Por Morgana Mendonça
Encontramos em apenas quatro capítulos do livro de Jonas um ensino absoluto da soberania de Deus sobre toda a Sua criação, a revelação do seu caráter e providência. O livro de Jonas que narra suas experiências na grande comissão aos gentios tem muito a dizer a nós, que somos cristãos dos dias atuais. O texto onde estaremos meditando traz preciosas lições, juntamente como o livro todo. O aspecto missiológico está de forma bem clara introduzida na mensagem central do livro: a salvação dos gentios. Por hora, veremos a questão de forma exortativa sobre a conduta de Jonas e doutrinaria sobre o ensinamento de Deus.
A comissão dada por Deus a Jonas afetou as suas emoções, a ponto de fugir do único Deus verdadeiro que é onipresente (Jn 1.3). Que contradição! A presunção e desobediência de Jonas levou um navio com uma razoável quantidade de homens a viverem entre a vida e a morte (Jn 1.4), enquanto ele apenas dormia um sono profundo (Jn 1.5). Que endurecimento de coração! Ou seja, o conhecimento que Jonas tinha sobre Deus não significava piedade, isto é, vida em obediência as Suas ordens, uma prática. Notamos um cristão, que conhece o Deus que serve, porém a sua paixão pela aversão a Sua vontade o leva a uma decadência espiritual, que começa com a desobediência interior (Jn 1.12).
O navio quase chega a pique e Jonas é acordado pelo capitão (Jn 1.6), ao falar sobre a realidade e sobre a verdade dos acontecimentos, ele é jogado ao mar (Jn 1.15), seu coração está endurecido, que difere dos pagãos no navio, que fazem uma aliança com o Senhor (Jn 1.16).
A experiência de Jonas no ventre do peixe é incrível, ele ora ao Senhor (Jn 2.1), Deus livra Jonas, e mais uma vez da à ordem de ir pregar em Nínive (Jn 3.1-2). Jonas levanta e prega contra Nínive, "quarentas dias e a cidade será subvertida" (Jn 3.4). Uma mensagem de pura condenação, no entanto, para a grande insatisfação do profeta, a cidade é poupada por haver se arrependido e por ter confessado seus pecados (Jn 3.10). O profeta ora ao Senhor com muita indignação pedindo a morte (Jn 4.3), a correção do Senhor vem trazendo uma grande lição ao profeta (Jn 4.10-11).
Jonas vive uma ortodoxia, isto é, conhecimento teológico, uma doutrina certa. Mas a sua ortopraxia deixa muito a desejar. Podemos mencionar até a ausência dos sentimentos certos, no qual chamamos de ortopatia. Um bom cristão (ortodoxo) deve praticar uma ortopatia (sentimento certo) e ortopraxia (uma pratica correta e coerente), caso contrário será um fariseu. Um coração endurecido e recalcitrante, sua intrigante indignação contra a misericórdia de Deus sobre os pagãos, desembocou em uma insensibilidade na sua conduta prática.
Devemos avaliar isso em partes, o texto que avaliaremos está em Jonas 4.1-5. No verso primeiro é dito sobre como Jonas estava. "Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado" (Jonas 4.1). Jonas ressente por conta da misericórdia de Deus sobre os ninivitas. No segundo verso, Jonas justifica sua desobediência mesmo com tal conhecimento de Deus e faz isso em oração. "E orou ao Senhor, e disse: Ah! Senhor! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal" (Jonas 4.2). Jonas comprova nessa oração a sua teologia, sua doutrina, seu conhecimento sobre os atributos de Deus. No entanto, esse conhecimento não provoca em Jonas uma piedade para a Glória de Deus.
