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8 de fev. de 2015

Que tal começar por julgar a si mesmo?

Por Thiago Oliveira

Mateus 7:

1 "Não julguem, para que vocês não sejam julgados.
2 Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.
3 "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?
4 Como você pode dizer ao seu irmão: 'Deixe-me tirar o cisco do seu olho', quando há uma viga no seu?
5 Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.
                                                         
Introdução

O texto que nos serve de base é o início da parte final do Sermão do Monte. Devemos lembrar que é um sermão endereçado aos fiéis, pois, Jesus começa com as bem-aventuranças, algo que descreve o caráter dos que são remidos. Seu ensinamento é prático, coerente com a Lei de Deus e está em ferrenha oposição ao ensino dos fariseus. Este grupo religioso deturpou e muito a Palavra, tornando-a conveniente a elevação do status quo dos mesmos, que se consideravam justos devido aos seus próprios méritos. Acontece que eles haviam rebaixado o padrão de Deus. Deixe-me exemplificar: A não ser que você seja alguém com estatura, impulsão e aptidão para o basquetebol, provavelmente você não conseguirá fazer uma enterrada. Mas digamos que você rebaixe a tabela, cerca de um metro. Conseguirá agora? Presumimos que sim, todavia, você e eu sabemos que não é uma enterrada legítima, ao estilo da NBA. Era exatamente assim que os fariseus faziam. Jesus os chama de hipócritas, e não é à toa.

Em todo o sermão, o antagonismo fica evidente quando Cristo diz, “ouvistes o que foi dito, eu porém vos digo”. Ele está ali colocando o seu ensino em confronto com o ensino farisaico. Eram eles os mestres daquele povo. Ao ficar ciente desse contexto, a compreensão daquilo que Jesus nos diz nestes primeiros versículos de Mateus 7 torna-se mais clara. Que esse estudo venha a atingir diretamente o nosso ego, nos fazendo atentar para o que precisa mudar, para sermos cristãos diferente do que estamos sendo.

O porquê de não julgar

Cristo começa dando uma sentença. E qual é ela? “Não julguem”. No entanto, esse versículo tirado do seu contexto gera uma confusão que permeia a mente de muitos. Será que aqui Jesus nos diz que não devemos analisar nada e nem ninguém? Será que não podemos dizer que alguém que está em pecado é pecador? Será que se um homem prega algo antibíblico, não devemos julgá-lo como herege? Lógico que não é isso que o Senhor nos pede. De modo algum Jesus nos proíbe de discernir, avaliar e ponderar. Se fosse assim, como teria dito logo em seguida: “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem” (v.6)? Ora, para identificar quem são os cães e quem são os porcos, é necessário julgar. O julgamento é uma responsabilidade de todo crente, todavia, não deve ser feito de acordo com o mero achismo ou sem conhecimento de causa. O ato de julgar é respaldado pela Palavra. A própria Escritura é o parâmetro e não a nossa justiça própria (João 7:24). E se há condenação, quem condena é o próprio SENHOR, através da sua Lei registrada na Bíblia.

Para que não haja sombra de dúvidas, observem o que é dito nos versículos 15 ao 20: "Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão!” É preciso exercer juízo de valor, atentando para os frutos, isto é, pensamentos e ações, para se discernir quem é um falso profeta e consequentemente não ouvi-lo e nem segui-lo.

Mas então, o que Jesus está dizendo? Lembre-se que seu ensino está em oposição ao grupo dos fariseus. Estes viviam emitindo sentenças baseadas em sua própria justiça. Em Lucas 16:15 o Senhor lhes repreende dizendo: "Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês”. Todo fariseu adorava transparecer uma impressão de piedade e obediência a Lei. Eles aparentavam um semblante triste para dizer que jejuavam, mandavam tocar trombeta todas as vezes que iam ofertar, oravam em voz alta nas esquinas, dando uma ideia de que não aguentavam chegar na sinagoga para orar, de tão fervorosos que eram, etc. A parábola do Fariseu e do Publicano mostra o tipo de imagem que os fariseus faziam de si próprios.

