Por Thiago Azevedo
Desde que me entendo por persona
cristã que identifico uma dúvida presente na vida de alguns cristãos. Diversas
pessoas sempre questionam seus respectivos líderes eclesiásticos com as
seguintes indagações: É pecado jogar na Mega
Sena? A Bíblia condena? A Bíblia não condena? E se jogar apenas no final do
ano? E se alguém ganhar e me der uma parte do valor? Estas são as dúvidas
mais corriqueiras dentro deste tema.
Em primeiro lugar: quando alguém
pergunta muito se algo é pecado ou não é porque de fato ele tem um pé atrás com
determinada prática. Querer que a Bíblia descriminasse de forma específica uma
prática da sociedade atual (moderna e capitalista) seria um tanto quanto
anacrônico. Mas o fato de a Bíblia não falar sobre o assunto de forma
específica não significa dizer que podemos legislar sobre o mesmo de forma
independente, isso seria um frágil argumento intitulado como argumento da
ausência. Ou seja, por não ter textos se pode tomar a decisão que quiser. Se
fosse assim, a Bíblia não possui nenhum texto que recomende a prática de jogar
na Mega Sena – quer seja duas ou três vezes ou só no fim do ano – logo
poderíamos deduzir que não se pode jogar.
O que se pode avaliar dentro de
uma perspectiva bíblica é o princípio da transferência da fé. Ou seja, uma
pessoa possui fé em Deus, mas esta pessoa transfere sua fé para quaisquer
outras coisas. Foi isso que Israel fez ao confeccionar um bezerro de ouro e
transferir para este toda sua fé (Êxodo 32). Israel transferiu sua fé – a fé em
Deus de conduzir o povo, a fé em Deus de livrar dos inimigos, a fé em Deus de
receber provisão etc. A transferência da fé é onde reside todo o problema.
Quando alguém joga na Mega Sena ou outro jogo da loteria, de forma automática,
esta pessoa está transferindo sua fé em Deus para um prêmio material – a
condução da vida do cristão depende única e exclusivamente de Deus e quando
alguém joga na Mega Sena está declarando com esta atitude que não tem confiança
suficiente na pessoa divina para condução de sua vida. É como se o indivíduo
apostador tivesse dando uma “forcinha a Deus”. A bíblia diz que “o justo viverá
da fé; E, se ele recuar a alma do Senhor não tem prazer nele” (Hebreus 10:38).
A fé em Deus não pode ser
transferida para nada, mesmo que seja apenas uma vez por ano como muitos fazem (apostando
na Mega Sena da Virada). Quando alguém transfere sua fé da pessoa divina para o
que quer que seja - recuando então - Deus não tem prazer neste indivíduo. Há
uma palavra que é direcionada constantemente a quem realiza apostas, a saber,
“fezinha” (de fé pequena). Quanto a isso gostaria de contar uma história da
minha infância:
Meu pai era envolvido com a obra
de Deus, mas sempre realizava suas apostas de fim de ano. Um belo dia fui com
ele até a lotérica e o mesmo fez seu joguinho. Prontamente, ao terminar a
aposta, a mulher do caixa se despediu do meu pai com as seguintes palavras: “Espero que sua ‘fezinha’ dê certo...”.
Logo o questionei acerca daquela palavra e de seu significado, meu pai não
soube responder. Depois que cresci descobri que “Fezinha” nada mais é que um
escape, um plano B, um jeitinho brasileiro, uma transferência da fé da pessoa
de Deus para algo material. O justo viverá da fé e essa fé
não pode ser tida como uma “fezinha”. Isso sem falar na possibilidade desta
prática se tornar um vício e neste caso as Escrituras condenam pesado a prática
viciosa.
Podemos concluir com 1 Co 6:12
que nos mostra o seguinte texto: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas
me convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas não me deixarei dominar por
nenhuma delas”. Assim, se alguém me pergunta se pode ou não pode jogar na Mega Sena,
quer seja da virada ou durante outros dias do ano, prontamente responderia que
pode, mas não deve. Pois, realizando este ato estará demonstrando sua
transferência de fé da pessoa divina, a fé em algo sólido – Deus – para algo
que não merece ser depósito de fé, algo material e pueril. No que diz respeito à
última pergunta que tanto se tem visto nos meios cristãos, a saber, e se alguém ganhar e me der uma parte? Pois
bem, alguém transferiu sua fé da pessoa divina para algo terreno e material –
premiação – e à medida que aceito alguma parte desta premiação comungo de forma
automática de sua transferência de fé – peco indiretamente. Portanto, Deus é
quem deve ser a fonte de fé e de esperança de todos aqueles que se intitulam de
cristãos.