No terceiro verso Jonas faz um pedido a Deus, por tamanha indignação, ele diz: "Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver" (Jonas 4.3). No capítulo dois, Deus concede a Jonas livramento, ele deseja viver, contemplar o templo santo do Senhor, ele clama a Deus, e agora no capitulo quatro pede duas vezes a morte (Jn 4.3 e 4.8), pois a misericórdia oferecida por Deus para poupar Nínive não parece ser justo aos olhos do profeta. Eis aqui o que a paixão pela aversão a vontade de Deus pode causar na vida de um cristão. A falta de piedade, ou seja, a desobediência, produz um endurecimento no coração. O conhecimento que Jonas tem sobre Deus não o leva a uma conduta cristã, resultando, todavia, em vida vazia, farisaica, apenas religiosa ou fanática denominacionalmente.
No quarto verso, Deus questiona o profeta, "E disse o Senhor: Fazes bem que assim te ires?" (Jonas 4.4). Nesse dialogo, Jonas é questionado por conta do seu tamanho ressentimento. Seria por conta da sua reputação como um possível falso profeta? Pois o que havia sido proclamado não havia acontecido. Ou será que ele estava preocupado com a honra de Deus, o seu nome? Pois Deus não fizera aquilo que tinha dito. Ou, Jonas realmente estava aborrecido com o fato de Deus ter poupado o povo, inimigo de Israel?
Vemos que no quinto verso o profeta não responde a pergunta, e procura um lugar para ver o que haveria de acontecer à cidade. "Então Jonas saiu da cidade, e sentou-se ao oriente dela; e ali fez uma cabana, e sentou-se debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade" (Jonas 4.5). Sabemos que o dialogo continua, e Jonas é corrigido por Deus por tamanha falta de piedade, "E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?" (Jonas 4.11).
De que adianta tanto conhecimento, ser reconhecido pelos cargos, ser ativo no ministério, se isso não provoca transformação de vida e uma conduta piedosa? A obediência de Jonas no capitulo três mostra que foi com motivações erradas no seu coração. Jonas, não admite que Deus possa salvar quem merecia morrer. Jonas, não percebe que a sua vida também deveria ser julgada por Deus, ele foi tratado com a misericórdia que alcançou também os ninivitas. Devemos perguntar: é possível um homem mesmo com uma confissão de fé (Jn 1.9) querer viver uma vida avessa a vontade de Deus?
Uma grande lição para os cristãos contemporâneos, pós-modernos e secularizados. Conhecimento sem prática gera religiosidade sem vida. Conhecimento que não transforma, deforma. É necessário conhecimento das Escrituras para não errar (Mt 22.29), Deus deseja que prossigamos em conhecê-lo (Os 6.3), é isso que Deus quer de nós – conhecimento (Os 6.6). O principio para tal conhecimento é o temor a Deus (Pv 1.7), sobretudo esse conhecimento deve gerar vida em nós (1Tm 1.5), prática bíblica. Precisamos viver para a glória de Deus, quer façamos qualquer coisa (1Co 10.31) devemos ser ouvintes e praticantes da Palavra (Tg 1.22-25).
E Deus mesmo sabendo que temos um coração obstinado como o de Jonas, cumprirá seus decretos e propósitos, independente da nossa paixão pela aversão a Sua vontade. Por Cristo, Jonas foi lembrado, o único sinal que deveria ser dado era o de Jonas (Mt 12.38-41), logo, devemos entender que Cristo é o nosso exemplo e não Jonas, no quesito obediência a missão. Cristo é a verdadeira ortodoxia e ortopraxia, em sua ultima tentação foi levado a orar pedindo que a vontade de Deus fosse feita e não a Dele (Mt 26.39).
Éramos os seus inimigos, mas por nós Cristo sofreu a ira de Deus, com compaixão e graça nos concedeu perdão para os nossos pecados. Os ninivitas foram poupados, nós fomos poupados! E quando formos chamados para ir, que o nosso conhecimento humilhado provoque uma vida piedosa em obediência. Jonas foi o único profeta que ficou indignado por vê seu ministério frutificando, Jonas desejava o fracasso da missão. Que ao olhar para Jonas possamos nos identificar com Cristo, Aquele que suportou tudo ate a morte, e conforme o apostolo Paulo disse: "E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz" (Fp 2.8).
"É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente". Romanos 3.29.
Somente a Deus toda a Glória.