A parábola em questão está no capítulo 18 do Evangelho de Lucas. O propósito de Jesus ter contado nos é dito no versículo 9: “A alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola”. Pelo personagem escolhido por Jesus, não nos resta dúvida, os fariseus eram quem se vangloriavam. A oração farisaica, segundo a parábola, era assim: “Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano” (Lucas 18:11).

Esse é o tipo de julgamento que não devemos proferir: Que condena, discrimina e menospreza, fundamentado em nossa índole, como se fôssemos melhores por fazermos determinadas coisas. Não somos bons por nós mesmos. Tudo o que somos de bom procede do nosso Pai. Podemos até nos reportar a alguém que esteja vivendo em pecado, mas não devemos nos apresentar como superiores, desajudando quem peca. Toda correção deve ser feita com amor, visando que a pessoa corrigida abandone o pecado que lhe prende. Disciplinar é um ato amável e não um ato de desprezo. Esse juízo temerário não nos cabe. É nesse sentido que o Mestre nos adverte para que não julguemos.

Recebendo na mesma medida

Cristo usa de tremenda sabedoria quando diz: “Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês”. Isso é verdadeiro e me faz lembrar da anedota de certa senhora que observava sempre os lençóis que a sua vizinha estendia no varal. Ela bisbilhotava pela janela de vidro e compartilhava com o seu marido o quanto que a vizinha era desleixada e suja com os afazeres domésticos, pois os lençóis eram manchados e tinham um aspecto encardido. Tal análise se repetia constantemente. Num belo dia ela admirou-se e relatou ao marido que finalmente a vizinha havia feito um bom serviço. Os lençóis, segundo ela, estavam branquinhos. No entanto, o marido lhe fez uma revelação que a constrangeu. Naquela manhã, ele havia limpado a vidraça.

A ilustração acima é bem oportuna. Não era a vizinha que era suja e desleixada, conforme presumia a bisbilhoteira. Pelo contrário, era ela a emporcalhada. A medida que ela usava para emitir seu julgamento, lhe caiu como uma luva e a deixou, com perdão do trocadilho, em maus lençóis. No entanto, a questão vai um pouco mais além. O problema de julgarmos conforme nossas medidas é que o SENHOR nos julgará com as mesmas. O apóstolo Paulo nos dá uma excelente ajuda para que entendamos melhor. Vejamos o que ele nos diz em Romanos 2: 1-6:

"Portanto, você, que julga, os outros é indesculpável; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas. Sabemos que o juízo de Deus contra os que praticam tais coisas é conforme a verdade. Assim, quando você, um simples homem, os julga, mas pratica as mesmas coisas, pensa que escapará do juízo de Deus? Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento? Contudo, por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento. Deus , retribuirá a cada um conforme o seu procedimento’". 

Embora Paulo nos fale sobre um julgamento diferente, que levará os ímpios a danação, enquanto que Jesus fala de um julgamento galardoador, pois seu público alvo são os cristãos e estes não perdem a salvação, mas perderão alguma coisa na dimensão da Glória, o princípio é o mesmo. Deus julgará cada um segundo suas obras, crentes e incrédulos (ver 2 Coríntios 5:10). E se não quisermos ser envergonhados na presença de Deus, então não devemos ser irresponsáveis ao que se refere ao julgamento alheio.

Já olhou para a sua condição?

O grand finale dessa seção sobre o julgamento (versículos 3-5) é regado a muita ironia. Cristo quer que imaginemos numa cena, alguém com um bastão enfiado no olho, que está preocupado com um cisco no olho de outrem. Algo muito tosco. E é exatamente isso que Jesus quer repassar com sua linguagem hiperbólica. Aqui ele trata do hipercriticismo que usamos com os demais, sem utilizar-se de tanta minúcia para fazermos um autoexame. Para reparar um cismo no olho de alguém, preciso estar muito atento, meio que procurando algo para tomar nota. Isso é o que muita gente anda fazendo nas igrejas. O patético disso é que enquanto nos alarmamos com o pequeno fiapo que está no globo ocular do nosso irmão, nós estamos com a visão prejudicadíssima e nem sequer removemos aquilo que afeta nossa vista.

