“A pessoa do Espírito Santo têm sido esquecida! Talvez nosso século tenha sido um dos mais omissos quanto ao Espírito Santo.”
Hermisten Maia
Percorrendo o Antigo e o Novo Testamento, o conteúdo traz luz sobre a atuação daquele que é comumente chamado na teologia de a “terceira pessoa da Trindade”, pois, muitos estão apenas familiarizados com os outros dois componentes da Santa Tríade que são Deus-Pai e Jesus Cristo, Deus-Filho. No início da revelação, o termo hebraico ruach é usado para designar o Espírito Santo no Antigo Testamento. Energia e poder ativo seriam as palavras que melhor se aproximam da ideia concernente a ruach. A conotação do termo não enfatiza a imaterialidade, mas sim a presença poderosa do Espírito que ao descer sobre os indivíduos faz com que os mesmos adquiram uma energia não natural, isto é, sobrenatural (Jz 14.6). A primeira aparição do termo está em Gênesis 1.2. Em outras 107 ocorrências, ruach vai se referir a atividade de Deus (Elohim) no mundo. Só que há um erro frequente de achar que o Espírito Santo é apenas uma energia. A ideia que ruach traz consigo é a de Deus envolvendo-se pessoalmente com a sua criação, por isso que as Escrituras tratam o Espírito como um agente criador, presente em toda a etapa da construção do cosmos. Isso coloca o Espírito Santo ao lado dos demais componentes da Trindade realizando a obra de criar o mundo ex nihilo, dando sentido assim a expressão que se encontra no plural em Gênesis 1.26: “façamos”.
O Espírito de Deus é responsável por dar ordem a matéria criada, tal como ele foi o sustentador do povo escolhido, isto é, Israel, lhes concedendo leis justas e um governo para que seu povo não emergisse no caos. Moisés, Josué e outros líderes tinham o Espírito do SENHOR (Nm 11.16-17 e 27.18). Também foi de sua incumbência conceder dons artísticos aos homens (Ex 31.2-6). Ele é o Espírito da ordem e da beleza. Além de criador, o Santo Espírito também é recriador, pois, Ele atua no homem caído, regenerando-o e dando-lhe um norteamento moral, isto é, santificador. Ele é quem aplica a salvação pela graça no coração do homem. Como está escrito em Ezequiel 11.19-20: "E lhes darei um só coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne; Para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os cumpram; e eles me serão por povo, e eu lhes serei por Deus".
Em todo o Antigo Testamento a atuação distinta do Espírito não ficou muito clara para o povo de Israel. Toda ação divina era atribuída a Adonai, o SENHOR. Embora Ele tenha atuado intensamente, inclusive na inspiração dos autores que formariam o cânon bíblico, é apenas no Novo Testamento que o povo eleito passa a ter informações mais precisas acerca do seu ser e de sua obra. Na revelação neotestamentária, o Espírito é o parakletos, apresentado pelo próprio Cristo (Jo 14.16). Ele seria a testemunha em prol de Jesus. Testemunha melhor não há, uma vez que o Espírito se fez presente em todo o momento do ministério messiânico. Da concepção até a morte na Cruz, o Espírito Santo testificou que aquele homem vindo de Nazaré era o Filho de Deus prometido em todo o Antigo Testamento - desde Gênesis 3.15.
Já no momento da chegada do Cristo ao mundo, Maria concebeu virgem, milagrosamente, pela obra do Espírito. A presença do Espírito Santo neste momento é de suma importância para referendar a profecia de que a glória de Deus no segundo templo seria maior (Ag 2.7-9). A glória do antigo templo, a shekinach, era o próprio Espírito Santo - a fumaça que envolvia o sumo-sacerdote no lugar Santíssimo. Quando Cristo nasce dessa concepção sobrenatural realizada pelo Espírito, a glória maior profetizada por Ageu se cumpre. Além disso, o Espírito teve como função preservar a santidade do Deus que se encarnava, sustentando a sua impecabilidade.
No Batismo (Mt 3.16-17), a voz audível do Pai e o Espírito Santo em sua aparição na forma de uma pomba selam o início do ministério de Jesus, referendando-o como um profeta enviado pelo próprio Deus para apregoar as boas novas (Lc 4.18). Após ser batizado, Cristo é levado pelo Espírito a ser tentado no deserto por Satanás (Lc 4.1). Diferente de Adão, Jesus resiste e derrota o diabo, referendando-o como o segundo Adão, capaz de redimir a humanidade caída. Foi o Espírito Santo quem preservou Jesus nos momentos de aflição antes da sua morte terrível para expiar os pecados. Ele conduziu o Cristo até a cruz, mesmo quando Satanás tentou de várias maneiras fazer com que Jesus não a encontrasse. E embora a ressurreição e ascensão sejam obras atribuídas ao Pai, podemos afirmar que existe a atuação poderosa e efetiva do Santo Espírito também nestas coisas, pois, é em Seu poder ativo que os milagres acontecem.
Também a Igreja é capacitada pelo Espírito para apregoar o Evangelho. Jesus é quem diz isso antes de subir aos céus (1.8). E em pentecostes (Atos 2), vemos que a Igreja que era um grupo de centenas, passa a ter três mil pessoas inclusas após o Espírito Santo descer sobre o seus. É a era da plenitude do Espírito. O apóstolo Paulo fala claramente que o Evangelho é a pregação resultante do poder do Santo Espírito (1 Ts 1.5), e o Parakletos mata o velho homem e faz com que o mesmo viva agora em novidade de vida. As Escrituras atestam que é Ele quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), fazendo com que o mesmo vá até Cristo para salvar-se do inferno.
Ademais, aquilo que foi registrado no Novo Testamento são Palavras do próprio Espírito Santo, trazendo a revelação messiânica a todos os povos. Ele que lembraria aos escritores do NT as palavras de Jesus e ensinaria também o que haveriam de escrever (Jo 14.26). Para a Teologia isto é chamado de doutrina da inspiração. Pedro e Paulo atestam a inspiração de toda a Escritura em suas cartas (1Tm 3.16 e 1Pd 1.21). Por isso não há fonte mais apropriada do que a Bíblia para conhecermos o Espírito Santo, o Pai e o Filho, que formam a Santíssima Trindade, a divindade cristã.
Para sermos computados como cristãos, é necessário crer que o Espírito Santo é Deus. É uma pessoa, com atributos eternos e imutáveis. Assim diz o Credo de Atanásio: "O que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o Espírito Santo. (...) Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. Contudo, não há três Deuses, mas um só Deus. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor. Porque, assim como compelidos pela verdade cristã a confessar cada pessoa separadamente como Deus e Senhor; assim também somos proibidos pela religião universal de dizer que há três Deuses ou Senhores".