Por Morgana Mendonça dos Santos
A providência e a imanência não podem nenhum dia deixar de reger as nossas emoções. Sabemos que não há nada nesse universo que Deus não tenha criado e ordenado para a Sua glória. No entanto, a cada dia que passa somos afetados pela ansiedade e falta de contentamento. O título do texto específica "missionário", todavia deve ser compreendido por todo cristão. Perceba que ansiedade e falta de contentamento é quebra do primeiro mandamento. Para quem você tem direcionado sua confiança e animo? O primeiro mandamento diz claramente: "Não terás outros deuses diante de mim" Êxodo 20.3. E o que se exige desse mandamento? Segundo o Catecismo Maior de Westminster, pergunta 104:
"Conhecer e reconhecer Deus como único verdadeiro Deus, e nosso Deus; cultuá-lo e glorificá‐lo como tal, pensar e meditar nele, lembrar‐nos dele, altamente apreciá‐lo, honrá-lo, adorá-lo, escolhe‐lo, amá‐lo, desejá‐lo e teme‐lo; crer nele, confiando, esperando, deleitando‐nos e regozijando‐nos nele; ter zelo por ele; invoca‐lo, dando‐lhe todo louvor e agradecimentos, prestando‐lhe toda obediência e submissão do homem todo; ter cuidado de o agradar em tudo, e tristeza quando ele é ofendido em qualquer coisa; e andar humildemente com ele"
I Cr 28.9; Dt 26.17; Is 43.10; Jr 14.22; Sl 95.6,7; Mt 29.2; Mt 3.16; Sl 63.6; Sl 18.1,2; Mt 1.67; Is 45.23; Js 24.22; Dt 6.5; Sl 73.25; Is 8.13; Ex 14.31; Is 26.4;; Sl 130.7; Sl 37.4; Sl 32.11; Rm 12.11; Fp 4.6; Jr 7.23; Tg 4.7; I Jo 3.22; Ne 13.8; Sl 119.135; Jr 31.18; Mq 6.8.
Nossas confissões de fé são documentos que definem aquilo que acreditamos segundo as Escrituras, portanto, encontramos uma exigência sobre um deleite, regozijo no Senhor. Da mesma forma que esse mandamento exige uma confiança inabalável em Sua palavra infalível. Onde podemos então mortificar toda a ansiedade e descontentamento? Em Cristo, somente n'Ele. Fora d'Ele, toda satisfação será idolatria - outros deuses. Os deuses falsos da fábrica do nosso coração, nos impede de compreender que no desafio missionário a instabilidade e a solidão não devem reger as nossas emoções. E porque tenho mencionado a instabilidade e a solidão? Porque é exatamente o que tem afetado emocionalmente missionários que estão no campo e digo isso de forma pessoal, pois é contra isso que tenho lutado ultimamente.
Em contraste a essas emoções contaminadas que quebram o primeiro mandamento, existe o que chamamos da doutrina da providência e imanência. E na esperança de um ponto final sobre essa questão, apeguemo-nos a Santa Palavra, para que ela encha o nosso coração com virtude e graça. Contra a ansiedade resultado da instabilidade temos a providência divina, contra a falta de contentamento provocado pela solidão temos a imanência. A Confissão Belga nos mostra no capítulo 13, sobre a providência:
"Cremos que o bom Deus, depois de ter criado todas as coisas, não as abandonou, nem as entregou ao acaso ou a sorte, mas que as dirige e governa conforme sua santa vontade, de tal maneira que neste mundo nada acontece sem sua determinação. Contudo, Deus não é o autor, nem tem culpa do pecado que se comete. Pois seu poder e bondade são tão grandes e incompreensíveis, que Ele ordena e faz sua obra muito bem e com justiça, mesmo que os demônios e os ímpios ajam injustamente [...] Este ensino nos traz um inexprimível consolo, quando aprendemos dele, que nada nos acontece por acaso, mas pela determinação de nosso bondoso Pai celestial. Ele nos protege com um cuidado paternal, dominando todas as criaturas de tal modo que nenhum cabelo - pois estes estão todos contados- e nenhum pardal cairão em terra sem o consentimento de nosso Pai (Mateus 10:29,30). Confiamos nisto, pois sabemos que Ele reprime os demônios e todos os nossos inimigos, e que eles, sem sua permissão, não nos podem prejudicar. Por isso, rejeitamos o detestável erro dos epicureus, que dizem que Deus não se importa com nada e entrega tudo ao acaso".
