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27 de fev. de 2015

O que é Hipercalvinismo?

Por Sam Storms

Infelizmente, o rótulo “hipercalvinista” é usado com frequência em nossos dias para insultar ou ridicularizar qualquer um que tenha ideias calvinistas mais radicais do que outros. No tocante aos pelagianos, os semipelagianos são hipercalvinistas. No tocante aos semipelagianos, os arminianos são hipercalvinistas. No tocante aos arminianos, os calvinistas dos quatro pontos são hipercalvinistas. No tocante aos calvinistas dos quatro pontos, os calvinistas dos cinco pontos são hipercalvinistas. Dependendo de onde você se encontre no espectro teológico, todos são hipercalvinistas — exceto o pelagiano. E, em relação aos autênticos hipercalvinistas, todos os demais estão simplesmente confusos!

Talvez um pouco de percepção histórica seja útil. Aquilo que separou historicamente o Calvinismo bíblico do Hipercalvinismo é a negação, pelos últimos, do chamado externo do Evangelho. David Engelsma explica o Hipercalvinismo:
“É a negação de que, na pregação do Evangelho, Deus chama todos os que ouvem a pregação a se arrependerem e crerem. Ele é a negação de que a Igreja deve chamar a todos por intermédio da pregação. Ele é a negação de que o não regenerado tem o dever de se arrepender e crer. Ele se manifesta na prática do pregador dirigir o chamado do Evangelho — “arrependa-se e creia no Cristo crucificado” — somente àqueles da plateia que mostram sinais de regeneração e, portanto, de eleição, ou seja, alguma convicção do pecado e algum interesse pela salvação.”
De acordo com o Hipercalvinismo, a extensão da pregação é determinada pela extensão da regeneração. Somente aqueles que mostram evidências de regeneração são os destinatários ou objetos adequados da pregação. O problema principal nessa afirmação é o fato de que a Bíblia não sanciona qualquer dessas restrições à proclamação de Cristo e ao chamado para se arrepender e crer. Jesus deu aos seus discípulos ordens claras e inequívocas, de que “em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24.47).

Quando pregou no Areópago, o apóstolo Paulo não fez qualquer esforço para distinguir entre aqueles que ele pensava ser ou não eleitos e, portanto, regenerados. Tal conhecimento pertence somente a Deus. Em vez disso, o Evangelho de Paulo tomou a forma de uma proclamação indiscriminada e universal: “No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam” (At 17.30). Só posso concluir que o chamado externo do Evangelho é um elemento vital do Cristianismo bíblico. Negá-lo é desviar-se do verdadeiro Calvinismo de uma maneira muitíssimo séria. Todavia, por uma questão de clareza (e até mesmo de caridade), talvez devêssemos deixar o rótulo hipercalvinista e simplesmente nos referir aos que defendem esse ponto de vista comoequivocados. Relacionado a essa questão está o assunto da regeneração e a responsabilidade humana. Se a regeneração é totalmente uma obra de Deus, sendo, portanto, o fundamento e causa da fé, o que acontece com a responsabilidade individual de crer no Evangelho? Os comentários de John Murray são extremamente úteis para responder a essa pergunta:
“A prioridade causal da regeneração não é desculpa para a nossa descrença, nem álibi para a preguiça, a indiferença ou o desespero. Nunca podemos usar como pretexto a nossa própria depravação como qualquer tipo de razão para não crer, nem a nossa incapacidade como qualquer tipo de desculpa para a descrença. Argumentar que não devemos nos arrepender e crer até sermos gerados é trazer confusão para a relação que a regeneração tem com a nossa responsabilidade. Não sabemos que estamos regenerados, até nos arrependermos e crermos. O Evangelho da graça se dirige à nossa responsabilidade na busca de arrependimento e fé. Assim como os propósitos desconhecidos de Deus não são a regra da nossa conduta nem os motivos pelos quais agimos, também as inescrutáveis operações de Deus não são a regra ou a base para as nossas ações, mas sim a sua vontade revelada. A regra para nós em quaisquer circunstâncias é a vontade revelada apresentada à nossa consciência. Nossa crença ou nosso conhecimento de que fomos regenerados nunca são a base sobre a qual exercemos a fé em Cristo, mesmo que o fato da regeneração seja sempre a fonte da qual se origina o exercício da fé e do arrependimento.”
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Texto extraído do livro “Escolhidos: uma exposição da doutrina da eleição”, lançado pela Anno Domini em 2014. 

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