vídeo diz que o seu testemunho vem na frente da bíblia e isso fora justamente
uma estratégia de marketing, pois segundo ele, a “Sociedade Bíblica do Brasil”,
quem deu a ideia, firmou com ele esta parceria. O motivo para tal parceria era
que alguns jovens dançam as músicas do Thalles, mas não leem a Palavra. O
cantor gravou um vídeo onde o próprio apresenta sua Bíblia ao público e afirma
que ela possui um diferencial das demais, a saber, sua história antes do texto
bíblico propriamente dito. Segundo o cantor, isso faria com que os jovens
lessem e se dedicassem ao estudo da mesma. Em suma, com esta atitude, o cantor
dá ao seu testemunho e sua vida, uma conotação maior em importância do que a
própria vida e testemunho de Cristo e seus discípulos. Será que na Bíblia do Thalles tem o texto de João
3:30? A quem se interessar, veja o vídeo aqui.
Outro vídeo – este por
sinal removido do Youtube, mas que pode ser assistido no Vimeo –o cantor alega que é melhor que
todos os cantores de sua época, alega ser rico, alega que não precisa de
ninguém, alega que está acima da média, alega até que está pensando em
abandonar a carreira gospel, etc. Aqui faço novamente uma pergunta que fiz
anteriormente: será que na Bíblia do Thalles tem o texto de João 3:30? Outra
pergunta: quem sabe não temos mais um cantor gospel que precisava apenas de uma
cama elástica ou um trampolim para subir mais um pouco? Geralmente estes
cantores usam as costas dos pobres admiradores para dar este salto maior.
O que me deixa surpreso é
que a Sociedade Bíblica do Brasil não pensa duas vezes quando é para sujar o
nome de Cristo e de homens que tiveram tamanha importância na chegada da Bíblia
até nós. Ao colocar numa Bíblia do Thalles Roberto, e em muitas outras por ai,
o texto traduzido para o português contendo o nome de Almeida como tradutor, a
Sociedade Bíblica do Brasil está desrespeitando todo um passado de homens que
foram comprometidos com a Escritura, sobretudo o nome de João Ferreira de
Almeida, homem que por meio dele Deus permitiu conhecermos as verdades
reveladas em nosso idioma. Já tivemos a tão famigerada e mercantilista bíblia
apostólica do “apóstolo” Estevam Hernandes, a Bíblia na Linguagem de Hoje que
modifica sem escrúpulos as palavras contidas nos manuscritos mais antigos –
quem tiver paciência e souber grego bíblico, compare o texto “Receptus” com o
texto publicado pela Sociedade Bíblica do Brasil na versão NLTH e outras –, tivemos
a tão gritante e absurda suspeita levantada pela revista Veja em seu site
de que a Sociedade Bíblica do Brasil estaria apoiando a publicação de uma “bíblia”
gay, e um líder religioso gay veio a público confirmar tal acordo. Suspeita que
até os dias de hoje não foi bem explicada pela instituição. Até os dias de
hoje, não se viu nenhum processo ou posicionamento mais severo da Sociedade
Bíblica do Brasil sobre essa suposta calúnia movida pela revista. O que nos
leva a termos milhares de interpretações do fato, e a minha é esta: são parcerias
heréticas.
O fato é que solicitamos
como cristãos autênticos e estudiosos das Escrituras Sagradas, como pessoas que
entendem que grandes homens estiveram envolvidos com o processo de tradução dos
idiomas bíblicos, e que por direcionamento de Deus, a Bíblia por nós utilizada
teve a influência de um grande homem, o estimado Almeida. Pedimos mais respeito
e menos mercantilismo envolvendo o Texto Sagrado. Pedimos menos parcerias
heréticas e mais dignidade, pedimos temor e tremor quando o assunto for vendas
de exemplares bíblicos. Pois por meio desta atividade também é possível vir o
escândalo, e a Bíblia nos adverte contra isso (Mateus 18:7). Qual será a
próxima modalidade de Bíblia que teremos? Já temos da vovó ao vovô, do surfista
ao jovem, da mulher que ora à que não ora, etc... Onde vamos parar?