Heber Carlos de Campos na sua obra esplêndida sobre providência (A Providência e a sua realização histórica, Cultura Cristã, 2001) afirma:
"Portanto, podemos definir a providência divina como a atividade do Deus triúno através da qual ele provê as necessidades de suas criaturas, preserva todo o universo criado, dirige todos os caminhos individualmente; governa toda a obra de suas mãos retribui todas as obras más e concorre em todos os atos de suas criaturas racionais, sejam atos bons ou maus, de modo que nada escapa ao seu controle." Confiar em Deus e somente Nele é o que exige o primeiro mandamento, a na Sua providência nada é deixado ao acaso. Devemos confiar que em Sua soberania, Deus suprirá nossas necessidades e toda ansiedade provocada pela instabilidade não regerá nossas emoções. No Catecismo de Heidelberg, pergunta 27: O que é a providência de Deus? R. É a força Todo-Poderoso e presente (1), com que Deus, pela sua mão, sustenta e governa o céu, a terra e todas as criaturas (2). Assim, ervas e plantas, chuva e seca (3), anos frutíferos e infrutíferos, comida e bebida, saúde e doença, riqueza e pobreza e todas as coisas (4) não nos sobrevêm por acaso, mas de sua mão paternal (5).
(1) Sl 94:9,10; Is 29:15,16; Jr 23:23,24; Ez 8:12; Mt 17:27; At 17:25-28. (2) Hb 1:3. (3) Jr 5:24; At 14:17. (4) Pv 22:2; Jo 9:3. (5) Pv 16:33; Mt 10:29.
Na providência encontramos a imanência, quando Ele governa e sustenta automaticamente Ele se relaciona com a Sua criação. Outro ponto que muito tem enfraquecido nossas emoções tem sido a falta de contentamento provocada pela solidão, sabendo ser isso a quebra do primeiro mandamento como destacamos alhures. Precisamos focar e redirecionar o nosso coração para a imanência, a certeza do Deus conosco (Is 7.14), que nos promete na grande comissão, estar conosco até a consumação do século (Mt 28.20). Ah, pastores e missionários, atentemos para a grande comissão de uma forma detalhada! Ele nos prometeu a Sua presença (Js 1.9). Nosso conhecimento deve ser condicionado aos atributos de Deus, Ele é onipresente. As Escrituras nos asseguram Sua presença por toda a vida. O que de fato poderia nos desanimar? A sua ausência, todavia isso é impossível. Deus é imanente e transcendente, isso deve reger nossas emoções e não outra coisa. Ele habita no alto e santo lugar, mas também com o quebrantado e contrito (Is 57.15). Ele governa todas as coisas (Sl 66.7), Ele é Deus, portanto aquiete-se (Sl 46.10).
Sobre imanência M. J. Erickson (Introdução à Teologia Sistemática, p.101) afirma: "O significado da imanência é que Deus está presente e ativo dentro de sua criação e dentro da raça humana, mesmo naqueles membros que não crêem nele ou não lhe obedecem. Sua influência está em toda parte. Ele age nos processos naturais e por meio deles." Portanto, tendo em vista essas duas doces doutrinas, lutemos contra a ansiedade provocada pela instabilidade e a falta de contentamento que é resultado da solidão. Que possamos proclamar o evangelho onde o Senhor nos enviar com entusiasmo, provocando em nosso comportamento a glória de Deus que em Cristo supriu todas as nossas ansiedades e de forma plena e suficiente satisfaz nossos anseios mais profundos. Deixemos os ídolos, nossos falsos deuses.
"Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois dele também somos geração."
Atos 17.28