Por Thiago Oliveira
Os fariseus e os gnósticos foram
inimigos de Cristo e de sua Igreja. Os primeiros, nos anos do ministério de
Jesus foram os que mais tentaram calar o Salvador e tramaram
inúmeras vezes tirar-lhe a vida. Também perseguiram os primeiros cristãos
em Jerusalém, e não contentes com a dispersão destes de Jerusalém, mandavam seus
lacaios para fechar as recém-formadas congregações. Um destes foi Paulo,
convertido na estrada de Damasco quando estava indo perseguir os cristãos. Já
os gnósticos, estes eram dissimulados e, infiltrados nas igrejas, destilavam o
veneno da sua heresia, contaminando o rebanho do Senhor e ensinando aquilo que
era oposto ao evangelho pregado pelos apóstolos. Paulo os rebateu algumas vezes
em suas epístolas, sobretudo, escrevendo aos colossenses.
Séculos e séculos depois, é de
se espantar que o cerne do farisaísmo e do gnosticismo está presente naqueles
que deveriam pregar e viver o oposto. Hoje, nos círculos reformados, jovens que
nem bem conheceram as doutrinas da graça foram infectados com o pecado do
orgulho espiritual. E o que seria isso? Solano Portela* nos dá uma definição
espetacular:
“Poderíamos definir o orgulho espiritual como sendo uma atitude de
desprezo aos outros irmãos. Seria abrigar a sensação de se achar possuidor de
uma visão superior. Seria o desenvolvimento de uma atitude de rejeição do
aprendizado, contrária à humildade que Deus requer dos seus servos. Seria achar
que se é conhecedor de uma faceta de compreensão que os demais irmãos ainda não
alcançaram”.
Os fariseus eram muito
orgulhosos dos seus feitos, se achavam o suprassumo da moralidade. Eram
zelosos, de fato, mas queriam satisfazer a sua vaidade e não agradar a Deus.
Gostavam dos primeiros lugares nos banquetes, de serem saudados nas ruas, de
ostentarem os títulos de mestre e julgavam os outros inferiores. Em Mateus 23
Jesus critica toda a hipocrisia deste grupo religioso, que até fazia o certo,
todavia, com a motivação errada: “tudo o
que fazem é para serem vistos pelos homens” (Mt 23:5). Assim, tenhamos
muito cuidado, pois, podemos fazer e ensinar o que é correto, no entanto, o
nosso coração está transbordando de soberba.
Jesus, certa feita, contou (Lc
18: 9-14) que um fariseu e um publicano estavam orando, e a oração do fariseu
foi altiva, pois, ele batia no peito para dizer que não era igual ao publicano
que era pecador. Contando para Deus tudo o que fazia religiosamente regrado,
aquele homem não saiu justificado perante o seu Senhor. Talvez, exista entre os
que se dizem reformados uma oração semelhante: “Senhor, obrigado porque não sou como os outros irmãos, ignorantes na fé
e que desconhecem a teologia. Eu já li as Institutas por inteiro, memorizei o
Catecismo Maior de Westminster e leio as Escrituras nas línguas originais”.
Sei que exagero no exemplo, mas a provocação é intencional. Precisamos entender
que não há distinção intelectual que sirva de parâmetro para hierarquizar a
comunhão de Deus com seus eleitos e de uns para com os outros. Isso é coisa dos
gnósticos!
De acordo com a heresia da gnosis, existiam dois tipos de cristãos:
os incipientes e os iluminados por um conhecimento que estava encoberto para os
demais cristãos. Isso vai de encontro à ortodoxia bíblica. A única distinção
visível nas Escrituras é entre crentes e incrédulos, eleitos e não eleitos,
salvos e não salvos. Dentre os crentes não existe divisão. Todos estão sob a
tutela do mesmo Espírito, n’Ele batizados na mesma fé (1Co 12:13 e Ef 4:4). Solano
Portela faz uma séria advertência quanto a essa hierarquização:
“Não podemos nos considerar imunes ao desenvolvimento de uma atitude de
que ‘nós reformados’ somos os iluminados, únicos entendedores das verdades divinas
que se encontram veladas à grande parte dos crentes comuns, a não ser que
recebam a explicação lógica e incontestável de nossa parte. Muitos calvinistas
têm se deixado levar pela síndrome da descoberta da pólvora, passando a
demonstrar o mais evidente orgulho espiritual, no relacionamento com os irmãos,
prejudicando o testemunho da fé reformada.”
Os simples, mesmo que não conheçam
as obras de Lutero e Calvino, mesmo desconhecendo a história do protestantismo
e mesmo não sabendo explicar as doutrinas elementares do evangelho, são amados
por Deus de igual modo que os eruditos e partilham das mesmas bênçãos. Todos
salvos por graça. Não por méritos intelectuais ou de alguma outra espécie. Não se
deve negar que alguns tem maior facilidade de assimilar e transmitir os
rudimentos da fé, mas isto é para a edificação da igreja e não para dividi-la
em subgrupos. Ao trabalharmos na obra do SENHOR, devemos ser como os cotovelos
no corpo. Não entendeu? Explico: Você pensa nos seus cotovelos durante o dia? Procura
se concentrar para apreciar os seus movimentos e os acaricia vez ou outra? Recebe
elogios por eles? Não. Contudo, eles fazem o seu trabalho para que seu corpo
ande bem ajustado e seja eficiente nos afazeres do cotidiano. O grande problema
é que muitos querem ser membros de destaques, vistos e elogiados. Precisamos
da humildade de Cristo.
O contrário do orgulho é a
humildade, e a Escritura nos conclama a sermos humildes. Só que não devemos
fazer da humildade o alvo. O Rev. Heber Campos nos diz o porquê: “Não busque a humildade, porque você vai se
orgulhar disto. Mas, se você buscar ser parecido com Jesus Cristo, a humildade
vai fluir”. Isso é o que devemos fazer: orar para que o Pai nos molde a
imagem de seu Filho Unigênito. Cristo deve ser o padrão de piedade que
pulveriza nosso ego inflamado. Que os jovens que estão se proclamando
reformados, mas se orgulham do conhecimento adquirido e desprezam irmãos menos
conhecedores da teologia, revisem sua conduta, pois, podem estar enganando a si
mesmos não tendo sido - por Deus - regenerados. Novamente cito o Solano Portela
e assim finalizo esta brevíssima reflexão, ciente de que também devo vigiar:
“Tendo sido regenerados pelo Deus vivo e pela Palavra viva, de nada
podemos nos orgulhar, nem mesmo da nossa compreensão de Deus e de Sua
majestade, pois só dele procede a iluminação para o entendimento das verdades
espirituais e ele deseja que sejamos caridosos e pacientes na instrução da Sua
Palavra. Que Ele nos livre do pecado do orgulho espiritual”.
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* Todas as citações do Solano
Portela foram extraídas de seu opúsculo “5
Pecados que Ameaçam os Calvinistas”. O orgulho espiritual encabeça a lista
de pecados.