Recentemente li uma frase do pastor presbiteriano, Ricardo Barbosa que gostaria de compartilhar aqui. Ele diz: "Muitas vezes queremos uma igreja diferente que nos faça diferentes, mas não queremos ser pessoas diferentes que constroem uma comunidade diferente". Assim são os que ostentam suas traves, mas que reparam a farpa alheia. Isso demonstra que a intenção não é boa. Tais pessoas não estão preocupadas com a condição de seus irmãos, pois, se estivessem, olhariam primeiro para si mesmas. Se um cego não pode nem guiar outro cego, quanto mais curá-lo? A Escritura nos diz: “Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem-se a si mesmos” (2 Coríntios 13:5). O Evangelho não é joguinho de tiro ao alvo. O objetivo primário não é encontrar o erro do irmão, mas ver o meu erro e correr para Cristo, clamando pela sua ajuda. Já dizia Lutero logo na sua primeira das 95 teses que assinalou: “Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos...., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.”

A palavra que Jesus usa para descrever a pessoa que aponta para os erros dos outros sem corrigir os seus é: Hipócrita. Ou seja: fingido, embusteiro. Um termo forte que nos deve levar a confrontar nosso ego e nosso narcisismo. Assuma sua condição pecaminosa. Assuma seus pecados, lute contra eles, mas não lute sozinho, recorra ao único que pode removê-los pelo poder do seu Espírito. Você deve fazer isso e eu também. Não sou nem melhor e nem pior que qualquer outro ser humano da face da terra. Sou tão necessitado de Graça quanto qualquer um é. Por isso, ao orar, oremos como o publicano: “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador” (Lucas 18:13).

Considerações Finais

1. Devemos evitar a postura dos fariseus, que se achavam bons o suficiente para recriminar os seus patrícios. Olhemos para os mais novos e débeis na fé e lembremos que já passamos pela mesma fase, se ainda não estivermos nela. Podemos até ajudá-los, não sem antes provar a nós mesmos e termos a certeza que somos aptos para prestar o auxílio, pois superamos aquilo que perturba o nosso irmão que está mais vulnerável.

2. Cuidado com o senso crítico. Ele faz bem e nos evita de cairmos em muita roubada. Todavia, quando ele é demasiado, corremos o risco de errarmos em quase todas as conclusões que tomamos a respeito de vários assuntos. Se tudo que você enxerga na Igreja, no pastor, nos líderes e demais irmãos for ruim, provavelmente o problema está consigo e não com os demais. Lembre-se que nunca haverá igreja perfeita, sendo você um membro desta igreja. Por acaso você e eu somos perfeitos?

3. Examinemos a nós mesmos frequentemente. Uma sugestão: Peguemos os 10 mandamentos e no final do dia vejamos se descumprimos algum. Devemos anotar os mandamentos quebrados e soma-los no final da semana. Se achamos que somos os santarrões, iremos levar um cruzado direto no queixo ao consultarmos o resultado. Ai de nós se não fossem as misericórdias do SENHOR renovadas a cada manhã. O arrependimento tem que ser constante.
Que Deus nos ajude. A Ele a glória!  

2 comentários:

Vevé Prado disse...

Muito bom o texto. Só não entendo porque você vive julgando alguns pregadores.

Acho isso errado, desculpe pela forma que estou falando. Mas, seus textos perdem o sentido qnd começa a criticar alguns nomes.

Thiago Oliveira disse...

O terceiro parágrafo explica meu irmão. Você que deu uma confundida nos conceitos de julgar de forma temerária (errado) e julgar pelo crivo da Escritura (certíssimo).
Releia o texto, talvez numa segunda lida fique mais claro.