Por Thomas Magnum
Quando nos colocamos sobre esse rico tema das
Escrituras estamos diante de um vasto material sobre a meditação cristã. Temos
também muita coisa escrita na história da igreja pelos puritanos. Como já foi
dito por um conhecido pregador reformado: “ muitos falam e citam os puritanos,
mas, poucos querem viver como eles”. Os puritanos davam muita importância a
meditação, juntamente com a leitura das Escrituras e a oração. Na verdade, a
oração no prisma puritano rega o crescimento e maturidade cristã.
O salmista disse que o justo tem o seu prazer na
lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Esse meditar nos remete
ao contemplar o celestial, ao ruminar como as ovelhas, ao elevar os pensamentos
as verdades eternas. Como disse Stephen Charnock “à meditação é empregada para
um objetivo mais excelente, ela instrui e conduz à vontade as afeições
eternas”. Os puritanos diziam que a meditação desperta as afeições eternas.
Essa meditação nos leva ao constrangimento da eterna e soberana vontade de
Deus, Paulo diz em Romanos 12:
Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de
Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o
culto racional de vocês.
O teólogo reformado John Murray destaca em seu
comentário de Romanos, que são as misericórdias de Deus que nos constrangem a
uma vida santa, é a reflexão não obra grandiosa de Cristo por nós que nos eleva
a contemplação espiritual. Na agitação dos nossos afazeres diários muitas vezes
até lemos as escrituras, mas, estamos meditando? Temos elevado nossa mente às
coisas que são de cima? Lemos em Colossenses:
Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo,
procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de
Deus. Colossenses 3.1
Veja que esse procurar é buscar as coisas celestes,
e isso é feito pela meditação. Vale frisarmos que a meditação cristã não é o
mesmo que a meditação transcendental que visa esvaziar a mente, a meditação
cristã não esvazia, ela preenche, ela ocupa as mentes com as verdades celestes,
mostradas nas escrituras. George Swinnock diz que a meditação é “uma seria
aplicação da mente a algum assunto sagrado, até que as afeições sejam aquecidas
e despertadas, e a resolução elevada e fortalecida através disso, contra quilo
que é mal, e por aquilo que é bom”. Portanto entendemos que a prática da
verdadeira piedade só é possível com a prática da meditação espiritual nas
Escrituras. Então a meditação tem atuação importantíssima de duas faculdades da
alma, a memória e a vontade. A primeira envolve uma convocação mental que
envolve as verdades teológicas das Escrituras Sagradas, é a mente cativa a
Cristo. A segunda envolve o depósito do coração, quando Jesus ensinou: Onde
estiver seu tesouro aí estará seu coração (tradução livre).
Portanto ao falarmos de meditação, não estamos
defendendo o simples pensar nas coisas espirituais ou transcendentais, a base
da meditação e contemplação cristã são as Sagradas Escrituras. A meditação não
deve ser baseada simplesmente em pensamentos que são fruto da imaginação, mas,
uma reflexão piedosa na pessoa de Jesus e em nosso relacionamento com Ele por
sua Palavra. Como diz Richard Baxter, a imaginação não deve ser mutilada na
meditação, mas, alimentada por sólidas bases Escriturísticas.
Os
Cinco solas e a meditação cristã
Ao trilharmos por essa vertente devemos compreender
que os solas da reforma nos remetem a uma vida cristã salutar e frutífera, e
podemos aplicar a verdade dos cinco solas a nossa pauta. Na meditação devemos
refletir nisso também que de imediato nos levará e nos equipará a aplicarmos
nossa mente nas verdades do Espírito de Deus.
Sola
Scriptura – Como dito
anteriormente somente a Escritura Sagrada é nossa base para meditação cristã,
pois o justo tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de
noite. Salmos 1.2
Solus
Christus – Somente Cristo é o nosso
Senhor, Ele é nosso mediador e nosso salvador. Porque há um só Deus, e um só
Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. 1 Timóteo 2.5
Sola
Gratia – Somente pela graça de Deus
desfrutamos as bênçãos espirituais, e devemos avaliar nossa posição, saber quem
somos, de onde viemos, o que Deus fez em nós. Somente pela graça de Deus. E
todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. João 1.16
Sola
Fide – Somente pela fé podemos
agradar a Deus, somente pela fé fomos salvos, somente pela fé podemos nos
achegar a grande Deus. Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é
necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é
galardoador dos que o buscam. Hebreus 11.6
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e
isto não vem de vós, é dom de Deus.
Efésios 2.8
Soli
Deo Gloria – Nossa devoção,
adoração, piedade deve somente ao soberano Deus, para sua glória e louvor. Não
adoramos a Deus para evangelizar, não adoramos a Deus porque precisamos de
bênçãos de suas mãos, adoramos porque Ele é digno de Glória pelo que Ele é, e
não somente pelo que Ele faz. Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória
e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém. Judas 1.25
O que procuramos através desse artigo não é somente
meditar no meditar, nem pensar no pensar. O objetivo de meditarmos nas
Escrituras é nos elevar a um caminho excelente de vida piedosa e devoção. Que a
meditação bíblica seja constante em nossas vidas. Muitas vezes somos tentados a
um exaustivo estudo teológico, mas negligenciamos uma vida de oração e
meditação, o conhecimento teológico não pode ser mecânico, como simples
conteúdo científico, mas o conhecimento da Escritura cresce em nosso coração
quando o regamos com a meditação e o desfrutamos na oração. Que nosso amado
Senhor aplique essa verdade aos nossos corações.